Canina

Crítica – Canina

Sinopse (imdb): Uma mulher interrompe sua carreira para se tornar uma mãe que fica em casa, mas logo sua vida doméstica dá uma guinada surreal.

A divulgação deste Canina (Dogbitch, no original) falava de um filme onde a Amy Adams virava um cachorro. Essa ideia pode gerar um bom filme de terror, algo na pegada de um filme de lobisomem. Ou podia gerar uma comédia engraçada, com todos os absurdos que surgiriam desta proposta.

Nada disso. Canina é um drama que fala da maternidade e de tudo o que a mulher abre mão para cuidar do(s) filho(s).

Baseado no livro de Rachel Yoder e dirigido por Marielle Heller, Canina até tem cenas engraçadas – em alguns momentos rolavam gargalhadas no cinema. Mas o maior foco é o drama que a protagonista passa, e o dilema que ela vive – ela deve voltar à vida que levava antes de ser mãe, ou agora o foco deve ser 100% seu filho?

O melhor de Canina é a Amy Adams, que se entrega ao papel e faz o filme valer a pena. Amy já concorreu ao Oscar seis vezes e nunca ganhou, será que ano que vem vem uma nova indicação? Scoot McNairy faz o marido, um papel bem secundário.

Mas, no geral, achei o filme meio bobo. Porque todas as agruras da maternidade apresentadas no roteiro de Canina já foram contadas outras vezes, e de formas mais criativas. Canina se vende como algo diferente, mas é mais do mesmo.

Stopmotion

Crítica – Stopmotion

Sinopse (imdb): Segue uma animadora de stop-motion que luta para controlar seus demônios após a perda de sua mãe autoritária.

Outro filme da Shudder no Festival do Rio. Bora!

Ella, nossa protagonista, trabalha com a mãe abusiva num filme de stop motion. A mãe foi uma grande cineasta no gênero, e agora está com uma doença onde não pode usar as mãos. Quando a mãe adoece e entra em coma, Ella resolve terminar seu filme, mas, por influência de uma menina vizinha, resolve largar o projeto da mãe e criar outro filme.

Stopmotion é a estreia em longas do diretor Robert Morgan, que já fez alguns curtas fantásticos usando animação em stop motion (mas que infelizmente não vi nenhum). Seu longa tem atores reais, mas o filme traz várias sequências usando a técnica de animação, e são sequências muito boas – talvez seja o melhor do filme. Aliás, não só as sequências em stop motion. Os efeitos especiais são muito bons, tem um onde o rosto da protagonista “vira” massinha de modelar que ficou com um visual impressionante.

(Uma curiosidade: embora possa parecer estranho, usar carne para stop motion é uma técnica real usada pela lenda do stop motion Jan Svankmajer.)

Por outro lado, a história é hermética, aquele estilo de trama cheia de simbolismos, onde o espectador termina o filme sem entender muita coisa. A partir de um momento, a história entra numa espiral crescente de loucura que, quando chega no fim, a gente fica com vontade de catar o “manual de instruções”.

A atriz principal é Aisling Franciosi, que estava recentemente em Não Fale o Mal, e que também fez A Última Viagem do Demeter (temos uma nova scream queen?). Ela está bem, ela convence quando sua personagem pira na batatinha.

Queria falar de teorias sobre o final do filme, mas entraria em spoilers, então não vou por este caminho. Só digo que gostei da parte técnica, mas por outro lado, a trama cheia de simbolismos me cansou.

Emilia Pérez

Crítica – Emilia Pérez

Sinopse (imdb): No México, uma advogada recebe uma oferta inesperada para ajudar um temido chefe de cartel a se aposentar de seus negócios e desaparecer para sempre, tornando-se a mulher que ele sempre sonhou ser.

Filme de abertura do Festival do Rio, Emilia Pérez traz uma advogada que é levada à presença de um chefe de cartel que deseja se transformar em uma mulher e precisa de ajuda para conseguir o seu objetivo. E, um detalhe importante: é um musical. Sim, mistura a brutalidade do tráfico de drogas com a leveza de um musical.

O filme co-escrito e dirigido por Jacques Audiard ganhou dois prêmios em Cannes: prêmio do júri, e um prêmio conjunto de melhor atriz, dividido entre Zoe Saldaña, Selena Gomez, Karla Sofía Gascón e Adriana Paz. Todas estão bem, mas, na minha humilde opinião, Zoe Saldaña é a que mais se destaca. Ela canta, dança, faz coreografias, interpreta em espanhol, ela realmente está impressionante.

(Aliás, achei curioso ver que o filme é quase todo em espanhol, e duas das três atrizes principais têm ascendência latina, mas nasceram nos EUA. Zoe Saldaña fala espanhol fluente, mas Selena Gomez de vez em quando soltava algumas frases em inglês. Segundo o imdb, Selena disse em entrevistas que não é fluente e que não estava satisfeita com o seu espanhol.)

O melhor de Emilia Pérez é a parte musical. Outro dia falei mal de Coringa Delírio A Dois, onde as músicas não empolgavam; aqui foi o oposto. Não sou fã do estilo das músicas, mas mesmo assim saí do cinema com vontade de procurar a trilha sonora. E as cenas de dança e coreografia são impressionantes e contribuem significativamente para a narrativa visual do filme. Isso sim é um musical de verdade!

Teve um detalhe que não gostei muito: achei que a personagem título muda de personalidade muito rapidamente. Era uma pessoa violenta, de repente vira uma santa, de repente volta a ser violenta… Ok, o filme nos mostra fatos que teriam gerado essas mudanças de comportamento, mas mesmo assim achei as mudanças muito abruptas.

Filmão, saí da sala com vontade de rever. Pena que, como acontece de vez em quando no Festival do Rio, Emilia Pérez vai ser um daqueles filmes que vou falar sozinho por um tempo. Segundo o imdb, só estreia aqui no Brasil em fevereiro de 2025…

Coringa: Delírio a Dois

Crítica – Coringa: Delírio a Dois

Sinopse (imdb): O comediante fracassado Arthur Fleck conhece o amor de sua vida, Harley Quinn, enquanto está encarcerado no Arkham State Hospital. Os dois embarcam em uma desventura romântica condenada.

2019 tivemos Coringa, que parecia uma ideia arriscada: um filme do Coringa mas sem o Batman. Ideia arriscada, mas que deu muito certo: foi um sucesso de público e de crítica, e ainda ganhou dois Oscars entre onze indicações.

Cinco anos depois, o mesmo diretor Todd Phillips apresenta a continuação, Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux, no original), desta vez um musical, e com a Lady Gaga como Arlequina.

E ver o segundo filme dá vontade de rever o primeiro e esquecer que fizeram uma continuação…

Vamos começar pela parte musical. Não tenho nada contra musicais, sou fã de vários. Mas sempre que lembro de musicais, lembro de músicas e de cenas “pra cima”, sempre alto astral – Pequena Lojas dos Horrores, Rock of Ages, Hairspray, Hair, La La Land, Across The Universe, The Rocky Horror Picture Show, O Rei do Show, heu sempre saio do filme empolgado pelas músicas e coreografias. Mesmo quando o tema do filme é barra pesada, como Rent, a parte musical é empolgante. Os Miseráveis, que não gostei por achar longo e cansativo, tem músicas em momentos tensos, mas mesmo assim são cenas memoráveis. E aqui não, todos os momentos musicais são “pra baixo”, e acabam sendo números chatos. E ainda tem um agravante: as músicas usadas são conhecidas, são standards clássicos, de gente como Frank Sinatra e Burt Bacharach. E mesmo com músicas conhecidas, os arranjos ficaram quase todos ruins.

Provavelmente não foi o primeiro “musical deprê” da história, mas isso pra mim foi um ponto negativo. A ponto de, em determinado momento do filme, quando ia começar uma música, heu pensava “não, de novo não!”

Vamos para outro problema, que é o protagonista. O Coringa é um personagem fascinante porque é desequilibrado e imprevisível. E aqui ele está apático. Joaquin Phoenix está bem, mas o personagem não está. Não vou nem comparar com outras versões, como o Coringa do Heath Ledger, estou falando do próprio Joaquin Phoenix. Depois da sessão de imprensa, ouvi um amigo crítico que falou uma frase que resume isso: “em determinado momento de filme, eu estava vendo o filme do Coringa há duas horas, e estava há duas horas esperando o Coringa aparecer”.

Pra “fechar a tampa”, a Arlequina da Lady Gaga não é boa. Duvido que alguém veja o filme e pense na Arlequina, todos vão ver a Lady Gaga na tela.

Agora, apesar disso tudo, Coringa: Delírio a Dois não é exatamente ruim. Tecnicamente falando, é muito bem feito. A reconstituição de época é perfeita. A fotografia enche os olhos, são várias cenas belíssimas. A trilha sonora da parte “não musical” é muito boa, mais uma vez a cargo de Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar pela trilha do primeiro filme). E tem um plano sequência sensacional na parte final do filme.

Mas, repito, é um filme longo demais, e essa proposta cansou. São duas horas e dezoito minutos. Talvez se o filme tivesse meia hora a menos (meia hora de músicas a menos!), acho que a galera ia curtir bem mais.

Por fim, não tem cena pós créditos, mas tem um desenho animado na abertura. O desenho não é engraçado e não se conecta com o filme. Pra que esse desenho? Não sei. Por mim, deveria ser cortado do filme.

Pacto de Redenção

Crítica – Pacto de Redenção

Sinopse (imdb): Quando um assassino profissional descobre que tem uma forma de demência que evolui rapidamente, ele tem a oportunidade de se redimir salvando a vida do filho adulto com quem estava afastado.

Pacto de Redenção (Knox Goes Away, no original) parece um thriller à moda antiga: uma boa história, usando um bom elenco. Sem pirotecnias, apenas uma boa história sendo contada por alguns bons atores.

A direção é de Michael Keaton, seu segundo filme como diretor. Não entendi por que ele resolveu dirigir, mas podemos dizer que ele faz um trabalho correto. O roteiro de Gregory Poirier é bem estruturado. A gente vê as peças soltas do quebra cabeças, mas pelo menos heu não consegui descobrir qual era o plano do cara antes do final, achei muito bem bolada a solução.

Sobre o elenco, o marketing está vendendo Pacto de Redenção como um filme estrelado por Michael Keaton e Al Pacino. Como sempre, Pacino está ótimo, mas aparece em poucas cenas. Seu personagem é importante, mas é daquele tipo de papel que provavelmente o ator fez em uma ou duas diárias. Agora, preciso destacar positivamente a atuação de Keaton e também de James Marsden, que faz seu filho, um cara que cometeu um erro grave e isso está afetando todo o seu comportamento. Ambos estão excelentes. Por outro lado, achei bem fraca a personagem da policial interpretada por Suzy Nakamura. Também no elenco, Joanna Kulig, Lela Loren e Marcia Gay Harden.

Não achei o final ruim, mas heu cortaria alguns minutos. Tem uma sequência final mostrando uma conclusão meio óbvia. Nada grave, felizmente. Por outro lado, gostei de como o filme mostra a progressão da doença do protagonista.

Pacto de Redenção não é um grande filme, não estará em listas de melhores do ano. Mas, em meio à mediocridade que é despejada no circuito, é uma boa opção. Dificilmente alguém sairá decepcionado da sala de cinema.

Tipos de Gentileza

Crítica – Tipos de Gentileza

Sinopse (imdb): Um homem procura libertar-se do seu caminho predeterminado, um policial questiona o comportamento da sua esposa após um suposto afogamento e a busca de uma mulher para localizar um indivíduo profetizado para se tornar um guia espiritual.

Olha que surpresa agradável: menos de um ano depois do sensacional Pobres Criaturas, já tem filme novo do Yorgos Lanthimos em cartaz!

Antes de entrar no filme, um aviso aos desavisados: Yorgos Lanthimos não costuma fazer filmes convencionais. Temática fora do convencional, personagens fora do convencional, visual fora do convencional. Heu não sabia nada sobre Tipos de Gentileza (Kinds of Kindness, no original), mas sabia que provavelmente iria encontrar um filme esquisitão.

E Tipos de Gentileza é por aí. São três histórias, independentes entre si, todas elas com temas malucos. Na primeira vemos um funcionário completamente submisso ao rico patrão, a ponto de, quando é dispensado por ele, topa fazer qualquer coisa para voltar a ser a sua “marionete”. Na segunda, uma mulher se acidenta e passa um tempo desaparecida, e quando volta, seu marido acha que ela é uma impostora. E a terceira traz um culto que está procurando uma pessoa com poderes sobrenaturais.

(Como quase sempre em um filme dividido em histórias independentes, o resultado é irregular, achei a segunda história mais fraca que as outras duas.)

Detalhe interessante: é o mesmo elenco, fazendo personagens diferentes. O trabalho de atuação e construção de personagens ficou excelente, você vê o mesmo ator, mas claramente é outro personagem, não dá nem pra pensar “ah, será que se passou um tempo e ele agora está diferente?”. Willem Dafoe e principalmente Jesse Plemons estão sensacionais. Também no “elenco de multiverso”, Emma Stone, Margaret Qualley, Hong Chau e Mamoudou Athie. Ah, o xará do diretor, Yorgos Stefanakos, é o único que faz o mesmo personagem nas três histórias.

Tipos de Gentileza abre espaço pra várias discussões comportamentais – nas três histórias, temos personagens dispostos a atitudes extremas em busca de aceitação. E é um filme que deixa pontas soltas pro espectador conectar como preferir. Mais uma vez, um filme de Yorgos Lanthimos deixa a gente pensando quando acaba a sessão…

A trilha sonora é de Jerskin Fendrix, sua segunda trilha, sendo que concorreu ao Oscar pela primeira (Pobres Criaturas). Se a outra trilha é muito estranha, essa daqui é ainda mais. Muitas vezes parece que tem um gato passeando em cima das teclas do piano. Trilha muito estranha, mas heu gostei.

O filme é longo, são duas horas e quarenta e quatro minutos. Não achei que precisava ser tão longo. Mas, não me cansou, talvez por serem três histórias independentes.

Por fim, tem uma cena no meio dos créditos, com o “coadjuvante quase principal” RMF.

A Substância

Crítica – A Substância

Sinopse (imdb): Uma celebridade em decadência decide usar uma droga do mercado negro, uma substância que replica células e cria temporariamente uma versão mais jovem e melhor de si mesma.

A ideia aqui era boa: uma estrela de um programa de fitness na TV está ficando velha, então oferecem a ela uma misteriosa substância que criaria uma nova versão dela, mais jovem. Essa substância vem com regras estritas, que claro que não serão seguidas, e claro que coisas vão dar errado. Uma bela crítica à exploração do corpo feminino pela mídia e ao etarismo.

É um filme fantástico, essa tal substância não tem nada ligado à ciência, não existe um laboratório ou uma clínica ou acompanhamento de médicos. Não tem nem uma cobrança financeira pelo tratamento! Aliás, fiquei pensando, se heu recebesse um daqueles kits, heu não saberia fazer aquela auto-aplicação.

A direção e o roteiro são de Coralie Fargeat, que em 2018 fez Vingança, filme que tinha uma premissa simples mas muito bem executada (uma mulher é estuprada e se vinga de seus agressores). Aqui é outra pauta feminista, mais uma vez muito bem executada.

Todo o visual do filme é muito bom. Cores, ângulos de câmera, edição, trilha sonora, efeitos sonoros, tudo carrega a trama num modo hipnotizante – são duas horas e vinte minutos de filme que fluem muito rápido. De quebra o fã de terror ainda vai encontrar várias referências, como a seringa de Re-Animator, o corredor de O Iluminado, os alienígenas de Bad Taste, o monstro de O Enigma de Outro Mundo, o banho de sangue de Carrie a Estranha

A Substância (The Substance, no original) traz diversas cenas visualmente bem desagradáveis, seja mostrando ferimentos, seja quando um personagem simplesmente mastiga a sua refeição (lembro de uma cena parecida em Vingança, Coralie consegue transformar o simples mastigar em algo nojento). A maquiagem é um dos destaques, usando o chamado “body horror”, que é quando vemos imagens que causam repulsa. Talvez isso afaste parte do público, mas, é algo que faz parte da história.

Mas acho que o maior destaque são as duas atuações principais. Tanto Demi Moore quanto Margaret Qualley estão ótimas! Demi Moore estava meio sumida, e heu diria que esse papel tem tudo a ver com ela, que era uma das mulheres mais bonitas da sua geração, e agora, com 61 anos (continua linda, diga-se de passagem), deve estar enfrentando problemas semelhantes aos de sua personagem.

Aliás, foi uma atuação, digamos, corajosa da Demi Moore, que faz várias cenas onde ela está nua – e não é nudez gratuita, se ela estivesse vestida, seriam cenas estranhas (assim como a sequência final de Vingança, onde o ator está completamente nu num longo plano sequência).

O principal papel masculino é de Dennis Quaid, que está caricato, mas todos os personagens masculinos aqui são caricatos. Faz parte da proposta. (Esse papel seria de Ray Liotta, que faleceu antes das filmagens começarem. Seu nome aparece nos créditos como uma homenagem.)

Não gostei da parte final. Vou falar, mas vou colocar aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A protagonista gera uma cópia. No fim do filme, a cópia está se deteriorando e resolve fazer uma cópia da cópia, e isso gera um monstro. E essa versão monstruosa vai para o estúdio de TV e entra no programa ao vivo. Pra mim, essa parte do estúdio enfraqueceu o filme, nunca deixariam ela entrar na transmissão ao vivo daquele jeito. Ok, vira um banho de sangue, isso foi legal de ver, mas, essa sequência destoou do que a gente tinha visto até então. Por mim, era melhor cortar toda a parte do estúdio, e deixar só o finzinho – a cena final é boa.

FIM DOS SPOILERS!

Filmaço. A Substância é daquele tipo de filme que fica na sua cabeça por dias depois de ter visto. Agora quero esperar estrear pra poder rever.

Não Fale o Mal

Crítica – Não Fale o Mal

Sinopse (imdb): Uma família é convidada para passar um fim de semana em uma casa de campo tranquila, sem saber que suas férias dos sonhos logo se transformarão em um pesadelo psicológico.

Dois anos atrás, surgiu um filme dinamarquês chamado Speak no Evil, um filme muito bom, tenso e desconfortável, que só não entrou no meu top 10 de 2022 justamente por ser um filme que causava incômodo no espectador. Agora veio o anúncio da versão americana, prática comum quando um filme off-Hollywood chama a atenção, e que quase sempre traz um resultado é fraco.

Mas, olha, preciso dizer que foi uma agradável surpresa. Arrisco dizer que achei Não Fale o Mal melhor que o original dinamarquês!

Existem vários sub gêneros do terror. Pra mim, o pior é esse aqui: não existe um monstro ou algo sobrenatural. O terror está no comportamento humano. Isso é muito mais assustador que qualquer monstro!

Pra quem não viu o filme dinamarquês (acredito que muita gente): um casal com uma filha pré adolescente está de férias, conhece outro casal, também com filho pré adolescente, e acabam aceitando um convite para passar uns dias na casa do outro casal. O problema é que este outro casal tem alguns comportamentos bem estranhos, e tornam a estadia algo muito desconfortável – os hóspedes se sentem incomodados com os anfitriões “sem noção”, mas não sabem como sair de situações constrangedoras.

Dirigido por James Watkins (A Mulher de Preto), Não Fale o Mal (Speak no Evil, em inglês) é bem parecido com o original. Diria que mais ou menos 80% do filme segue quase igual (tirando uma cena aqui, outra ali, como a cena do banheiro na versão dinamarquesa, ou a cena do sexo oral na versão americana). Mas, na reta final da trama, o filme de 2024 se afasta totalmente. Aquele filme tinha um final pessimista, este novo traz uma reação dos personagens. Sim, talvez tenha gente reclamando “por ser mais um final típico hollywoodiano”, mas, nesse caso, pelo menos pra mim, funcionou melhor. Porque uma das coisas que me incomodou naquele filme de dois anos atrás foi justamente a apatia dos personagens – coisa que não acontece aqui.

Sobre o elenco, diferente do filme dinamarquês, a versão americana traz alguns nomes conhecidos. James McAvoy está ótimo, ele é um cara desequilibrado no ponto exato! Mackenzie Davis e Scoot McNairy fazem o casal visitante, e Aisling Franciosi completa o quarteto principal. Todos estão bem.

O final diferente aqui foi uma boa. Primeiro porque se o filme inteiro fosse igual, pra que existir uma nova versão? Além disso, algumas coisas do outro me incomodaram, e esse aqui “consertou” essas coisas, por isso gostei mais da nova versão. Mas mesmo assim ainda acho que vale o programa duplo. Veja as duas versões!

Os Fantasmas Ainda se Divertem

Crítica – Os Fantasmas Ainda se Divertem

Sinopse (imdb): Após uma tragédia familiar, três gerações da família Deetz voltam para casa em Winter River. Ainda assombrada por Beetlejuice, a vida de Lydia vira de cabeça para baixo quando sua filha adolescente acidentalmente abre o portal pós a morte.

Finalmente uma continuação do clássico oitentista Os Fantasmas se Divertem!

Lançado em 1988, Os Fantasmas se Divertem é um dos mais icônicos filmes da carreira de Tim Burton (diretor que coleciona títulos icônicos). Trinta e seis anos depois vemos a continuação, e a boa notícia é que quase todo o time principal está de volta.

Os Fantasmas se Divertem marcou toda uma geração com seu visual, personagens, figurinos e cenários característicos, além de muito humor negro (afinal, o filme trazia personagens mortos!). E Os Fantasmas Ainda se Divertem (Beetlejuice Beetlejuice, no original) traz tudo isso de volta.

Décadas se passaram, mas Beetlejuice ainda quer sair do mundo dos mortos e se casar com Lydia Deetz (Winona Ryder), que hoje tem um programa de TV ligado ao mundo sobrenatural e tem problemas de relacionamento com a filha.

Preciso dizer que gostei muito dos efeitos especiais. Alguns efeitos usados no filme de 88 são efeitos práticos que ficaram característicos, mas ao mesmo tempo são efeitos datados – com o cgi de hoje em dia ninguém mais usa efeitos como aqueles. Mas aqui em Os Fantasmas Ainda se Divertem há um bom equilíbrio entre os efeitos práticos e o cgi, e o resultado ficou muito bom. Vou além: adorei ver que aquela cobra da areia continua sendo stop motion!

A trilha sonora de Danny Elfman é tão boa quanto a do primeiro filme. Já os momentos musicais, nem tanto. O primeiro filme tem uma cena musical muito famosa, na mesa de jantar com a música Banana Boat Song. Parece que quiseram recriar algo assim, com a cena da igreja e a música MacArthur Park, mas a cena ficou interminavelmente longa. Foi cansativo chegar ao fim.

Alguns comentários sobre o elenco. Em primeiro lugar, todos os elogios possíveis ao Michael Keaton. Ele está ótimo como Beetlejuice, e como o personagem usa muita maquiagem, nem deu pra reparar que tanto tempo se passou (Alec Baldwin e Geena Davis não tinham como voltar porque os fantasmas não envelhecem mas os atores envelheceram). O humor do Beetlejuice é alucinado, e Keaton parece muito confortável no papel. No mundo dos vivos, o filme se divide entre as três gerações, Catherine O’Hara e Winona Ryder voltam aos seus papéis, e Jenna Ortega aparece como a novidade (possivelmente pensando num terceiro filme).

Danny De Vito só aparece em uma cena, uma ponta de luxo. Agora, não sei se gostei de outras duas participações no elenco. Willem Dafoe está bem, como sempre, mas seu papel é meio descartável. E ainda mais descartável é a Monica Bellucci, que parece que ganhou um papel só porque é a atual namorada de Tim Burton. Willem Dafoe e Monica Bellucci não estão mal, mas parecem desperdiçados. Tire os dois personagens e o filme não perde nada.

Ainda sobre o elenco, o personagem de Jeffrey Jones é importante para a trama, mas o ator esteve envolvido com pedofilia em 2003, então o roteiro criou uma solução para ter o personagem, mas não o ator.

Quem gosta do filme original vai curtir essa continuação!

A Vingança de Cinderela

Crítica – A Vingança da Cinderela

Sinopse (imdb): Cinderela é levada longe demais por sua madrasta e meio-irmãs malvadas, o que a faz trocar os sapatos de vidro e usar a ajuda de sua Fada Madrinha para buscar uma vingança sangrenta.

Uns 3 meses atrás comentei A Maldição da Cinderela, um filme vagaba que trazia uma versão terror da Cinderela. Este não é o mesmo filme, é outro filme vagaba que traz uma versão terror da Cinderela!

Vamulá. Não que A Vingança da Cinderela seja um bom filme, mas pelo menos é bem menos ruim que A Maldição da Cinderela. Aqui pelo menos tem uma história sendo contada, e ainda tem alguns detalhes interessantes.

Por exemplo, tem uma sacada aqui que achei uma boa ideia. Provavelmente por razões orçamentárias, a fada madrinha viaja no tempo e em vez de carruagem a Cinderela vai para o baile num carro Tesla (isso dentre outras coisas atemporais). Isso serve de desculpas pra algumas incorreções históricas, tipo aquela tatuagem do capanga da madrasta – uma tatuagem daquelas, colorida e cheia de detalhes, não combina com a época da Cinderela.

O filme de três meses atrás quase não tinha história, poderia ser um curta. Aqui, rola a história “clássica” (Cinderela maltratada pela madrasta e pelas filhas dela, fada madrinha, baile, sapatinho de cristal, etc) na primeira metade do filme, e ainda tem uma segunda metade com a tal vingança do título. A partir daí, A Vingança da Cinderela vira um filme de terror de verdade e temos algumas mortes bem filmadas.

Agora, precisamos reconhecer que o filme tem umas tosqueiras bem toscas. O roteiro é preguiçoso, os cenários e figurinos são pobres, e o elenco é péssimo!

No elenco, um nome conhecido: Natasha Henstridge, que chamou a atenção como uma das alienígenas mais belas do cinema em 1995, em A Experiência, e fez alguns filmes na época, como Risco Máximo (com Jean Claude Van Damme) e Adrenalina (com Christopher Lambert), e chegou até a fazer um filme no Brasil, Bela Dona, mas que depois sumiu – o último filme que vi com ela foi Meu Vizinho Mafioso 2, de 2004. (O imdb dela tem vários títulos depois disso, mas não vi nenhum). Natasha faz a fada madrinha, gostei de vê-la aqui. Ela é bem melhor que as atrizes que fazem a madrasta e suas filhas! Lauren Staerck faz o papel título.

Repito o que disse: não é um grande filme, mas pode ser uma boa diversão se você estiver no clima certo.