O Balconista (1994)

Critica – O Balconista (1994)

Sinopse (imdb): Um dia na vida de dois funcionários de lojas de conveniência chamados Dante e Randal enquanto eles irritam os clientes, falam sobre filmes e jogam hóquei no telhado da loja.

(Sinopse errada! Randal trabalha na videolocadora!)

Outubro tocarei num evento no Rio Centro, e a atração principal é Kevin Smith. Hora de rever seus filmes!

O Balconista (Clerks, no original) é um perfeito exemplo de como o roteiro é importante para um filme. É um filme preto e branco, com atores desconhecidos, quase todo filmado em um único cenário. Tudo meio tosco, muitas vezes parece um filme amador. Mas o filme é repleto de diálogos geniais!

O roteirista e diretor Kevin Smith trabalhava naquela mesma loja de conveniência que serviu de cenário. Segundo o imdb, ele trabalhava de 6 da manhã até 11 da noite, e depois filmava até 4 da madrugada, enquanto a loja estava fechada. Como desculpa pra ter uma iluminação ruim, ele colocou no roteiro que os cadeados da loja estavam ruins e por isso ele não conseguiu abrir as portas.

O Balconista às vezes é meio tosco, certos momentos parece que estamos vendo um filme caseiro feito por amigos. A opção de filmar em preto e branco é porque a pós produção em cores ia ser mais cara, porque usaram diferentes tipos de iluminação. E ainda aproveitaram pra jogar o caô dizendo que era pra simular o preto e branco das câmeras de segurança.

O Balconista é daqueles filmes que tem vários “recortes” que ficaram famosos, como o cara testando os ovos, ou o diálogo sobre “snowball”. E o diálogo sobre a Estrela da Morte em construção continua genial. Aliás, Kevin Smith deve ser um grande fã de Star Wars, todos os seus filmes têm citações.

Outro dia, gravando um podcrastinadores, o Fernando Caruso falou uma coisa que me marcou: você nunca entra no mesmo rio duas vezes, porque a água que está lá não é a mesma, e você também não é o mesmo. Lembrei disso ao rever O Balconista 30 anos depois. O Helvecio de 23 anos gostou de todas as piadas; já o Helvecio de 53 ficou um pouco incomodado com a quantidade de piadas envolvendo temas sexuais. Não tem nenhuma extremamente ofensiva, mas achei um certo exagero. Mesmo assim, reconheço que a maior parte das piadas continua muito boa. E admito: a cena do diálogo sobre o cara que morreu tentando fazer sexo oral nele mesmo é genial.

No elenco, na época não tinha ninguém conhecido (dos 50 atores listados no elenco, foi o primeiro filme de 48 deles), mas depois revimos alguns desses atores fazendo os mesmos personagens em outros filmes do diretor. Kevin Smith criou um “view askewniverse” (View Askew é a produtora dele), foram seis filmes entre 94 e 2006 (O Balconista, Barrados no Shopping, Procura-se Amy, Dogma, O Império do Besteirol Contra-Ataca e O Balconista 2), mais dois filmes “temporões”, O Império do Besteirol Contra-Ataca2 (2019) e O Balconista 3 (2022). Nesses filmes, alguns personagens se repetem, algumas situações de um filme são citadas em outro, e sempre temos a presença da dupla Jay e Silent Bob (interpretado pelo próprio Smith). Aliás, o Silent Bob não é 100% silencioso, tem algumas falas aqui e ali, segundo o imdb a inspiração é Charles Chaplin, que permanecia em silêncio durante a maioria de seus filmes falados, mas muitas vezes tinha um monólogo importante e comovente perto do final.

Claro que continuei acompanhando a carreira de Kevin Smith como diretor, vi Pagando Bem Que Mal Tem, Tiras em Apuros, Red State, Tusk, Yoga Hosers… Mas, infelizmente preciso dizer que prefiro essa fase “view askewniverse”. Alguns filmes são até bons, mas não são geniais quanto os seus primeiros.

Agora tô na dúvida se revejo Dogma ou sigo a ordem cronológica e vejo Barrados no Shopping

20 Curiosidades sobre Flash Gordon

20 Curiosidades sobre Flash Gordon

Outro dia, meu amigo Cesar Monteiro, do canal Outcast Ambrosia, me sugeriu fazer vídeos de curiosidades. Achei uma boa ideia, afinal, sempre estou procurando saber informações sobre os bastidores, sobre o diretor, sobre o elenco, etc – quem lê meus textos aqui ou vê meus vídeos no youtube sabe disso.

Resolvi começar com Flash Gordon, um filme que gosto muito, e às vezes parece que sou o único que gosta, tanto que já virou uma piada entre meus amigos e também entre ouvintes do Podcrastinadores. Mas continuo defendendo – é um filme velho, tem seus problemas, a Dale Arden como “donzela em apuros” não funciona no seculo XXI, alguns efeitos estão muito vencidos, mas… Continua sendo um grande filme. E, em minha defesa, é um filme baseado em quadrinhos, que nunca teve uma refilmagem / reboot / releitura.

Aliás, três anos atrás fiz um vídeo sobre o filme. Revi ontem. Modéstia à parte, o vídeo ficou muito bom!

Resolvi trazer curiosidades fora do óbvio. Afinal, uma lista que diz “1- a trilha sonora é do Queen, 2- quem fez o príncipe Barin foi Timothy Dalton, que depois virou o James Bond” é uma lista besta e que você nem vai querer chegar ao fim. Por isso, posso afirmar quase com certeza que tem coisa aqui que você não sabia!

Por fim, quase tudo peguei no imdb, que é uma boa fonte, mas nem tudo lá é 100% confiável. Se heu trouxe alguma informação errada, peço que me avise, pra me corrigir!

Vamos à lista?

1- George Lucas adorava os antigos seriados do Flash Gordon quando criança e queria fazer uma versão moderna baseada nas histórias em quadrinhos originais. Mas Federico Fellini estava era a opção do produtor Dino De Laurentiis na época, então Lucas escreveu Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977).

2- Dino De Laurentiis considerou contratar Sergio Leone para dirigir o filme. Leone recusou porque acreditava que o roteiro não era fiel às histórias em quadrinhos originais.

3- Dino De Laurentiis nunca tinha ouvido falar do Queen antes de fazer este filme. A banda foi convidada para fazer a trilha em 1979 e eles ficaram imediatamente interessados. O empresário deles marcou uma reunião com De Laurentiis para discutir a oportunidade, e ele supostamente perguntou: “Quem são as Rainhas?”

4- Até dois discos antes da trilha de Flash Gordon, o Queen nunca tinha usado sintetizadores, e sempre citavam a informação nos encartes: “no synthesizers!”. The Game, lançado meses antes da trilha, foi o primeiro disco em que eles usaram sintetizadores. A trilha de Flash Gordon é basicamente só synth!

5- O diretor Mike Hodges considerou contratar o Pink Floyd para compor a música.

6- Na história em quadrinhos original, Flash era jogador de pólo, mas esse era um esporte menos popular em 1980 do que em 1934, então Flash se tornou quarterback do New York Jets.

7- De acordo com uma entrevista de agosto de 1981 na revista Starlog, Dino De Laurentiis queria que Kurt Russell interpretasse Flash Gordon. Russell recusou o papel porque achou que faltava personalidade ao personagem.

8- Houve uma época em que Nicolas Roeg foi cogitado para dirigir, Debbie Harry interpretaria a Princesa Aura, e Keith Carradine seria Ming, o Impiedoso.

9- Sam J. Jones tinha cabelo escuro e pintou de loiro; Melody Anderson era loira e tingiu de escuro. Flash deveria ter olhos azuis, mas Jones não podia usar lentes de contato.

10- Um então desconhecido Robbie Coltrane (o Hagrid dos filmes do Harry Potter) aparece como o homem no campo de aviação visto entregando a bagagem de Flash e Dale e fechando a porta do avião.

11- O figurino de Ming usado por Max von Sydow pesava mais de 30 quilos. Ele só conseguia ficar em pé por alguns minutos de cada vez.

12- Klytus não estava nas histórias em quadrinhos originais, nem nos seriados da década de 1930. Ele foi criado para o filme.

13- John Hollis interpretou um dos observadores de Klytus, que foi equipado com um dispositivo eletrônico de “imagem” no lugar dos olhos. Hollis também teve um papel em Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980) como o assessor de Lando Calrissian, Lobot, que tinha uma característica semelhante: um dispositivo cibernético instalado em seus ouvidos.

14- Durante a batalha de futebol, ao fundo está um grupo de mulheres de biquíni usando capacetes e casacos de plástico, estes são a comitiva da Rainha Fria do reino gelado de Frigia, em Mongo.

15- De acordo com Sam J. Jones, durante as filmagens da cena da luta no disco inclinado, os atores ficavam cobertos de tinta pelo disco pintado com spray prateado. Eles tinham que reservar um tempo extra entre cada tomada para limpar a tinta prateada de seus corpos.

16- Os atores que interpretavam os Hawkmen não podiam sentar-se porque as fantasias machucariam suas costas. Melody Anderson disse à Starlog Magazine: “Eles nunca conseguiam sentar-se, porque quando o faziam, as asas cravavam-se nas suas costas. Quando tínhamos um período de descanso, você via todos esses caras deitados de bruços com asas, como se estivessem prontos decolar. Foi uma visão muito engraçada.”

17- Originalmente era pra ter uma cena onde Dale se transformava em uma aranha gigante para uma sequência de sonho. Melody Anderson passou seis horas sendo pintada de verde, usando olhos e presas falsas, com um capacete que pesava mais de 9 quilos. Quando Mike Hodges chegou, ele disse: “Isso é maravilhoso, mas não podemos usar isso! Não tem absolutamente nada a ver com o roteiro.”

18- Richard O’Brien, roteirista e um dos atores principais de The Rocky Horror Picture Show, tem um papel pequeno como Fico. Ele achou toda a experiência de fazer o filme tediosa. No entanto, ele sentiu muito prazer em sentar-se nas cadeiras personalizadas das estrelas. Seu comportamento travesso não foi contido de forma alguma. Ele conhecia Mike Hodges muito bem, para consternação das estrelas, que reclamavam dele regularmente no set.

19- Sam J. Jones teve um desentendimento com Dino De Laurentiis por causa de uma suposta falta de pagamento e não foi chamado de volta ao trabalho durante as filmagens e pós-produção da segunda unidade. A maior parte dos diálogos de Jones foi dublada. Durante anos, a identidade do dublador que deu a voz era desconhecida, até mesmo para o próprio Jones. Em outubro de 2017, um usuário de um fórum de ficção científica e fantasia Stack Exchange sugeriu que o dublador provavelmente era Peter Marinker, com base em uma compilação de amostras do trabalho de Marinker em dublagens de anime para Manga Entertainment. Com base nesta evidência, o crédito foi adicionado a vários bancos de dados de créditos de filmes e mencionado em outras fontes e análises.

20- Por fim, uma curiosidade brazuca, que quem viveu a época se lembra. Em dezembro de 1980, época do lançamento do filme no Brasil, foi lançado, pela Rio Gráfica Editora, e comercializado pela Kibon, um álbum contendo 46 figurinhas relacionadas ao filme. Se não me falha a memória, você trocava palitos de picolé por figurinhas.

O Exorcismo

Crítica – O Exorcismo

Sinopse (imdb): Um ator problemático começa a exibir um comportamento perturbador enquanto filma um filme de terror. Sua filha distante se pergunta se ele está voltando aos vícios do passado ou se há algo mais sinistro em jogo.

Ano passado tivemos O Exorcista do Papa, filme meia boca que só valia pela participação do Russell Crowe. Ih, olha lá, Russell Crowe está em cartaz em outro filme com o mesmo tema! Só que aqui, em vez de ser um padre, ele é um ator contratado pra fazer um filme de exorcismo.

A direção é de Joshua John Miller, roteirista do divertido Terror nos Bastidores, e estava no elenco de Quando Chega a Escuridão, filme cult de vampiro dos anos 80. Joshua é filho do ator Jason Miller, que fez o que padre Karras no filme O Exorcista, de 1973. Pelo jeito, Joshua quis homenagear o pai. Não me lembro se o filme deixa claro, mas parece que, dentro do filme, estão fazendo uma refilmagem de O Exorcista. O filme dentro do filme se chama “The Georgetown Project”; Georgetown é a cidade onde se passa o filme de 1973.

Apesar de estar sendo lançado só agora, O Exorcismo foi filmado em 2019, mas ficou guardado e parece que só “saiu da geladeira” depois do relativo sucesso de O Exorcismo do Papa. Pelo que li por aí, O Exorcismo passou por refilmagens. Não sei o que foi alterado do filme de cinco anos atrás, mas dá pra ver que o resultado agora ficou meio bagunçado.

O Exorcismo tem algumas coisas mal resolvidas. Por exemplo, o filme abre com uma morte sobrenatural, e depois apresenta um personagem (Crowe) com um problema que deixaria o espectador na dúvida se é algo real ou sobrenatural. Mas, caramba, o filme já disse pra gente, na cena de abertura, que era sobrenatural, não cabe mais essa dúvida!

E o filme segue nessa pegada de “não sabemos pra onde estamos indo”. O protagonista teve um trauma na igreja quando criança, que acho que era pra ser um plot twist, mas seria o plot twist mais mal construído do cinema este ano, e esse trauma não leva a lugar nenhum. O mesmo digo sobre o personagem do Sam Worthington, personagem mal elaborado e que tem um fim completamente sem sentido. Além disso, preciso dizer que rola uma cena onde o protagonista é possuído no meio do set de filmagens, que é uma cena bem ruim, e, mais uma vez, não leva a lugar nenhum.

Pena. O resultado final ficou devendo. O Exorcismo não é o pior filme de exorcista dos últimos tempos, afinal estamos traumatizados com o horroroso O Exorcista O Devoto, do ano passado. Mas mesmo assim está bem longe de ser um bom filme.