Crítica – Elementos
Sinopse (imdb): Em uma cidade onde cidadãos de fogo, água, terra e ar vivem juntos, Faísca, uma jovem impetuosa, e Gota, um cara que segue o fluxo da vida, irão descobrir algo elementar: o quanto eles têm em comum.
Às vezes, o rótulo “o novo filme da Pixar” pode atrapalhar. Porque a gente se lembra de Toy Story, Monstros S.A., Wall E, Divertida Mente, Os Incríveis, Up, Soul, e às vezes o novo filme é um filme bem bobinho, como é o caso deste Elementos (Elemental, no original).
A direção é de Peter Sohn, que fez O Bom Dinossauro, filme que IMHO é um dos piores do catálogo da Pixar. Não só é um filme besta, que parece uma versão de Procurando Nemo com sequências tiradas de O Rei Leão, como tem algumas cenas meio bizarras se a gente pensar que é um desenho pra crianças (tem um animal sendo decepado, e tem uma cena onde os personagens experimentam efeitos alucinógenos que funcionam como drogas).
Elementos não é tão ruim quanto O Bom Dinossauro. Mas ainda falta muito pra ser um grande filme. O grande problema aqui é o roteiro. Pra começar, a divulgação do filme tenta forçar uma barra pra falar dos quatro elementos, mas o filme só foca em dois (fogo e água). Aí na porta do cinema tem quatro cartazes, dois deles com os personagens principais, os outros dois com personagens bem secundários (tem um poster do Turrão (acho que e esse o nome), personagem que acho que só aparece umas três vezes, durante poucos segundos cada vez.)
Mas calma que piora. Os dois protagonistas não têm nenhum carisma. O Gota é um cara bobão, que só se envolveu com a Faísca porque a prejudicou intencionalmente. A Faísca também não é uma boa personagem, se irrita por qualquer bobagem, mas é menos ruim que o Gota. Mas o ponto é: são personagens que não cativam o espectador.
Ok, entendo que existe um paralelo sobre racismo / xenofobia. Me pareceu que o povo do Fogo era um paralelo com povos árabes, pelo som do dialeto deles e pelo visual de sua terra natal. Mas, lendo no imdb, o diretor Peter Sohn disse que se inspirou na sua família, que veio da Coreia sem saber falar inglês, se estabeleceu no Bronx e abriu um mercado com o nome da família. Até aí, ok. A gente vê que o povo do Fogo sofre preconceito – em uma cena, vemos que eles são proibidos de entrar em certos lugares. Mas… Se era pra ser um povo que sofre com o preconceito, como é que a Faísca é tão bem recebida pela família do Gota, vários seres de Água que são extremamente simpáticos com a pessoa do Fogo. Se era pra mostrar preconceito, pelo menos um dos personagens de Água deveria tratá-la mal.
Além disso, a trama é extremamente previsível. Cada coisa que aparece na tela já telegrafa para um momento futuro. Zero surpresa. E o fato da trama não ter um antagonista também é ruim. Se a gente parar pra pensar, o vilão do filme é a falta de manutenção do encanamento da cidade. Sim, o vilão é a Cedae.
Dito tudo isso, precisamos admitir que o visual do filme é fantástico. Procurando Nemo, de 2003, tinha 923 cores. Agora, vinte anos depois, Elementos tem 151 mil cores. E a gente vê isso na tela, o visual da cidade dos Elementos é de encher os olhos. Várias cenas você pode pausar e criar um quadro pra pendurar na parede. Nesta parte técnica, o filme realmente é impressionante.
(Um amigo comentou, depois da sessão, que não gostou dos personagens do Fogo, porque é um visual meio 2D em um filme onde tudo tem profundidade. Mas isso não me incomodou, já que o fogo não tem exatamente uma forma.)
Outra coisa divertida são pequenos detalhes ao longo da projeção fazendo piadinhas sobre os elementos, como por exemplo um dirigível zepelin que transporta personagens de Ar que esvazia quando os passageiros saem, mas infla novamente com os novos passageiros.
Mas é pouco. No fim, fica a sensação de um produto bonito, mas vazio.
Por fim, não cheguem atrasados na sessão. Antes do filme, tem um divertido curta com o Carl, de Up.