Aqui

Crítica – Aqui

Sinopse (imdb): Situado em um único quarto, ele acompanha as muitas pessoas que o habitam ao longo dos anos, do passado ao futuro.

Quando anunciaram o filme como “nova reunião de Tom Hanks com Robert Zemeckis”, admito que lembrei de Pinóquio, que foi um dos piores filmes de 2022. Ou seja não era exatamente um motivo para empolgação.

Mas aí vi que Aqui (Here, no original) reunia oito membros do elenco e da equipe de Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994) – Tom Hanks, Robin Wright, Robert Zemeckis, o roteirista Eric Roth, o compositor Alan Silvestri, o diretor de fotografia Don Burgess, o designer de som Randy Thom e a figurinista Joana Johnston.

Ok, você tinha a minha curiosidade, agora você tem a minha atenção!

Aqui apresenta um conceito curioso: o filme inteiro mostra apenas um posicionamento de câmera, ao longo muito tempo (na verdade, desde a época dos dinossauros). Vemos índios nativos americanos, vemos Benjamin Franklin, depois vemos a casa sendo construída e várias famílias morando lá ao longo de algumas décadas. Tudo isso com a câmera parada. A história vai e volta no tempo, e a câmera sempre mostrando o mesmo ângulo.

Aqui é adaptação da HQ homônima de Richard McGuire. Não li a HQ, mas vi algumas imagens. A edição do filme copia os recortes espalhados pela tela nas idas e vindas da linha temporal. Talvez fique um pouco confuso à primeira vista, mas achei o resultado bem legal.

Não é a primeira vez que Robert Zemeckis inova, e sempre vou valorizar quando um cineasta segue caminhos diferentes. O já citado Forrest Gump foi um marco nos efeitos especiais quando usou o cgi pra não mostrar – até então, os efeitos eram sempre aparentes, em Forrest Gump os efeitos escondiam detalhes, como as pernas do personagem do Gary Sinise. Zemeckis também inovou com Uma Cilada Para Roger Rabbit, quando criou personagens em desenho animado, mas que tinham volume (até então, todas as misturas de atores com animações eram com a câmera parada, em 2D). Ou com a técnica de captura de movimento usada em O Expresso Polar. E isso porque não estou falando de sua obra mais famosa: a trilogia De Volta Para o Futuro.

Mas, se como “inovação” Aqui funciona, como “cinema”, deixa a desejar. A trama ir e voltar no tempo não é um problema, mas não ter uma história a ser contada é. Personagens entram e saem da tela, sem nenhum contexto. E ao fim a gente descobre que boa parte desses personagens era irrelevante na trama. Na minha humilde opinião, se o filme focasse na família principal (Tom Hanks, Robin Wright, Paul Bettany e Kelly Reilly), Aqui seria um filme bem melhor.

(A gente vê a história indo e vindo o tempo todo, mas acho que a única vez que reparei alguma conexão entre as diferentes linhas temporais foi quando vemos um enterro de uma nativa americana, e depois vemos que acharam seu colar numa escavação. Ou seja, temos várias linhas temporais que só serviram pra encher linguiça.)

Ainda preciso falar dos efeitos especiais. Pelo que li, Zemeckis usou uma nova tecnologia que rejuvenesce ou envelhece o ator na hora que está sendo filmado, através de IA, dispensando uma pós produção. Ok, mais uma vez, respeito a inovação, mas essa tecnologia me pareceu um pouco “crua”, em alguns momentos a cara dos personagens parece artificial demais.

No fim, só recomendo Aqui como uma nova experiência cinematográfica. Porque como filme, podia ter sido bem melhor.

Lobisomem

Crítica – Lobisomem

Sinopse (imdb): Um homem deve proteger a si mesmo e sua família quando eles são perseguidos, aterrorizados e assombrados por um lobisomem mortal à noite durante a lua cheia. Mas conforme a noite avança, o homem começa a se comportar de forma estranha.

Lobisomem (Wolf Man, no original) é o novo filme dirigido por Leigh Whannell, que fez o bom Homem Invisível em 2020 (lembro que foi um dos últimos filmes que vi antes da pandemia!), e que, nem todos lembram, mas é parceiro de longa data de James Wan – Whannell escreveu o roteiro do primeiro Sobrenatural era um dos roteiristas do primeiro Jogos Mortais, além de estar no elenco principal.

Ouvi rumores de que anos atrás este filme estaria atrelado àquele projeto que deu errado de criar um “monsterverse” usando monstros clássicos da Universal, que teve o filme A Múmia, com o Tom Cruise, e depois desistiram da ideia por causa do flop. Os rumores falavam que Ryan Gosling estaria interessado em protagonizar este filme, e que a direção seria de Derek Cianfrance, que dirigiu Gosling em Namorados Para Sempre (2010) e O Lugar Onde Tudo Termina (2012). Cianfrance se desligou do projeto, e Gosling acabou virando produtor, então Whannell teria assumido a direção. Mas, infelizmente não consegui fontes seguras pra confirmar estes rumores.

Vamos ao filme. Lobisomem não se propõe a ser um grande filme. Poucos personagens, poucas locações, quase toda a trama se passa ao longo de uma única noite. Entrando no cinema com este espírito, o espectador pode se divertir.

James Wan não está presente aqui (achei que ia ler seu nome entre os produtores). Mas vemos que Whannell aprendeu algumas coisas com o amigo. Em alguns momentos a câmera sai do eixo e passeia por caminhos fora do óbvio, como quando acontece o acidente e o caminhão fica de lado, e a câmera mostra isso num travelling “sem chão”. Digo mais: uma coisa bem legal aqui – talvez o melhor do filme – é quando o filme mostra, em alguns momentos, o ponto de vista do monstro. O jeito como o filme abordou isso foi bem legal, a câmera gira e muda toda o som, a iluminação, muda tudo no visual. Inclusive explica por que o monstro não consegue se comunicar. E também preciso dizer que gostei do efeito simples de mostrar a respiração da criatura quando não podemos vê-la.

A maquiagem não segue o tradicional de outros filmes de lobisomem que estamos acostumados. Talvez tenha gente reclamando, mas heu gostei porque não é cgi. Gosto de efeitos práticos! A trilha sonora de Benjamin Wallfisch também é muito boa. Por outro lado, achei o filme muito escuro. No cinema ainda vai, mas em breve este filme estará no streaming, vai ser difícil de acompanhar.

Existe outro problema, mas não é do filme em si. É que a gente lembra que Whannell fez O Homem Invisível, que trazia camadas com diferentes interpretações – era ao mesmo tempo um filme de terror e um filme que abordava relacionamentos abusivos. E a segunda leitura proposta por Lobisomem é de uma doença se espalhando (o filme foi pensado na época da pandemia). Ou seja, quem for procurar subtextos vai se decepcionar. Lobisomem é apenas um simples filme de terror.

No elenco, quase o filme todo se baseia na família composta por Christopher Abbott, Julia Garner e Matilda Firth. Nenhuma grande atuação, mas servem para o que filme pede.

Por fim, um mimimi. O nome brasileiro do filme é “Lobisomem”, mas acho que foi um nome mal traduzido. A criatura do filme é diferente dos lobisomens que conhecemos. Talvez esteja mais próxima do wendigo, figura folclórica que veio dos índios norte americanos. Afinal, lobisomens voltam à forma humana durante o dia! Acho que seria melhor chamar de “Homem Lobo”, tradução literal.

Maria Callas

Crítica – Maria Callas

Sinopse (imdb): Maria Callas, a maior cantora de ópera do mundo, vive os últimos dias de sua vida na Paris dos anos 1970, enquanto se confronta com a sua identidade e vida.

Terceiro filme da trilogia “Lady with Heels”, do diretor chileno Pablo Larraín. Em 2016 ele fez Jackie, com Natalie Portman interpretando Jacqueline Kennedy; em 2021 fez Spencer, com Kristen Stewart interpretando a Lady Di. Agora é a vez de vermos Angelina Jolie fazendo Maria Callas.

Maria Callas (Maria, no original – não sei por que o título nacional não seguiu o padrão dos outros dois filmes de deixar apenas um nome) é um filme bonito, uma produção bem cuidada, com uma reconstituição de época perfeita, figurinos exuberantes, além de ter uma grande atuação da Angelina Jolie. Mas…

Tive dois problemas com este filme. Em primeiro lugar, preciso falar que não gosto de ópera. Respeito, reconheço qualidades, mas acho feio. Sim, o som me incomoda. Prefiro ouvir theremin do que ouvir alguém cantando ópera.

Some a isso o fato da Maria Callas ser uma pessoa insuportável, e temos um filme que, pra mim, foi difícil chegar ao fim. Não conhecia nada da vida da Maria Callas, só sabia que tinha sido uma grande cantora, um dos maiores nomes da história da ópera. Mas não sabia que ela era tão “estrela” no mau sentido – chega a ter uma cena onde ela verbaliza que quer ir a um restaurante e ficar visível para ser bajulada por fãs. Passa a impressão de ser uma mulher rica, fútil e vazia, que se sente superior a todos em volta. Isso fica claro no modo como ela  trata seus dois funcionários. Já vi em outros filmes escravos sendo mais bem tratados.

O roteiro ainda tem um problema. Na verdade não é uma falha do filme, é uma opção escolhida pelo roteirista, mas acho que o filme ganharia pontos se não pegasse este caminho. Durante boa parte do filme, Maria Callas está sendo entrevistada. E o filme joga com a ideia de “será que este entrevistador é real, ou será que é imaginação da personagem?”. Mas, no início do filme, ela toma um remédio chamado Mandrax, e logo na cena seguinte o apresentador aparece e se apresenta como “Mandrax”. Ou seja, o filme já explicita logo de cara que aquele personagem não é real. Na minha humilde opinião, Maria Callas seria um filme melhor se guardasse essa revelação para o final.

Se o roteiro traz esse problema de “plot twist revelado”, pelo menos posso dizer que gostei da  estrutura dos flashbacks. Não só pela parte técnica, que altera texturas de imagem, alternando cor e pb e diferentes formatos de tela; como pela narrativa, que usa os flashbacks pra mostrar Maria Callas no seu auge.

No elenco, Angelina Jolie está realmente muito bem (mas ainda achei que Fernanda Torres está melhor). A personagem é insuportável, mas a atriz está bem – apesar de algumas cenas onde ela falha no “lip sinc” da dublagem. Também no elenco, Pierfrancesco Favino, Alba Rohrwacher, Kodi Smit-McPhee, Haluk Bilginer, e Valeria Golino (em apenas uma cena, interpretando a irmã da protagonista).

Sobre a voz, fiquei vendo os créditos. Aparentemente todas as músicas são cantadas pela Maria Callas, Angelina Jolie só dublou. Mas, li no imdb que Angelina queria cantar por conta própria, então teve sete meses de aulas de ópera para se preparar para seu papel, e que na parte final, a voz seria a da atriz. Só não sei se acredito nisso. Se Angelina cantou, por que não está creditada?

Maria Callas estreia esta semana nos cinemas.

Babygirl

Crítica – Babygirl

Sinopse (imdb): Uma executiva poderosa coloca a carreira e família em risco quando começa um caso tórrido com seu estagiário muito mais jovem.

Novo filme da diretora Halina Reijn (Morte Morte Morte), Babygirl (idem no original) está sendo vendido como um thriller erótico, mas neste aspecto o filme é fraco. Mesmo assim, o filme me deixou pensando, me deixou com reflexões sobre relacionamentos.

Primeiro vamos comentar o filme. Nicole Kidman faz Romy, uma mulher bem sucedida profissionalmente, com um bom casamento, filhos, tem um bom padrão social. Mas, sexualmente falando, é uma mulher infeliz. Até que ela conhece um estagiário na sua empresa e começa com ele um jogo sexual onde o importante não é o sexo em si, e sim o jogo de poder, de saber “quem é o dono da bola”. Romy é uma CEO que tem o controle sobre tudo em volta – e se ela fosse controlada em vez de controlar?

Claro que a divulgação do filme explorou o lado sexual, como se estivéssemos diante de um novo 9 1/2 Semanas de Amor ou Atração Fatal. Pipocaram matérias dizendo que Nicole Kidman estaria cansada de “filmar cenas de orgasmos”. Mas até que o filme é bem comportado neste aspecto. Aliás, quase não tem nudez. O início promete ir por este caminho, mas o resultado final deixa a desejar.

Um dos maiores destaques é o elenco. Gostei das atuações do trio principal. Nicole Kidman está excelente, em cenas difíceis, não à toa ela ganhou prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza e está sendo ventilada como uma provável indicada ao Oscar. Antonio Banderas e Harris Dickinson também estão bem.

Babygirl também tem suas “roteirices”, como o amante aparecer no local onde a protagonista estava reclusa – como ele descobriu que ela estava lá? Mesmo assim, o resultado final é bom. É um filme bonito e bem filmado, e reconheço que a cena usando Father Figure, do George Michael, é muito boa.

Agora, queria comentar o comportamento social. Babygirl, enquanto filme, achei apenas ok. Mas o conceito abordado me deixou pensando por vários dias. Logo na cena inicial, vemos Romy transando com seu marido. Aparentemente ela tem uma vida sexual saudável. Mas logo na cena seguinte vemos que ela, sozinha, vê vídeos eróticos para se masturbar.

Por um lado Romy tem uma vida feliz, ao lado do marido; mas por outro lado ela tem necessidades sexuais que não são saciadas pelo mesmo marido. E pra piorar: determinado momento ela confessa que nunca teve um orgasmo com ele, apesar de estarem juntos há 19 anos. E mesmo assim ele não consegue embarcar nas fantasias da sua esposa. Ou seja, ela está errada pela dificuldade em declarar seus fetiches ao marido, e ele está errado por não entrar nos jogos sexuais propostos por sua esposa.

Aí fiquei pensando neste formato de sociedade onde vivemos. Jovens se conhecem, ficam juntos e constituem famílias – antes de se conhecerem plenamente para saberem o que querem do(a) companheiro(a). Quando o casal dá sorte, ok, podem ser felizes pelo resto da vida. Mas, imagina quanta gente deve estar insatisfeita por aí, sexualmente falando.

Infelizmente somos vítimas do formato usado pela sociedade, dificilmente essas regras e convenções sociais vão mudar. Para você que me lê, torço para você encontrar alguém que lhe satisfaça do jeito que você merece. E recomendo: sempre conversem!

Jurado Nº2

Crítica – Jurado Nº 2

Sinopse (imdb): Enquanto atua como jurado em um julgamento por assassinato, um homem se vê em um dilema moral, podendo influenciar o veredito do júri.

Uma coisa que acho muito legal é quando vejo pessoas idosas trabalhando no que gostam, por prazer. Sim, sei que tem muita gente com condições financeiras precárias, que precisa continuar trabalhando, mas alguns trabalham porque gostam do que fazem. Lembro do show do Deep Purple, ano passado, no Rock in Rio. Quatro membros da banda com mais de 75 anos!

Aí a gente vê que chegou no streaming o novo filme dirigido por Clint Eastwood – que está com 94 anos! Quando crescer, quero ser que nem esses caras!

(Antes de entrar no filme, uma coisa que descobri pesquisando sobre o que ia falar aqui: Clint Eastwood tem fama de ser um diretor muito responsável com prazos e orçamentos. Seus filmes sempre custam menos do que o estimado e sempre são entregues antes do prazo. Legal!)

E vamos ao filme. Vi Jurado Nº 2 (Juror # 2, no original) no finzinho do ano passado, lembro que alguns amigos colocaram o filme em suas listas de melhores do ano, queria ver logo pra ver se ia mudar o meu top 10. Reconheço todos os méritos de Jurado Nº 2, é um filmão, mas não mudou minha lista.

A ideia é muito boa. Um cara é convocado pra fazer parte de um júri. Durante o julgamento, ele descobre que pode ter um envolvimento pessoal com o caso. Aí entra o dilema moral: será que ele deve assumir a sua responsabilidade, ou é melhor deixa outra pessoa pagar por um erro seu?

(Nunca entendi esse sistema que acontece nos EUA onde pessoas são convocadas pra participarem de um júri. O que acontece se a pessoa não pode? Se tem um trabalho que não a deixa sair? Se tem algum problema de saúde? Acho que isso não funcionaria no Brasil…)

Um dos destaques de Jurado Nº 2 é o roteiro, que consegue explorar bem vários tons de cinza no meio do julgamento, e consegue equilibrar um elenco com vários bons personagens. Ok, não tem como aprofundar todos os personagens em um filme de uma hora e cinquenta e quatro minutos, são uns vinte personagens participando da trama. Mas conseguimos ver nuances de vários deles.

Outro destaque é o elenco. Nicholas Hoult (segundo filme que comento este ano, segundo filme com o Nicholas Hoult) está excelente com seus dilemas – ele tem uma esposa em gravidez de risco, ele tem um histórico de alcoolismo, e está vendo um homem que pode ser inocente ser condenado. E Toni Collette, como a promotora, também tem seus dilemas, porque está vendo que talvez precise prejudicar terceiros por motivos pessoais. Duas grandes atuações! E ainda tem outros dois grandes atores em papéis bem menores, J.K. Simmons e Kiefer Sutherland. Papéis importantes, mas com pouco tempo de tela. Também no elenco, Zoey Deutch, Chris Messina e Leslie Bibb. Ah, a vítima do assassinato é Francesca Eastwood, filha do Clint.

Jurado Nº 2 foi muito mal lançado. Um filme desses merecia ir pros cinemas. Mas foi direto pro streaming, e sem nenhuma divulgação. Nosso diretor nonagenário merecia um tratamento melhor!

Nosferatu (2024)

Crítica – Nosferatu

Sinopse (imdb): Um conto gótico de obsessão entre uma jovem assombrada na Alemanha do século XIX e o antigo vampiro da Transilvânia que a persegue, trazendo consigo um horror incalculável.

Comecemos pelo original, de mais de 100 anos atrás. Em 1922, F.W. Murnau resolveu fazer uma adaptação do livro Drácula, de Bram Stoker. Alterou os nomes dos personagens, alterou o país onde se passa a história, alterou quais são os dentes do vampiro (incisivos em vez de caninos). O resto é exatamente igual. Exatamente a mesma história. A viúva de Bram Stoker descobriu o plágio, entrou com um processo, e pediu para que todas as cópias fossem destruídas. Por sorte, alguns colecionadores e cinematecas guardaram cópias, se não hoje não teríamos essa obra icônica.

Heu nunca tinha visto este Nosferatu de 1922. Vi agora, e entendo todos os méritos, mas preciso admitir que não gosto muito do estilo usado na época. Como era cinema mudo, todas as atuações parecem exageradas, isso me incomoda um pouco. Mas reconheço a importância do filme.

(Existe outra versão de Nosferatu, de 1979, dirigida por Werner Herzog e estrelada por Isabelle Adjani e Klaus Kinski. Vi muitos anos atrás, me lembro de pouca coisa desta versão.)

Finalmente chegamos em 2024 (apesar de já estarmos em 2025). Gosto do estilo do Robert Eggers, gostei de A Bruxa, e gostei mais ainda de O Homem do Norte – apesar de não ter gostado nem um pouco de O Farol, achei chato e pretensioso. Mas estava curioso em ver como Eggers ia apresentar sua versão de Nosferatu.

A história todo mundo conhece: o jovem corretor de imóveis Hutter vai até a Transilvânia para fechar um contrato de venda de um imóvel para o misterioso conde Orlok, que vai até a Alemanha atrás da esposa de Hutter.

Se a história é batida, o visual não é. Goste ou não do estilo de Robert Eggers, seus filmes são sempre belíssimos, com várias sequências com visual deslumbrante. E isso acontece aqui, Nosferatu enche os olhos. A trilha sonora também é muito boa. Além disso, todo o figurino e reconstituição de época são perfeitos.

Um parágrafo à parte pra falar da maquiagem. Bill Skarsgård está irreconhecível. A divulgação do filme fez bem em não explorar o visual deste novo Nosferatu, porque quando ele aparece, está assustador, tanto na aparência quanto na voz – ele treinou a voz por semanas pra baixar uma oitava do seu registro natural para seu personagem ter a voz o mais grave possível.

O vampiro de Bill Skarsgård é assustador, e o clima do filme segue a mesma linha. Nosferatu ainda tem alguns jump scares bem bolados (daqueles que a gente não adivinha quando vão chegar). Mas o mais importante aqui não são os jump scares, e sim o clima tenso de terror. Sim, Robert Eggers sabe trabalhar o clima como poucos no cinema contemporâneo.

(Achei estranho o personagem ter bigode. Deve ser porque Vlad Tepes também tinha.)

Bill Skarsgård não é o único destaque do elenco. Lily-Rose Depp também está excelente (parece que o papel seria da Anya Taylor-Joy, mas ela teve que passar adiante por problemas de conflito de agenda quando foi fazer Furiosa). Também no elenco, Nicholas Hoult, Willem Dafoe, Aaron Taylor-Johnson, Emma Corrin e Ralph Ineson.

Gostei muito deste novo Nosferatu, mas reconheço que não é um filme para qualquer um. Aliás, todo o cinema de Eggers tem essa característica, seus filmes são o oposto do pop. Provavelmente vai ter parte do público saindo insatisfeita do cinema. Mesmo assim, recomendo: filmão!

Por fim, um mimimi que não é um problema deste filme, porque na verdade estava na versão de 1922. Na história original do Bram Stoker, Drácula vai de navio até a Inglaterra. É longe, sair da Transilvânia e ir até a Inglaterra, mas tem lógica se a gente pensar que a Inglaterra é uma ilha, então teria alguma lógica ir pelo mar. Na versão “pirata”, a história se passa na Alemanha, e mesmo assim, Orlok vai de navio. Não entendo muito de geografia europeia, mas a Alemanha só tem acesso ao mar pelo norte. O navio nesta versão teve que dar uma volta enorme! Não vejo lógica em ele ir de navio da Romênia até a Alemanha. Fui o único que pensei nisso?

Expectativa 2025

Expectativa 2025

Mais uma vez, vou criar uma lista com expectativas fora do óbvio, como fiz nos anos anteriores. Minha lista não vai ter continuações ou filmes de franquias. Seria uma lista fácil – e óbvia. Por exemplo: em 2025 teremos quatro filmes de super heróis: Superman, da DC, e Quarteto Fantástico, Thunderbolts e Capitão América da Marvel; teremos Bailarina, filme da Ana de Armas no universo de John Wick, e teremos talvez o último Missão Impossível; teremos um novo Extermínio, trazendo de volta Danny Boyle, Alex Garland e Cillian Murphy, e um novo Tron com o Jeff Bridges; e teremos Lilo & Stitch e Como treinar seu Dragão em live action. É uma boa lista, dez filmes que provavelmente todo mundo vai querer ver. Mas, é uma lista óbvia. Prefiro pegar outro caminho.

Claro, como estou falando de alguns filmes que ainda estão em produção, não tenho certeza de que teremos os dez títulos em 2025. Na lista do ano passado, por exemplo, dois dos dez filmes ainda não têm previsão de lançamento, e Mickey 17 deve ser lançado somente este ano. E na lista de 2023 tem dois filmes que ainda não foram lançados, mas devem aparecer agora em 2025: Havoc e The Running Man.

Dois filmes quase entraram na lista deste ano. Bugonia, novo Yorgos Lanthimos, com Emma Stone, Alicia Silverstone e Jesse Plemons, estava na lista, mas descobri que é refilmagem de um filme coreano de 2003. E pensei em colocar Eddington, novo filme do Ari Aster, com Emma Stone, Pedro Pascal e Austin Butler. Gosto muito de Hereditário e Midsommar. Mas Beau tem Medo me deixou com pé atrás. Certamente vou ver Eddington, mas sem expectativas.

Vamos à lista? De novo, não tem uma ordem…

1- Better Man – A História de Robbie Williams
Cinebiografia do cantor Robbie Williams. Não sou fã, pra falar a verdade não me lembro de nenhuma música dele. Mas o fato de ser um macaco no lugar do protagonista me intriga. E ainda é dirigido por Michael Gracey, o mesmo de O Rei do Show. Previsão de estreia em fevereiro.

2- Um Filme Minecraft
No jogo Minecraft tudo é quadrado. Como vão fazer um live action, com atores humanos, num mundo quadrado? Não tenho ideia. Pelo trailer, parece ser numa pegada Jumanji. Tem Jack Black e Jason Momoa no elenco. Previsão de estreia em abril.

3- O Macaco
O novo filme dirigido por Osgood Perkins (Longlegs) é uma adaptação de um conto escrito por Stephen King nos anos 80. Pelo trailer, parece ser bem sanguinolento. Previsão de estreia em fevereiro.

4- Pecadores
Depois de fazer filme de super herói (Pantera Negra) e spin off de Rocky (Creed), o diretor Ryan Coogler entra no terreno do terror. Com Michael B. Jordan e Hailee Steinfeld, Pecadores promete trazer “uma nova visão do medo”. Previsão de estreia em abril.

5- In the Grey
Ok, o Guy Ritchie do ano passado, Guerra sem Regras, não foi lá grandes coisas. Mas o cara ainda tem crédito comigo. Com Henry Cavill, Eiza González, Jake Gyllenhal e Rosamund Pike no elenco. O imdb só coloca “2025” como previsão de estreia, não tem um mês. Mas como o Guy Ritchie tem feito filmes todos os anos, acredito que fique pronto ainda em 2025.

6- Frankenstein
Depois do Oscar por Pinóquio (seu terceiro, ele ganhou dois, filme e diretor, por A Forma da Água), Guillermo Del Toro resolveu adaptar Frankenstein, uma de suas histórias favoritas. Com Mia Goth, Christoph Waltz, Ralph Ineson, Oscar Isaac, Charles Dance e Jacob Elordi no elenco. Outro que o imdb só coloca “2025” como previsão de estreia, sem um mês específico.

7- Nunca Terão Paz
No ano 10000, a humanidade acabou. Vagam pela terra apenas anjos proscritos e espíritos esquecidos. Com desejo de vingança, os anjos Ari e Vic, com a improvável ajuda do espírito de uma atriz, irão em busca da lendária Máquina Zero para tentar sair da Terra.

Esta é uma expectativa realmente fora da caixinha, e preciso de um pouco mais de espaço pra explicar. Paulo Biscaia Filho é um diretor paranaense, autor de alguns filmes alternativos bem legais, como Morgue Story e Nervo Craniano Zero, feitos por sua companhia Vigor Mortis, que faz teatro e cinema e se propõe a ser uma versão brasileira do teatro francês Grand Guignol, com temas ligados ao horror e violência gráfica. E heu gosto porque tem um pé no trash – mas trash bem feito! Recomendo pra quem aprecia um terror menos sério. Biscaia tem alguns projetos para 2025, um deles é este filme, que provavelmente não estará em NENHUMA outra lista de expectativas.

8- Overman
Ainda nas expectativas nacionais, que tal um filme de super herói brasileiro, dirigido por Tomás Portella (Aumenta que é Rock’n’roll), baseado nos quadrinhos da Laerte? Não precisa de mais nada pra me convencer!

9- The Creature from the Black Lagoon
Fecho minha lista com duas produções que ainda temos poucas informações, ou seja, talvez não sejam lançadas em 2025. The Creature from the Black Lagoon é o novo filme de terror dirigido por James Wan, de Jogos Mortais, Sobrenatural, Invocação do Mal – não estou falando de continuações e spin offs, estou falando dos filmes dirigidos pelo próprio, todos muito acima da média. E novo filme vai trazer o clássico monstro da Universal – que habita no Amazonas!

10- The Carnival at the End of the Days
Deus, decepcionado com o que está acontecendo no planeta Terra, quer exterminar a humanidade e o único que quer salvá-la é Satanás. Dirigido por Terry Gilliam, com Jeff Bridges interpretando Deus, Johnny Depp fazendo Satanás, e ainda tem Adam Driver, Jason Momoa e Asa Butterfield no elenco. Previsão de começar a filmar em janeiro de 2025, será que fica pronto este ano?