A Substância

Crítica – A Substância

Sinopse (imdb): Uma celebridade em decadência decide usar uma droga do mercado negro, uma substância que replica células e cria temporariamente uma versão mais jovem e melhor de si mesma.

A ideia aqui era boa: uma estrela de um programa de fitness na TV está ficando velha, então oferecem a ela uma misteriosa substância que criaria uma nova versão dela, mais jovem. Essa substância vem com regras estritas, que claro que não serão seguidas, e claro que coisas vão dar errado. Uma bela crítica à exploração do corpo feminino pela mídia e ao etarismo.

É um filme fantástico, essa tal substância não tem nada ligado à ciência, não existe um laboratório ou uma clínica ou acompanhamento de médicos. Não tem nem uma cobrança financeira pelo tratamento! Aliás, fiquei pensando, se heu recebesse um daqueles kits, heu não saberia fazer aquela auto-aplicação.

A direção e o roteiro são de Coralie Fargeat, que em 2018 fez Vingança, filme que tinha uma premissa simples mas muito bem executada (uma mulher é estuprada e se vinga de seus agressores). Aqui é outra pauta feminista, mais uma vez muito bem executada.

Todo o visual do filme é muito bom. Cores, ângulos de câmera, edição, trilha sonora, efeitos sonoros, tudo carrega a trama num modo hipnotizante – são duas horas e vinte minutos de filme que fluem muito rápido. De quebra o fã de terror ainda vai encontrar várias referências, como a seringa de Re-Animator, o corredor de O Iluminado, os alienígenas de Bad Taste, o monstro de O Enigma de Outro Mundo, o banho de sangue de Carrie a Estranha

A Substância (The Substance, no original) traz diversas cenas visualmente bem desagradáveis, seja mostrando ferimentos, seja quando um personagem simplesmente mastiga a sua refeição (lembro de uma cena parecida em Vingança, Coralie consegue transformar o simples mastigar em algo nojento). A maquiagem é um dos destaques, usando o chamado “body horror”, que é quando vemos imagens que causam repulsa. Talvez isso afaste parte do público, mas, é algo que faz parte da história.

Mas acho que o maior destaque são as duas atuações principais. Tanto Demi Moore quanto Margaret Qualley estão ótimas! Demi Moore estava meio sumida, e heu diria que esse papel tem tudo a ver com ela, que era uma das mulheres mais bonitas da sua geração, e agora, com 61 anos (continua linda, diga-se de passagem), deve estar enfrentando problemas semelhantes aos de sua personagem.

Aliás, foi uma atuação, digamos, corajosa da Demi Moore, que faz várias cenas onde ela está nua – e não é nudez gratuita, se ela estivesse vestida, seriam cenas estranhas (assim como a sequência final de Vingança, onde o ator está completamente nu num longo plano sequência).

O principal papel masculino é de Dennis Quaid, que está caricato, mas todos os personagens masculinos aqui são caricatos. Faz parte da proposta. (Esse papel seria de Ray Liotta, que faleceu antes das filmagens começarem. Seu nome aparece nos créditos como uma homenagem.)

Não gostei da parte final. Vou falar, mas vou colocar aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A protagonista gera uma cópia. No fim do filme, a cópia está se deteriorando e resolve fazer uma cópia da cópia, e isso gera um monstro. E essa versão monstruosa vai para o estúdio de TV e entra no programa ao vivo. Pra mim, essa parte do estúdio enfraqueceu o filme, nunca deixariam ela entrar na transmissão ao vivo daquele jeito. Ok, vira um banho de sangue, isso foi legal de ver, mas, essa sequência destoou do que a gente tinha visto até então. Por mim, era melhor cortar toda a parte do estúdio, e deixar só o finzinho – a cena final é boa.

FIM DOS SPOILERS!

Filmaço. A Substância é daquele tipo de filme que fica na sua cabeça por dias depois de ter visto. Agora quero esperar estrear pra poder rever.

Não Fale o Mal

Crítica – Não Fale o Mal

Sinopse (imdb): Uma família é convidada para passar um fim de semana em uma casa de campo tranquila, sem saber que suas férias dos sonhos logo se transformarão em um pesadelo psicológico.

Dois anos atrás, surgiu um filme dinamarquês chamado Speak no Evil, um filme muito bom, tenso e desconfortável, que só não entrou no meu top 10 de 2022 justamente por ser um filme que causava incômodo no espectador. Agora veio o anúncio da versão americana, prática comum quando um filme off-Hollywood chama a atenção, e que quase sempre traz um resultado é fraco.

Mas, olha, preciso dizer que foi uma agradável surpresa. Arrisco dizer que achei Não Fale o Mal melhor que o original dinamarquês!

Existem vários sub gêneros do terror. Pra mim, o pior é esse aqui: não existe um monstro ou algo sobrenatural. O terror está no comportamento humano. Isso é muito mais assustador que qualquer monstro!

Pra quem não viu o filme dinamarquês (acredito que muita gente): um casal com uma filha pré adolescente está de férias, conhece outro casal, também com filho pré adolescente, e acabam aceitando um convite para passar uns dias na casa do outro casal. O problema é que este outro casal tem alguns comportamentos bem estranhos, e tornam a estadia algo muito desconfortável – os hóspedes se sentem incomodados com os anfitriões “sem noção”, mas não sabem como sair de situações constrangedoras.

Dirigido por James Watkins (A Mulher de Preto), Não Fale o Mal (Speak no Evil, em inglês) é bem parecido com o original. Diria que mais ou menos 80% do filme segue quase igual (tirando uma cena aqui, outra ali, como a cena do banheiro na versão dinamarquesa, ou a cena do sexo oral na versão americana). Mas, na reta final da trama, o filme de 2024 se afasta totalmente. Aquele filme tinha um final pessimista, este novo traz uma reação dos personagens. Sim, talvez tenha gente reclamando “por ser mais um final típico hollywoodiano”, mas, nesse caso, pelo menos pra mim, funcionou melhor. Porque uma das coisas que me incomodou naquele filme de dois anos atrás foi justamente a apatia dos personagens – coisa que não acontece aqui.

Sobre o elenco, diferente do filme dinamarquês, a versão americana traz alguns nomes conhecidos. James McAvoy está ótimo, ele é um cara desequilibrado no ponto exato! Mackenzie Davis e Scoot McNairy fazem o casal visitante, e Aisling Franciosi completa o quarteto principal. Todos estão bem.

O final diferente aqui foi uma boa. Primeiro porque se o filme inteiro fosse igual, pra que existir uma nova versão? Além disso, algumas coisas do outro me incomodaram, e esse aqui “consertou” essas coisas, por isso gostei mais da nova versão. Mas mesmo assim ainda acho que vale o programa duplo. Veja as duas versões!

Kill – O Massacre no Trem

Crítica – Kill – O Massacre no Trem

Sinopse (imdb): Durante uma viagem de trem por Nova Deli, capital da Índia, uma dupla de soldados enfrenta um exército de bandidos invasores.

Pouco mais de um ano atrás vi o indiano RRR, que explodiu minha cabeça, e pensei “preciso ver mais filmes indianos!” Mas, muitos outros filmes apareceram na frente, e deixei de lado a tarefa de procurar outros títulos feitos na Índia. Até que me apareceu este Kill, que me lembrou: preciso conhecer melhor o cinema indiano!

Kill – O Massacre no Trem parece um “The Raid” no trem. E, filme indiano, tem um lado melodramático muito forte, coisa que não rola no filme indonésio. (Só não tem o momento musical com dança coreografada!)

(Breve parênteses pra falar de The Raid: são dois filmes, feitos na Indonésia, lançados em 2011 e 2014, e que podem tranquilamente figurar em qualquer lista de melhores filmes de ação deste século. Aqui no Brasil ganharam o nome de Operação Invasão. Se você não conhece, recomendo fortemente!)

Dirigido por Nikhil Nagesh Bhat, Kill – O Massacre no Trem (Kill, no original) é um filme que vai direto ao assunto. Depois de uma breve introdução onde conhecemos o casal apaixonado (sim, é melodramático!), o filme embarca no trem e a partir daí, é basicamente só violência até o final.

Tem um detalhe que achei bem legal, e que Hollywood não costuma fazer: o protagonista é muito “mocinho”, o cara tem que ser bonito, forte, apaixonado, e, principalmente, um cara “do bem” – ele enfrenta adversários, mas acho que não mata ninguém. Mas, lá pelo meio do filme, acontece uma reviravolta que muda uma chave e o cara vira uma máquina de matar. E o filme é bem claro nessa virada de chave, aparece um “KILL” escrito no meio da tela!

Outra diferença para o cinema hollywoodiano está no uso da trilha sonora, que realça o melodrama. Tem uma cena logo no início, primeira sequência do filme, que exemplifica bem isso, quando mostra quem é o mocinho. Ele está de costas, de capacete, e quando vira e tira o capacete, a trilha sobe!

Claro, alguns vão dizer que falta história. É verdade, a história é meio rasa. Até agora não entendi bem o plano dos bandidos, era tudo aquilo por um simples assalto? Mas por outro lado, as cenas de ação compensam. São MUITAS sequências de luta, luta no mano a mano, luta com armas brancas, todas bem coreografadas, e com um grau de violência muito maior do que a média que costuma ser exibida nos cinemas – às vezes o gore lembra filmes de terror. E a ideia de ser num trem é boa, porque limita os confrontos.

(Um detalhe que esqueci de comentar: aparentemente todos os bandidos são parentes, o que amplia o sentimento de vingança quando um mocinho começa a matar geral.)

Sobre o elenco, achei estranho ver quando o filme acaba, no início dos créditos, a frase “introducing Lakshya”, o ator principal. Antes desse filme o cara não era ator? Tentei descobrir pela internet de onde ele veio, para estar como “introduction”. Segundo o que entendi pelo imdb e wikipedia, ele veio da TV, este filme seria sua estreia no cinema. Enfim, o cara é bom, tem carisma, luta bem, e tem uma cena sem camisa que deve lhe gerar alguns fã clubes.

Mesmo entendendo que falta uma profundidade na história e que os personagens são unidimensionais, gostei muito de Kill – O Massacre no Trem. Grandes chances de entrar no meu top 10 2024!

Os Fantasmas Ainda se Divertem

Crítica – Os Fantasmas Ainda se Divertem

Sinopse (imdb): Após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente acidentalmente abre o portal pós a morte.

Finalmente uma continuação do clássico oitentista Os Fantasmas se Divertem!

Lançado em 1988, Os Fantasmas se Divertem é um dos mais icônicos filmes da carreira de Tim Burton (diretor que coleciona títulos icônicos). Trinta e seis anos depois vemos a continuação, e a boa notícia é que quase todo o time principal está de volta.

Os Fantasmas se Divertem marcou toda uma geração com seu visual, personagens, figurinos e cenários característicos, além de muito humor negro (afinal, o filme trazia personagens mortos!). E Os Fantasmas Ainda se Divertem (Beetlejuice Beetlejuice, no original) traz tudo isso de volta.

Décadas se passaram, mas Beetlejuice ainda quer sair do mundo dos mortos e se casar com Lydia Deetz (Winona Ryder), que hoje tem um programa de TV ligado ao mundo sobrenatural e tem problemas de relacionamento com a filha.

Preciso dizer que gostei muito dos efeitos especiais. Alguns efeitos usados no filme de 88 são efeitos práticos que ficaram característicos, mas ao mesmo tempo são efeitos datados – com o cgi de hoje em dia ninguém mais usa efeitos como aqueles. Mas aqui em Os Fantasmas Ainda se Divertem há um bom equilíbrio entre os efeitos práticos e o cgi, e o resultado ficou muito bom. Vou além: adorei ver que aquela cobra da areia continua sendo stop motion!

A trilha sonora de Danny Elfman é tão boa quanto a do primeiro filme. Já os momentos musicais, nem tanto. O primeiro filme tem uma cena musical muito famosa, na mesa de jantar com a música Banana Boat Song. Parece que quiseram recriar algo assim, com a cena da igreja e a música MacArthur Park, mas a cena ficou interminavelmente longa. Foi cansativo chegar ao fim.

Alguns comentários sobre o elenco. Em primeiro lugar, todos os elogios possíveis ao Michael Keaton. Ele está ótimo como Beetlejuice, e como o personagem usa muita maquiagem, nem deu pra reparar que tanto tempo se passou (Alec Baldwin e Geena Davis não tinham como voltar porque os fantasmas não envelhecem mas os atores envelheceram). O humor do Beetlejuice é alucinado, e Keaton parece muito confortável no papel. No mundo dos vivos, o filme se divide entre as três gerações, Catherine O’Hara e Winona Ryder voltam aos seus papéis, e Jenna Ortega aparece como a novidade (possivelmente pensando num terceiro filme).

Danny De Vito só aparece em uma cena, uma ponta de luxo. Agora, não sei se gostei de outras duas participações no elenco. Willem Dafoe está bem, como sempre, mas seu papel é meio descartável. E ainda mais descartável é a Monica Bellucci, que parece que ganhou um papel só porque é a atual namorada de Tim Burton. Willem Dafoe e Monica Bellucci não estão mal, mas parecem desperdiçados. Tire os dois personagens e o filme não perde nada.

Ainda sobre o elenco, o personagem de Jeffrey Jones é importante para a trama, mas o ator esteve envolvido com pedofilia em 2003, então o roteiro criou uma solução para ter o personagem, mas não o ator.

Quem gosta do filme original vai curtir essa continuação!

A Vingança de Cinderela

Crítica – A Vingança da Cinderela

Sinopse (imdb): Cinderela é levada longe demais por sua madrasta e meio-irmãs malvadas, o que a faz trocar os sapatos de vidro e usar a ajuda de sua Fada Madrinha para buscar uma vingança sangrenta.

Uns 3 meses atrás comentei A Maldição da Cinderela, um filme vagaba que trazia uma versão terror da Cinderela. Este não é o mesmo filme, é outro filme vagaba que traz uma versão terror da Cinderela!

Vamulá. Não que A Vingança da Cinderela seja um bom filme, mas pelo menos é bem menos ruim que A Maldição da Cinderela. Aqui pelo menos tem uma história sendo contada, e ainda tem alguns detalhes interessantes.

Por exemplo, tem uma sacada aqui que achei uma boa ideia. Provavelmente por razões orçamentárias, a fada madrinha viaja no tempo e em vez de carruagem a Cinderela vai para o baile num carro Tesla (isso dentre outras coisas atemporais). Isso serve de desculpas pra algumas incorreções históricas, tipo aquela tatuagem do capanga da madrasta – uma tatuagem daquelas, colorida e cheia de detalhes, não combina com a época da Cinderela.

O filme de três meses atrás quase não tinha história, poderia ser um curta. Aqui, rola a história “clássica” (Cinderela maltratada pela madrasta e pelas filhas dela, fada madrinha, baile, sapatinho de cristal, etc) na primeira metade do filme, e ainda tem uma segunda metade com a tal vingança do título. A partir daí, A Vingança da Cinderela vira um filme de terror de verdade e temos algumas mortes bem filmadas.

Agora, precisamos reconhecer que o filme tem umas tosqueiras bem toscas. O roteiro é preguiçoso, os cenários e figurinos são pobres, e o elenco é péssimo!

No elenco, um nome conhecido: Natasha Henstridge, que chamou a atenção como uma das alienígenas mais belas do cinema em 1995, em A Experiência, e fez alguns filmes na época, como Risco Máximo (com Jean Claude Van Damme) e Adrenalina (com Christopher Lambert), e chegou até a fazer um filme no Brasil, Bela Dona, mas que depois sumiu – o último filme que vi com ela foi Meu Vizinho Mafioso 2, de 2004. (O imdb dela tem vários títulos depois disso, mas não vi nenhum). Natasha faz a fada madrinha, gostei de vê-la aqui. Ela é bem melhor que as atrizes que fazem a madrasta e suas filhas! Lauren Staerck faz o papel título.

Repito o que disse: não é um grande filme, mas pode ser uma boa diversão se você estiver no clima certo.

Hellboy e o Homem Torto

Crítica – Hellboy e o Homem Torto

Sinopse (imdb): Hellboy se une a uma agente novata da B.P.D.P. na década de 1950 e são enviados para os Apalaches. Lá, descobrem uma remota e assombrada comunidade, dominada por bruxas e liderada pelo sinistro demônio local, conhecido como o Homem Torto.

Ninguém pediu, mas tem um Hellboy novo em cartaz. O último, de 2019, foi tão irrelevante que nem me lembro de nada dele.

Em vez de um novo recomeço com uma nova história de origem, Hellboy e o Homem Torto (Hellboy: The Crooked Man, no original) traz uma história avulsa, e isso é uma boa coisa, porque não perdemos tempo e o filme já começa na ação. E preciso reconhecer que esse início foi bom, gostei da sequência dentro do vagão do trem.

Só que logo depois daí nada mais funciona. A trama é ao mesmo tempo arrastada e confusa. Um exemplo simples: logo depois da sequencia do trem, os personagens são apresentados a um menino que está sob o efeito de uma bruxa – e essa historia do menino não tem conclusão! Ou, mais pro fim do filme, tem um exemplo ainda pior. O grupo se divide em dois. Metade vai em uma missão que até agora ainda não entendi direito o objetivo. A outra metade resolve fazer outra coisa, mas essa jornada secundária acaba no meio! Os personagens apenas se juntam no final, e o filme deixa pra lá o que o segundo grupo tentou fazer.

Junte a esse roteiro atuações ruins e efeitos especiais pobres (a cobra parece efeito de app de celular), e temos mais um Hellboy esquecível como aquele de cinco anos atrás. Pena, porque gostei da ideia de se fazer um filme de terror (os outros três filmes tinham uma pegada de filmes de super herói).

A direção é de Brian Taylor, que fez Adrenalina e Gamer, que são filmes legais, mas também fez o segundo filme do Motoqueiro Fantasma, que é ruim com força. Hellboy e o Homem Torto está mais próximo de Motoqueiro Fantasma.

Não conhecia ninguém do elenco. Não tem nenhum destaque, mas se posso fazer uma “crítica head canon”, acho que o Hellboy deveria ter a voz mais grave. Senti saudades do Ron Perlman.

No fim, Hellboy e o Homem Torto é apenas mais um filme esquecível. Nem vale o ingresso do cinema.