Nervo Craniano Zero

Crítica – Nervo Craniano Zero

O novo filme da Vigor Mortis, companhia que fez o genial Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos!

Com medo de uma possível crise criativa, uma escritora de sucesso chama um antigo namorado, neuro-cirurgião com o registro cassado, para reativar sua fracassada experência que usa um chip indutor de criatividade ligado ao cérebro. Mas antes de testar nela mesma, ela contrata uma ingênua garota do interior como cobaia.

A dúvida que heu tinha era se Nervo Craniano Zero seria do mesmo nível do ótimo Morgue Story. Boa notícia: sim, é tão bom quanto!

Nervo Craniano Zero segue a linha de terror / comédia, com fortes (e visíveis) influências de quadrinhos e de filmes dos anos 80. O clima é bem trash, boa solução para o apertado orçamento de apenas R$ 180 mil. Claro, o filme não é pra qualquer um. Mas quem entrar no espírito, vai se divertir muito. O filme tem vários momentos antológicos, a plateia dava gargalhadas ao longo da projeção.

Depois do filme, o diretor Paulo Biscaia Filho, acompanhado dos atores Leandro Daniel Colombo e Uyara Torrente, falou um pouco com a pequena porém lotada sala de cinema do CCJF. Ele explicou que os atores sabem que tudo é sátira, o público sabe que tudo é sátira – mas os personagens não sabem. Os personagens levam aquilo a sério! Isso proporciona ao filme uma série de diálogos sensacionais, todos no limite da caricatura.

O elenco está ótimo. Leandro Daniel Colombo, um dos destaques de Morgue Story, e Guenia Lemos, mezzo americana, mezzo curitibana, que já fez alguns filmes e seriados em Hollywood, mas nunca tinha feito nada aqui no Brasil, estão excelentes como o médico perturbado Bartholomeu Bava e a escritora de moral duvidosa Bruna Bloch. Mas o melhor de Nervo Craniano Zero é Uyara Torrente, que ficou famosa um tempo atrás por um video de sua banda que virou viral de internet. Aqui ela mostra que é uma excelente atriz, com sua Cristi, que começa como uma ingênua (e engraçadíssima) caipira, para depois mostrar que o personagem tem muito mais a oferecer.

A trilha sonora é outro destaque. Demian Garcia compôs várias trilhas eletrônicas com um delicioso ar oitentista. E a cereja do bolo é a única música que não foi composta para o filme: Total Eclipse Of The Heart, da Bonnie Tyler, vira a trilha pefeita para uma cena completamente imprevisível de cirurgia craniana. Nunca mais ouvirei Bonnie Tyler como antes!

A exibição do filme era pra ser em alta definição, Paulo Biscaia Filho trouxe uma cópia em blu-ray. Mas o projetor do cinema não deixou a imagem ficar boa. Paulo disse para vermos isso como algo positivo: a qualidade da imagem ia nos lembrar dos velhos vhs dos anos 80… Ainda quero rever Nervo Craniano Zero com imagem boa, mas posso dizer que isso não atrapalhou a boa fotografia do filme, cheia de cenários estilizados e com muito contra-luz. Soma-se a isso a boa maquiagem e os efeitos especiais, poucos e simples, mas eficientes para o que o filme pede.

A notícia ruim é que não sei quando nem como o leitor vai conseguir ver Nervo Craniano Zero. Até onde sei, Morge Story só passou aqui no Rio no Festival do Rio de 2009, e foram poucas sessões mal divulgadas. Paulo Biscaia Filho deu a dica: o dvd está à venda na Livraria da Travessa. Mas sem divulgação, pouca gente vai saber disso…

Que Nervo Craniano Zero consiga um espaço no circuito cinematográfico, ou pelo menos um bom lançamento no mercado de home video!