Crítica – A Praga
Sinopse (imdb): Em um passeio pelo campo, Marina e Juvenal param para tirar fotos em frente à casa de uma idosa. Irritada, a velha revela-se uma bruxa e lança uma maldição sobre o jovem casal.
Hoje vou falar de um filme que quase ninguém viu. Vou além: quase ninguém ouviu falar! A Praga, filme “novo” de José Mojica Marins, o Zé do Caixão!
Antes de A Praga rola um pequeno documentário de uns 17 ou 18 minutos contando a história do filme. Filmado em 1980, eles perderam os negativos. Anos depois, no meio de um material separado para descarte, encontraram os arquivos. E então veio o cuidadoso trabalho executado pelo produtor Eugênio Puppo, que restaurou o material, filmou novas cenas, dublou o filme e incluiu trilha sonora (o material encontrado estava sem som).
(Se esse breve documentário tem um problema, é que vemos cenas do filme que vai começar em breve. Ou seja, temos spoilers…)
Dirigido por Mojica e com roteiro de Rubens Francisco Lucchetti (o maior autor de terror e literatura pulp do Brasil), A Praga foi originalmente feito para um programa de TV chamado Além, Muito Além, exibido na rede Bandeirantes entre setembro de 1967 e julho de 1968. Infelizmente, depois do cancelamento do programa, as fitas onde eram gravados os programas foram reaproveitadas pela Bandeirantes para outras atrações, sendo assim não existem mais registros em vídeo do programa (prática que infelizmente era comum na TV).
(Considerado “o papa do pulp no Brasil”, Rubens Francisco Lucchetti não é um nome muito conhecido, mas tem um currículo impressionante. O cara lançou dezenas de livros e HQs de teor fantástico, e, no assunto que nos interessa, ele escreveu o roteiro de alguns filmes do Zé do Caixão e do Ivan Cardoso (incluindo As Sete Vampiras, um dos meus guilty pleasures favoritos).)
Finalmente, falemos do filme. A história em si não tem nada de excepcional, lembra aqueles filmetes no estilo Tales From the Crypt. O Zé do Caixão narra uma história onde um cara discute com a velha e é amaldiçoado.
O resultado final é estranho. O estilo do Mojica não é pra qualquer um, os ângulos de câmera são estranhos, com closes igualmente estranhos. As atuações estão bem longe do convencional. Mas essa tosqueira faz parte do estilo do diretor. Como diz o crítico Mario Abbade: “O que pode parecer algo de mau gosto e/ou tosco, por causa do baixíssimo orçamento, é na verdade uma pequena pérola do terror feito no Brasil, com o intuito provocar desconforto, repulsa ou risos nervosos. Um estilo de cinema que foi reverenciado e reconhecido mundialmente, pelo uso de alegorias visuais e narrativas.”
Sobre o elenco, claro, nenhum ator conhecido. Mas, existe um detalhe curioso: cada personagem tem dois créditos de ator, um para o “corpo’, que é quem aparece na tela; e outro para a voz, que é quem dublou. Os diálogos tiveram que ser recriados do zero, usando uma pessoa com prática em leitura labial e os quadrinhos de Lucchetti como base.
Agora, ver um filme desses lançado no cinema é uma experiência ótima. Pena que temos poucas oportunidades, e pena que pouca gente valoriza – eram duas sessões por dia no Rio de Janeiro inteiro, e na minha sessão eram só 3 espectadores. Pena…