Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

birdmanCrítica – Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Outro dia falei de como o cgi mudou o plano sequência. E agora estreia talvez o exemplo mais impressionante (até agora) da história do plano sequência no cinema: Birdman!

Um ator que fez sucesso interpretando um super herói caiu no esquecimento quando se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem. Em busca da fama perdida e do reconhecimento, ele decide roteirizar, dirigir e estrelar uma adaptação de um texto consagrado para a Broadway.

O diretor Alejandro González Iñárritu conseguiu um resultado impressionante com o seu plano sequência megalomaníaco que mostra os bastidores de uma peça teatral, num interessante exercício de metalinguagem. Birdman tem quase duas horas (119 min) e é basicamente um único plano sequência – no fim do filme, temos alguns planos curtos, e logo depois volta o plano sequência. Mas o filme não é um plano sequência convencional, existem passagens temporais (mesmo sem cortes visíveis na imagem) – o filme todo se passa ao longo de três dias.

Aliado a este impressionante exercício técnico, temos um ótimo elenco, com atores inspirados. Michael Keaton está impressionante e é candidato fortíssimo ao Oscar de melhor ator mês que vem. Talvez ele estivesse inspirado pelo “fantasma do Batman” – durante o filme inteiro, o protagonista dialoga com o seu alter ego. Edward Norton e Naomi Watts também estão excelentes, mas isso não é surpresa, todos sabem que são grandes atores; quem surpreende é Zach Galifianakis, num papel diferente do “gordo bobão” de sempre. Ainda no elenco, Emma Stone, Andrea Riseborough e Amy Ryan.

A trilha sonora também merece destaque. Quase todo o filme é sublinhado por uma nervosa trilha percussiva – praticamente só se ouve bateria. Detalhe: por duas vezes vemos o baterista ao fundo da cena quando a câmera passa (outro genial exemplo de metalinguagem). E a fotografia ficou a cargo de Emmanuel Lubezki, que ganhou o Oscar ano passado por Gravidade (coincidência ou não, dois filmes dirigidos por mexicanos) . Por fim, os efeitos especiais: não só o cgi ajudou na edição do plano sequência de “cortes invisíveis”, como ainda está presente em detalhes fundamentais da trama, ilustrando o conflito interno do protagonista com o seu alter-ego (e, em uma cena em particular, pra parecer que estamos realmente vendo um filme de super-heróis).

Sobre o gênero, é difícil classificar Birdman. Não é exatamente uma comédia, mas alguns trechos são muito engraçados – a sequência onde Rigman passeia pela Times Square porque ficou preso fora do teatro é hilária! Mas quem for ao cinema esperando uma comédia pode se decepcionar.

Birdman está concorrendo a 9 Oscars: filme, direção, roteiro original, ator (Michael Keaton), ator coadjuvante (Edward Norton), atriz coadjuvante (Emma Stone), fotografia, som e edição de som. Não será surpresa se for o grande vencedor da noite no próximo dia 22.

Por fim: o subtítulo nacional é horrível, mas não é culpa dos tradutores. O nome original é “Birdman: or (The Unexpected Virtue of Ignorance)”.

A Entrevista

A EntrevistaCrítica – A Entrevista

Vamos de filme polêmico?

Quando o apresentador e o produtor de um programa de tv sensacionalista descobrem que o ditador norte-coreano Kim Jong-un é fã do programa, eles são recrutados pela CIA para transformar sua viagem até Pyongyang em uma missão de assassinato.

No fim do ano passado a Sony foi atacada por hackers ligados à Coreia do Norte, por causa de um filme que satirizava Kim Jong-un. A liberdade de expressão mais uma vez foi questionada, porque a Sony cedeu e adiou o lançamento do filme, e isso gerou uma grande polêmica.

Claro, a polêmica ajudou a divulgação do filme. E arrisco a dizer que foi muito benéfica, pelo lado do marketing – os produtores do filme ganharam uma enorme propaganda com o caso. Porque o filme, por si só, é fraaaco…

Sempre defendo a incorreção política no humor, assim como sempre ataco as piadas ruins. Pra mim, o humor pode ser ofensivo, mas não pode ser sem graça. A Entrevista (The Interview, no original) é ofensivo – e sem graça.

Escrito e dirigido por Seth Rogen e Evan Goldberg, A Entrevista é mais uma comédia de piadas de gosto duvidoso – como acontece infelizmente muito na carreira de Rogen (pena, simpatizo com ele). Muitas piadas de baixo calão envolvendo órgãos sexuais, além de muitas referências ao “bromance” (será que isso é tendência nos EUA?). Na boa, uma piada sobre enfiar uma cápsula no ânus não é engraçada da primeira vez, repetir a piada não melhora a situação.

O elenco não ajuda. Seth Rogen faz o mesmo “papel de Seth Rogen” de sempre, e James Franco, parece que só está na farra com o amigo em vez de interpretar um papel – Franco e Rogen já trabalharam juntos diversas vezes, como na série Freaks and Geeks e nos filmes Segurando as Pontas e É o Fim – entre outros. Ainda no elenco, Lizzy Caplan, Randall Park e Diana Bang, e participações especiais de Rob Lowe, Eminem e Joseph Gordon Levitt, queimando os próprios filmes interpretando eles mesmos em situações embaraçosas.

Assim, temos um filme bobo, repleto de piadas sem graça. Acho que a única parte interessante é a breve crítica ao sensacionalismo da tv norte-americana. Mas a parte principal – sobre o ditador coreano – é dispensável.

Resumindo: se você quiser humor politicamente incorreto satirizando um ditador norte-coreano, prefira Team America

A Teoria de Tudo

A Teoria de TudoCrítica – A Teoria de Tudo

Cinebiografia do físico Stephen Hawking, abordando mais o lado humano do que o acadêmico: seu relacionamento com sua primeira esposa e sua doença degenerativa.

Stephen Hawking é um cara impressionante, um dos caras mais inteligentes da história, e que vive há décadas com um problema degenerativo que debilita o seu corpo (e pelo qual, segundo a medicina, ele só teria mais dois anos de vida). Que tal contar esta história num filme?

O problema é que o filme dirigido por James Marsh, baseado no livro autobiográfico de Jane Hawking (ex-esposa do protagonista), é burocrático demais. Tudo está lá, certinho, no seu lugar, parece que estamos vendo um telefilme. Achei um exagero A Teoria de Tudo estar indicado ao Oscar de melhor filme (são cinco indicações no total – filme, ator, atriz, roteiro adaptado e trilha sonora). Me parece que, por se tratar de um cara importante como Stephen Hawking, existe uma supervalorização aqui.

A única coisa que realmente se destaca em A Teoria de Tudo (The Theory of Everything, no original) é a atuação de Eddie Redmayne. “Anteontem” ele era um cara desconhecido (ele era um dos principais de Os Miseráveis, mas ninguém se lembra disso, afinal, ele estava ao lado de Hugh Jackman, Russel Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, né?); hoje ele deve ter boas propostas na mesa, mesmo se não levar o Oscar (ele já levou o Globo de Ouro este ano). E se levar, não será surpresa, a Academia gosta de premiar este tipo de atuação.

Felicity Jones também concorre ao Oscar de melhor atriz – no filme, seu papel é tão importante quanto o de Hawking (o filme foi baseado no livro escrito por ela). Mas ela não está tão impressionante quanto Redmayne. Ainda no elenco, David Thewlis, Emily Watson, Maxine Peake e Charlie Cox.

Pelo menos A Teoria de Tudo é bem feito, tem uma boa reconstituição de época e conta a história de um cara fascinante. Isso, aliado à grande interpretação de Redmayne, torna o filme uma boa opção – é só baixarmos a expectativa e não pensar como um filme candidato ao Oscar.

Podcrastinadores.S03E02 – Top 15 Vilões do Cinema

Podcrastinadores.S03E02 – Top 15 Vilões do Cinema

Pra começar bem 2015, fizemos a lista dos quinze maiores vilões da história do cinema!

Venha debater com a gente sobre o lado negro do cinema! Aquele vilão psicopata, o que traz medo e pânico a todos, aquele que quer ver o caos, aquele que era bonzinho mas algo terrível aconteceu e o transformou num monstro assassino…

Será que você concorda com a nossa lista e nossos argumentos? Participe e opine você também!

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Links relacionados a este episódio:

Episódio dos Podcrastinadores sobre Disney, Tarantino e Batman.

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Antes de Dormir

Antes-de-DormirCrítica – Antes de Dormir

Uma mulher acorda todos os dias sem se lembrar de nada recente, resultado de um traumático acidente no seu passado. Um dia, novas evidências aparecem e a forçam a questionar todos em sua volta.

Lendo a sinopse, parece uma mistura de Como se Fosse a Primeira Vez com Amnésia. Mas, na verdade, Antes de Dormir (Before I Go to Sleep, no original) tem muito pouco em comum com esses filmes.

Antes de Dormir é um filme “correto”: boa fotografia, trilha sonora ok… mas no fundo nunca deixa de parecer um “filme de Supercine”, uma produção daquelas que iria direto para o mercado de home video – infelizmente, o filme não engrena nunca. O único destaque aqui é o elenco, afinal, não é sempre que se pode contar com Nicole Kidman, Colin Firth e Mark Strong. Os três estão bem. E – para os fãs de Nicole – ela tem uma rápida cena de nudez, onde mostra que ainda está com tudo em cima aos 47 anos de idade.

Rowan Joffe dirigiu e escreveu o roteiro (baseado no livro homônimo de S. J. Watson). É o segundo longa para o cinema dirigido por Rowan, seu currículo como roteirista é um pouco maior (Extermínio 2, Um Homem Misterioso, entre outros). Rowan é pouco conhecido, mas filho de gente importante – seu pai é Roland Joffé, de A MissãoOs Gritos do Silêncio. Triste fato: como diretor, Rowan ainda é mais fraco que o pai.

Antes de Dormir é um daqueles suspenses onde os elementos são colocados na trama como se fosse um quebra cabeça. O problema é que o plot twist final é tão mirabolante que fica difícil acreditar que uma pessoa seria capaz de tal plano.

Enfim, um filme mediano, que não ofende ninguém, mas que também pode passar batido.

Minúsculos: O Filme

minusculos-posterCrítica – Minúsculos: O Filme

Vamos de animação europeia?

Em uma clareira na floresta, uma jovem joaninha se vê no meio de uma guerra entre duas espécies de formigas atrás do açúcar deixado em um piquenique abandonado.

Escrito e dirigido pela dupla Thomas Szabo e Hélène Giraud, o desenho franco-belga Minúsculos:O Filme (Minuscule – La vallée des fourmis perdues, no original) parte de uma premissa interessante: uma animação feita em cima de cenários reais. Aparentemente, quase todos os cenários de imagens da natureza foram filmados, e os insetos foram desenhados em cima. Já os objetos que aparecem ao longo do filme, esses não sei se foram filmados ou desenhados.

Outra particularidade de Minúsculos é a ausência de diálogos falados. Diferente dos desenhos tradicionais que humanizam os animais, aqui eles se comunicam por ruídos – as formigas apitam, as joaninhas buzinam, etc. Por um lado, isso ficou bem legal. Mas acho que a falta de diálogos talvez canse os pequenos durante os 89 min de projeção. Vi o filme com meus dois filhos pequenos – o de 3 anos se desinteressou; o de 5 anos reclamou “porque não tem falas”.

Outro problema neste formato é que a criançada hoje em dia está acostumada com o ritmo aventura / comédia das animações hollwoodianas, e Minúsculos é mais lento e contemplativo, e quase sem momentos engraçados. O filme tem imagens belíssimas, mas não sei se a molecada vai dar bola pra isso.

E aí caímos em um problema: Minúsculos tem boa intenção, mas falha para o seu público-alvo…

Vale como experiência, vale para vermos algo diferente do padrão Hollywood. Mas que podia ser melhor, ah, podia…

Busca Implacável 3

buscaimplacavel3Crítica – Busca Implacável 3

A regra em Hollywood é clara: se o filme teve sucesso comercial, teremos continuação(ões). Assim, vamos ao terceiro Busca Implacável…

O ex-agente Bryan Mills é acusado de um assassinato que ele não cometeu, e agora precisa usar suas habilidades para escapar da polícia e limpar o seu nome.

Sim, o primeiro Busca Implacável foi bem legal. Sim, o segundo foi mais fraco. Sim, não precisava de um terceiro. Dito tudo isso, fica a dúvida: vale ver o terceiro filme?

Mais uma vez dirigido por Oliver Megaton (do segundo filme), Busca Implacável 3 (Taken 3, no original) se equivale ao segundo filme. Um filme de ação apenas maomeno, com alguns bons momentos, mas que fica devendo no conjunto. E atrapalha a mania do diretor de usar sempre planos muito curtos, resulta em um filme picotado como se fosse um longo (e cansativo) videoclipe – algumas cenas ficaram confusas, como a perseguição de carros, onde demorei pra entender quem estava em qual carro.

O roteiro, mais uma vez escrito por Luc Besson (também produtor), traz um Bryan um fora da lei, perseguido pela polícia, com a ação se passando nos EUA. Sim, tudo previsível, a gente já viu essa trama um monte de vezes. Pra piorar, o filme demora a engrenar, quase nada acontece na primeira meia hora. A única vantagem é que Liam Neeson é um grande ator e está em boa forma, apesar dos seus sessenta e poucos anos, isso deixa Busca Implacável 3 um pouco acima da mediocridade.

Além de Neeson, Busca Implacável 3 traz de volta Maggie Grace e Famke Janssen, e tem Forest Whitaker e Dougray Scott como novidades no elenco (por que Xander Berkeley não voltou ao seu papel?). Nenhum dos novos vilões merece ser citado.

No fim, temos mais um filme de ação genérico, que não chega a ser ruim, mas está longe de ser bom. Quem quiser um bom filme de ação, reveja o primeiro Busca Implacável.

p.s.: A piada é velha, mas continua válida: claro que Liam Neeson vai conseguir fazer tudo aquilo. Além de ser Zeus, o cara treinou o Batman e o Obi Wan Kenobi!

Como o CGI Mudou o Plano-sequência

Festim Diabólico

Cena de Festim Diabólico

Como o CGI Mudou o Plano-sequência

Antes de tudo, vamos a uma definição de plano-sequência. Segundo o wikipedia, é “um plano que registra a ação de uma sequência inteira, sem cortes“. Ou seja, uma sequência onde a câmera passeia pela cena em um único take.

Não se sabe quando o cinema começou a dar importância aos planos-sequência. Mas queria citar dois clássicos famosos. Primeiro, claro, o filme Festim Diabólico, onde Alfred Hitchcock concebeu um longa metragem como se fosse um único plano. Claro, temos alguns cortes mas, mesmo assim, o filme, feito em 1948, impressiona até hoje. E também queria falar da abertura de A Marca da Maldade, de 1958, onde Orson Welles passeou com a câmera por algumas dezenas de pessoas e vários carros em movimento, incluindo um take do alto de uma grua.

Nos anos 90 e 00, com novas câmeras e novas técnicas, alguns diretores arriscavam planos-sequência cada vez mais ousados, como vimos em Os Bons Companheiros (Martin Scorsese, 1990), Fervura Máxima (John Woo, 92), Boogie Nights (Paul Thomas Anderson, 97), Olhos de Serpente (Brian de Palma, 98), Oldboy (Chan-wook Park, 2003) e Fihos da Esperança (Alfonso Cuarón, 06) – isso porque não estou falando da Arca Russa (2002), teoricamente filmado em um único plano-sequência de 96 minutos!

Até que – não sei exatamente quando – descobriram que o cgi poderia ajudar a continuidade. Um cgi discreto, mais próximo do Forrest Gump de Robert Zemeckis – um efeito que está lá para não aparecer. O cgi neste caso auxilia a arte do cinema, em vez de tentar substituí-la (como acontece com alguns filmes por aí, que são apenas efeitos especiais, sem conteúdo). Atualmente o cgi é usado para ajudar o plano-sequência, a fim de parecer que tudo foi feito em um único take, mesmo que existam cortes ao longo do processo.

Não li em lugar nenhum, mas desconfio que o plano-sequência de Presságio (2009), quando Nicolas Cage anda pelos destroços de um avião que acabou de cair, seja um desses casos onde o cgi ajudou. O mesmo penso sobre o filme uruguaio A Casa (2010), filmado inteiramente em um único take. Em ambos os casos, não li nenhuma informação sobre cortes, mas acredito que existam. E mesmo que existam, não tiro o mérito dos realizadores, pois, mesmo com cgi, o plano-sequência ainda precisa de um minucioso planejamento.

É aí que entra a beleza do novo conceito de plano-sequência. Antes, o desafio era técnico: como fazer tudo no set fluir ao longo do take, porque se alguém erra, todos recomeçam do zero. Agora o desafio é a concepção: como bolar um plano-sequência cada vez mais criativo e, se precisar, usar o cgi para unir os takes e apagar os erros.

Um exemplo disso é a cena da perseguição em As Aventuras de Tintim (2011). Aquilo é animação, então não tem problema alguém errar no meio do “take”. E, mesmo assim, o plano-sequência é genial! O recente 300: A Ascenção do Império  (2014) tem um plano-sequência do mesmo estilo – o cavalo passa pelo fogo, cai na água, etc – acredito que quase tudo aquilo foi desenhado no computador.

Em Operação Invasão 2 (2014) temos um take que começa dentro de um carro em alta velocidade, a câmera sai pela janela, entra no carro de trás, e sai pela janela do outro lado do carro – sem nenhum corte! Neste caso, o cgi foi usado apenas para criar uma porta no segundo carro – que não tinha porta para facilitar a entrada da câmera. E A Casa Silenciosa, a refilmagem hollywoodiana de A Casa, também é um único take, mas os produtores admitiram que fizeram planos de aproximadamente oito minutos (o que já é bastante) e depois emendaram digitalmente.

Enfim chegamos aos dois exemplos recentes mais impressionantes. Gravidade, que levou 7 Oscars ano passado, tem planos-sequência geniais, onde provavelmente tudo (menos os rostos dos atores) foi feito no computador: a câmera flutua no espaço, dá cambalhotas, entra no capacete e sai pelo outro lado… Qual a diferença técnica entre isso e uma sequência com vários cortes, já que tudo é digital?

Um ano depois vemos Birdman, de Alejandro González Iñárritu, que está concorrendo a 9 Oscars este ano: um longa de duas horas onde temos um plano-sequência que dura quase o filme todo (tem uma meia dúzia de planos curtos perto do fim). Claro que Birdman não foi filmado em um take único, temos passagens temporais claras (o filme se passa ao longo de três dias). Só que todas essas emendas foram apagadas por cgi, o filme todo flui sem cortes.

Se antes o plano-sequência já era impressionante, agora com o cgi os realizadores podem sonhar alto e impressionar mais ainda. Que venham mais planos-sequência deste nível! Que mais diretores usem os efeitos digitais para melhorar sua arte!

Tusk

TuskCrítica – Tusk

Filme novo do Kevin Smith!

Um podcaster vai até o Canadá atrás de uma boa história, mas acaba sendo sequestrado – para virar uma morsa.

Kevin Smith está numa fase da carreira onde ele pode arriscar. E fez isso com este estranho Tusk.

Smith tem um podcast, o “Smodcast”. Uma vez, ele leu uma notícia bizarra, onde um homem oferecia casa e comida, de graça, desde que o inquilino topasse se vestir de morsa. O que era pra ser apenas uma piada rápida virou um papo de quase uma hora. Smith então perguntou aos seus ouvintes se eles queriam ver um filme sobre isso. Adivinhem qual foi a resposta…

Tusk começa bem, num clima entre o humor negro e o suspense. Auxiliados por bons diálogos, escritos pelo próprio Smith, Michael Parks e Justin Long constroem uma tensa e interessante relação, com um que de Encaixotando Helena e outro de Centopeia Humana.

Mas tem um momento que o filme sai do trilho. É quando aparece um Johnny Depp, fantasiado e anônimo (ele não está nos créditos). Seu personagem, Guy Lapointe, é bobo e sem graça, e mesmo assim tem muito tempo de tela – além de um papo looongo, chato e desinteressante, num café, ainda rola um flashback desnecessário.

Assim, um filme que começa esquisito mas promissor termina confuso e arrastado. Pena…

Digo pena porque heu era muito fã do Kevin Smith, na sua fase “Jay & Silent Bob”. Gosto muito de O Balconista, Barrados no Shopping, Procura-se Amy, DogmaO Império do Besteirol Contra-Ataca. Entendo que ele queira coisas diferentes na sua carreira, mas confesso que prefiro a primeira fase da sua filmografia.

No elenco, além dos já citados Parks e Long, Tusk traz Haley Joel “I see dead people” Osment e Genesis Rodriguez. Jennifer Schwalbach Smith, a sra. Kevin Smith, faz uma ponta como uma garçonete; e as duas atendentes da loja de conveniência são Harley Quinn Smith e Lily-Rose Melody Depp, são as filhas de Kevin Smith e Johnny Depp. Ah, e tem Johnny Depp, infelizmente num papel bem abaixo do que costuma fazer.

Tusk faz parte de uma trilogia baseada no Canadá, com outros filmes a serem escritos e dirigidos também por Smith, Yoga HosersMoose Jaws, a serem lançados este ano e ano que vem. Parece que Johnny Depp estará nos outros dois com o seu Guy Lapointe. Tomara que ele e Smith acertem a mão nos próximos filmes!

[REC] 4: Apocalipsis

REC4Crítica – [REC] 4: Apocalipsis

Ficou pronto o esperado [REC] 4: Apocalipsis! Será tão ruim quanto o 3, ou será que a voltaram à qualidade dos primeiros filmes?

A repórter de tv Ángela é resgatada do prédio e levada a um navio para ser examinada. Contudo, as pessoas no navio não sabem que ela carrega a semente do vírus demoníaco.

Antes de tudo, analisemos a franquia [REC]. O primeiro filme, lançado em 2007, é, na minha humilde opinião, o melhor filme já feito usando o recurso de câmera encontrada, e figura fácil em listas de melhores filmes de terror dos anos 00. O segundo filme, de 2009, não é tão bom quanto o primeiro, mas em compensação traz um twist sensacional à história.

Os dois primeiros filmes foram dirigidos pela dupla Paco Plaza e Jaume Balagueró. Para concluir a saga, a dupla se separou – Plaza foi fazer o [REC] 3, que contaria a origem de tudo, enquanto Balagueró faria o 4, a conclusão. Como o 3 foi decepcionante, a expectativa para o 4 era grande.

Mas… Infelzmente, [REC] 4: Apocalipsis  ([REC] 4: Apocalypse fora da Espanha) também decepciona…

Vejam bem, [REC] 4 não é exatamente um filme ruim. Se fosse um filme genérico de zumbis / monstros, seria um filme ok. Mas, com o nome “Rec” e com Balagueró na direção, a gente não esperava um filme apenas “ok”. Pô, este filme tem pedigree!

Outro problema: o subtítulo “apocalipse”. Com um subtítulo desses, a gente imaginava um novo Extermínio, uma devastação em um nível coerente com o nome do filme. Mas, que nada, [REC] 4 se passa num navio…

Assim como no terceiro filme, a idéia de câmera encontrada foi deixada de lado. Mas não achei ruim, na verdade me cansei do estilo “found footage”.

Resumindo, [REC] 4: Apocalipsis é apenas um filme mediano. Temos a volta de Manuela Velasco ao papel de Ángela Vidal, alguns sustos aqui e acolá e efeitos especiais eficientes, mas nada que chame a atenção. Muito pouco.

No fim rola um gancho para um possível quinto filme. Que heu sinceramente espero que não aconteça.