Crítica – A Viagem
E vamos a mais um filme polêmico!
Seis histórias, de estilos diferentes, passadas em épocas diferentes e vividas por personagens diferentes, abordando diferentes lutas vividas pelos personagens: racismo, homofobia, energia “suja”, maus tratos a idosos, capitalismo e religião.
A Viagem (Cloud Atlas, no original) é um novo projeto ambicioso que vai dar o que falar. Já prevejo que vai ter gente discutindo: de um lado, pessoas que não gostaram, criticando o filme; do outro, fãs do filme, dizendo que quem não gostou “não entendeu”. Alguém se lembra de outras polêmicas recentes como A Árvore da Vida ou Melancolia? Será que alguém pode ter entendido, e mesmo assim não gostado?
Trata-se do novo filme dos irmãos Wachowski (Matrix) em parceria com Tom Tykwer (Corra Lola Corra), um projeto ambicioso, que conta seis histórias ao mesmo tempo. Baseado no livro de David Mitchell, considerado “infilmável”. Bem, não li o livro, mas pelo filme, realmente, parece “infilmável”.
A chance de dar errado era muito grande. Lembro de rumores na época da produção do filme que falavam que os irmãos Andy e Lana Wachowski não se comunicavam com Tykwer, o outro diretor. Uma trama complexa, com seis histórias diferentes, e sem entrosamento entre os realizadores – acho que já tinha gente dando como certo o naufrágio do projeto antes mesmo da estreia.
Bem, não achei o filme tão ruim assim. Está longe de ser bom, mas algo se salva…
Na minha humilde opinião, o problema básico de A Viagem é o ritmo. Não dá pra manter o ritmo quando se mistura seis histórias diferentes em um filme de quase três horas de duração. Aí, o filme, que já é confuso, fica cansativo.
Não sei se teria outro modo de se fazer o filme sem misturar as seis histórias – existem ligações entre elas. Mas talvez se a gente ficasse um pouco mais em cada uma delas o resultado final não fosse tão cansativo – a cada cena, muda a história, às vezes muda antes de acabar a cena! São poucos segundos em cada trama antes de pularmos para a próxima, onde ficaremos por breves instantes. O espectador não tem tempo pra respirar, a mudança entre as histórias é frenética.
E aí vem outro problema: a duração. São duas horas e cinquenta e dois minutos de filme. Não dá pra segurar este ritmo de mudanças de trama por meia hora, o que dirá durante quase 3 horas!
Aí, as virtudes do filme ficam apagadas. A Viagem tem uma boa trilha sonora e uma bela fotografia. Mas quase não dá pra aproveitar…
Sobre o elenco, é complicado falar. São grandes atores, não há dúvidas. Mas acho que eles ficaram perdidos, e as atuações ficaram devendo. Assim, um excelente elenco é desperdiçado: Tom Hanks, Halle Berry, Susan Sarandon, Hugo Weaving, Hugh Grant, Jim Broadbent, Jim Sturgess, Doona Bae, Ben Whishaw, Keith David, Xun Zhou, James D´Arcy – nada se aproveita.
A maquiagem segue o problema do elenco. Como são os mesmos atores em papeis diferentes, rola muita maquiagem pra diferenciar os personagens. Algumas até funcionaram, mas a maioria ficou caricata.
No fim, fica uma sensação de boa ideia desperdiçada. No lugar de um filme épico, ficamos com um filme pretensioso e mal realizado. Parece que queriam fazer um novo 2001, mas, do jeito que ficou, A Viagem acaba lembrando A Reconquista…