Robin Williams – 1951 – 2014

Copio aqui a homenagem que fiz ao Robin Williams no site abacaxivoador.com.br:

Robin Williams – Um adeus ao homem bicentenário

As vezes acho que sempre fui fã do Robin Williams. Deve ser porque quando atingi a idade adulta, no fim dos anos 80, sua carreira estava em ótima fase, e desde então sempre acompanhava os seus filmes na época dos lançamentos.

Vi pouca coisa do início de sua carreira. Não vi as séries Happy Days e Mork & Mindy, lembro vagamente dele fazendo o papel principal de Popeye (80), do Robert Altman. Nunca vi O Mundo Segundo Garp (82), nem Moscou em Nova York (84); vi Clube Paraíso (86), mas nem lembro do que o filme trata.

Mas a partir de 87, fica difícil não se lembrar do seu grito “good morning Vietnam!”. E em 88 ele fez um papel pequeno e engraçadíssimo em As Aventuras do Barão Munchausen, sua primeira colaboração com Terry Gilliam. E acho que seu grande momento na carreira aconteceu em 89, quando nos ensinou a subir em cima da carteira do colégio em Sociedade dos Poetas Mortos, com seu lema “Carpe diem” (“Aproveitem o dia”), um ensinamento válido até hoje.

Nos anos 90, choveram papeis importantes em filmes marcantes: Um Conquistador em Apuros e Tempo de despertar em 90; Voltar a Morrer, O Pescador de Ilusões e Hook em 91 – não é qualquer um que trabalha com Kenneth Brannagh, Terry Gilliam e Steven Spielberg no mesmo ano! Aliás, lembro da expectativa por Hook – como um cara “velho” ia interpretar Peter Pan? E não é que funcionou?

Em 92, Williams revolucionou a indústria de desenhos animados quando dublou o gênio de Aladdin. Como ele interpretava um gênio, soltou a imaginação, e os desenhistas deram corda, criando muita coisa em cima da voz do ator. A partir do ano seguinte, muitas animações passaram a ser desenhadas a partir da gravação da voz do ator! No ano seguinte, Williams conquistou o mundo com a sua Babá Quase Perfeita.

Noventa e cinco foi o ano do impressionante Jumanji, e no ano seguinte, Williams nos fez rir com A Gaiola das Loucas e chorar com Jack, o menino de 10 anos com corpo de 40. Noventa e sete foi o ano do reconhecimento da Academia – Williams ganhou o Oscar por Gênio Indomável. E 98, ele fez o filme favorito deste que vos escreve, Amor Além da Vida, um filme de tema difícil, mas belíssimo – acho que é o visual mais impressionante de todos os filmes que já vi em toda a minha vida, o cara vai parar dentro de uma pintura, o cenário é feito de tinta! Ainda nos anos 90, ele fez Patch Adams (98) e O Homem Bicentenário (99).

Williams ficou marcado por um tipo de papel bonzinho, e quase sempre as pessoas se lembravam dele como um sujeito engraçado e bonachão – mesmo em filmes mais sérios. Isso queimou um pouco sua carreira na opinião pública, que se cansou um pouco do tipo. Williams então tentou mudar isso no início dos anos 2000, quando fez filmes mais sombrios: Retratos de uma Obsessão, Morra Smoochy Morra e Insônia, os três de 2002.

Mas estas últimas décadas não sorriram tanto para Williams quanto os anos 90. Foram alguns bons filmes, como O Som do Coração e os dois Uma Noite no Museu, mas nada tão marcante.

Agora Williams foi encontrado morto, com suspeita de suicídio. A ironia é que em Amor Além da Vida, ele precisa resgatar a sua esposa, que, como se suicidou, foi parar em um lugar escuro e triste. Espero que o filme esteja errado, espero que Williams esteja em um lugar bom, tão bonito quanto a pintura para onde seu personagem foi.

O mundo cinéfilo está de luto. Sentiremos falta do seu talento. Mesmo assim, fica aqui a lição que ele mesmo falou, anos atrás: “aproveitem o dia”.

Os Mercenários 3

0-os-mercenarios-3Crítica – Os Mercenários 3

O terceiro filme de uma das mais divertidas franquias do cinema recente!

Barney (Stallone) descobre que Stonebanks, um dos fundadores de sua empresa de mercenários, dado como morto há tempos, não só está vivo como virou um grande contrabandista de armas. Agora Barney quer montar um novo time para partir para uma missão pessoal atrás de seu ex-companheiro.

O primeiro Mercenários foi uma agradável surpresa, uma reunião de veteranos de filmes de ação, trazendo alguns lutadores contemporâneos como coadjuvantes. O segundo foi ainda mais divertido quando trouxe outros ícones e investiu nas piadas ligadas ao elenco – Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger têm uma sequência engraçadíssima com várias citações a filmes antigos de ambos, e Chuck Norris chega a citar uma piada famosa na internet.

E agora? Será que o terceiro segura a onda?

Não…

Era uma boa expectativa. Se não tinha Bruce Willis, nem Mickey Rourke e Eric Roberts (que estavam no primeiro) e Jean Claude Van Damme e Chuck Norris (que estavam no segundo), o elenco desta vez contava com Harrison Ford e Mel Gibson. Ou seja, Rambo e o Exterminador do Futuro encontram Han Solo e Mad Max! E não parava aí: ainda tinha Antonio Banderas e Wesley Snipes (ambos trabalharam com Stallone nos anos 90, Snipes fez O Demolidor em 93; Banderas fez Assassinos em 95), além da volta de Jason Statham, Dolph Lundgren e Jet Li. Caramba, como um elenco desses pode dar errado?

(Ainda no elenco, temos Randy Couture e Terry Crews, que estavam nos outros filmes – mas Crews quase não aparece, li que ele estava enrolado com as filmagens da série Brooklyn 99. E também tem Kelsey Grammer e Robert Davi em papeis pequenos mas importantes.)

Vamos aos problemas. Em primeiro lugar, o filme dirigido pelo pouco conhecido Patrick Hughes (é seu segundo longa metragem) tem muitos personagens. Não tem espaço pra tanta gente num filme de duas horas e pouco, alguns têm participações minúsculas – por exemplo, Jet Li aparece tão rápido que não dá tempo de bater em ninguém.

Mas na minha humilde opinião, o pior problema é a nova geração. Determinado momento do filme, Stallone quer um novo time de mercenários, formado por Ronda Rousey, Victor Ortiz, Kellan Lutz e Glen Powell. Isso não só incha ainda mais o elenco como ainda traz alguns personagens sem carisma. Quem quer saber de novatos se você pode ver os veteranos em ação?

(Pra mim, isso foi uma estratégia. Não me espantarei se em breve vermos um spin-off com o novo time.)

Ah, tem um agravante. Ronda Rousey é bonita e bate bem. Mas há tempos não vejo uma atuação tão ruim! Heu achava que a Gia Carano era má atriz, mas vi que tem gente pior…

Além do excesso de personagens e da falta de carisma de alguns deles, Os Mercenários 3 ainda tem outros dois problemas. Um deles é o cgi preguiçoso. É inadmissível uma produção deste porte usar efeitos digitais tão vagabundos. Alguns efeitos lembram produções da Asylum, como a explosão do helicóptero ao fim da primeira cena ou o paraquedas na pedreira.

O outro problema é algo mais pessoal, admito. É que gosto do humor presente no segundo filme, cheio de referências às carreiras dos veteranos action heroes. O roteiro do terceiro filme, co-escrito pelo próprio Stallone, é mais sério. Ok, foi legal ver o Schwarza gritando “get to the choppa!”, mas é pouco – pelo elenco, heu esperava bem mais.

Tem uma última coisa que me incomoda, mas é algo que acontece em quase todos os filmes de ação por aí. A cena final tem 10 mocinhos encurralados em um prédio cheio de bombas em posições estratégicas, cercados por um exército fortemente armado com tanques e helicópteros. E, ao fim da cena, todos os inimigos estão mortos, enquanto todos os mocinhos estão inteiros, ninguém levou nem um tiro… Ok, sei que isso não é exclusivo deste filme, e que acontece direto por aí. Mas, que incomoda, ah, incomoda.

No fim, temos apenas mais um filme de ação, com todos os clichês do bem e do mal presentes. Aí a gente lê o elenco e pensa “caramba, conseguiram reunir um elenco desses pra fazer um filme meia bomba?”

Rola um papo que este seria o último filme da franquia. Mas a gente vê que os atores estão se divertindo, se a bilheteria compensar, aposto que teremos mais veteranos voltando à ação. Só espero que Mercenários 4 seja mais próximo do 2 do que do 3.

p.s.: Li que o próximo projeto do diretor Patrick Hughes é a refilmagem do excelente filme indonésio The Raid. Torço muito pelo sucesso de Hughes. Mas torço ainda mais para esta refilmagem nunca ser feita. Vejam o original!!!

Uma Noite de Aventuras (1987)

Uma noite de aventurasCrítica – Uma Noite de Aventuras (1987)

Para o podcast de comédias dos anos 80, alguém sugeriu este Uma Noite de Aventuras. (Adventures in Babysitting, no original). Como não via desde a época do lançamento no cinema, no fim dos anos 80, fui rever.

Chris, uma jovem de 17 anos fica de babá tomando conta de três crianças, até que uma amiga liga e pede para ser resgatada na rodoviária. Chris sai de casa com os três no carro para buscar a amiga, mas vários problemas aparecem no meio do caminho.

O formato segue um estilo bastante comum na época: coisas vão dando errado sucessivamente (as “muitas confusões” que sempre eram citadas nos comerciais da sessão da tarde), até um fim onde os mocinhos conseguem se safar na boa. Fórmula simples e eficiente, apesar de previsível.

Claro que este formato de comédia às vezes força a barra. Mas quando o roteiro é bem escrito, mesmo uma forçação de barra funciona. Um exemplo: os bandidos nunca seriam parados daquele jeito dentro do clube de blues – mas a cena “ninguém sai daqui sem cantar um blues” ficou divertida.

Uma Noite de Aventuras é o filme de estreia de Chris Columbus na cadeira de diretor – ele já era um roteirista conhecido, já tinha escrito Vidas Sem Rumo, Gremlins, Goonies e O Enigma da Pirâmide. Pra quem não se ligou no nome, depois ele dirigiria Esqueceram de Mim, Rent, Percy Jackson e o Ladrão de Raios e os dois primeiros Harry Potter, entre outros.

No elenco, o único nome de destaque é Elisabeth Shue, em seu primeiro papel de destaque, e que logo depois faria Cocktail e De Volta Para o Futuro 2 e 3 e viraria uma atriz conhecida até hoje. Os dois irmãos são interpretados por Maia Brewton e Keith Coogan, que sumiram. Agora, tive três surpresas com o resto do elenco. Brenda, a amiga a ser salva na rodoviária, é Penelope Ann Miller (O Pagamento Final). O mecânico, aquele cara magro de cabelos louros que só aparece em uma cena, é Vincent D’Onofrio. E Daryl, o moleque vizinho, é Anthony Rapp, que voltaria a trabalhar com Chris Columbus em um dos papeis principais do musical Rent – o garoto cresceu e aprendeu a cantar. Ah, li o nome de Lolita Davidovich nos créditos, mas confesso que não achei onde ela estava.

Por fim: olhem o poster. Por que Chris está de vestido, se ela não usa este vestido no filme? É que o poster foi feito antes das filmagens…

Enfim, um bom e despretensioso “filme de sessão da tarde”.

Stallone Cobra

stallone-cobraCrítica – Stallone Cobra

Uma ode à testosterona oitentista!

Um policial durão tem que proteger uma bela modelo, a única pessoa que pode reconhecer um assassino que faz parte de um culto, auto denominado “Nova Ordem”, que está matando dezenas de pessoas.

Podemos rever Stallone Cobra hoje em dia sob dois pontos de vista. Por um lado, é um filme tosco e boçal, datado e mal feito. Por outro lado, é um filme tosco e boçal, datado e mal feito, e muito divertido!

Curiosamente, a gênese de Stallone Cobra está em outro filme bem mais light. Stallone escreveu um roteiro para Um Tira da Pesada, filme que ele também protagonizaria. Mas ele queria um filme de ação, enquanto os produtores preferiam um tom mais de comédia. Assim, Stallone levou seu roteiro para outra produção, Eddie Murphy foi chamado e virou um astro.

O melhor do filme dirigido por George P. Cosmatos (que já tinha trabalhado com Stallone em Rambo II – A Missão) é o personagem título, que vive de óculos espelhados, luvas de couro e um palito pendurado na boca, tem um carro vintage maneiro, e que passa o filme inteiro falando frases de efeito enquanto mata boa parte do elenco. Ah, o nome Marion Cobretti é uma homenagem a John Wayne, que tinha “Marion” como nome de batismo.

Pra mim, uma cena resume o espírito do filme. Depois de ter matado um bandido, Cobra chega em casa, pega uma pizza na geladeira, corta um pedaço com uma tesoura e come enquanto limpa a arma – isso tudo sem tirar as luvas!!!

Li que existe uma versão mais longa , de cerca de 130 minutos (a versão oficial tem 87 min), que foi cortada para o filme ter mais sessões por dia e competir com a bilheteria de Top Gun, lançado na mesma época. Claro que isso causou furos no roteiro…

Além disso, tem coisa na trama que não faz sentido, mas acho que não foi culpa da edição, tipo os bandidos que chamam mais atenção tentando matar a mocinha do que se deixassem ela em paz. Mas claro que isso pouco importa, o que importa aqui é a violência exagerada.

No principal papel feminino, a então sra. Stallone, Brigitte Nielsen, em seu segundo filme com ele (ambos estavam em Rocky IV um ano antes). O casamento durou menos de dois anos, na época rolou um boato que Brigitte teria trocado Stallone pela sua secretária… Ainda no elenco, uma curiosidade: Reni Santoni (Tony Gonzalez) e Andrew Robinson (detetive Monte) estiveram juntos 15 anos antes em Dirty Harry, Perseguidor Implacável – outro “filme de policial durão”.

Por fim: este filme passou tantas vezes na tv brasileira que existe um “culto trash” à sua péssima dublagem – tão ruim que combina com os exageros boçais do filme…