Dogma do Amor

Crítica – Dogma do Amor

Outro dia, uma amiga mandou um e-mail me perguntando sobre um filme com a seguinte descrição: “O plot é mais ou menos assim: tem duas patinadoras no gelo, gêmeas. As pessoas começam a morrer do nada. Desfalecem na rua, mas aquilo vira normal e as outras passam por cima, como se nada tivesse acontecido. Lá pelas tantas o planeta começa a congelar. E o protagonista tá num avião que não pousa e vai ficar voando até… Que filme é esse?“. Caramba, não conhecia, mas precisava ver um filme assim!

Na verdade, Dogma do Amor (It’s All About Love, no original), lançado em 2003, fala sobre um casal e suas tentativas para salvar seu relacionamento num futuro próximo onde o planeta está à beira de um colapso cósmico. E as dicas dadas pela minha amiga estavam parcialmente incorretas. Não são patinadoras gêmeas, mas aparecem quatro patinadoras iguais; e não é o protagonista quem está no avião que não pode pousar. Mesmo assim, ainda parecia ser um filme interessante.

Gosto de filmes com sinopses bizarras – fiz até um Top 10 sobre isso. Não acho que tudo tem que ser explicado, fico satisfeito mesmo quando coisas são deixadas no ar sem explicação. Mas o filme precisa ser bom. E isso não acontece com Dogma do Amor.

Aparentemente, as situações bizarras só estão na trama pra chamar a atenção. São subtramas que não tem nenhuma importância na história, e que são muito pouco exploradas – tem um lance de pessoas sem gravidade em Uganda, que só aparece na última cena, solto, sem nenhuma relação com o resto do filme.

O diretor é Thomas Vinterberg, que ficou famoso com Festa de Família, o menos ruim dentre os filmes do Dogma 95, movimento picareta inventado por ele mesmo ao lado de Lars Von Trier pra chamar a atenção, e que não trouxe nada de qualidade para o cinema. Mas, se o Dogma 95 pregava uma produção cinematográfica espartana (câmera na mão, sem trilha sonora nem iluminação artificial, atores não profissionais, etc.), aqui Vinterberg deixou tudo isso de lado e resolveu abusar dos efeitos especiais – tem até efeito onde não precisa, como a cena desnecessária dos africanos sem gravidade.

(Aliás, o nome brasileiro do filme tenta pegar carona no movimento. “É Tudo Sobre o Amor” virou “Dogma do Amor“…)

O problema é que se você tirar as bizarrices do roteiro, o filme fica vazio e sem graça. Os personagens não são interessantes, a trama não é envolvente, o roteiro tem um monte de furos (por que eles foram parar na neve, no meio do nada, perto do fim do filme?), e tudo fica enfadonho e arrastado.

No elenco, Joaquin Phoenix parece perdido. Claire Danes está um pouco melhor, seu personagem é o único interessante no filme (e tem o lance das cópias). E Sean Penn deve ter ganhado o cachê mais fácil de sua vida: aparece por alguns segundos, falando sozinho ao celular, dentro de um avião. Mais ninguém interessante no elenco.

Enfim, boa sinopse, desperdiçada num filme mal desenvolvido.