Crítica – 8 1/2
Esta semana, no curso A Arte da Crítica, o crítico Marcelo Janot disse que ia analisar dois filmes. Disse que ia provar que 8 1/2 era bom, e que 127 Horas era ruim. Aproveitei o fim de semana para rever 127 Horas, e ver pela primeira vez 8 1/2, um dos filmes mais famosos de Federico Fellini.
A trama traz um alter ego do Fellini, o diretor de cinema Guido (Marcello Mastroianni), que sofre de bloqueio criativo enquanto é cercado por pessoas envolvidas na sua próxima produção. No meio dessa onda metalinguística, Fellini encaixa várias citações autobiográficas.
8 1/2 frequenta 9 entre 10 listas de melhores filmes por aí. O filme é realmente muito conceituado – dei uma pesquisada pela internet, é papo de Cidadão Kane, Poderoso Chefão e 8 1/2, um ao lado do outro. Por isso, a espectativa era alta. Mas… Será que posso dizer que não gostei?
O filme é uma grande egotrip do diretor. A impressão que a gente tem é que Fellini estava completamente perdido (assim como o seu Guido), e saiu filmando qualquer coisa!
(E isso se a gente for benevolente. Porque a outra interpretação para o parágrafo acima seria “Fellini é um picareta que, sem ter algo sólido para filmar, enrolou por pouco mais de duas horas.”)
O roteiro, cheio de simbolismos pouco interessantes pra quem não é fã do diretor, é vazio. Uma prova disso é o próprio título do filme: o “oito e meio” não tem nada a ver com o filme em si, é porque Fellini já tinha feito antes sete filmes e “meio” – na verdade, fizera antes um quarto do filme Boccaccio 70. Ou seja, o próprio Fellini não sabia o que ia filmar!
O pior é que ele já desconfiava que isso podia dar errado. Tanto que criou um crítico como um dos personagens principais, que passa quase o tempo todo falando mal do filme enquanto ele é feito. E em alguns momentos, concordei com ele, quando ele falou coisas como: “Bem, à primeira vista, vê-se que a falta de uma ideia problemática, ou, se quiser, de uma premissa filosófica, transforma o filme numa suíte de episódios totalmente gratuitos e até divertidos, na medida do seu realismo ambíguo. Perguntamo-nos o que os autores realmente querem.” É, o cara estava perdido…
Mesmo assim, o filme não é de todo ruim. Fellini não tinha uma história nas mãos, mas ele era talentoso e sabia como colocar as imagens na tela. Algumas partes são muito boas, como por exemplo a sequência inicial, do pesadelo; ou a sequência onde Guido está cercado de mulheres no lugar onde ele tomava banho quando criança.
A bela fotografia em preto e branco é outro destaque, assim como a inspirada trilha sonora de Nino Rota, apesar desta trazer um problema: rola um tema no final que é igualzinho ao tema de O Poderoso Chefão, do mesmo Rota. Ok, 8 1/2 veio antes. Mas O Poderoso Chefão é mais famoso…
O resultado final não me agradou. Fiquei com a impressão de que é um filme feito apenas para os apreciadores de Federico Fellini e seu estilo cheio de simbolismos, surrealismo, elementos circenses e mulheres gordas e feias. E, para o espectador “normal”, o filme não funciona…
Quem sabe daqui a alguns anos heu vejo o filme de novo e revejo a minha crítica… Mas, por enquanto, o Fellini ficou devendo…
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p.s.: Depois de rever 127 Horas, notei algumas falhas, como a queda de ritmo no terço final e algumas incoerências do roteiro. Mas mesmo assim, não acho um filme tão ruim assim como o Janot pichou…