Cinderela Baiana

Cinderela Baiana

Há muito que heu queria ver este famoso involuntário trash brasileiro. Tomei coragem e assisti! Sim, trata-se de um trash no nível de Plan 9 ou Manos, The Hands Of Fate!

A trama escrita e dirigida por Conrado Sanchez fala de uma menina do interior da Bahia, que, ao se mudar pra Salvador, se destaca por causa de suas habilidades como dançarina e é contratada por um grande empresário para ser a dançarina de um grupo de axé.

Ok, a gente já sabia que o filme é ruim, muito ruim. Afinal, um filme baseado no talento da “atriz” Carla Perez não rola, né? Mas o buraco é mais embaixo. O filme é REALMENTE ruim. Daqueles que, de tão ruim, se tornam obrigatórios! O roteiro é um lixo, cheio de furos, a história óbvia e clichê e as atuações são TODAS muito muito ruins, do nível de peça infantil de escola. Mas, se isso já era esperado, o filme surpreende por ser ainda muito pior!

Tem um monte de detalhes que tornam Cinderela Baiana um lixo monumental. Antes de tudo, queria perguntar por que esse título. Pelo que me lembro, a história original da Cinderela falava de uma menina que foi morar com a madrasta, era maltratada pelas irmãs “postiças”, e conseguiu ajuda da fada madrinha para conseguir ir ao baile, onde conheceu o príncipe, mas tinha que voltar antes da meia noite porque sua carruagem ia voltar a ser uma abóbora, então, na fuga, perdeu seu sapato de cristal, sapato este que o príncipe usou para encontrá-la novamente. Confere?

(Aliás, Cinderela também tem um furo enorme no roteiro, porque se a carruagem voltou a ser abóbora, o sapato também deveria voltar a ser o que era. Mas deixemos isso pra outro post!)

A Cinderela Baiana não tem NADA a ver com a Cinderela original! Por que, meu Deus, por que chamar de Cinderela???

(E, ainda falando do título, no poster a gramática está correta; mas, no filme, está escrito “bahiana”, com “H”! Será que é uma homenagem à famosa ocasião onde Carla Perez falou “I” de “Escola”? Socorro!!!)

Mas, vamos ao filme. A ideia é mostrar um filme de uma dançarina, né? Então, por que não arranjaram uma que dança bem? A srta (ou sra) Perez não dança bem, ela executa coreografias de axé e rebola. Faça uma rápida busca no youtube, você verá dezenas de pessoas que dançam melhor. E a prova está logo na cena que abre o filme. Uma banda toca num palco, e a sra (ou srta) Perez se atrapalha para tentar seguir a coreografia do colega ao lado. Céus, será que não dava nem pra ensaiar uma coreografia pra abrir o filme?

Mas isso é só o começo. O filme é repleto de cenas tão malfeitas que temos a nítida impressão de que foi de propósito. Quer um exemplo? Vários dos diálogos estão com o áudio fora de sincronia com o video, mas isso acontece muito no cinema nacinal, infelizmente. Mas, em uma das cenas na academia de dança, ela dança fora de sincronia com o áudio. Caramba, era um filme ligado à dança, será que não rolava de sincronizar direito?

E o roteiro? Olha, já vi muito roteiro ruim e cheio de furos. Mas o que explica uma menina com no máximo uns dez anos de idade se mudar pra Salvador, e, apenas três anos depois, já ser a Carla Perez adulta? Outra coisa: por que criar uma dançarina rival (aliás, mais bonita e que dança melhor), pra depois esquecer dela? E por aí vai…

Pelo menos o roteiro traz várias frases divertidíssimas. Acho que era involuntário, não queriam fazer graça. Mas, momentos como a cena final são antológicos! Carla, não se sabe por que, vestida de odalisca, fala a uma criança “Me dê isso menina, você devia estar brincando e estudando, não jogada na estrada pra ganhar uns míseros trocados pra matar a fome.” Aí pega uma gaiola de passarinho, solta o bicho e fala “Vai passarinho, você, como a criança também tem o direito a liberdade. De que adiantam essas campanhas demagógicas se estas crianças continuam aqui na estrada e com fome? Todos os pequeninos merecem proteção, alimentação, amor e paz.” E faz uma pomba da paz com as mãos. E depois todos começam a dançar o Tchan. Detalhe 1: a letra fala “pau que nasce torto nunca se endireita” – de que adianta então ela tentar consertar? Detalhe 2: até freiras seguram o tchan! Sensacional, não?

Os atores estão todos péssimos, claro. E olha que Lázaro Ramos faz um dos amigos de Carla! Mas tem um que achei o pior de todos: Perry Salles, que faz Pierre, o empresário. O cara berra o filme inteiro! E é um personagem incoerente – um cara daqueles ia tentar dar uns pegas em todas as dançarinas…

Ainda tem mais, muito mais. A cena da briga entre o cantor Alexandre Pires e dois capangas do Pierre é pateticamente ruim, talvez a pior cena de luta da história do cinema.

O filme é tão ruim que abstraí a grande quantidade de música ruim que vem “no pacote”. Porque, todos sabem, a música baiana boa não está presente. Gosto de Raul Seixas e Camisa de Vênus, respeito Caetano e Gil (apesar de não ser fã), respeito até a Pitty. Mas axé não, né? Música que precisa de coreografia pra funcionar não pode ser boa!

E por aí vai. Quem estiver na pilha de um trash legítimo, vai se divertir. Mas, por favor, que fique avisado: o filme é ruim, muito ruim!