Noite Infeliz

Crítica – Noite Infeliz

Sinopse (imdb): Quando um grupo de mercenários ataca a propriedade de uma família rica, o Papai Noel deve intervir para salvar o dia (e o Natal).

O tema “papai Noel badass” já me interessava. Mas quando soube que era produção da 87North, passou a ser um dos filmes aguardados do fim do ano!

Pra quem não se ligou no nome, 87North é a produtora fundada por David Leitch, e que está por trás de filmes como Anônimo, Trem Bala e Kate. Ou seja, estamos diante de uma galera que sabe fazer boas cenas de ação. Claro, isso não garante a qualidade do filme, mas pelo menos garante a qualidade das cenas de ação. E quem me conhece sabe que aprecio cenas de ação bem coreografadas e bem filmadas.

Outra coisa que falo sempre aqui é que precisamos entender a proposta do filme. Noite Infeliz (Violent Night, no original) não quer ser um grande filme, é sim uma boa diversão a partir de uma ideia maluca – um Papai Noel real, e bem diferente do que a gente imagina. O resultado é um um bom equilíbrio entre ótimas cenas de ação e sequências engraçadíssimas, com um ator protagonista inspirado, que quando acaba o filme a gente já fica com vontade de rever.

A direção é do norueguês Tommy Wirkola, um nome não muito conhecido, mas que heu acompanho desde Dead Snow, filme nórdico de zumbis lançado em 2009. Já em Hollywood, ele fez o divertido e meio trash João e Maria Caçadores de Bruxas em 2013, e já na era do streaming fez Onde Está Segunda em 2017. Currículo pequeno, mas já tem alguns bons títulos.

Um dos grandes trunfos de Noite Infeliz é não se levar a sério em momento algum – o filme é divertidíssimo! É claro que existem espaços para citações a outros filmes de Natal, como Duro de Matar e Esqueceram de Mim. Aproveito para comentar o “momento Esqueceram de Mim”. Certo momento, parece que o filme pega outra pegada no humor. Isso talvez incomode alguns espectadores, mas hei entendi que era uma homenagem ao filme do Macauley Culkin.

Outra coisa que precisa ser mencionada é a trilha sonora de Dominic Lewis. A trilha é orquestrada, parece um Alan Silvestri dos áureos tempos, e cheia de pequenas citações a temas clássicos de Natal. Há tempos que uma trilha sonora não me chamava tanto a atenção.

O roteiro não é perfeito, tem algumas situações bem forçadas. Mas… o próprio roteiro assume que são forçadas e manda a frase “é a mágica do Natal, não sei como funciona, mas funciona”. Assim, o roteiro não se preocupa com algumas incoerências. Mas, tenho uma crítica. O filme mostra alguns breves flashbacks do passado do Papai Noel, antes dele assumir o cargo. Mas não desenvolve esse plot. Ora, se você vai entrar no assunto, desenvolva. Ficar só na pincelada ficou estranho.

No elenco, todos os elogios possíveis a David Harbour, ótimo como esse Papai Noel politicamente incorreto. Ele bebe demais, ele parece ser um cara egoísta, mas mostra que lá no fundo é coerente com a mitologia do personagem. E Harbour ainda faz cenas de ação, tem uma cena num salão de jogos (a cena que termina com a estrela no olho) que tem um longo plano sequência! O vilão John Leguizamo também está bem. O terceiro nome conhecido do elenco é Beverly D’Angelo – será que seria uma citação implícita a Férias Frustradas de Natal, de 1989? No resto do elenco, ninguém relevante.

Noite Infeliz pode ficar junto de Gremlins e Duro de Matar como filmes para serem revistos a cada Natal!

Desencantada

Crítica – Desencantada

Sinopse (imdb): Dez anos depois de “e eles viveram felizes para sempre”, Giselle questiona sua felicidade, abalando a vida de todos ao seu redor, tanto no mundo real quanto na Andalasia.

Encantada, de 2007, era uma divertida brincadeira com os clichês de histórias de princesas clássicas – tipo, se uma princesa conversa com os animais nas florestas; quando essa princesa está em Nova York, quais são os animais disponíveis? Ela conversa com pombos, ratos e baratas!

15 anos depois, temos a continuação: o que acontece depois do “felizes para sempre” (a sinopse fala dez anos, mas deve ser até menos – a atriz que faz a enteada Morgan tinha 9 anos na época do filme, e a personagem ainda é adolescente neste novo filme). Com a chegada de um bebê, a família resolve se mudar para o subúrbio. E acaba que um acidente torna este subúrbio em um conto de fadas.

Se o primeiro filme fazia piadas com uma princesa no mundo real, a piada agora é que como ela é madrasta ela tem que ser vilã. E graças ao talento e inspiração da Amy Adams, isso gera algumas cenas bem legais. E aproveito o gancho pra falar do plot das duas vilãs. Para que a personagem da Maya Rudolph? Se você tira essa personagem, o filme não perde nada. Seria melhor só o plot da mocinha virando vilã.

A direção é de Adam Shankman, o mesmo dos geniais Hairspray e Rock of Ages. Alguns números musicais são bem legais, mas não sei se este será um filme a ser lembrado em sua filmografia. A trilha sonora do Alan Menken é boa, mas não tem nenhuma música memorável, quando acaba o filme na tem nenhuma música grudada na cabeça. Mas preciso dizer que curti a música das duas vilãs.

Ainda na parte musical: a voz da Idina Menzel é impressionante! Todo o elenco canta bem, mas a voz da Idina é um degrau acima. Quando ela começa a cantar, dá até arrepio!

No elenco, assim como aconteceu no primeiro filme, o nome é Amy Adams, que sabe muito bem equilibrar a dualidade da sua personagem. Patrick Dempsey, James Marsden e Idina Menzel reprisam seus papéis (Patrick Dempsey às vezes parece perdido, podiam ter escrito cenas melhores para ele). De novidade, temos Gabriella Baldacchino como a nova Morgan, e a já citada Maya Rudolph.

Ouvi um comentário que compara esse Desencantada com produções que rolavam muito décadas atrás, quando um filme “de cinema” fazia sucesso, era lançada uma continuação com qualidade inferior, direto para o mercado de VHS/DVD. Ok, entendo que este não é tão genial quanto o primeiro filme, mas, ora, é uma continuação, a proposta era repetir o que tinha dado certo em Encantada. Enfim, tem gente que não curtiu por ser inferior, mas heu me diverti.

Guardiões da Galáxia Especial de Festas

Crítica – Guardiões da Galáxia Especial de Festas

Sinopse (Disney+): Com a missão de tornar o Natal inesquecível para Quill, os Guardiões vão à Terra em busca do presente perfeito.

James Gunn é “o cara”. Se antes já era impressionante o fato dele ter saído da Troma (sua estreia foi o roteiro de Tromeu & Julieta) e chegar na Marvel, agora ele está ligado a projetos simultâneos na Marvel e na DC!

Guardiões da Galáxia Especial de Festas (The Guardians of the Galaxy Holiday Special, no original) é uma divertidíssima brincadeira. Gunn aproveitou as filmagens de Guardiões 3 e juntou o elenco para filmar um especial de natal, independente dos filmes, de pouco mais de quarenta minutos. Pretensão zero, diversão nota 10.

O filme segue uma ideia maluca (e coerente com tudo o que o diretor já tinha feito com os Guardiões): tirando Peter Quill, todos são alienígenas e não sabem o que é o Natal. Então Mantis e Drax resolvem vir até a Terra para trazer um presente para Quill: o Kevin Bacon! Sim, afinal rolou uma piada no primeiro ou segundo Guardiões onde Quill fala que Kevin Bacon foi um herói que salvou uma cidade com a dança.

Uma coisa bem legal dessa fase atual da Marvel é que cabem experimentações em formatos diferentes. Depois de uma sitcom de uma advogada Hulk e de um filme sério com homenagem ao Pantera Negra, agora tem espaço para uma bobagem divertida.

Em sua incursão pela DC, em Esquadrão Suicida e na série Peacemaker, James Gunn usou muita violência gráfica, mas aqui em Guardiões da Galáxia Especial de Festas o clima é família, mantendo a linha dos filmes dos Guardiões. Outra característica constante em seus filmes, a trilha sonora é importante, e a música de Natal que toca no início é sensacional. Não achei informações no imdb, mas desconfio que seja a banda Old 97’s caracterizada interpretando a música no filme.

O elenco é fantástico. Mesmo sendo uma produção simples, direto para o streaming, Guardiões da Galáxia Especial de Festas traz de volta quase todo o elenco dos filmes (só Zoe Saldana não está aqui). Os principais são Pom Klementieff e Dave Bautista (que estão ótimos em sua incursão pela Terra), e temos também Chris Pratt, Karen Gillan, Michael Rooker, Bradley Cooper, Vin Diesel e Sean Gunn. De novidade, Maria Bakalova faz a voz do cachorro Cosmo, ela deve estar no próximo filme. Claro, Kevin Bacon também tem uma grande participação, e sua esposa Kyra Sedgwick é quem fala ao telefone com ele.

Por fim, não me lembro de personagens da DC sendo citados no MCU. E aqui falam do Batman! Olha, se alguém for fazer um crossover Marvel x DC nos cinemas, acho que já temos a pessoa certa para tocar o projeto!

Enola Holmes 2

Crítica – Enola Holmes 2

Sinopse (imdb): Em seu primeiro caso oficial como detetive, Enola precisa encontrar uma menina desaparecida. Para isso, ela contará com a ajuda dos amigos e do irmão, Sherlock.

Para a surpresa de ninguém, dois anos depois, chega a continuação de Enola Holmes, mais uma vez lançado pela Netflix. Se o primeiro filme foi baseado no primeiro de uma série de seis livros, claro que já existiam planos para continuações.

Dirigido pelo mesmo Harry Bradbeer do primeiro filme, Enola Holmes 2 segue a mesma linha de aventura infanto juvenil. Muita correria, algum humor, tudo baseado no enorme carisma da Millie Bobby Brown. Gostei de vê-la novamente como Enola, na última temporada de Stranger Things ela foi uma das piores coisas.

Enola Holmes 2 traz uma coisa bem legal: a introdução de um personagem real na história. Sarah Chapman existiu de verdade, foi uma das líderes da greve das “garotas dos fósforos”. Gosto quando um filme de ficção usa personagens reais no meio da trama.

Uma coisa me incomodou, que foi a grande quantidade de vezes que Enola quebra a quarta parede. Ok, é um recurso que ajuda a atrair a simpatia do público, mas acho que foi usado excessivamente. E olha só que curioso, no meu texto de dois anos atrás comentei a mesma coisa: “o recurso da quebra da quarta parede me cansou. Ok, isso ajuda a aproximar a personagem do público, e cai bem numa produção infantojuvenil. Mas aqui é o tempo todo! Na minha humilde opinião, podiam ter cortado algumas dessas cenas.”

Nem tudo funciona. Algumas sequências são bobinhas demais. Achei a fuga da prisão péssima, tanto na parte como ela sai da prisão, quanto na parte onde enfrenta os guardas. E pior: isso não traz nenhuma consequência para ela? Isso sem contar em falhas de roteiro, como a partitura que ela guardou e ainda estava com ela – depois da fuga da prisão.

No elenco, Millie Bobby Brown mostra mais uma vez que é uma estrela em ascensão. Ela carrega fácil o filme. Henry Cavill, Louis Partridge e Helena Bonham Carter voltam aos seus papeis – não gostei da Helena Bonham Carter, está caricata acima do aceitável. De novidade tem o David Thewlis, que também está caricato.

Teve uma parte no final que achei bem ruim, mas é um spoiler grande, então vou colocar avisos de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim do filme a gente descobre que Moriarty agora é uma mulher negra. Na Londres de 1888. Não tenho nada contra mudança de gênero ou etnia, mas tenho muita coisa contra incoerência. Moriarty era um professor de matemática que virou um gênio do crime. Se esse filme fosse que nem o Sherlock Holmes do Benedict Cumberbatch, que se passa nos dias de hoje, ok, seria mais fácil de aceitar uma mulher como Moriarty. Mas em 1888???
Vejam bem: não sou contra mudanças, desde que sejam bem feitas. No Battlestar Galactica de 1978, Starbuck era homem. Na versão de 2004, virou mulher. E não conheço um único fã de BSG que reclame dessa mudança. A nova Starbuck era um personagem ótimo, interpretada por uma atriz ótima, e naquele contexto, a mudança de gênero funcionava bem. Mas, na Londres de 1888, ficou forçado demais.
E, aproveitando que estamos numa área de spoilers, aquele final com o início da greve ficou bem ruim. Sarah Chapman diz “quem vem comigo?” e ninguém se manifesta. Aí alguém começa a bater o pé no chão, e em menos de um minuto, TODA a fábrica está ao lado dela. Ficou ruim…

FIM DOS SPOILERS!

Enola Holmes 2 é um pouco longo demais, chega a cansar. Tem uma cena pós créditos indicando que teremos um terceiro filme, tomara que deem uma enxugada no roteiro.

Weird – The Al Yankovic Story

Crítica – Weird – The Al Yankovic Story

Sinopse (imdb): Explora todas as facetas da vida de Yankovic, desde sua ascensão meteórica à fama com sucessos iniciais como ‘Eat It’ e ‘Like a Surgeon’ até seus tórridos casos amorosos de celebridades e estilo de vida notoriamente depravado.

Recentemente a gente tem tido várias boas cinebiografias musicais. Será que tem espaço para uma cinebiografia de um nome menos conhecido, como Weird Al Yankovic?

Antes do filme, um breve comentário sobre quem é Weird Al Yankovic – pelo menos pra mim. Nos anos 80, heu curtia muito Eat It, uma versão de Beat It, que tinha piadas tanto na letra quanto no videoclipe (duas mãos no frango, gordo entalado no bueiro). Na mesma época, tinha outra, Like a Surgeon, versão de Like a Virgin, onde o Weird Al ficava imitando as caras e bocas da Madonna – ela estava numa gôndola em Veneza enquanto ele estava numa maca de hospital. Achava isso muito divertido, mas não me lembro de outras músicas dele chegando por aqui – nem em áudio, nem em vídeo. No início dos anos 90 lembro de ter ouvido Smells Like Nirvana, e isso foi tudo o que conheci do Weird Al. Parece que lá nos EUA ele faz mais sucesso, mas aqui não foi muito além disso.

Agora vamos ao filme… Que não é exatamente uma cinebiografia, e sim uma “cinebiografia paródia”. Quando a gente vê um Bohemian Rhapsody ou um Rocketman, a gente se pergunta se aquilo realmente aconteceu daquele jeito ou se mudaram algo em prol da narrativa cinematográfica. Agora, quando a gente vê Weird – The Al Yankovic Story, a gente se pergunta se algo do filme é real ou se tudo foi inventado!

Preciso confessar que essa fuga total da realidade me atrapalhou. A cada evento que aparecia na tela, ficava na dúvida sobre se era real ou não, e isso me impediu de curtir o filme. Porque alguns são realmente absurdos e é claro que não são reais (como toda a parte do Pablo Escobar), mas tem muita coisa ali que poderia ser verdade.

Mas, vamos à análise do filme. A ideia surgiu em 2010, quando o site Funny or Die criou um trailer fake de uma cinebiografia do Weird Al Yankovic, dirigido por Eric Appel e com Aaron Paul, Olivia Wilde, Mary Steenburgen e Patton Oswalt no elenco. Anos se passaram, e o mesmo diretor Eric Appel traz o longa, escrito a quatro mãos por ele e pelo próprio Weird Al.

O papel principal ficou com Daniel Radcliffe, que faz um bom trabalho como o Weird Al – ele aprendeu a tocar acordeon para fazer o filme, mas não canta, a voz nas músicas é a do próprio Weird Al. Sempre tive a impressão do Weird Al original ser um cara alto, e Radcliffe aparenta ser o menor do elenco (fui ver no google, Weird Al tem 1,83 e Radcliffe tem 1,65). Isso seria um problema se o filme fosse sério, mas deve ter entrado nas piadas.

Aproveito pra falar do elenco principal. Além de Radcliffe, dois personagens merecem ser citados: o Dr. Demento do Rainn Wilson e a Madonna da Evan Rachel Wood. Nunca tinha ouvido falar de Dr Demento, achei o papel caricato mas acho que foi proposital; não gostei da Madonna da Evan Rachel Wood, ainda mais caricata que o Dr Demento, e ela não ficou nem um pouco parecida com a Madonna original.

Weird – The Al Yankovic Story tem algumas boas piadas. Gostei da parte onde ninguém sabe quem é John Deacon. Por outro lado, algumas partes são bem sem graça. E achei muito forçada a parte onde o pai revela que também tocava acordeon.

O filme é cheio de easter eggs de atores e de personagens. Tem uma cena de uma festa onde a gente vê dois membros do Devo, Frank Zappa, Salvador Dali, Andy Warhol, Pee Wee Herman, David Bowie, Wolfman Jack, John Deacon, Divine, Elton John, Elvira, Alice Cooper, Grace Jones e me parece ser a Kate Pierson dos B-52’s. Na parte final vemos Coolio e Prince na plateia, ambos estão descontentes (Coolio não gostou da paródia feita com a música dele; Prince nunca permitiu paródias); e ainda vemos a Cyndi Lauper ao lado do Dr Demento.

Já no elenco… Lin-Manuel Miranda faz o médico da cena inicial; Thomas Lennon faz o vendedor de acordeon. Patton Oswalt, que estava no trailer fake, aparece na plateia do primeiro show. Na festa, Conan O’Brian faz o Andy Warhol, Jack Black faz o Wolfman Jack, e John Deacon é interpretado por David Dastmalchian, o Bolinha de Esquadrão Suicida. Por fim, Weird Al Yankovic faz o produtor musical Tony Scotti.

Weird – The Al Yankovic Story não tem cenas pós créditos, mas rolam umas piadinhas com a música que está tocando. Vale ficar até o fim!

No fim, fica aquela sensação de que se o filme tivesse escolhido um lado – ou a cinebiografia real, ou a galhofa total – o resultado seria melhor. Achei bem decepcionante.

Pantera Negra Wakanda Para Sempre

Crítica – Pantera Negra Wakanda Para Sempre

Sinopse (imdb): Uma sequência que explora o mundo único de Wakanda e os vários personagens introduzidos com o filme de 2018.

Finalmente chega às telas a aguardada continuação de Pantera Negra, um dos mais incensados filmes de super heróis de todos os tempos.

A minha maior dúvida era como eles iam lidar com a morte do ator principal, Chadwick Boseman, que faleceu dois anos atrás, aos 43 anos, de câncer. Qual seria a saída? Será que era melhor escalar outro ator, como fizeram com o Máquina de Guerra, que foi interpretado pelo Terrence Howard no primeiro Homem de Ferro e depois trocaram pelo Don Cheadle? Ou usar um dublê e colocar um rosto digital, como fizeram com o Gand Moff Tarkin em Rogue One?

A solução encontrada foi matar o personagem – e isso é logo a primeira cena do filme, então não é spoiler. T’Challa está doente, enquanto Shuri tenta fazer algo para salvar o irmão. E logo depois temos uma bela homenagem, a vinheta da Marvel está só com imagens do T’Challa, e sem música, só com barulho de vento. Vai ter muito nerd chorando nessa introdução.

Matar o personagem parece ser a solução correta quando o ator que o interpreta era muito carismático, afinal é difícil substituir um ator assim. Mas traz outro problema: temos um filme sem protagonista. E o protagonismo é jogado em cima da Shuri, só que Letitia Wright não tem um décimo do carisma do Chadwick Boseman. Mas isso é apenas um dos problemas. Vamulá.

Mais uma vez dirigido por Ryan Coogler, Pantera Negra Wakanda Forever não é ruim. O elenco está muito bem, temos cenários belíssimos tanto em Wakanda quanto em Talocan (a cidade do Namor), boa trilha sonora, tecnicamente é um filme bem executado. Mas, sei lá, me pareceu que faltou alguma coisa. É o trigésimo filme do MCU, chegamos em um ponto onde é difícil se manter no topo o tempo todo, e a sensação que Pantera Negra Wakanda Forever passa é que estamos diante de mais um filme, apenas isso.

E, pra piorar, o filme é longo demais. Duas horas e quarenta minutos, o filme chega a cansar.

Sobre as cenas de ação: tem uma perseguição de carros no meio do filme que é apenas ok. E a grande batalha final é bem ruim. Temos de um lado pessoas mais fortes e em maior quantidade. Era pra esse lado ter esmagado o outro, mas, ok, filme, a gente aceita.

(Não gostei do “momento power rangers” na batalha, e não tenho ideia de onde a Shuri aprendeu a brigar daquele jeito – ela era cientista! Mas esses são clichês comuns em filmes de super heróis, então vou relevar.)

O elenco é bom. Angela Bassett está muito bem, consegue passar a dor de ter perdido um filho e ainda ter que governar Wakanda. Tenoch Huerta recebeu críticas pelo seu Namor, mas achei ele bom no papel – não está na galeria dos melhores vilões da Marvel, mas serve pra mover o filme. Letitia Wright, Lupita Nyong’o, Danai Gurira e Dominique Thorne dividem o protagonismo na maior parte do filme. Martin Freeman e Julia Louis-Dreyfus têm papéis menores; e Lake Bell faz uma ponta (curioso que ela fez a voz da Natasha Romanoff em What If e agora tem um papel pequeno, achei que ela tinha star power pra algo mais relevante).

Agora, momento mimimi. Posso implicar? Se a galera é do fundo do mar, por que usam cocares com penas de pássaros? Outra: eles são seres subaquáticos, como é que eles cantam fora d’água para chamar as pessoas para o mar?

Pantera Negra Wakanda Forever é um bom filme. Mas, no MCU de 2022, na minha lista, fica um passo atrás do Doutor Estranho e do Thor.

Pearl

Crítica – Pearl

Sinopse (imdb): Veja como Pearl se tornou a assassina feroz vista em “X”.

Poucos meses atrás tivemos X, bom slasher da A24, dirigido por Ti West. Na época já se falava sobre um prequel contando o passado da personagem Pearl. Olha lá, o filme já está pronto!

Pearl teve um caminho diferente da maior parte das continuações no cinema. Normalmente um filme é lançado, aí dependendo do sucesso, continuações são agendadas. Aqui não, Pearl foi filmado na mesma época que X. Como minha memória é ruim, gostei de ter um lançamento perto do outro (os dois filmes são de 2022).

Pelo que li, X foi filmado na Nova Zelândia, e a equipe ficou de quarentena por causa da pandemia. Assim como James Gunn aproveitou esse período de isolamento para escrever Peacemaker, Ti West e Mia Goth teriam aproveitado para escrever o roteiro de um prequel, para aproveitar equipe técnica e locações. Claro que lembrei de Roger Corman, que fazia essas economias para criar novos filmes vagabundos. Mas Pearl não tem cara de produção feita com “restos”, o resultado final ficou bom, parece um filme projetado do zero.

Mesmo diretor, mesma atriz, roteiro escrito por ambos. Mas são filmes diferentes. Pearl é bem mais lento, e a primeira morte demora bastante pra acontecer. Mas, se é lento como slasher, Pearl traz um excelente desenvolvimento de personagem. Poucas vezes na história do cinema a gente teve tanto foco na construção de um vilão.

Uma coisa curiosa: se X tem cara de filme feito nos anos 70, Pearl tem cara de produções dos anos 40/50 (inclusive nos créditos). E isso deixou o filme bem mais claro e colorido, coisa que não é muito comum em filmes de terror.

Achei a parte final muito boa. Mia Goth tem um longo monólogo que se não fosse o preconceito das premiações com terror provavelmente lhe indicaria a prêmios. E a cena final, o take final, quando começam a rolar os créditos mas a câmera continua gravando, é assustadoramente bonita.

Em breve teremos um terceiro filme, Maxxxine, mas ainda não sei nada sobre ele. Que Ti West e Mia Goth mantenham a qualidade!

A Luz do Demônio

Crítica – A Luz do Demônio

Sinopse (imdb): Uma freira se prepara para realizar um exorcismo e fica cara a cara com uma força demoníaca com laços misteriosos com seu passado.

Antes de tudo preciso dizer que sempre vou apoiar lançamentos no cinema. Ver um filme na sala escura é sempre uma experiência melhor do que ver em casa pelo streaming.

Dito isso, preciso confessar que não entendi a escolha deste A Luz do Demônio para ser um grande lançamento da Paris Filmes, com direito a sessão de imprensa presencial e ações de marketing espalhadas ao longo do próximo fim de semana. A Luz do Demônio não é ruim, mas é um filme bem genérico. E não custa lembrar: tem outros filmes melhores de terror sem distribuição nos cinemas (como Barbarian, que foi direto pro Star+; ou Pearl, que até onde sei ainda não tem previsão de lançamento aqui no Brasil)

Enfim, vamos ao filme. Dirigido por Daniel Stamm (O Último Exorcismo), A Luz do Demônio (Prey for the Devil, no original) se diferencia de outros filmes de exorcismo ao colocar uma mulher como protagonista. Ok, sei que hoje é “modinha”, vários filmes estão usando o protagonismo feminino (e não tenho absolutamente nada a reclamar sobre isso), mas reconheço que às vezes fica forçado. Mas aqui foi uma boa, porque o filme aproveita pra cutucar o machismo da Igreja Católica, que não deixa mulheres praticarem exorcismo.

Fora isso, a gente já viu todo o resto. As cenas de exorcismo copiam os clichês de todos os outros filmes do gênero, incluindo as mesmas maquiagens e contorcionismos. Zero novidades, e o pior: A Luz do Demônio não causa medo.

A parte final é ainda pior. Durante todo o filme a protagonista tem contato com um demônio, e quando finalmente rola o confronto, a solução é bem fuen. E são sequências muito escuras, quase não dá pra ver nada (e olha que vi no cinema, imagina quem vai ver em casa na TV ou no computador!)

No elenco, o papel principal é de Jacqueline Byers, que lembra uma Targaryen com aquele cabelo mal pintado de amarelo. Virgínia Madsen, veterana de filmes de terror, tem um papel menor, que é completamente dispensável (parece que o roteiro já estava pronto, aí conseguiram a atriz, então criaram algumas cenas para incluí-la). Também no elenco, Colin Salmon, Christian Navarro, Nicholas Ralph, Ben Cross e Posy Taylor.

Ainda queria falar do nome original. No imdb está como “Prey for the Devil”, mas no filme estava escrito “The Devil’s Light”. Não entendi por que dois títulos. E também não entendi o que seria uma “luz do demônio”.

A Luz do Demônio estreia nos cinemas nesta quinta. Deve agradar o menos exigentes. Mas fica a tristeza de saber que tinha coisa melhor pra passar na tela grande.

Império da Luz

Crítica – Império da Luz

Sinopse (filmeB): Uma história poderosa e comovente sobre a conexão humana e a magia do cinema, situada em uma cidade litorânea inglesa no início dos anos 80.

Comentei no texto sobre Amsterdam, às vezes a gente vê filmes em sessões de imprensa que acontecem muito antes da estreia. Nesses casos, fico na dúvida se vale a pena lançar a crítica logo e ser um dos primeiros, ou se é melhor aguardar o lançamento, porque provavelmente vai ter mais gente falando sobre o filme. Vi Império da Luz umas duas semanas atrás, e até agora não ouvi NINGUÉM comentando, não vi nenhum vídeo no youtube, na página do imdb só tem uma crítica. Fui ver no filme B, a previsão de estreia é em 23 de fevereiro de 2023! Claro que não tem ninguém falando sobre o filme!

Enfim, vou falar logo, porque prefiro fazer uma crítica com o filme recente na memória. Não quero esperar meses. Vamos lá?

Império da Luz foi o filme escolhido para abrir o Festival do Rio deste ano. Quem viu na ocasião viu, quem não viu agora só ano que vem. E aproveito pra citar o Festival do Rio, que em outros anos sempre teve um grande espaço aqui no heuvi, mas este ano recusaram a minha credencial, então decidi ignorar o festival. Quem sabe ano que vem?

Minha expectativa por Império da Luz era por ser o novo filme dirigido por Sam Mendes, o primeiro depois do sensacional 1917 – que foi o melhor filme de 2020 aqui no heuvi! Mas, pena, Império da Luz não é tão bom quanto 1917.

Império da Luz fala de vários temas importantes, como racismo, pessoas com desequilíbrio emocional e abuso sexual no trabalho. Mas, senti uma falta de foco, o filme aborda vários temas e não se aprofunda em nenhum. Um bom exemplo é o racismo. O filme tem uma cena forte usando skinheads racistas, mas depois o filme deixa esse plot pra lá.

Por outro lado, é um filme muito bonito. Império da Luz abre com belíssimas imagens de um saguão de cinema nos anos 80. Não li em lugar nenhum isso, mas arriscaria dizer que é uma parte autobiográfica do diretor e roteirista Sam Mendes, que nasceu em 1965 e tinha 15 anos na época em que o filme se passa. Mas a sequência mais bonita é uma onde a personagem principal vê um filme, sozinha no cinema. Ok, vários clichês, como a personagem de frente emocionada com a luz do projetor ao fundo, mas uma cena inegavelmente bela e emocionante. Essa sequência tem cara de clipe pra passar no Oscar…

Sim, Oscar. A decisão de lançar o filme em fevereiro do ano que vem deve ser porque este filme deve ganhar algumas indicações, como melhor filme, melhor diretor, melhor fotografia para Roger Deakins (que já tem dois Oscars, por 1917 e Blade Runner 2049), e melhor atriz para Olivia Colman, que está ótima (ela ganhou por A Favorita e foi indicada por Meu Pai e A Filha Perdida).

Mas, apesar dos pontos positivos, Império da Luz termina com ar de decepção. Bonito, mas vazio.

Adão Negro

Crítica – Adão Negro

Sinopse (imdb): Quase 5.000 anos após ser agraciado com os poderes onipotentes dos deuses egípcios e preso com a mesma rapidez, Adão Negro alcança a liberdade de sua tumba terrena, pronto para liberar sua justiça no mundo moderno.

Bora pra mais um filme de super heróis da DC!

O que mais me intrigava sobre este Adão Negro (Black Adam, no original) era o protagonista. Porque, na Hollywood de hoje, é difícil imaginar o Dwayne Johnson como um vilão. Mas, olha, nesse aspecto, gostei do que vemos no filme. Diferente da maioria dos filmes de super heróis onde existe um grande maniqueísmo, o bem contra o mal, aqui a gente tem dois grupos distintos onde dependendo do ponto de vista, um deles pode não ser exatamente de “mocinhos”. Inclusive isso é falado por uma personagem – “onde estavam vocês quando fomos invadidos 27 anos atrás?”

Dito isso, preciso dizer que o vilãozão que temos no terço final do filme é fraco. Mais tarde volto a falar dele.

A direção é de Jaume Collet-Serra, de A Órfã, Águas Rasas, e alguns filmes com o Liam Neeson badass (Desconhecido, O Passageiro, Noite Sem Fim e Sem Escalas). Bom diretor, mas que aqui não mostra nada autoral. Ele usa tanta câmera lenta que às vezes parece que estamos vendo um filme do Zack Snyder.

Ainda na câmera lenta: são boas cenas, só que em excesso. Talvez o ideal fosse reduzir um pouco. As cenas de ação são boas, e o filme tem um pouco mais de violência do que estamos acostumados na concorrente Marvel.

Já que falamos da Marvel… Preciso dizer que não conheço as HQs, meus comentários são apenas relativos ao que tivemos no cinema nos últimos anos. E preciso falar que esse filme parece muito um filme da Marvel. Temos um novo elemento, o Eternium, que é equivalente ao Vibranium. O time de super heróis é liderado por uma mistura de Tony Stark com Falcão, e seu time tem um “Doutor Estranho” (que vê o futuro e encontra apenas uma solução para enfrentar o vilão), um Homem Formiga com máscara de Deadpool (inclusive usado como alívio cômico) e uma espécie de Tempestade (ok, essa é a mais diferente). Só que a Marvel passou anos e anos construindo um time, e agora na DC veio tudo jogado de uma vez.

Sobre o elenco, Dwayne Johnson está ótimo como sempre. Um personagem mais sombrio que o habitual, mas mesmo assim mantendo o bom humor. Sarah Shahi tem o principal papel entre os “não heróis”, e Pierce Brosnan é o único conhecido do grupo de heróis Sociedade da Justiça (os outros são Aldis Hodge, Quintessa Swindell e Noah Centineo). E temos Viola Davis como Amanda Waller, meio que pra justificar que este é mais um filme do universo cinematográfico da DC.

A parte técnica teve uma coisa que me incomodou. O áudio parecia que algumas cenas estava mal dublado, principalmente em cenas do menino. Achei estranho, mas deixei pra lá. Ao fim da sessão, um amigo comentou sobre isso, e vi que não fui o único.

Adão Negro é legal, mas não gostei do terço final. O personagem título tinha sido isolado, mas consegue voltar numa cena muito forçada. E é o momento onde temos o vilãozão. E aquele exército de zumbis foi completamente desnecessário.

Tem uma cena pós créditos, depois dos créditos principais, que fez parte da galera urrar na sessão de imprensa. Admito, boa cena. No fim dos créditos não tem nada.

Aguardemos mais filmes do Dwayne Johnson na DC!