Late Night With the Devil

Crítica – Late Night With the Devil

Sinopse (imdb): Uma transmissão televisiva ao vivo em 1977 dá terrivelmente errado, liberando o mal em todos os lares do país.

Ah, a expectativa… Vi três filmes de ação seguidos, e enquanto estava escrevendo sobre eles, vi que pipocavam críticas sobre um novo “melhor filme de terror do ano”. Claro que seria o meu próximo filme.

Vejam bem, Late Night With the Devil não é ruim, longe disso. Principalmente quando a gente compara com um monte de lixo que chega mensalmente no gênero “terror”. Mas tenho minhas dúvidas sobre essa denominação de “melhor do ano”.

Acho que o pior problema de Late Night With the Devil é que ele é vendido como um found footage. Tem uma introdução onde dizem que aquele é o programa ao vivo, que foi exibido na TV no dia 31 de outubro de 1977, e que “encontraram imagens dos bastidores”. E aqui está o problema: nessas imagens dos bastidores o filme segue normalmente, como se câmeras estivessem acompanhando as pessoas. E vamos combinar: aquilo NÃO é found footage! Inclusive, muda o formato da tela. Pra que querer vender o filme por uma coisa que ele não é?

(E se os bastidores não são found footage, a parte final do filme e menos ainda!)

Agora, por outro lado, a parte que mostra o programa em si é muito boa. Realmente parece que estamos vendo um programa de auditório dos anos 70. Toda a ambientação, cenários, figurinos, efeitos, tudo remete àquele formato. Se heu não conhecesse o ator principal de outros filmes, até poderia acreditar que é um programa real!

(Uma curiosidade: a data escolhida foi 31 de outubro de 1977. Eles queriam um dia de Halloween, e queriam criar um programa numa segunda feira. E a única vez que 31 de outubro caiu numa segunda feira na década de 70 foi em 1977.)

Escrito e dirigido pelos irmãos Cameron Cairnes e Colin Cairnes, Late Night With the Devil é terror, mas o terror em si demora pra começar, só vemos coisas assustadoras lá pelo terço final. Mas pelo menos pra mim isso não foi um problema, porque o show / programa de TV é muito bem conduzido e, na minha humilde opinião, a tensão cresceu no momento certo.

Sem spoilers, mas a parte final do filme abandona de vez o found footage, o que não seria um problema se o filme não se vendesse assim. E a cena final traz um plot twist interessante, gostei de como os roteiristas / diretores amarraram a história.

No elenco, achei legal ver David Dastmalchian – o Bolinha de Esquadrão Suicida – num papel principal. O cara sempre foi coadjuvante, é daqueles que a gente vê e pensa “de onde já vi esse cara?”. E em Late Night With the Devil ele mostra um personagem com camadas, é um cara ao mesmo tempo inseguro e confiante, tem seus problemas pessoais mas os deixa nos bastidores e segue conduzindo o programa. E também queria falar da menina Ingrid Torelli, que mostra timidez e logo depois se transforma. Guardemos esse nome!

No fim, Night With the Devil é um bom filme. Mas se não estivesse sendo vendido como found footage, seria melhor.

Night With the Devil tem previsão de chegar ao circuito em setembro. Por enquanto, só na Shudder.

Drácula: A Última Viagem do Demeter

Crítica – Drácula: A Última Viagem do Demeter

Sinopse (imdb): Baseado no livro “Drácula” de Bram Stoker, a história se passa a bordo do navio Demeter, onde uma tripulação condenada enfrenta eventos estranhos e aterrorizantes durante a viagem.

Antes de falar do filme, queria comentar o título nacional. O título original é “A Última Viagem do Demeter”, e acho um nome muito melhor. Mas, lembro que já tinha comentado que queria ver este filme, e mais de uma pessoa veio me perguntar “afinal, quem é Demeter?”. Ou seja, por mais que colocar “Drácula” no título seja ruim, pelo menos deve ajudar a vender o filme.

É o filme novo do norueguês André Øvredal, o mesmo de Caçador de Trolls e Autópsia de Jane Doe. Gosto do estilo de Øvredal, e a informação de que é um norueguês é importante, porque o filme toma certas atitudes corajosas que não são muito comuns em Hollywood, que costuma proteger alguns tipos de personagens.

É um filme do Drácula, como diz o título. Mas não vemos o Drácula charmoso e estilos de sempre, A Última Viagem do Demeter está mais pra “filme de monstro”. E preciso dizer que curti muito esse Drácula monstro.

O diretor falou que queria fazer um novo Alien, um filme que tinha 7 passageiros em uma grande nave onde um monstro assassino estava escondido, matando um a um, e as pessoas não sabiam onde estava o monstro e nem colo enfrentá-lo. Aqui o formato é o mesmo, só que são dez pessoas dentro de um navio em alto mar.

O clima de terror dentro do barco é muito bom. Não tem momento light, não tem alívio cômico, a parada é séria e tensa. A boa trilha sonora de Bear McCreary ajuda a criar o clima.

Tenho um elogio e uma crítica ao Drácula monstro. Gostei muito da caracterização e da maquiagem – usaram o mesmo Javier Botet que já fez vários monstros em filmes de terror. Sempre que precisam de uma criatura alta e magra, ele é chamado – ele foi a Menina Medeiros de REC, o personagem título de Mama, o Homem Torto de Invocação do Mal, o Demônio das Chaves do último Sobrenatural, e o personagem título de Slenderman. Botet ficou perfeito. Agora, em alguns momentos os efeitos práticos são substituídos por cgi, e esse cgi é meio tosco.

Nem tudo funciona. Ok, a gente sabe que o cinema de terror é baseado em decisões burras de personagens, mas, caramba, por que ninguém pensou em abrir as caixas? Por que não faziam as coisas de dia? Mas, como falei, decisões burras de personagens. Temos que relevar.

O elenco está bem. Ok, alguns personagens são um pouco rasos, mas o formato de “filme de terror onde morre um de cada vez” não tem espaço pra construção de muitos personagens complexos. Nenhum nome muito conhecido, os principais são Corey Hawkins, Liam Cunningham, Aisling Franciosi e David Dastmalchian. E, olha lá, comentei aqui outro dia sobre Toc Toc Toc Ecos do Além, o menino Woody Norman também está aqui.

A história fecha, mas o fim do filme traz um gancho para uma possível continuação. Será que veremos um Demeter 2?

Oppenheimer

Crítica – Oppenheimer

Sinopse (imdb): A história do cientista americano J. Robert Oppenheimer e o seu papel no desenvolvimento da bomba atômica.

Ontem falei de Barbie, hoje vamos de Oppenheimer!

Christopher Nolan é um grande diretor, ninguém questiona isso. Mas, muitas vezes, seus filmes são chatos e pretensiosos. Tecnicamente, Oppenheimer é muito bem feito. Mas… é chato.

São intermináveis três horas de blá-blá-blá, com inúmeros personagens entrando e saindo de tela, com pelo menos três linhas temporais distintas. E é daquele tipo de narrativa que se você se distrai e perde um único diálogo, você se perde pelo resto do filme.

Agora, não podemos dizer que é um filme ruim. Nolan sabe filmar, tecnicamente falando Oppenheimer é muito bom, além de ter uma reconstituição de época irretocável. E o elenco estelar está sensacional.

É até complicado de se falar de tantos atores famosos juntos. Cillian Murphy está muito bem como o principal, e nem sei quem seria o segundo nome mais importante, num elenco que conta com Robert Downey Jr, Matt Damon, Emily Blunt, Florence Pugh, Gary Oldman, Josh Hartnett, Kenneth Branagh, Rami Malek, Alden Ehrenreich, Jason Clarke, Tom Conti, Alex Wolff, Matthew Modine, David Dastmalchian, Dane DeHaan, Jack Quaid, Gustaf Skarsgård e Casey Affleck – entre outros. Se for pra destacar alguém, heu diria que Robert Downey Jr pode ganhar uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante – não só ele está bem diferente do usual como seu personagem tem um bom desenvolvimento. Outro destaque seria para Gary Oldman, que ganhou um Oscar interpretando um líder político na Segunda Guerra Mundial, e agora interpreta outro líder político na mesma guerra. Oldman só aparece em uma cena, mas está sensacional!

A trama vai e vem entre 3 linhas temporais, e a fotografia alterna entre cor e p&b, ajudando o espectador a se situar, a parte em cores seriam divagações sobre a vida do Robert Oppenheimer, enquanto a parte p&b seria documental sobre o julgamento que o cientista foi submetido. Mesmo assim, como tem muita informação ao longo de muito tempo de filme, vai ter espectador perdido.

Confesso que rolou uma certa decepção com a explosão. Nolan é um cara que gosta de filmar coisas reais – o que é algo muito positivo, diga-se de passagem. Em Dunkirk, em uma cena com milhares de soldados na praia, ele fez questão de ter atores até nas fileiras lá atrás onde poderiam ser figuras de papelão. Em Tenet, ele usou um avião de verdade na cena onde o avião bate no hangar. Aqui ele se propôs a mostrar uma explosão atômica sem usar cgi. Ok, é uma explosão bem filmada, mas, não encheu os olhos.

Ouvi gente comentando positivamente sobre a mixagem do som. Mas discordo, achei falha. Em algumas cenas os diálogos ficam embolados atrás de uma trilha sonora alta e efeitos sonoros igualmente altos. Entendo que Nolan queria passar para o espectador que o personagem estava passando por um momento de confusão mental, mas faltou equilíbrio, ficou ruim. Dito isso, preciso admitir que gostei da densa trilha sonora de Ludwig Göransson.

Vai ter muito fã do Nolan elogiando Oppenheimer, afinal, o filme tem seus pontos positivos. Mas, vai ter muito “espectador comum” saindo cansado e confuso da sessão, pensando que teria sido melhor ter comprado ingresso pra ver Barbie.

Boogeyman – Seu Medo é Real

Crítica – Boogeyman – Seu Medo é Real

Sinopse (imdb): Ainda se recuperando da trágica morte de sua mãe, uma adolescente e sua irmã mais nova se veem atormentados por uma presença sádica em sua casa e lutam para fazer com que seu pai de luto preste atenção antes que seja tarde demais.

Gosto de filmes de terror. Vejo muitos. E por ver muitos, reconheço que tem muito filme ruim. E o pior: tem muito filme de terror que não dá medo. Comentei isso semana passada, com O Exorcista do Papa, filme que traz mais risadas do que medo. Por causa disso, Boogeyman – Seu Medo é Real (The Boogeyman, no original) foi uma agradável surpresa. Não, o filme não é perfeito, tem seus problemas, mas é um filme eficiente na proposta de criar tensão.

Dirigido pelo pouco conhecido Rob Savage (vou guardar o nome desse cara!), Boogeyman – Seu Medo é Real é a adaptação do conto “O Bicho Papão”, de 1973, publicado originalmente na revista Cavalier, e depois no livro coletânea Sombras da Noite, de 1978. Em 1982 virou um média metragem de 28 minutos, The Boogeyman, mas não tenho ideia de onde encontrar esse filme. Existe uma franquia quase homônima, Boogeyman, que aqui no Brasil ganhou o nome O Pesadelo, com três filmes lançados em 2005, 07 e 08, mas essa franquia até onde sei não tem nada a ver com o conto do Stephen King.

O grande mérito de Boogeyman – Seu Medo é Real é criar um clima de medo ao longo de todo o filme. O monstro / entidade / criatura é muito bem apresentado – quase não o vemos, e algo que não sabemos o que é dá mais medo do que algo que estamos vendo na nossa frente. Gosto deste conceito desde o primeiro Alien – um monstro misterioso é muito mais assustador! E, além disso, quando aparece, o design do monstro é bem legal.

Você pode ver Boogeyman – Seu Medo é Real é como apenas um “filme de monstro”, mas também tem espaço para interpretações mais profundas. O monstro pode ser a personificação do luto, afinal a família perdeu uma pessoa, e precisa encarar essa perda, por mais dolorosa que seja.

Como falei, o filme não é perfeito, o roteiro tem lá suas inconsistências, como por exemplo uma menina que tem tanto medo de escuro que dorme abraçada com uma luminária redonda – mas vai jogar videogame num quarto escuro. Mas, nada grave, felizmente.

No elenco, nenhum nome muito conhecido. David Dastmalchian, o Bolinha de O Esquadrão Suicida, tem um papel pequeno mas muito importante. E uma coisa curiosa: as duas irmãs estavam em séries de Star Wars – a mais nova, Vivien Lyra Blair, era a jovem Leia na serie Obi Wan; a mais velha, Sophie Thatcher, teve um papel secundário em The Book Of Boba Fett. Também no elenco, Chris Messina, Marin Ireland e LisaGay Hamilton.

Que venham mais filmes de terror assustadores!

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania

Sinopse (filmeB): Os parceiros e super-heróis Scott Lang e Hope Van Dyne retornam às aventuras como Homem-Formiga e Vespa. Com os pais de Hope, Hank Pym e Janet Van Dyne, e a filha de Scott, Cassie Lang, eles exploram o Reino Quântico, interagindo com novas criaturas estranhas, em uma aventura que os levará além dos limites do que eles pensavam ser possível.

Outro dia a gente debateu no Podcrastinadores sobre o tema “já cansamos de filmes de super heróis?”. Olha, heu sempre achei que, mantendo a qualidade, nenhum gênero cansa. Mas parece que a Marvel está chegando no limite. Dirigido pelo mesmo Peyton Reed dos dois filmes anteriores do Homem-Formiga, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (Ant-Man and the Wasp: Quantumania no original) tem seus méritos. Mas a gente sai do cinema levemente decepcionado.

Vamos primeiro ao que funciona. Gostei muito do visual do “reino quântico”, tanto dos cenários quanto dos inúmeros seres que lá habitam – mesmo sabendo que é tudo CGI. Aliás, mesmo não se passando no espaço, várias coisas lembram o universo de Star Wars. Se o Episódio 4 fosse feito hoje em dia, teria um monte daqueles seres na cena da cantina!

Agora, o roteiro tem falhas. Vou começar pelos personagens. Um exemplo claro é a guerreira Jantorra, que quando aparece, passa a impressão de que terá algum protagonismo nas cenas de batalha, mas que some, e só aparece ao fim do filme. O espectador nunca vai se importar com uma perosnagem assim! E a Janet da Michelle Pfeiffer na primeira parte do filme está tão perdida que a gente fica com raiva da personagem. Ou ainda a cena do Bill Murray, que é divertida, mas apenas por causa do Bill Murray. Tire esta cena e o filme fica exatamente o mesmo.

Outro exemplo são as cenas confusas, como a batalha onde prendem o Scott Lang e a filha. Tiros e explosões pra todos os lados, tudo muito colorido, mas ninguém entende nada do que está acontecendo! E isso porque não falei das conveniências de roteiro, tipo num momento o vilão Kang é muito poderoso, mas em outro ele não faz nada – tudo depende do quanto o roteiro pede. A Marvel nos apresentou alguns bons vilões, mas Kang não faz parte deste time.

Com um roteiro mal estruturado, não adianta nada ter um visual de encher os olhos. Pelo menos o filme não é muito longo, duas horas e cinco minutos.

Sobre o elenco, a sorte é que Paul Rudd é um cara carismático, então é sempre agradável vê-lo em tela. Porque não consigo encontrar nenhum destque no resto do elenco. Evangeline Lilly, Kathryn Newton, Michelle Pfeiffer e Michael Douglas apenas “cumprem tabela”, mas pelo menos não estão tão mal quanto Jonathan Majors e seu vilão ruim. Ah, gostei do alívio cômico Veb, com a voz do David Dastmalchian (O Esquadrão Suicida). Aparece pouco, mas sempre é divertido. Por outro lado, achei o MODOK um personagem besta.

Por fim, o tradicional Marvel: duas cenas pós créditos, uma depois dos créditos principais, e outra lá no finzinho dos créditos. Fiquem até o fim!

p.s.: Fiquei frustrado de não ver nenhuma referência ao “Homem Tia” / “Aunt Man”…

Weird – The Al Yankovic Story

Crítica – Weird – The Al Yankovic Story

Sinopse (imdb): Explora todas as facetas da vida de Yankovic, desde sua ascensão meteórica à fama com sucessos iniciais como ‘Eat It’ e ‘Like a Surgeon’ até seus tórridos casos amorosos de celebridades e estilo de vida notoriamente depravado.

Recentemente a gente tem tido várias boas cinebiografias musicais. Será que tem espaço para uma cinebiografia de um nome menos conhecido, como Weird Al Yankovic?

Antes do filme, um breve comentário sobre quem é Weird Al Yankovic – pelo menos pra mim. Nos anos 80, heu curtia muito Eat It, uma versão de Beat It, que tinha piadas tanto na letra quanto no videoclipe (duas mãos no frango, gordo entalado no bueiro). Na mesma época, tinha outra, Like a Surgeon, versão de Like a Virgin, onde o Weird Al ficava imitando as caras e bocas da Madonna – ela estava numa gôndola em Veneza enquanto ele estava numa maca de hospital. Achava isso muito divertido, mas não me lembro de outras músicas dele chegando por aqui – nem em áudio, nem em vídeo. No início dos anos 90 lembro de ter ouvido Smells Like Nirvana, e isso foi tudo o que conheci do Weird Al. Parece que lá nos EUA ele faz mais sucesso, mas aqui não foi muito além disso.

Agora vamos ao filme… Que não é exatamente uma cinebiografia, e sim uma “cinebiografia paródia”. Quando a gente vê um Bohemian Rhapsody ou um Rocketman, a gente se pergunta se aquilo realmente aconteceu daquele jeito ou se mudaram algo em prol da narrativa cinematográfica. Agora, quando a gente vê Weird – The Al Yankovic Story, a gente se pergunta se algo do filme é real ou se tudo foi inventado!

Preciso confessar que essa fuga total da realidade me atrapalhou. A cada evento que aparecia na tela, ficava na dúvida sobre se era real ou não, e isso me impediu de curtir o filme. Porque alguns são realmente absurdos e é claro que não são reais (como toda a parte do Pablo Escobar), mas tem muita coisa ali que poderia ser verdade.

Mas, vamos à análise do filme. A ideia surgiu em 2010, quando o site Funny or Die criou um trailer fake de uma cinebiografia do Weird Al Yankovic, dirigido por Eric Appel e com Aaron Paul, Olivia Wilde, Mary Steenburgen e Patton Oswalt no elenco. Anos se passaram, e o mesmo diretor Eric Appel traz o longa, escrito a quatro mãos por ele e pelo próprio Weird Al.

O papel principal ficou com Daniel Radcliffe, que faz um bom trabalho como o Weird Al – ele aprendeu a tocar acordeon para fazer o filme, mas não canta, a voz nas músicas é a do próprio Weird Al. Sempre tive a impressão do Weird Al original ser um cara alto, e Radcliffe aparenta ser o menor do elenco (fui ver no google, Weird Al tem 1,83 e Radcliffe tem 1,65). Isso seria um problema se o filme fosse sério, mas deve ter entrado nas piadas.

Aproveito pra falar do elenco principal. Além de Radcliffe, dois personagens merecem ser citados: o Dr. Demento do Rainn Wilson e a Madonna da Evan Rachel Wood. Nunca tinha ouvido falar de Dr Demento, achei o papel caricato mas acho que foi proposital; não gostei da Madonna da Evan Rachel Wood, ainda mais caricata que o Dr Demento, e ela não ficou nem um pouco parecida com a Madonna original.

Weird – The Al Yankovic Story tem algumas boas piadas. Gostei da parte onde ninguém sabe quem é John Deacon. Por outro lado, algumas partes são bem sem graça. E achei muito forçada a parte onde o pai revela que também tocava acordeon.

O filme é cheio de easter eggs de atores e de personagens. Tem uma cena de uma festa onde a gente vê dois membros do Devo, Frank Zappa, Salvador Dali, Andy Warhol, Pee Wee Herman, David Bowie, Wolfman Jack, John Deacon, Divine, Elton John, Elvira, Alice Cooper, Grace Jones e me parece ser a Kate Pierson dos B-52’s. Na parte final vemos Coolio e Prince na plateia, ambos estão descontentes (Coolio não gostou da paródia feita com a música dele; Prince nunca permitiu paródias); e ainda vemos a Cyndi Lauper ao lado do Dr Demento.

Já no elenco… Lin-Manuel Miranda faz o médico da cena inicial; Thomas Lennon faz o vendedor de acordeon. Patton Oswalt, que estava no trailer fake, aparece na plateia do primeiro show. Na festa, Conan O’Brian faz o Andy Warhol, Jack Black faz o Wolfman Jack, e John Deacon é interpretado por David Dastmalchian, o Bolinha de Esquadrão Suicida. Por fim, Weird Al Yankovic faz o produtor musical Tony Scotti.

Weird – The Al Yankovic Story não tem cenas pós créditos, mas rolam umas piadinhas com a música que está tocando. Vale ficar até o fim!

No fim, fica aquela sensação de que se o filme tivesse escolhido um lado – ou a cinebiografia real, ou a galhofa total – o resultado seria melhor. Achei bem decepcionante.

Duna (2021)

Crítica – Duna Parte 1 (2021)

Sinopse (imdb): Adaptação do romance de ficção científica de Frank Herbert, sobre o filho de uma família nobre encarregada de proteger o bem mais valioso e o elemento mais vital da galáxia.

É curioso ver um novo filme logo depois de ver uma versão anterior. Na verdade, este filme não tem nada a ver com aquele, mas como os dois são baseados no mesmo livro, várias cenas são bem parecidas. Aliás, diria que quem está com a outra versão fresca na cabeça vai saber mais ou menos dois terços do que acontece aqui.

Mas, em defesa da nova versão, aqui tudo é mais bem feito. Este novo Duna acerta em quase tudo o que o outro errou.

Mas, começarei o meu comentário com uma crítica. Logo no início, vemos o título “Duna Parte 1”. Ou seja, já começamos sabendo que é um filme sem fim.

Claro que O Senhor dos Anéis vem à lembrança. São dois clássicos da literatura fantástica (um de fantasia, outro de ficção científica), duas obras com fama de serem difíceis de adaptar, e duas obras que já tiveram uma adaptação cinematográfica que não deu muito certo (o sucesso do Senhor dos Anéis do Peter Jackson foi tanto que muita gente esqueceu da versão em animação feita por Ralph Bakshi em 1978). A diferença é que Peter Jackson bateu o pé para que se filmassem logo os três filmes da trilogia Senhor dos Anéis – coisa que o estúdio não queria (porque se o primeiro flopasse, o que fazer com as continuações?). Duna só tem a primeira parte filmada; a continuação ainda não foi confirmada pelo estúdio…

Enfim, a gente tem que trabalhar com o que tem nas mãos. Não sabemos se o filme terá fim, mas, pelo menos esta metade que está pronta trouxe um resultado muito positivo.

Dirigido por Denis Villeneuve (Blade Runner 2049 e A Chegada), Duna é um filmão. A fotografia é um espetáculo. Tudo é grandioso, os cenários (digitais ou não, não sei) são gigantescos, os diferentes planetas são mostrados em planos abertos, tem um monte de  personagens com armaduras e trajes diferentes (quem coleciona action figures vai ter um prejuízo com esse filme). Tudo passa a sensação de que estamos diante de um “filme evento”.

(De vez em quando falam coisas como “o streaming vai matar o cinema”. Olha, a não ser que você seja muito rico e tenha uma sala de cinema especialmente construída na sua casa, não tem como barrar a experiência de ver um filme desses numa sala de cinema, com uma tela grande e um som equilibrado em volta. Duna é filme pra se ver no cinema!)

Não curti muito a trilha sonora do Hans Zimmer. Reconheço que é uma trilha épica, coerente com a proposta do filme. Mas achei a pegada muito parecida com o tema da Mulher Maravilha no Snydercut – composta pelo mesmo Hans Zimmer.

O elenco é cheio de estrelas. Assim como na versão de 84, este formato não cabe grandes atuações, mas podemos dizer que Timothée Chalamet é perfeito para o papel – ele tem cara de novo e seu tipo físico aparenta fragilidade, mesmo assim tem agilidade para as cenas de ação, e, principalmente, tem carisma para carregar o protagonismo de um filme desse porte. Se tiver que escolher um destaque para o resto do elenco, fico com Jason Momoa, seu personagem aqui tem muito mais relevância que no filme de 84. Também no elenco, Rebecca Ferguson, Zendaya, Oscar Isaac, Stellan Skarsgård, Josh Brolin, Javier Bardem, Dave Bautista, Charlotte Rampling e David Dastmalchian. A Zendaya tem muito pouco tempo de tela, mas sua personagem deve ter destaque no próximo filme.

Teve um detalhe que achei bem legal, um cuidado com as legendas. Não li o livro, mas sei que existem termos criados pelo autor, e que estão num glossário dentro do livro. O tradutor teve o cuidado de procurar palavras como trajestilador, dagacris e ornitoptero e incluir nas legendas.

Nem todo mundo vai curtir. É um filme longo – pouco mais de duas horas e meia – e lento. Várias cenas contemplativas. E, pela divulgação, sei que tem gente que vai ao cinema atrás de um novo Star Wars. Esses vão sair do cinema decepcionados. Cometi o mesmo erro quando adolescente, quando fui ver Blade Runner querendo ver uma aventura espacial e me decepcionei com o que vi (anos depois revi e virei fã de Blade Runner).

Agora é torcer pro estúdio bancar a segunda parte!

O Esquadrão Suicida

Crítica – O Esquadrão Suicida

Vou começar lançando a polêmica: será que estamos diante do melhor filme da DCEU?

Sinopse (imdb): Os supervilões Harley Quinn, Bloodsport, Peacemaker e uma coleção de malucos condenados na prisão de Belle Reve juntam-se à super-secreta e super-obscura Força Tarefa X enquanto são deixados na remota ilha de Corto Maltese, infundida pelo inimigo.

Antes de começar, vamos explicar as siglas. A Marvel tem o MCU, o Marvel Cinematic Universe, que é o universo onde estão situados as dezenas de filmes. DCEU é o DC Extended Universe, o paralelo da DC. Não leio HQs, então não posso palpitar sobre qual editora é mais bem sucedida nos quadrinhos. Mas no cinema, nem o mais fanático fã da DC vai deixar de reconhecer a superioridade da Marvel.

(Bem, fãs fanáticos às vezes têm cegueira seletiva, então se o cara é muito fanático ele não vai reconhecer os fatos. Mas isso é assunto pra outro post.)

Em 2016 a gente viu o primeiro filme do Esquadrão Suicida, que teve um trailer excelente, um bom início, mas que depois se perdeu completamente e conseguiu decepcionar quase todo mundo. Até achei que iam desistir do time do Esquadrão Suicida, deixa pra lá, foi uma parada que não deu certo.

Mas aí apareceu um James Gunn no horizonte. Vamos lembrar quem é James Gunn? O cara começou na Troma, produtora de filmes trash, acho que seu primeiro trabalho no cinema foi o roteiro de Tromeu e Julieta, de 1996. Ele tinha uma carreira discreta, com filmes “menores” como Seres Rastejantes (2006) e Super (2010), até que foi contratado pela Marvel pra fazer Guardiões da Galáxia. Só pra dar um exemplo da proporção: o orçamento de Super era de 2,5 milhões de dólares, enquanto Guardiões tinha 170 milhões.

Guardiões da Galáxia era um projeto audacioso. Um filme que se encaixaria nos filmes dos Vingadores, mas era uma aventura espacial com um grupo que tinha um guaxinim e uma árvore, feito por um diretor que começou na Troma. E o resultado foi excelente, um dos melhores filmes do MCU (lembrando que tem um monte de filmes bons no MCU!).

Claro que a moral do James Gunn subiu. Ele fez o Guardiões volume 2, e ia fazer o terceiro – até que resolveram catar uns tweets politicamente incorretos que ele tinha feito anos antes, e a conservadora Disney (como mencionei no texto de anteontem sobre Jungle Cruise) o demitiu.

A Warner então o contratou pra “consertar” o Esquadrão Suicida – afinal, tanto os Guardiões quanto o Esquadrão são grupos de anti-heróis com alguns esquisitões no meio.

Vendo isso, a Disney o recontratou pra fazer Guardiões 3, mas antes ele ainda ia fazer este Esquadrão Suicida antes.

E agora a gente tem um James Gunn livre das restrições da Disney. O Esquadrão Suicida parece uma mistura dos anti-heróis de Guardiões da Galáxia com a violência e o humor politicamente correto do Deadpool. Um filme violento, engraçado, e, principalmente, divertidíssimo!

Antes de entrar no filme, vamos à pergunta: é uma continuação ou um reboot? Na verdade, tem cara de reboot, mas é uma continuação. Alguns personagens do outro filme voltam. Mas não precisa (re)ver aquele, a história aqui é independente.

Uma das poucas coisas boas do primeiro filme foi a introdução dos personagens. Aqui não tem isso, sabemos pouco sobre cada um. Mas sabe que não fez falta? O filme até faz piada com isso.

Falei que o filme era violento, né? MUITO violento. Sem entrar em spoilers, mas muita gente morre no filme. Aliás, essa é uma grande diferença para os filmes de super heróis que a gente está acostumado. Aqui morre um monte de gente, tanto personagens quanto extras. Mas não são mortes dramáticas – apesar de algumas serem bem gráficas – tem tiro na cara, tem cabeça explodindo… O filme tem muito sangue, mas a pegada é humor negro – várias mortes geram gargalhadas.

Um bom exemplo disso é uma sequência muito boa onde rola quase uma competição entre o Idris Elba e o John Cena pra ver quem é mais eficiente matando. E quase todas as mortes são engraçadíssimas. E o encerramento da sequência é inesperado e genial!

Uma coisa que gostei muito aqui é justamente essa imprevisibilidade. O roteiro sai do óbvio várias vezes (característica que também acontecia em Guardiões da Galáxia). Você está vendo a cena, achando que ela vai ter uma conclusão, e o roteiro te dá uma rasteira e mostra outro caminho. Gosto disso, gosto de ser surpreendido por soluções fora do óbvio.

As cenas de ação são muito boas. São várias, com vários personagens, e a câmera sempre consegue mostrar bem a ação. E os efeitos especiais também são ótimos. Falei mal da onça de Jungle Cruise, né? O Tubarão Nanaue aqui é muito mais bem feito. Ok, parece uma ideia reciclada, um novo Groot – inclusive porque ambos são dublados por atores famosos (o Groot é o Vin Diesel; o Nanaue é o Sylvester Stallone). Mas, assim como o Groot é um personagem adorável, digo o mesmo sobre o Nanaue.

Ah, ainda nos efeitos. O filme é entrecortado por intertítulos, como se fossem títulos para cada capítulo. E esses intertítulos são escritos com elementos que estão na cena. Boa ideia. Simples e eficiente.

Claro que ainda preciso falar da trilha sonora. Assim como nos dois Guardiões, a trilha aqui é muito bem escolhida. E, olha só, tem música brasileira no meio!

O elenco é ótimo. Mas, como falei, morrem personagens, então não vou entrar em detalhes sobre cada um, pra não dar indícios de quais são os mais importantes. Pelo star power do elenco, arrisco a dizer que os principais seriam Margot Robbie e Idris Elba, mas o filme divide bem o protagonismo entre todo o time. Tem a Alice Braga, num papel pequeno mas importante, mais um filme fantástico na carreira dela (comentei sobre isso no texto sobre Novos Mutantes). Também no elenco, Michael Rooker, Viola Davis, Joel Kinnaman, Nathan Fillion, Jai Courtney, Sean Gunn, John Cena, Daniela Melchior, David Dastmalchian, Sylvester Stallone, Peter Capaldi e uma ponta do Taika Waititi (pisque o olho e você perderá!).

Se for pra falar mal de alguma coisa, falo do vilão Thinker, interpretado pelo Peter Capaldi. Personagem sub aproveitado. Não estraga o filme, claro. Mas é um personagem besta.

Heu poderia continuar falando aqui, mas chega. O filme estreia hoje, quero rever assim que possível. E recomendo pra qualquer um que goste de se divertir nos cinemas.

Ah, tem cena pós créditos! Fiquem até o fim do filme!

Por fim, só pra confirmar a frase do início. Não dá pra comparar este filme com filmes de fora do DCEU, como Coringa ou a trilogia do Nolan, porque são propostas completamente diferentes. Agora, dentro do DCEU, já tivemos Homem de Aço, Batman vs Superman, Esquadrão Suicida, Mulher Maravilha, Liga da Justiça, Aquaman, Shazam, Aves de Rapina, Mulher Maravilha 84 e o novo Liga da Justiça versão do diretor. Alguns bons, outros maomeno, outros ruins. É, olhando a lista, O Esquadrão Suicida é realmente o melhor até agora.

#pas