Crítica – O Vingador do Futuro (2012)
Mais uma refilmagem…
Num futuro sombrio, o operário Douglas Quaid vai até a Rekall, uma empresa que providencia implantes de memória aos seus clientes, mas algo dá errado e ele começa a ser perseguido pela polícia.
O Vingador do Futuro (2012) não é apenas uma refilmagem. É uma refilmagem desnecessária. O original é um dos melhores filmes de ficção científica do final do século passado. Não precisava de refilmagem. E se era pra refazer, deveriam ter feito um roteiro novo a partir do conto de Philip K. Dick – como os irmãos Coen fizeram em Bravura Indômita (que não é refilmagem, e sim outro filme baseado no mesmo livro). Ou seja, “fail”.
Pelo perfil do diretor escolhido para a refilmagem, a gente já desconfiava do que viria por aí. O cargo foi entregue a Len Wiseman, de Duro de Matar 4 e da série Anjos da Noite. O filme original era do holandês Paul Verhoeven, que pouco antes fizera Conquista Sangrenta e Robocop, e dois anos depois dirigiria Instinto Selvagem. É só a gente analisar os currículos de ambos pra entender as diferenças entre as versões…
O Vingador do Futuro parece que se inspirou nos novos filmes de super heroi (como a nova trilogia do Batman) para fazer uma história mais “pé no chão”. Nada de Marte, mutantes, alienígenas. Tudo se passa no nosso planeta, que foi quase inteiramente destruído por uma guerra química. Até aí, tudo bem, mas… Onde se encaixa então a cena da prostituta de três seios? 😉
O roteiro do filme original, além de uma fina ironia misturada com sarcasmo (típicos do diretor Paul Verhoeven), tinha uma coisa muito boa: até o fim do filme, não sabíamos se tudo aquilo tinha acontecido ou se era parte do implante colocado na cabeça de Quaid. O roteiro atual, de Kurt Wimmer (diretor do bom Equilibrium) e Mark Bomback (Incontrolável), deixa de lado a ironia e as sutilezas do filme de 1990, e substitui tudo por boas cenas de ação. Ok, as cenas são bem feitas, mas só isso não sustenta um filme…
Outro ponto fraco é Colin Farrell. Coitado de Farrell, ele não está mal, mas é que a comparação é injusta. O Vingador do Futuro original traz Arnold Schwarzenegger em excelente forma (sem dúvida, é um de seus melhores filmes). Qualquer um, ao refazer este papel, ia ter dificuldades. E Farrell não conseguiu construir um Quaid à altura do original, como já era previsível.
Mas nem tudo ficou ruim neste novo filme. Os cenários são um dos destaques, a ambientação deste novo mundo futurístico ficou bem legal; o transporte “A Queda” (que atravessa o planeta) foi uma boa sacada, assim como o uso da gravidade zero. E algumas sequências de ação são muito boas, gostei muito da perseguição nos carros magnéticos e da cena dos elevadores. E se Colin Farrell está muito aquém de Schwarzenegger, as duas atrizes principais estão ótimas – Kate Beckinsale fez uma “versão estendida” do personagem que foi de Sharon Stone (e mostra que está em excelente forma física quase aos quarenta anos de idada); enquanto Jessica Biel mostra que é uma atriz bem superior à sumida Rachel Ticotin (que continua na ativa, mas há tempos não faz nada relevante). (Ainda no elenco, Bryan Cranston, John Cho, Bokeem Woodbine e um Bill Nighy desperdiçado).
No fim, fica aquela sensação estranha pela comparação com o original. Se O Vingador do Futuro de 2012 fosse um filme novo, até seria legal. Mas ao lado do outro, ficou devendo.