Boa notícia! Existe cinema de qualidade no Paraguai!
Victor, 17 anos, é um carregador de que sonha em ser famoso e se imagina nas televisões do competitivo Mercado Municipal Nº 4, em Assunção. Quando lhe oferecem cem dólares para carregar 7 caixas, ele pensa em realizar seu sonho de comprar um celular com câmera.
O maior sucesso comercial da história do cinema paraguaio, 7 Caixas (7 Cajas, no original) lembra muito o brasileiro Cidade de Deus: clima hollywoodiano e edição com ritmo de videoclipe, mas visual de pobreza do terceiro mundo – o tal “favela movie” falado na época do filme do Fernando Meirelles. Se lá na gringolândia rolam perseguições frenéticas de carros, aqui a perseguição é feita usando carrinhos de mão – e podemos dizer que não sentimos falta dos carros de verdade!
O filme paraguaio se passa num grande mercado que parece um gigantesco camelódromo da Uruguaiana, misturado com uma favela. Quase todo o filme se passa no mercado – não sei se foi opção financeira ou estética, mas foi uma boa escolha, os cenários são fantásticos, aquilo parece um grande labirinto. Os diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori souberam aproveitar muito bem os meandros do mercado, usando vários ângulos de câmera inesperados – gostei da câmera presa embaixo do carrinho.
Outro destaque é o roteiro, muito bem construído, que traz viradas inesperadas e consegue costurar muito bem os personagens e tramas secundários. A saga de Victor vai ficando progressivamente mais enrolada com uma incrível sucessão de mal entendidos, mas o filme nunca sai dos trilhos, e nada parece forçado.
Se 7 Caixas tem um problema, é a evolução da tecnologia. O filme foi escrito em 2004, mas só ficou pronto em 2012, e só chegou aos cinemas brasileiros em 2014. Ou seja, esse papo de “celular com câmera”, soa muito datado, hoje, quando se compra inúmeros celulares “xing ling” baratinhos, todos com câmera…
Ah, achei o fim excelente. Sem spoilers – o sorriso que o personagem dá na última cena foi sensacional.