Faroeste Caboclo

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Crítica – Faroeste Caboclo

João de Santo Cristo vai para Brasília, onde conhece Maria Lúcia e Jeremias. Levemente inspirado na música homônima do grupo Legião Urbana.

Nasci em 1971. Heu tinha 16 anos quando Faroeste Caboclo apareceu nas rádios, em 87. Era uma música diferente, mais longa que o padrão (quase 10 minutos!), e, em vez da fórmula “estrofe-refrão-segunda estrofe-refrão”, a música contava uma história, com começo, meio e fim.

E, durante anos, se falava “Faroeste Caboclo daria um bom filme, sua letra é quase um roteiro”. Até que, 26 anos depois, finalmente fizeram um filme contando a história de João de Santo Cristo, Maria Lúcia e Jeremias!

Mas… Cadê a história que nos acostumamos a ouvir??? Dirigido pelo estreante René Sampaio, Faroeste Caboclo tem um problema básico: o roteiro não segue a letra da música!

Ok, entendo que certos casos pedem uma adaptação, que vai fazer alterações pontuais na história. Entendo que não tem como rolar “Comia todas as menininhas da cidade / De tanto brincar de médico, aos doze era professor“. Mas… Cadê o “senhor de alta classe com dinheiro na mão / E ele faz uma proposta indecorosa“? E por que Jeremias aparece logo cedo na história? Pior: porque João foi estuprado por Jeremias? E, principalmente: por que mudar o fim da história? Por que fazer um duelo num campo vazio, sem ninguém por perto? Cadê “João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir / E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e / A gente da TV que filmava tudo ali“?

Os roteiristas Victor Atherino e Marcos Bernstein não pensaram no óbvio: o público alvo do filme é o cara que conhece a música. Pra que mudar quase tudo? O filme mostra João de Santo Cristo como um cara bonzinho, vítima da sociedade. Mas a música deixa claro que ele era um “bandido destemido e temido no Distrito Federal“, e que Maria Lúcia tinha surgido para ser a redenção de seus pecados…

(Pra não dizer que tudo na adaptação foi ruim, gostei da explicação por que Maria Lúcia se casou com Jeremias. Na música, essa parte nunca tinha me convencido.)

Pena, porque o filme nem é mal feito. Boa fotografia, bom ritmo. E os três atores principais, Fabrício Boliveira, Isis Valverde e Felipe Abib, estão bem.

Mas não rola. Só se mudassem o nome do filme e os nomes dos personagens…

p.s.: Pra piorar a situação do original vs adaptação, durante os créditos do filme, toca a música original. Aí a gente tira todas as dúvidas…