Cineclubismo

Cineclubismo

Hoje vou falar de um estilo de se consumir cinema.

Nasci em 71, acabei de fazer 50 anos. Nasci no Rio, mas me mudei ainda criança pra Petrópolis. Lá, quando tinha meus 12, 13 anos, já curtia muito cinema, já via quase tudo o que passava nos poucos cinemas da cidade.

Quando tinha 14, entre 85 e 86, me mudei de volta pro Rio, e ao lado da minha nova casa tinha um cinema em reforma. Um cinema que abriria em breve e que entraria na história do cinema brasileiro, o Cineclube Estação Botafogo.

(Na wikipedia fala que o Estação abriu em agosto de 85, mas na minha memória, lembro de um cinema fechado, e só me mudei no fim do ano. E agora?)

Mas, o mês pouco importa. O que importa é que o cineclube Estação Botafogo estava sendo aberto, ao lado da minha casa, e heu era um adolescente com poucos amigos e muito tempo livre.

O Estação Botafogo virou minha segunda casa.

E por que o Estação era diferente dos outros cinemas? É aqui que entra o tema deste texto: a programação era de cineclube. De vez em quando tinha um filme em cartaz, mas uma coisa que tinha muitas vezes eram pequenas mostras temáticas. Tipo, semana Francis Ford Copola. Um dia tinha O Fundo do Coração às 16h e às 20h, e O Selvagem da Motocicleta às 18h e às 22h. No dia seguinte tinha Hammet às 16h e às 20h, e Outsiders às 18h e às 22h. Aí, na semana seguinte, tinha semana Nastassja Kinski. Um dia tinha Infielmente Tua e Paris Texas; no outro dia tinha Tess e Hotel New Hampshire

(Essa “programação” é um exemplo, vi esses filmes todos lá, mas não tenho como me lembrar exatamente qual dia tinha qual filme).

O Estação foi o meu primeiro contato com Felini, Pasolini, Fassbinder, Wim Wenders, Jim Jarmusch, Buñuel, Goddard – heu estava no lado errado da música Eduardo e Mônica, porque heu tinha 16, e preferia ver o filme do Goddard. No Estação, via filmes do Luc Besson antes dele fazer filmes de ação americanos; no Estação vi um filme de um diretor tex mex, que dizia que seu filme tinha custado apenas 7 mil dólares – Robert Rodriguez e seu El Mariachi. Vi muito, muito, muito filme. Aprendi muita coisa sobre cinema lá.

A importância do Estação Botafogo cresceu, heu não era o único que frequentava aquele lugar. O grupo Estação começou a cuidar da programação de outras salas, lembro de ter lido uma matéria no jornal falando que nos anos 90 o Estação juntou 3 décadas de cinéfilos cariocas, porque faziam parte do grupo o Estação Cinema 1, em Copacabana, que foi point de cinéfilos nos anos 60, e o Estação Paissandu, no Flamengo, que foi point de cinéfilos nos anos 70. E tinha o Estação Ipanema, salas no shopping da Gávea, na Barra, em Niterói, no Museu da República. o Estação virou um grupo exibidor, parte do circuito carioca – e longe da proposta inicial de cineclube.

Hoje acredito que não exista mais espaço pra esse tipo de cinema. Naquela época, alguns filmes eram difíceis de se ver. Não tinha internet, não tinha tv a cabo, não tinha dvd, e as locadoras tinham poucos títulos. Hoje tem TUDO à disposição – se não tiver no streaming, vai ter no torrent. Quem iria ao cinema ver “filme velho”?

Mas, saudosista que sou, convidei uns amigos e ouvintes do Podcrastinadores e criei um grupo pra ver filmes velhos e bater papo sobre eles. Se alguém se interessar em participar, me avisa!

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