Muita Calma Nessa Hora

Muita Calma Nessa Hora

E, mais uma vez, vamos dar uma chance ao cinema nacional…

No novo filme de Felipe Joffily (Ódiquê?), três amigas (Andréia Horta, Fernanda Souza e Gianne Albertoni) resolvem fazer uma viagem a Búzios quando uma delas descobre que está sendo traída pelo noivo às vésperas do casamento.

Numa época de Tropa de Elite 2 e cinema nacional em alta, Muita Calma Nessa Hora se baseia na nova geração de humoristas para tentar fazer uma comédia nacional com cara nova. Mas, se todos os vícios cometidos por comédias nacionais antigas estão presentes aqui, não muda muita coisa, né?

O roteiro, escrito por João Avelino, Rosana Ferrão e Bruno Mazzeo (este último faz uma ponta como ator), lembra demais o formato de esquetes dos humorísticos televisivos. Assim, algumas cenas começam e terminam sem muita continuidade, a lógica se perde algumas vezes ao longo do filme (exemplo: pra que serviu aquela cena onde Gianne Albertoni perdea parte de cima do biquini, se nem rola uma nudez gratuita?). E o filme também traz algumas cenas desnecessárias – como a apresentação do personagem que faz o “Chez Gay”.

Tem outra coisa: o filme quer ser “jovem”, e, no início, ao mostrar pela primeira vez as três meninas, apresenta-as como “vinte e poucos anos”. Ora, as três atrizes já têm “vinte e muitos anos” – uma é de 84, outra de 83, a mais velha de 81. Se a ideia era fazer um “filme jovem”, tinha que ter feito como As Melhores Coisas do Mundo, que pegou uma galera realmente mais nova!

Outros dois problemas recorrentes no cinema nacional também estão presentes aqui. Um é o som: “pra variar”, na maioria das cenas as músicas estão muito mais altas que os diálogos, dificultando a compreensão dos mesmos. E o outro é o excesso de merchandising – uma companhia telefônica é citada diversas vezes. Ok, a gente sabe que alguém tem que pagar a conta, mas será que não podia ser mais discreto?

O elenco, cheio de nomes conhecidos na tv, tem seus altos e baixos. Das três principais, Andréia Horta e Fernanda Souza estão bem; Gianne Albertoni, que é modelo, e não atriz, funciona ok ao lado das outras. Débora Lamm, a “quarta mosqueteira”, carregando uma samambaia pra tudo quanto é lado, ficou caricata demais…

O elenco ainda traz um monte de nomes famosos em papeis minúsculos. Um dos pontos altos do filme são alguns dos personagens secundários muito bons, como o micareteiro de Lucio Mauro Filho e o paulista fã de tecnologia de Marcelo Adnet. Normalmente caricato, Sergio Mallandro não atrapalha aqui como o tatuador; Hermes e Renato e sua trupe fazem um divertido grupo de boçais; Leandro Hassum está desperdiçado numa ponta como policial.

O filme não traz nudez, acredito heu que por causa da censura. Mas traz um monte de referências à maconha, ou seja, não adiantou nada. Era melhor ter mostrado nudez gratuita, como o cinema nacional fazia muito bem décadas atrás…

O desfecho da história é previsível. Mas, como tudo se parece com um humorístico televisivo, acho que não vai incomodar a plateia…

Muita Calma Nessa Hora até diverte. Mas o cinema nacional pode fazer melhorque isso.

Pânico na Neve

Pânico na Neve

Confesso que não dei bola quando este Pânico na Neve (Frozen, no original) passou nos cinemas. Não me pareceu que seria grandes coisas. Agora que vi, retiro o que disse: é um “pequeno” bom filme.

Por vários azares combinados, três amigos ficam presos à noite em um teleférico, a uma altura perigosa para pular. Quando eles constatam que foram esquecidos pelo resort, eles precisam decidir se tentam sair do teleférico ou enfrentar o frio – e talvez congelarem até a morte.

Pânico na Neve corria um risco grande, afinal, boa parte do filme se baseia nos diálogos dos três únicos personagens, presos em um único cenário onde não podem se mover. Mas o filme soube escapar das armadilhas. Não vou adiantar muitas coisas aqui por causa de spoilers, mas o roteiro consegue usar vários elementos diferentes para manter a tensão do início ao fim.

A produção, independente, é espartana. Basicamente só vemos os três atores na tela, e as filmagens foram feitas usando um teleférico de verdade, com altura real e neve real. Os atores, claro, não são nomes muito conhecidos. Shawn Ashmore foi Iceman, um mutante coadjuvante nos dois primeiros X-Men; Emma Bell ganhou, pouco depois, um papel na boa série The Walking Dead; Kevin Zegers esteve no também independente Transamerica.

Pânico na Neve fez sucesso no festival independente Sundance, mas foi mal no circuito convencional. Pena, Pânico na Neve não é um filmaço, daqueles que se tornam “obrigatórios”, mas merecia melhor sorte no circuito…