Celeste e Jesse Para Sempre

Crítica – Celeste e Jesse Para Sempre

Celeste e Jesse se separaram, mas ainda vivem juntos, como melhores amigos. Apesar da grande proximidade entre os dois, eles tentarão aprender a viver um sem o outro.

Dirigido pelo pouco conhecido Lee Toland Krieger, Celeste e Jesse Para Sempre (Celeste & Jesse Forever, no original) é mais uma comédia romântica. Pra não dizer que é igual a todas as que rolam por aí, a única particularidade aqui é que a trama torna impossível um final 100% feliz. E mesmo assim o final é previsível.

O elenco está ok. Ninguém chama a atenção, nem pro lado positivo, nem pro negativo. A figura central é Rashida Jones, também uma das autoras do roteiro. Ainda no elenco, Andy Samberg, Emma Roberts, Elijah Wood, Rebecca Dayan, Chris Messina, Ari Graynor, Eric Christian Olsen e Will McCormack (o outro co-autor do roteiro).

Um detalhe técnico me incomodou em Celeste e Jesse Para Sempre: o excesso de closes. Me pareceu um cacoete de filme independente, tudo muito perto. Não sei se foi um problema exclusivo da sala onde vi (no Shopping da Gavea), mas em várias cenas a gente não via o topo das cabeças dos atores.

Enfim, Celeste e Jesse Para Sempre tem o seu público alvo. Mas fora disso, é dispensável.

Selvagens

Crítica – Selvagens

Filme novo do Oliver Stone!

Dois amigos dividem uma plantação de maconha e o coração de uma mesma namorada. Suas vidas se complicam quando eles começam a ser chantageados por um cartel mexicano de drogas.

Oliver Stone é um cara talentoso, não há dúvidas com relação a isso. Mas também é um cara chato. Uma famosa crítica estadunidense uma vez declarou que iria se aposentar para nunca mais ter que ver os seus filmes. Em certo ponto, concordo com isso. Vejam um exemplo: Stone fez um ótimo filme sobre o Vietnam, Platoon. Aí resolveu fazer um segundo filme sobre o Vietnam, Nascido em 4 de Julho. Chega, né? Nada, quando ninguém mais aguentava mais ouvir falar de Vietnam, ele fez mais um filme sobre o mesmo tema, Entre O Céu e a Terra.

Tudo isso aí em cima foi pra explicar que prefiro quando Stone faz algum filme que não tem nenhum compromisso com posições políticas, como The Doors ou U-Turn. É o caso de Selvagens.

Baseado no livro de Don Winslow (co-autor do roteiro junto com o próprio Stone e mais um crédito), Selvagens está mais próximo de U-Turn do que de The Doors, por não se basearem em fatos e pessoas reais. E Selvagens tem um forte ponto em comum com U-Turn: ambos têm ótimos personagens.

Arriscaria a dizer que o melhor de Selvagens é sua galeria de personagens, principalmente os secundários. Se o trio principal apenas está ok, Salma Hayek, John Travolta, Benicio Del Toro, Emile Hirsch e Demián Bichir valem o ingresso.

O trio principal é um dos pontos fracos. Aaron Taylor-Johnson, o melhor dos três, parece meio perdido (ele estava bem melhor em Kick-Ass); Taylor Kitsch (John Carter) é boa pinta e tem jeito de galã de Hollywood, mas é limitado como ator; Blake Lively (Atração Perigosa) é bonitinha mas fraquinha, e sua narração em off só atrapalha.

(Nada contra a nudez dos dois protagonistas. Mas por que Blake Lively não tira a roupa também? Nas duas cenas de sexo do início do filme, ela está vestida enquanto seus parceiros estão nus…)

Mas acho que o pior de Selvagens é a história fraca. A começar por algumas posrturas dos personagens principais – qualé a do traficante zen com preocupações ecológicas (enquanto mantem um parceiro violento)? E sobre o roteiro, como é que os caras vão deixar tudo para o dia seguinte, mesmo com um violento cartel de traficantes na cola deles? E isso porque não estou falando do final duplo – parece que resolveram criar um novo final para agradar plateias mais caretas.

A parte técnica ê muito boa, pelo menos isso. Selvagens oferece um belo espetáculo visual. Mas no geral, a irregularidade do filme pode desagradar mais do que agradar.

Selvagens passou no Festival do Rio, mas, olha só, acabou de entrar no circuito!

Kid-Thing / Coisa de Criança

Crítica – Kid-Thing

Sinopse tirada da programação oficial do Festival do Rio:

Annie é uma menina rebelde de 10 anos, agressiva e destrutiva. Ela vive com seu pai, que passa grande parte do tempo dormindo. Sem limites ou parâmetros, ela passa o seu tempo roubando, vandalizando e se engajando em um comportamento antissocial. Um dia, ao andar pela floresta, ela é surpreendida pela voz de uma mulher pedindo socorro de dentro de um poço abandonado. Assustada, ela a princípio não sabe como agir, mas acaba voltando ao local repetidas vezes, primeiro com sanduíches, depois com walkie-talkies, e mais tarde com um pedido.

A sinopse de Kid-Thing (traduzido como Coisa de Criança pelo Festival do Rio) dava sinais de que poderia ser um bom e violento filme independente. Ou então que seria mais um filme independente chaaato.

Claro, segunda opção. Chaaato…

Cria da dupla de irmãos David Zelner (direão, roteiro e elenco) e Nathan Zelner (produção, fotografia e elenco), Kid-Thing tem um problema comum: falta uma história. A personagem da menina rebelde é interessante, mas se ela não tem nada para contar, temos um filme monótono onde nada acontece. Assim, temos vários momentos sonolentos em um filme de apenas uma hora e vinte e três minutos. Algumas cenas são insuportavelmente chatas, tipo aquela das raspadinhas na mesa. E a cena do professor de violão causa vergonha alheia.

Pra não diz que Kid-Thing é completamente inútil, aprendi como se hipnotiza uma galinha. Uau. Mudou a minha vida.

Agora, o pior de tudo é que me conheço: heu não aprendo. Por pior que tenha sido Kid-Thing, ano que vem vou achar um filme semelhante na Midnight Movies de 2013. E vou comprar ingresso…

Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

Crítica – Ruby Sparks: A Namorada Perfeita

Calvin, um jovem escritor com bloqueio criativo, encontra o amor na forma menos usual possível: criando Ruby, uma personagem que ele acredita que irá amá-lo. O que ele não esperava é que Ruby se tornasse real.

A ideia não é 100% original, de vez em quando vemos filmes onde a metalinguagem é colocada em foco (principalmente Mais Estranho que a Ficção, que tem uma premissa bem parecida). O que faz a diferença é o modo como essa metalinguagem é apresentada aqui. Ruby Sparks tem formato de uma leve e divertida comédia romântica – felizmente mais criativa e menos previsível que a maior parte das comédias românticas por aí.

Acredito que boa parte do mérito seja do casal de diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris (casados na vida real), os mesmos do simpático Pequena Miss Sunshine (2006). Ruby Sparks é apenas o segundo filme de Dayton e Faris, que demoraram seis anos na “gestação” da nova produção. E não decepcionaram, quem gostou de Pequena Miss Sunshine vai curtir este novo filme da dupla.

Outro mérito é da roteirista Zoe Kazan (também protagonista), que construiu uma história simples, agradável e cativante. Este é seu primeiro roteiro, mas ela tem “pedigree”: é neta de Elia Kazan (Sindicato de Ladrões, Uma Rua Chamada Pecado), e filha de um casal de roteiristas, Nicholas Kazan (O Reverso da Fortuna, O Homem Bicentenário) e Robin Swicord (Memórias de uma Gueixa, O Curioso Caso de Benjamin Button).

O elenco também está muito bem. Paul Dano e Zoe Kazan (outro casal na vida real) estão excelentes como o casal central, a química entre eles é muito boa. Além deles, Annette Benning, Antonio Banderas, Elliot Gould, Chris Messina e Deborah Ann Woll.

Quem perdeu Ruby Sparks no Festival do Rio vai ter mais chances de ver o filme, parece que entra no circuito semana que vem!

A Quinta Estação

Crítica – A Quinta Estação

Mais um filme cabeça…

No fim do inverno, os habitantes de uma pequena cidade belga fazem um ritual para se despedirem da estação. Mas o ritual dá errado, e por isso o inverno não vai embora. Sem colheitas e com os animais doentes, a cidade começa a entrar em colapso.

A Quinta Estação (La cinquieme saison no original), filme belga escrito e dirigido pela dupla Peter Brosens e Jessica Woodworth, tem um problema básico: se a história se passa num mundo contemporâneo (carros, estradas, máquinas, energia elétrica), por que ninguém telefonou ou pegou seu carro e foi para a cidade ao lado? Vou além: uma pequena vila belga pode ser autossuficiente em termos de comida, mas duvido que produzam gasolina. Sendo assim, de onde vem o combustível para os carros? É preciso muita suspensão de descrença para acreditar em uma fábula assim no mundo moderno. Se a trama fosse situada no passado, seria mais fácil de acompanharmós.

A Quinta Estação é um bom exemplo de filme cabeça “desnecessário” – na falta de história pra preencher uma hora e meia de produção, o filme é cheio de cenas longas e arrastadas onde nada acontece.

Ok, o filme tem seus bons momentos. Algumas cenas bonitas aqui, alguns lances engraçados ali. Mas muito pouco para um longa metragem.

Deve ter um monte de simbolismos nas cenas sem sentido. Algum “subtexto meta-qualquer coisa”. Mas, na boa? Me lembrei do lema do distribuidor Luis Severiano Ribeiro: “cinema é a maior diversão”. Se o espectador precisa de um manual de instruções pra entender as mensagens do filme, na minha humilde opinião este filme falhou.

Às vezes, um filme não faz sentido mas mesmo assim é divertido – Buñuel que o diga. Outras vezes ele é só chato.

Dispensável.

O Livro do Apocalipse – Nryu Myeongmang Bogoseo

Crítica – O Livro do Apocalipse – Nryu Myeongmang Bogoseo

Filme apocalíptico coreano… Ok, vamos ver qualé.

Três pequenas histórias, mostrando três diferentes cenários apocalípticos: um vírus que transforma as pessoas em um misto de zumbi com vampiro; um robô de um templo budista alcança a iluminação espiritual e é visto como uma ameaça; e um meteoro em rota de colisão com a Terra.

Como quase todo filme em episódios, O Livro do Apocalipse é irregular. A primeira história, Brave New World, tem seus bons momentos, mas é bobinha; a segunda, Heavenly Creature, traz uma premissa interessante, mas é chaaata; a terceira, Happy Birthday, é a melhor, com uma boa dose de humor nonsense.

A primeira e a última história foram escritas e dirigidas por Yim Pil-Sung (autor do filme original que virou a refilmagem O Mistério das Duas Irmãs). Por terem o mesmo autor, ambas têm o mesmo tom de comédia – Brave New World tem alguns momentos engraçadíssimos, como o debate na TV; Happy Birthday é nonsense desde a premissa de uma gigantesca bola de sinuca alienígena que virou um asteroide. Heavenly Creature, a história “cabeça”, foi escrita e dirigida por Kim Jee-Woon (o mesmo do faroeste O Bom, o Mau e o Bizarro, que passou no Festival uns anos atrás). Curiosamente, os outros filmes que conheço de cada diretor são de estilos diferentes…

A parte técnica é muito bem feita – o robô da segunda história parece saído de uma produção hollywoodiana. E o asteroide também não deixa a desejar, assim como a maquiagem da primeira história.

Conheço pouco do cinema coreano, mas reconheci um nome do elenco: Joon-ho Bong, o diretor de O Hospedeiro, trabalha como ator aqui, ele está no debate na TV em Brave New World. Ainda no elenco, Doona Bae e Ji-hee Jin.

O Livro do Apocalipse é a cara do Festival do Rio. Não deve ser lançado no circuito, mas deve aparecer nas locadoras daqui a um ano ou mais, possivelmente com outro título…

Aí Vem o Diabo

Crítica – Aí Vem o Diabo

Durante uma viagem em família, o casal de filhos pré adolescentes vai explorar as montanhas da região e desaparece. No dia seguinte, eles retornam, mas o alívio logo dá lugar à preocupação: os dois passam a se comportar de maneira estranha, evitam a escola e causam sustos em sua babá.

Não sei se foi intencional (espero que sim), mas Aí Vem O Diabo (Ahí va el diablo no original) tem cara de produção vagabunda dos anos 70. Tive a impressão de que o diretor e roteirista Adrián Garcia Bogliano quis dar uma de Tarantino e tentou fazer uma homenagem ao cinema exploitation. Cortes e movimentos de câmera, e, principalmente, abuso de zooms deixam o filme com ar de exploitation. Pena que Bogliano não tem o talento de Tarantino, em vez de cult, Aí Vem o Diabo parece uma caricatura.

Outra coisa que lembra o cinema exploitation é a nudez gratuita (uma coisa que Tarantino não usa muito). Todas as atrizes adultas tiram a roupa, mesmo quando não precisa. Taí uma coisa que podia ser feita com mais frequência… 😉

Aí Vem o Diabo traz um pouco de gore. Nada excessivo, mas uma das cenas tem tanto sangue que a plateia de gargalhadas. E a cena inicial é um bom resumo do que vamos ver: sexo nudez e violência, tudo gratuito – a cena podia ser cortada que o roteiro não mudaria nada.

A programação do Festival informa que Aí Vem O Diabo é um filme argentino. Mas o imdb diz que é mexicano. Confio mais no imdb…

No elenco, nada demais. Nenhum destaque positivo. Achei as crianças Michele Garcia e Alan Martinez inexpressivos demais, mas não sei se era opção do roteiro.Ainda no elenco, Laura Caro, Francisco Barreiro, Barbara Perrin Rivemar e David Arturo Cabezud.

No fim, fica aquela dúvida sobre a qualidade do filme: será que é ruim propositalmente, ou será que é ruim por falta de talento? Pelo menos é divertido e despretensioso. Bem melhor do que outros exploitation recentes que vimos por aí, como Nude Nuns With Big Guns ou Hell Ride.

A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman / Monty Python – A Autobiografia de um Mentiroso

Crítica – A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman / Monty Python – A Autobiografia de um Mentiroso

Alguns filmes se tornam “obrigatórios” só pela descrição. Este A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman é um deles. Vejam a sinopse oficial do Festival do Rio:

Pouco antes de sua morte, em 1989, Grahan Chapman, membro do extinto grupo britânico de humor Monty Python, teve sua voz captada durante a leitura de sua autobiografia lançada em 1980. Utilizando-se deste áudio como guia narrativo, 15 diferentes estúdios produziram 17 estilos de animação distintos para representar as memórias e mentiras deste ícone do humor inglês. Quatro sobreviventes da trupe, Terry Gilliam, John Cleese, Michael Palin e Terry Jones, se reuniram para dar voz aos personagens.

Animações em estilos variados, narração usando a própria vez de Chapman, e ainda participação de outros quatro ex Monty Python? Imperdível para fãs! A dúvida era: será que A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman é só pros fãs, ou além disso é um bom filme?

Infelizmente, só pros fãs…

A Liar’s Autobiography – The Untrue Story of Monty Python’s Graham Chapman tem um problema grave: não tem humor. Sim, é um filme sobre o Monty Python, um dos grupos mais engraçados da história do cinema / televisão, mas é um filme com poucos momentos engraçados. Quase todas as piadas estão em imagens de arquivo – justamente os trechos que não são em animação.

E, para os fãs, rola um outro problema: dentre os 17 estilos de animação, não rola o “estilo Terry Gilliam”! Procurei pela internet uma explicação pra isso, segundo o que encontrei, Gilliam não quis participar do projeto, e por isso os diretores Bill Jones, Jeff Simpson e Ben Timlett proibiram as equipes de copiarem o estilo de Gilliam.

A narrativa pega trechos soltos da biografia escrita por Chapman e seu parceiro David Sherlock, e nem sempre segue uma linha lógica, deixando o filme meio confuso às vezes. Nada muito grave, por causa da opção da narrativa fragmentada. Pelo menos as mudanças de estilos de animação são bem interessantes, e algumas sequências são muito boas (gostei do trecho dentro do avião).

O que é interessante aqui é mostrar peculiaridades da vida de Chapman, como o seu problema com álcool ou a sua homossexualidade (ou seria bissexualidade?). Pena que o filme traz poucas novidades, neste aspecto o documentário Monty Python: Almost the Truth – Lawyers Cut, lançado em 2009, é bem mais completo.

No elenco, John Cleese, Michael Palin, Terry Jones e Terry Gilliam fazem vários personagens cada um, além de Carol Cleveland, antiga colaboradora. Além deles, Cameron Diaz empresta sua voz a Sigmund Freud em uma das sequências.

Enfim, só para fãs hardcore.

p.s.: Copiei e colei lá em cima a sinopse que está na programação. Mas tive que fazer uma pequena correção. A sinopse falava “os quatro sobreviventes”. Mas são cinco! Quem escreveu a sinopse esqueceu do Eric Idle! (que, se vi direito, aparece de relance na cena do velório de Chapman)