Crítica – A Sociedade da Neve
Sinopse (Festival do Rio): Em 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, caiu no coração da Cordilheira dos Andes. Apenas 29 dos seus 45 passageiros sobreviveram ao acidente. Presos num dos ambientes mais hostis e inacessíveis do planeta, eles precisam recorrer a medidas extremas para permanecerem vivos. Adaptação do livro “A Sociedade da Neve”, de Pablo Vierci.
Ué, acho que já vi esse filme. Não é aquele Vivos, de 1993, com o Ethan Hawke?
Bem, 30 anos se passaram, cabe uma nova versão da mesma história. E a boa notícia é que esta nova versão é melhor que aquela!
Vivos é um bom filme, mas é muito “sessão da tarde”, tudo é muito “limpinho”. Depois da sessão de A Sociedade da Neve (La Sociedad de la Nieve, no original) fui rever uns trechos do filme de 93. Um exemplo simples e sem spoilers: depois de 70 dias isolados da civilização, os personagens ainda estão “bonitinhos”. Além disso, esse aqui ainda tem uma característica importante: é falado em espanhol. Ora, se todos os personagens são uruguaios, eles têm que falar espanhol e não inglês!
Dirigido por J.A. Bayona (O Orfanato, O Impossível), A Sociedade da Neve é mais “pé no chão”. As cenas violentas são mais duras, mais reais – nesse aspecto lembra O Impossível. O acidente de avião aqui é sensacional. Não me lembro de um acidente de avião melhor filmado do que este. (Não é spoiler falar do acidente de avião, né? Afinal, o filme existe por causa do acidente!)
O acidente não é o único momento tenso do filme. Não vou entrar em spoilers, mas alguns outros momentos também geraram desconforto na sala do cinema. Também preciso falar da maquiagem, tanto pela parte dos ferimentos quanto pela falta de higiene, a gente vê aos poucos a degradação daqueles caras isolados na neve.
Outro trunfo de A Sociedade da Neve é a construção dos personagens e as relações entre eles, que precisam encarar dilemas morais e éticos em busca da sobrevivência. Não tem nenhum ator conhecido, mas todos convencem. A gente sente o companheirismo daquele grupo.
Alguns comentários sobre a história real. A primeira coisa que a gente pensa é “por que diabos os caras não tentaram descer a montanha?” Sou carioca, a geografia aqui é mais simples: “desça a montanha, procure um rio, siga o curso do rio até encontrar uma cidade”. Mas, a cordilheira dos Andes não é apenas uma montanha. Lembro que em 1991 fui pra Santiago, no Chile, e lembro que o avião passa precisa de vários minutos pra atravessar a cordilheira.
Mesmo assim, penso que se heu estivesse lá, não esperaria tanto tempo pra tentar sair a pé. A cada dia que passava, eles estavam mais fracos. O ideal seria tentar andar o quanto antes. Lembro que quando heu tinha meus 12 ou 13 anos, meu avô tinha um sítio perto da divisa entre RJ e MG, e tinha um morro perto, e heu sempre tinha curiosidade de saber o que tinha atrás do morro. Um dia peguei uma garrafa de água na geladeira, coloquei numa mochila, e subi o morro – só pra descobrir que depois tinham outros morros iguais. Ok, sei que um morrinho no meio do “mar de morros” não é nada perto da cordilheira dos Andes, mas, penso que, se heu estivesse lá, tentaria sair.
Ontem falei de Pobres Criaturas, que é um filme que ainda vai demorar pra estrear. Como A Sociedade da Neve tem o nome “Netflix” no cartaz, achei que já ia estrear. Mas fui no site da Netflix, só em 4 de janeiro…. Mas, fica a recomendação: vejam quando tiverem oportunidade!