Um filme quase sem diálogos e com apenas um ator em cena? Pode ser interessante, mas também pode ser um sonífero. Vamos ver qualé.
Depois de ver o seu barco danificado por um container à deriva no Oceano Índico, um homem, sozinho, tem que enfrentar diversos problemas para ficar vivo.
Até o Fim (All Is Lost, no original) era um projeto arriscado, porque a chance de termos um resultado maçante era grande. Só um personagem, e sem diálogos? Bem, Até o Fim pode não ser um novo Náufrago, mas é um bom filme. O pouco conhecido diretor e roteirista J.C. Chandor (que só fez um filme antes desse, Margin Call – O Dia Antes do Fim) tem boa mão, e Robert Redford, seu ator, tem um grande carisma. O filme é lento, mas não chega a ser chato.
Robert Redford, aos 77 anos, interpreta o único personagem que aparece em cena, mencionado nos créditos como “nosso homem”. Não há narrações em off, nem monólogos – nem um “Wilson” (a bola usada por Tom Hanks em Náufrago). Toda a história é contada através dos atos solitários e silenciosos do “nosso homem” – rola uma breve narração no início do filme, fora isso, apenas algumas interjeições e frases soltas aqui e acolá (Segundo o imdb, o roteiro tinha apenas 32 páginas).
Acompanhamos o passo a passo do que chamei de “o marinheiro mais azarado do mundo”. Não vou dar spoilers, só digo que tudo de errado acontece pro “nosso homem”. Chandor consegue ângulos criativos em espaços pequenos e a edição com cortes curtos ajuda o ritmo.
Até o Fim foi comparado com Gravidade por algumas pessoas, porque são filmes com poucos personagens, onde existe uma busca individual pela sobrevivência enquanto se enfrenta grandes adversidades. Mas a forma é completamente diferente. Se Gravidade é tenso do início ao fim e tem efeitos especiais alucinantes, Até o Fim é contemplativo e seus efeitos especiais são discretos.
O fim do filme permite mais de uma interpretação, depende se você é otimista ou pessimista…
p.s.: Tenho uma pequena experiência com veleiros, fui escoteiro do mar e fiz alguns cruzeiros a vela pela Baía de Guanabara. Na minha humilde opinião, o “nosso homem” deveria ter recolhido as velas antes da tempestade. Não entendi por que ele insistiu em manter a vela içada…