Conquista Sangrenta
Outro dia, numa lista de discussão, estávamos conversando sobre filmes medievais. Aí veio a lembrança deste Conquista Sangrenta, de 1985, primeiro filme americano do diretor holandês Paul Verhoeven. Como heu já tinha o dvd em casa, aproveitei para rever.
Em 1501, na Europa, o nobre Arnolfini usa um grupo de mercenários, liderados por Martin (Rutger Hauer), para recuperar seu castelo, mas depois os manda embora sem a recompensa prometida. Sem ter para onde ir, o grupo acaba atacando uma caravana que está sob o comando de Arnolfini. Escondida em uma das carroças, está Agnes (Jennifer Jason Leigh), noiva de Steven, filho de Arnolfini. Depois de estuprada por todo o grupo, Agnes vira a companheira de Martin. O grupo invade um castelo, sem saber que os Arnolfinis estão à espreita, assim como a peste negra, que ronda o local.
Conquista Sangrenta é realmente muito bom. O filme é violento e amoral – o mocinho não é bonzinho, é um assassino e estuprador, ora! E, até onde sei, foi a primeira vez que o cinema mostrou a Idade Média como deve ter sido: pessoas feias e sujas, e não belos rostos hollywoodianos como era de praxe. Aliás, é interessante olhar a diferença entre os nobres e os mercenários, sujos, com dentes podres e roupas rasgadas. Mais: Martin é um protagonista ignorante, suas atitudes são baseadas em instinto, o contrário de Steven, um homem que tem estudos.
Gosto muito do ar cínico que o filme tem – aliás, Verhoeven fez isso outras vezes nos anos seguintes. O primeiro beijo dos futuros noivos acontece debaixo de dois corpos putrefatos! E, em determinado momento do filme, Martin pergunta a Agnes quem ela prefere, ele ou Steven, e, ao ouvir a resposta “tanto faz”, Martin fala “Se ele ganhar, comeaçará a vida de casado como um viúvo”.
O grande nome do elenco é Rutger Hauer, com a carreira ainda em alta (Blade Runner, A Morte Pede Carona, Lady Hawke – O Feitiço de Áquila) – aliás, é curioso ver como sua carreira foi ladeira abaixo nos anos seguintes… Jennifer Jason Leigh, novinha e desinibida, também manda bem como a dúbia heroína – a cena do banquete dos mercenários, com ela usando garfo e faca, é genial. Tom Burlinson, que faz Steven, parece um Rutger Hauer mais novo, e fez pouca coisa digna de nota além deste filme. E, no meio dos mercenários, reparem em Brion James, companheiro de Hauer três anos antes em Blade Runner.
Paul Verhoeven já tinha um certo nome na sua Holanda natal, e teve uma excelente estreia hollywoodiana com este filme. Sua carreira coleciona grandes filmes, como O Vingador do Futuro, Instinto Selvagem e Robocop; mas também traz filmes de qualidade duvidosa – Showgirls é considerado por muitos um dos piores filmes da história. Em 2000 ele lançou seu último filme americano, O Homem Sem Sombra, e ficou um bom tempo sem lançar nada. Até que em 2006, de volta à Holanda, ele fez A Espiã – mas esse heu ainda não vi…
Enfim, Conquista Sangrenta é obrigatório para fãs de filmes medievais, e também para quem curte filmes violentos e de moral duvidosa. Ora, também para quem curte bons filmes!