A Vida de David Gale

Crítica – A Vida de David Gale

David Gale é um brilhante professor universitário e ativista contra a pena de morte. Ironicamente, é condenado à pena de morte quando sua amiga e colega de trabalho é assassinada. Às vésperas de sua morte, David pede a presença de uma repórter para que ele lhe conceda uma entrevista exclusiva, onde finalmente contaria toda a verdade sobre o caso.

Só tinha visto este A Vida de David Gale (The Life of David Gale, no original) na época do lançamento em vhs, quase dez anos atrás. Não é um filme “essencial”, mas é um thriller bem escrito e que rende duas horas de diversão honesta.

Uma das melhores coisas de A Vida de David Gale é o roteiro, que traz uma reviravolta bem interessante no final do filme. Apesar disso, o filme, lançado em 2003, é meio desconhecido hoje em dia.

O diretor Alan Parker tem uma carreira eclética e repleta de bons filmes, que vão do terror (Coração Satânico) aos musicais (Pink Floyd The Wall, The Commitments), passando pelo drama (Expresso da Meia Noite, Asas da Liberdade). Cuirosamente, este é seu último filme até agora – Parker aparentemente está aposentado.

No elenco, Kevin Spacey está muito bem no papel-título, e consegue manter até o fim do filme a dúvida sobre a moral do seu personagem. E ele está bem acompanhado das sempre eficientes Kate Winslet e Laura Linney. Ainda no elenco, Rhona Mitra, Gabriel Mann e Matt Craven.

 

O Impossível

Crítica – O Impossível

Drama-catástrofe dirigido por Juan Antonio Bayona, o mesmo cara que fez O Orfanato? Taí, quero ver.

Uma família – casal e três meninos pequenos – vai passar o natal num resort luxuoso na Tailândia. Quando chega o tsunami, a família faz de tudo para se reencontrar e sobreviver. Baseado am fatos reais.

A tsunami que destruiu parte da Tailândia no natal de 2004 foi uma das piores catástrofes naturais da história. Mas o cinema até agora ainda não tinha mostrado muito este fenômeno (parece que o recente Além da Vida mostrou a tsunami, mas não vi este filme…). Bem, agora a tsunami está no cinema, e com ricos detalhes.

A primeira parte é o melhor de O Impossível. Logo depois de uma pequena introdução, vemos a tsunami com detalhes impressionantes. O problema não era só a força da água, mas também tudo o que a água carregava. Algumas cenas debaixo d’água são fortes! E o desespero não acaba com a onda: o rastro de destruição deixado pelas ondas que aparece no resto do filme é de dar inveja aos Roland Emmerichs da vida.

Uma coisa interessante é que o filme parece americano, mas é espanhol. Alguns detalhes não são muito comuns em Hollywood, como a nudez acidental de Naomi Watts e o modo como o machucado da sua perna é mostrado.

(Aliás, é bom deixar claro: O Impossível não tem nada de terror nem nada de sobrenatural, apesar do currículo do diretor!)

O filme cai um pouco na segunda parte, quando deixa a catástrofe de lado e o foco vira o dramalhão. Não que seja um drama mal feito, longe disso, mas é que o filme cai nas armadilhas melosas que parece que têm como único objetivo fazer o espectador chorar.

Tem outro problema. O filme é baseado em fatos reais, ok, vemos no fim da projeção uma foto da família que sobreviveu à catástrofe. Mas… Será que foi daquele jeito mesmo? Os encontros e desencontros da família são hollywoodianos demais, chega a dar nervoso…

O elenco está muito bem. Naomi Watts e Ewan McGregor, como esperado, mandam bem. A surpresa é o jovem Tom Holland, que faz o filho mais velho. O garoto passa parte do filme sozinho e arrebenta. Os outros irmãos, interpretados por Samuel Joslin e Oaklee Pendergast, também não decepcionam. O filme ainda tem pequenas participações de Marta Etura (Mientras Duermes) e Geraldine Chaplin (O Orfanato).

Vendo este novo tipo de filme catástrofe, dá vontade de mandar o Roland Emmerich tirar férias. Que venham mais filmes catástrofe neste estilo!

 

The Man With The Iron Fists

Crítica – The Man With The Iron Fists

Nova produção de Quentin Tarantino. Motivo de euforia ou de pé atrás?

Atrás de um tesouro em ouro, guerreiros, assassinos e um oficial inglês se enfrentam em uma vila da China feudal. No meio disso tudo, um humilde ferreiro negro tenta se defender.

Explico a dúvida do primeiro parágrafo. Tarantino costuma ser garantia de qualidade quando está no roteiro ou direção. Mas ele já emprestou seu nome para os créditos de produções de qualidade duvidosa, como Hell Ride ou Meu Nome É Modesty Blaise – quer dizer, no caso de Hell Ride, não chega a ser duvidoso, o filme é ruim mesmo.

Pelo menos The Man With The Iron Fists tinha uma vantagem: Eli Roth como co-roteirista. Tá, Roth não é conhecido por ser um grande roteirista, mas pelo menos Cabana do Inferno e O Albergue são filmes divertidos.

The Man With The Iron Fists é a estreia na direção de RZA, rapper e ator bissexto. É o “seu” filme, RZA também co escreveu o roteiro, é um dos autores da trilha sonora e ficou com o papel principal.

O filme prometia. Apadrinhamento de Tarantino, roteiro de Eli Roth é um ar de Grindhouse. Mas… RZA não tem o talento de um Tarantino ou de um Robert Rodriguez. Apesar da boa intenção, o resultado final ficou devendo.

Lembrei da série Californication, do personagem Samurai Apocalipse, interpretado pelo próprio RZA. Na série, Samurai era um músico marrento e de hábitos truculentos que resolveu entrar no mundo do cinema impondo suas regras, independente de isso ser bom para o filme ou não. Sei lá, em algumas cenas, heu conseguia visualizar o Samurai discutindo com o roteirista Hank Moody / Eli Roth…

Outra coisa que não funcionou foi a trilha sonora. Tarantino consegue colocar músicas “diferentes” em suas trilhas, e o resultado fica quase sempre ótimo. Mas aqui existe um excesso de rap e hip hop – que não têm nada a ver com o clima de “faroeste oriental” do filme.

Mais uma coisa que ficou estranha são os “super poderes”. A explicação para os punhos de aço ficou forçada, mas, vá lá, explicaram. Mas, e o cara que vira bronze? Qual é a dele? Será que os roteiristas não se tocaram que os espectadores ia querer saber a história dele? Mais: um cara com aqueles poderes é quase invencível. Colocá-lo contra os outros é mais ou menos como se o Dr. Manhatan resolvesse lutar contra os outros Watchmen – ia ser covardia. Digo mais: me questiono por que alguém com tais poderes seria subordinado de outra pessoa…

E as lutas? Bem, as lutas nem são ruins. Acredito que a falta de gravidade seja proposital, então um lutador que flutua no ar é estilo, e não tosqueira (já vimos isso em filmes bons, né?). Apesar disso, as lutas não são lá grandes coisas.

No elenco, acho que o único que está bem é Russell Crowe. Lucy Liu não está mal, mas seu personagem não ajuda. O destaque negativo é o próprio RZA, inexpressivo em todas as cenas que aparece. Ainda no elenco, Jamie Chung, Rick Yune, Dave Bautista, Cung Le, Byron Mann, Daniel Wu e uma ponta de Pam Grier.

No fim, fica uma sensação de boa ideia desperdiçada. The Man With The Iron Fists parece uma versão pobre e mal feita de Kill Bill. O conceito “grindhouse”, que Robert Rodriguez explorou tão bem em Machete, não foi bem utilizado aqui…

Red Tails

Crítica – Red Tails

Red Tails fala sobre o programa Tuskegee, um esquadrão de aviadores negros que atuou na Itália durante Segunda Guerra Mundial, época que o preconceito racial era muito mais forte do que hoje em dia.

E por que todo nerd deve ver Red Tails? Ora, trata-se do mais recente projeto da Lucasfilm! Mas… Como diz o ditado, “devagar com o andor porque o santo é de barro”. Red Tails está mais próximo da trilogia nova do que da trilogia clássica de Star Wars

Lucas ia dirigir, mas resolveu “passar o bastão” para outro diretor. A princípio, boa notícia, afinal é notória a sua falta de tato no contato com atores – na minha humilde opinião, a nova trilogia seria melhor se Lucas usasse “diretores de aluguel”, como fez com O Império Contra Ataca (dirigido por Irving Kershner) e O Retorno do Jedi (dirigido por Richard Marquand).

Mas em vez de pegar um diretor experiente, Lucas chamou Anthony Hemingway, vindo da tv e estreante no cinema. O problema é que, assim como seu mentor, Hemingway mostrou que aparentemente não tem muito jeito com atores…

Não sei se o problema do filme é ter diálogos mal escritos ou atores mal dirigidos – provavelmente um misto das duas coisas – o fato é que os personagens de Red Tails não convencem. Nenhum personagem tem carisma, a gente não se identifica e não torce por ninguém.

Tem um agravante: não sei como era o esquadrão Tuskegee na vida real, mas aqui eles parecem super pilotos. Os caras na primeira missão detonam um monte de alemães experientes e voltam sem nenhuma baixa. Não conheço a história, não sei se o Tuskegee era tão eficiente. Mas aqui, pareceu filme “maniqueísta de final feliz da Disney”.

(Li no imdb que as provas para negros eram mais difíceis do que para os brancos, para desestimulá-os a virarem pilotos. Se isso for verdade, explica porque lá só tinha piloto acima da média – pra entrar no pelotão, o cara tinha que ser fera. Mas o filme não menciona isso – diferente de Band of Brothers, por exemplo)

Pelo menos as batalhas aéreas são bem feitas. O cgi é top de linha (Lucasfilm, né?), e vemos várias cenas com os aviões em manobra nos ares. Diz a lenda que Lucas se inspirou nessas batalhas da segunda guerra mundial para criar as batalhas espaciais de Star Wars. Bem, os aviões são diferentes, mas o estilo é parecido…

No elenco, nenhum destaque positivo, infelizmente. Todos estão artificiais, mesmo bons atores como Cuba Gooding Jr., Terrence Howard e Bryan Cranston (num pequeno papel). Ainda no elenco, Nate Parker, David Oyelowo, Tristan Wilds e Daniela Ruah.

Enfim, Red Tails vai acabar sendo visto por milhares de fãs de Star Wars, independente das suas qualidades (ou falta delas). Mas que estes fãs mereciam mais, ah, mereciam. Isso sem contar com os fãs do esquadrão Tuskegee…

 

Dredd

Crítica – Dredd

Num futuro pós apocalíptico, a única autoridade está na figura do “juiz”, um misto de policial, juiz, júri e executor. Um juiz veterano e uma novata com poderosas habilidades psíquicas são designados a uma investigação em um local controlado por uma poderosa traficante.

Judge Dredd é um personagem de quadrinhos originário da revista britânica 2000 AD, que já tinha ganhado uma adaptação, O Juiz (Judge Dredd), estrelada por Sylvester Stallone em 1995 – um filme odiado pelos fãs do quadrinho.

A direção desta nova tentativa ficou a cargo de Pete Travis, que fez um bom trabalho em Ponto de Vista. Não me lembro muito do filme anterior, mas lembro que não achei lá grandes coisas – só vi uma vez, na época que foi lançado. Não tenho como comparar as versões, mas arrisco a dizer que este novo filme é bem melhor. Dredd é um bom filme!

A ambientação é um dos trunfos de Dredd. Bons cenários, bons figurinos e efeitos especiais eficientes e bem dosados tornam o filme uma boa opção para os apreciadores de filmes de ação. Além disso, o filme é bem violento. Vemos muitas mortes com detalhes que beiram o gore de filmes de terror. Li no imdb que os quadrinhos são violentos assim…

Dredd tem uma câmera lenta muito bem feita. As cenas que retratam o uso da droga “slo mo” trazem imagens belíssimas, como poucas vezes vistas em filmes violentos de ação.

Dredd é um bom filme, mas teve um azar muito grande: estreou pouco depois de Operação Invasão / The Raid Redemption / Serbuan Maut, filme indonésio que tem uma trama bem parecida (policial quase super humano tem que pegar um chefão de drogas que mora no alto de um prédio onde tem capangas por todos os andares). Li no imdb que a produção do filme americano começou mais cedo, mas o filme indonésio estreou antes e é bem melhor. Acho que a única grande diferença é que o policial americano tem munição quase infinita enquanto o seu paralelo oriental fica sem munição e parte para a luta com artes marciais…

Achei curioso escalarem um ator relativamente famoso para um papel que nunca mostra a cara – achei que em algum momento Karl Urban (RED, Star Trek, A Supremacia Bourne) tiraria a máscara para justificar o provável alto cachê. Além de Urban, Olivia Thirlby (A Hora da Escuridão) e Lena Headey (300) estão bem.

Enfim, boa opção. Principalmente para quem não viu Operação Invasao