Uma animação em stop-motion dirigida pelo Charlie Kaufman? Ei, isso deve ser legal!
Um escritor, autor de um best-seller corporativo, está em uma cidade para fazer uma palestra, quando encontra uma mulher que muda a sua vida.
Charlie Kaufman é um cara que merece o nosso respeito, afinal ele roteirizou alguns dos filmes mais criativos deste novo milênio – ele ganhou o Oscar pelo roteiro de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (do Michel Gondry) e foi indicado por Quero Ser John Malkovich e Adaptação (ambos do Spike Jonze). E agora ele se aventura em um longa metragem em stop-motion, um projeto realmente independente – ele usou o kickstarter, famoso site de crowdfunding, para levantar fundos. O resultado deveria ser interessante, não?
Não é. Anomalisa é chato e enfadonho. E muito pouco criativo.
Anomalisa tem 90 minutos, mas a história não tem fôlego para tanto – talvez funcionasse como um curta. O filme se arrasta em diálogos bobos e situações sem graça. Apenas uma parte tem a criatividade esperada pelo “pedigree kaufmaniano”, a sequência onde o escritor vai conversar com o gerente do hotel. Se o filme todo fosse nessa pegada, o resultado seria outro.
Um parágrafo à parte para falar da cena de sexo. Duke Johnson, que co-dirigiu o filme, declarou que levou seis meses para animar esta cena, porque queria o máximo de realismo possível. Ou seja: temos uma cena realista com bonecos feios – a cena não é sexy nem engraçada. É uma cena longa, parece interminável! Me questionei qual o sentido desta cena existir. Será que é pra afirmar que esta é uma animação stop-motion não recomendada para crianças?
Pra não dizer que o filme é um completo equívoco, gostei da parte técnica da animação, e gostei da ideia de todas as vozes secundárias serem feitas pelo mesmo ator (David Thewlis e Jennifer Jason Leigh interpretam o casal principal, todas as outras vozes são de Tom Noonan). Ah, claro, também gostei da sequência que citei ali em cima.
Mas é pouco. Charlie Kaufman é capaz de algo melhor.