Batman

Crítica – Batman

Sinopse (imdb): Quando o Charada, um serial killer sádico, começa a assassinar figuras políticas importantes em Gotham, Batman é forçado a investigar a corrupção oculta da cidade e questionar o envolvimento de sua família.

Tinha uma galera reclamando “nas internetes’ sobre este novo Batman. As críticas sempre eram quase sempre relacionadas ao novo protagonista, Robert Pattinson, que parece que sempre será lembrado como o “vampiro purpurina” da saga Crepúsculo. Heu não tenho nada contra ele, sei que é um bom ator. Minha dúvida com este filme era “mas será que a gente já precisa de um novo Batman?” Afinal, “anteontem” ainda era o Ben Affleck, que, na minha humilde opinião, fez um bom trabalho como o homem morcego, e ano passado teve filme com ele no papel.

Mas, Hollywood é assim, eles vão fazer novos filmes não importa se é a hora certa ou não. Pelo menos, a boa notícia: este novo Batman é muito bom!

Ok, quase 3 horas, não precisava de tanto, podia cortar algumas gordurinhas aqui e ali e fazer um filme mais enxuto. Mas algumas cenas são tão boas que entrariam facilmente numa lista de momentos mais icônicos de todos os filmes do Batman, como a cena no corredor escuro onde só vemos alguma coisa quando os vilões atiram; ou a cena de cabeça para baixo do Batman vindo até o carro capotado, na chuva e com a explosão ao fundo.

Dirigido por Matt Reeves, que já tinha mostrado competência na franquia Planeta dos Macacos, Batman (The Batman, no original) é um belo espetáculo visual. A fotografia de Greig Fraser (que está concorrendo ao Oscar por Duna) é um espetáculo, muitas cenas escuras, muitas cenas com chuva, muito contra luz. E não é só isso, a cenografia também enche os olhos – Gotham é uma cidade suja e decadente. Também gostei de como os vilões aparecem mais reais – o Pinguim parece mais um líder mafioso do que um freak (como era o Danny De Vito do filme de 1992); e o Charada é um louco com seguidores pela internet.

Vamos ao elenco. Robert Pattinson já mostrou que é um bom ator, e ele está muito bem como o Batman. Mas… Não curti muito ele como Bruce Wayne. Enquanto o novo Batman me convenceu, o Bruce Wayne do Christian Bale vinha à minha cabeça cada vez que aquele jovem emo aparecia na tela. Zoë Kravitz está ótima como a Selina Kyle, e a relação dela com o Batman é perfeita. Paul Dano está impressionante como o Charada, e Colin Farrell, irreconhecível como o Pinguim. Também no elenco, Peter Sarsgaard, John Turturro, Andy Serkis e Jeffrey Wright.

Tem uma perseguição de carro que me causou sensações opostas. Por um lado, é uma cena plasticamente muito bonita. Muitas luzes, muita água, a cena eleva a adrenalina lá no alto. Mas, por outro lado, as imagens são muito entrecortadas. Nem consegui ver a cara do novo Batmóvel. Vão me xingar, mas deu saudade de Velozes e Furiosos

Tenho um comentário negativo sobre a trilha sonora de Michael Giacchino. O tema que fica tocando repetidamente é muito igual à marcha imperial de Guerra nas Estrelas. Ok, boa trilha, mas preferia um tema diferente.

A sessão de imprensa foi na segunda de carnaval, não fui porque estava viajando com a família, e o filme ia estrear no dia seguinte. Fui então terça em uma sessão dublada com meus filhos. Dois comentários, um geral e um pessoal. O primeiro comentário é que não só a dublagem é muito boa, como o filme tem várias coisas escritas na tela, e quase tudo estava em português – conseguiram alterar os textos! O comentário pessoal é que o Charada foi dublado pelo meu amigo Philippe Maia, que fez um trabalho excelente!
Claro que o filme tem espaço para continuações. Que mantenham a qualidade!

Ah, tem uma cena pós créditos com uma piada bem cretina. Ri alto na sala de cinema, não pela piada, e sim pela quantidade de gente que ficou esperando para ver aquilo!

Morte no Nilo

Crítica – Morte no Nilo

Sinopse (imdb): Enquanto está de férias no Nilo, Hercule Poirot investiga o assassinato de uma jovem herdeira.

Tecnicamente falando, esta é uma continuação de Assassinato no Expresso Oriente, de 2017. Mas não é exatamente continuação. Este é outro filme também baseado em Agatha Christie, com o mesmo personagem Hercule Poirot, mas um filme não tem nada a ver com o outro.

Antes de entrar no filme, uma coisa pessoal: para mim, este filme teve uma vantagem sobre o outro. No outro, heu me lembrava quem era o assassino. Neste filme, não me lembrava nem quem ia morrer, muito menos o assassino. Não me lembrava do livro, nem do filme de 1978 com Peter Ustinov de Poirot.

Morte no Nilo (Death on the Nile, no original) segue o clássico formato whodoneit, um o estilo de história onde a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado. Ou seja, a gente já sabe o que vai acontecer: um crime será cometido, todos serão suspeitos, e o Poirot vai fazer uma investigação para descobrir o culpado.

Este formato cabe na clássica fórmula que o escritor Syd Field apresentou no seu livro “Manual do Roteiro” (e que cabe em mais de 90% dos filmes que a gente vê por aí): meia hora de introdução, aí tem um ponto de virada, a trama segue por outro(s) caminho(s), até que, meia hora antes do fim, outro ponto de virada direciona a trama para a conclusão. E por que estou falando sobre Syd Field? Porque, neste filme, achei que a primeira parte demorou tempo demais. Entendo que o espectador precise conhecer os personagens, não dá pra começar direto pela “morte no Nilo”. Mas todo esse setup demora uma hora de filme. Chega a cansar.

(Tem uma breve introdução com um Poirot jovem na primeira Guerra Mundial. Mas é um trecho meio besta, se tirar esse trecho o filme não perde nada.)

Teve uma coisa que achei ruim: diferente de um Sherlock Holmes, que apresenta ao espectador todas as pistas e todo o seu raciocínio, Poirot não explica a sua dedução. Na hora que ele fala de uma pessoa que teria jogado uma pedra em uma tentativa de assassinato, ele não fala como chegou a essa conclusão. Prefiro quando o detetive compartilha o raciocínio com o espectador.

A fotografia é boa, temos várias cenas em paisagens no Egito. Pena que algumas vezes parece tudo artificial – todo aquele cenário deve ser digital, e em alguns takes isso fica claro.

Como aconteceu no outro filme, o elenco é muito bom, afinal não é qualquer dia que a gente tem Kenneth Branagh, Letitia Wright, Sophie Okonedo, Emma Mackey, Armie Hammer, Gal Gadot, Tom Bateman, Annette Bening, Rose Leslie e Russell Brand – este último, irreconhecível.

No fim, temos um filme apenas correto.

Moonfall: Ameaça Lunar

Crítica – Moonfall: Ameaça Lunar

Sinopse (imdb): Uma força misteriosa tira a Lua de sua órbita ao redor da Terra e a coloca em rota de colisão com a vida como a conhecemos. Com poucas semanas antes do impacto e o mundo à beira da aniquilação, uma executiva da NASA e ex-astronauta está convencida de que ela tem a chave para salvar a todos nós – mas apenas um astronauta de seu passado e um teórico da conspiração acreditam nela. Esses heróis improváveis montarão uma missão impossível de última hora no espaço, deixando para trás todos que amam, apenas para descobrir que podem ter se preparado para a missão errada.

Às vezes penso em criar o site com as críticas mais curtas da Internet. Assim: “Moonfall – o novo filme de Roland Emmerich é um típico filme de Roland Emmerich”. Precisa de mais? Afinal, Moonfall: Ameaça Lunar (Moonfall, no original) é um filme do Roland Emmerich, com tudo de bom e de ruim que isso pode trazer.

Emmerich é um cara exagerado. Depois da sessão de imprensa, meu amigo Eduardo Miranda, do canal Projeto Cinevisão, exemplificou bem o seu modus operandi: “Caramba, sr. Emmerich, isso ficou exagerado, não?” “Você acha exagerado? Espere, vou exagerar ainda mais!” “Mas, não, ficou muito agora!” “Você acha muito? Aguarde, ainda tem mais!” ” Sr. Emmerich, isso está saindo do controle!” “Saindo do controle? Mas ainda vou além!”.
Moonfall é assim. A ideia inicial é muito boa: a lua saiu de órbita e está se aproximando da Terra. Caramba, só isso já daria um excelente filme catástrofe: como os humanos tentariam recolocar o satélite em órbita, o que aconteceria com a gravidade de um corpo celeste se aproximando, como seria a destruição causada pelo choque – não seria um bom filme?

Mas, Emmerich vai além. Não vou entrar em detalhes por causa de spoilers, mas o motivo pelo qual a lua saiu da órbita é absurdo. Mas o absurdo não pára aí, a história entra numa espiral de absurdos que chega um ponto do filme onde ou o espectador vai achar que está vendo uma comédia escrachada ou vai embora da sala de cinema. Não tem como levar a sério.

(Teve uma cena onde dei uma gargalhada alta. Sem spoilers, a cena envolve ter que levantar uma árvore.)

Pelo lado bom, Emmerich é um cara que sabe fazer filmes assim. O cara dirigiu Independence Day, 2012, O Dia Depois de Amanhã, GodzillaSe tem alguém na Hollywood atual para fazer um filme catástrofe competente pelo lado técnico, Emmerich é o cara. E os efeitos especiais são excelentes (heu queria ver mais destruição, mas pelo menos o que foi apresentado foi muito bem feito). Se você compra a ideia e entra no clima do filme, pode curtir a sessão.

Moonfall é aquele tipo de filme que não tem muito espaço pra grandes atuações. Patrick Wilson está ok, a gente entende os dilemas do seu personagem. Por outro lado, Halle Berry está no piloto automático e parece que só está esperando acabarem as filmagens pra pegar seu cachê. Como ponto positivo, gostei do John Bradley, que tem a função de alívio cômico, mas mesmo assim consegue ter um bom desenvolvimento de personagem.

Agora é esperar algum estúdio pensar na ideia de uma lua caindo na Terra. Queria ver este filme…

As Agentes 355

Crítica – As Agentes 355

Sinopse (imdb): Um grupo de mulheres compõe uma das mais prestigiosas unidades de espionagem do mundo. As agentes devem enfrentar uma ameaça assustadora.

Gosto muito de filmes de ação estrelados por mulheres. Sempre gostei, lembro de ir ao cinema ainda novo pra ver Aliens O Resgate, Exterminador do Futuro e Nikita – e não podemos nos esquecer da Princesa Leia! E temos tido vários filmes de ação girl power recentemente. Pena que a qualidade tem sido fraca na maioria dos casos.

Este As Agentes 355 (The 355, no original) pelo menos tinha um diferencial: um elenco acima da média. Não é qualquer filme de ação que conta com quatro nomes como Jessica Chastain, Diane Kruger, Lupita Nyong’o e Penélope Cruz (sim, sei que são cinco, não me esqueci da Bingbing Fan, mais tarde volto ao assunto).

Mas a impressão que fica é que gastaram demais no elenco, então pegaram um diretor qualquer. Simon Kinberg tem um bom currículo como produtor, mas este é seu segundo longa como diretor, e o primeiro foi o fraco X-Men Fênix Negra. Nuff said.

O resultado foi um filme genérico, que parece que não se decide entre um filme sério de espionagem ou abraça a galhofa como um Velozes e Furiosos – tem algumas cenas tão exageradas que lembram o exagero da franquia do Vin Diesel, tipo quando a Jessica Chastain está correndo, de vestidinho leve, sem bolsa, sem casaco, só com o vestidinho, e de repente saca uma arma enorme, guardada sei lá onde.

As Agentes 355 tem algumas coisas boas. Gostei de como criaram o grupo, com uma de cada país, uma de cada agência – e atritos precisam ser resolvidos para elas trabalharem juntas. Também temos algumas boas cenas de ação, mas a gente precisa desligar o cérebro em alguns trechos. Tipo, se elas estão trabalhando sem o apoio de suas agências, como elas conseguem todo aquele equipamento? Isso sem contar com o fato de que precisamos de muita suspensão de descrença pra acreditar naquele aparelhinho mágico que hackeia qualquer coisa no mundo. Além disso, o vilão é péssimo, e o terço final traz uma virada de roteiro já prevista ao fim da primeira sequência.

Sobre o elenco, tenho coisas boas e coisas ruins para falar. Jessica Chastain (também produtora) está bem, assim como Diane Kruger. São personagens parecidas – solitárias, habilidosas e eficiência – e ambas funcionam bem para o que o filme pede. Aliás, logo no início do filme tem uma boa sequência de perseguição com as duas. Penélope Cruz está bem, mas a motivação de sua personagem é meio forçada. Sem nenhum preparo de agente de campo, no meio do filme ela já abandonaria o grupo. Mas, ok, ela continuou lá de repente pra mostrar que uma mulher sem treinamento poderia estar no rolê. Agora, não gostei da personagem da Lupita Nyong’o. Ela é uma ninja em hackear facilmente qualquer coisa, e ao mesmo tempo dá palestras para auditórios cheios, e ao mesmo tempo sabe brigar e atirar, e ao mesmo tempo fala diferentes línguas aparentemente sem sotaque. Achei meio exagerado, ela faz tudo, e tudo é fácil pra ela. E a Bingbing Fan não só é um nome menos conhecido, como a sua personagem só entra no time bem depois das outras. Sei que ela é uma das principais, mas tem bem menos importância que as outras quatro. Também no elenco, Sebastian Stan, Edgar Ramírez e Jason Flemyng.

(Comentário sobre línguas: Diane Kruger aparece falando em inglês, francês e alemão, enquanto Jessica Chastain só fala inglês. Diferença entre uma americana e uma europeia…).

Mais um filme girl power, As Agentes 355 serve pra quem não for muito exigente.

Espíritos Obscuros

Crítica – Espíritos Obscuros

Sinopse (imdb): Uma professora de uma cidade pequena do Oregon e seu irmão, o xerife local, se entrelaçam com um jovem estudante que guarda um segredo perigoso com consequências assustadoras.

O primeiro nome que aparece na divulgação é Guillermo del Toro, mas ele aqui só é produtor. Espíritos Obscuros (Antlers, no original) foi dirigido por Scott Cooper, que fez alguns bons filmes, mas sempre no drama (Coração Louco, Tudo Por Justiça, Aliança do Crime). Mas… seu novo projeto não se decide entre o drama e o terror. Não tenho nada contra diretores que transitam entre diferentes gêneros, costumo sempre lembrar de John Landis, que fazia comédia (Trocando as Bolas, As Amazonas na Lua), terror (Um Lobisomem Americano em Londres) e filmes ligados à música (Blues Brothers), além de ter dirigido o videoclipe de Thriller, do Michael Jackson.

Mas pena, Scott Cooper não conseguiu um bom resultado. Como terror, Espíritos Obscuros falha porque explora mal a criatura; e como drama, Espíritos Obscuros falha porque apenas aborda superficialmente situações que poderiam ser melhor exploradas (como, por exemplo, a tendência ao alcoolismo da protagonista).

Pra piorar, Espíritos Obscuros é um filme bem lento – assim como o resto da filmografia do diretor. Tudo demora muito a acontecer, chega um ponto que o espectador desiste daqueles personagens.

Posso reclamar só de mais uma coisa? Não me incomodo com clichês quando estes são bem utilizados. Mas aqui tem um personagem que aparece só pra explicar o que é a criatura, e no meio da explicação conta como derrotá-la. Pronto, já sabemos o fim do filme…

Mas, apesar de tudo isso, Espíritos Obscuros não é de todo ruim. Gostei da criatura – não entro em detalhes sobre o que é por causa de spoilers. Mas, digo que gostei em dois níveis. Um é porque a exposição da criatura é valorizada, vemos pouco a princípio, só partes do bicho – e dos chifres, o nome original do filme é “Antlers”, que significa chifres em inglês. O filme guarda até o final pra gente realmente ver como é a criatura (lembrei de Alien, onde só conseguimos ver a forma do monstro na cena final). Além disso, gostei do efeito especial da criatura. Não sei se foi cgi ou se teve algum animatronic, só sei que ficou muito bem feita, quando aparece e interage com os personagens.

O elenco é bom – Cooper é bom para trabalhar com atores, como já vimos nos seus filmes anteriores. Keri Russell e Jesse Plemons estão bem, mas quem chama a atenção é o garoto Jeremy T. Thomas. Não sei que idade ele tinha, o filme foi filmado em 2018, mas ele está realmente muito bem.

No fim, Espíritos Obscuros nem é ruim, mas fica a sensação de que poderia facilmente ser muito melhor.

O Beco do Pesadelo

Crítica – O Beco do Pesadelo

Sinopse (imdb): Um jovem ambicioso com talento para manipular pessoas com algumas palavras bem escolhidas junta-se a uma psiquiatra que é ainda mais perigosa do que ele.

Apesar de ter uma carreira irregular, Guillermo del Toro sempre vai estar no meu radar. Sim, o cara fez Pacific Rim e A Colina Escarlate, mas ele também fez A Espinha do Diabo e O Labirinto do Fauno (e Blade 2, e os dois Hellboy). E não podemos nos esquecer que seu último filme, A Forma da Água, ganhou o Oscar de melhor filme e melhor diretor (além de ter entrado no top 10 de 2018 aqui no heuvi).

O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, no original) traz tudo o que se espera num filme do del Toro. Elementos fantásticos, monstros (mesmo sem o filme entrar no sobrenatural), um pé no bizarro e outro no grotesco, e tudo isso embalado em um requinte visual extremamente bem cuidado.

Pena que o filme é chato. Vamulá.

O visual do filme é um espetáculo. Cenários, figurinos, props, todos os detalhes mostrados em tela são cuidadosamente escolhidos. A primeira parte do filme mostra aqueles circos dos horrores que existiam décadas atrás, com pessoas “diferentes”. O filme não mostra nada de sobrenatural, mas os elementos fantásticos estão nas atrações do circo.

O Beco do Pesadelo não é exatamente terror, está mais para uma espécie de film noir (principalmente na segunda metade), e todo esse visual ajuda. Como A Forma da Água levou os principais Oscars em 2018, provavelmente a Academia vai ficar de olho em O Beco do Pesadelo e teremos indicações a Oscars nessa área – de fotografia, direção de arte, de repente até melhor cabelo e maquiagem.

Ah, falando da maquiagem, citei lá em cima “um pé no grotesco”. Normalmente quando um filme mostra gore, foca no gore justamente para chocar. Se não é pra chocar, não precisa de gore. Del Toro usa o gore de uma maneira diferente do usual. Um exemplo: em determinado momento um personagem leva um tiro na orelha, e ficam pedaços de orelha pendurados. Se fosse só pra chocar por chocar, del Toro faria closes para aumentar a exposição da orelha despedaçada. Mas não, a orelha está lá, ao fundo…

Agora, o filme é longo demais, e cansa em alguns momentos. São duas horas e meia, e a gente se pergunta se precisava de tudo isso. Existe outra versão desta mesma história, no filme O Beco das Almas Perdidas, de 1947. Este não é uma refilmagem daquele, del Toro usou o mesmo livro original, escrito por William Lindsay Gresham, e fez uma nova adaptação. Não vi o filme anterior, mas sei que ele tem 40 minutos a menos. Se esta nova versão tivesse 40 minutos a menos, provavelmente ia ser menos cansativo.

Pelo menos a parte final é boa. A última meia hora do filme é tensa e tem um ótimo ritmo. Pelo menos a gente sai do cinema empolgado.

O elenco é muito bom. Bradley Cooper está bem, e precisa estar, já que o filme é todo em cima do seu personagem. Cate Blanchett, Toni Collette e Rooney Mara dividem a tela com o protagonista, em fases diferentes do filme. Willem Dafoe está bem, mas aparece pouco. Também no elenco, Richard Jenkins, Ron Perlman, David Strathairn, e breves participações de Mary Steenburgen e Tim Blake Nelson.

Ao fim, me lembrei de A Colina Escarlate. Um belo filme, mas chato.

Pânico 5

Crítica – Pânico 5

Sinopse (imdb): Um novo capítulo da franquia de terror Pânico seguirá uma mulher que volta à sua cidade natal para tentar descobrir quem tem cometido uma série de crimes cruéis.

Lançado em 1996, o primeiro Pânico é um dos melhores slashers já feitos. Slasher é aquele subgênero do terror onde um assassino serial mata boa parte do elenco, gênero que estava meio saturado ao fim dos anos 80, depois de vários Sexta Feira 13, Halloween e A Hora do Pesadelo. Aí veio Pânico, dirigido por Wes Craven (criador do Freddy Kruger), que mostrou um slasher diferente – trazia várias referências a outros slashers, e ainda brincava com os clichês do gênero. Claro que fez sucesso, e claro que teve continuações, em 97, 2000 e 2011, todas dirigidas por Craven.

E agora, sem Wes Craven, que faleceu em 2015, temos o quinto filme. E a boa notícia é que o filme é muito bom!

Dirigido pela dupla Matt Bettinelli e OlpinTyler Gillett (Ready or Not), este novo filme acerta exatamente no mesmos pontos do primeiro filme da franquia: muitas referências a outros filmes de terror e muitas brincadeiras com os clichês. E tudo atualizado: se na cena inicial do primeiro filme rolava um diálogo sobre filmes de terror e Sexta Feira 13 e Halloween eram citados, aqui temos uma cena parecida, mas que cita pós terror – a personagem fala em Babadook, It Follows, Hereditário e A Bruxa.

Preciso falar da metalinguagem! Teoricamente, metalinguagem é quando a gente vê um filme dentro de um filme, e aqui não é exatamente isso. Em alguma das continuações (não me lembro qual), existe o filme “Stab”, que seria a versão cinematográfica da história do filme Pânico. Aqui, várias vezes os personagens se referem ao que está acontecendo como se fosse um novo Stab. Ou seja, estão falando de um filme dentro do filme, e esse filme dentro do filme conta a história do filme. Inception de metalinguagem!

Chega ao ponto de ter uma cena onde explicam o conceito de “requel”, que seria uma mistura de reboot com sequel – como em Halloween e Caça Fantasmas. Ou um vídeo de youtube criticando uma continuação que não tem o número no título, que apenas repete o título do filme original. O filme inteiro consegue fazer auto citações – e ficam boas!

Pânico 5 ainda aproveita pra cutucar a atual mania de certos fãs que se acham donos da verdade sobre a obra original. Me lembrei de várias discussões entre fãs de Guerra nas Estrelas

Nem tudo funciona. Algumas cenas são forçadas – tipo quando a xerife da cidade pede reforços e passa um tempão e ninguém aparece. Ou quando um personagem leva vários tiros e ninguém explica por que saiu andando como se nada tivesse acontecido. Por outro lado, vários clichês são bem utilizados. E os jump scares são bem construídos.

No elenco, os três “de sempre” (Neve Campbell, Courteney Cox e David Arquette) têm participações importantes, mas o filme é da nova geração, de nomes novos e pouco conhecidos – acho que só conhecia Dylan Minnette (de Homem nas Trevas) e Jack Quaid (de The Boys). Marley Shelton, que estava no quarto filme, também volta. Também no elenco, Melissa Barrera, Jenna Ortega, Jasmin Savoy Brown, Sonia Ammar, Mikey Madison e Mason Gooding.

Mantendo o espírito da franquia, Pânico 5 é um presente para fãs de terror.

Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City

Crítica – Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City

Sinopse (imdb): Esta história de origem, ambientada em 1998, explora os segredos da misteriosa Mansão Spencer e da malfadada Raccoon City.

Antes de tudo, um aviso para os que não me conhecem. Não saco muito de videogames. Sei que Resident Evil é um famoso videogame. Mas nunca joguei. Meu interesse aqui é cinema.

Já comentei, gosto muito do primeiro Resident Evil, de 2002, mas reconheço que a qualidade foi caindo a cada novo filme que era lançado. Mas, gosto da franquia, continuava vendo, vi todos – são seis no total – e sempre lembrava que Silent Hill, outro filme de terror baseado em videogame, é um filme muito bom e que nunca teve continuações…

Este novo Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City trazia a proposta de um reboot. Esqueçam aqueles filmes e bora recomeçar do zero. Mas… Tudo deu errado.

A princípio esse filme seria mais fiel ao videogame, parece que é uma adaptação dos dois primeiros jogos. Não sei, não joguei. Não sei se um fã do videogame vai curtir. Mas posso afirmar que alguém que gosta de cinema não vai curtir.

Dirigido por Johannes Roberts, Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City é uma bagunça. Roteiro mal escrito, personagens rasos e efeitos especiais péssimos.

Normalmente não me incomodo com efeitos especiais ruins em cgi, procuro focar no conjunto e não só nos gráficos de computador. Mas, céus, alguns dos efeitos aqui são tão toscos que me tiravam da cena. Aquele cachorro zumbi parece videogame mal renderizado, e os zumbis que aparecem lá pelo meio do filme são piores que cospobre na zombie walk.

Sem spoilers, mas preciso comentar um efeito que tem na parte final. Claro que aparece um monstrão – filme baseado em videogame, vai terminar com a luta contra o monstrão, isso já era previsível. Nem vou falar que aquele monstrão NUNCA estaria naquele local, tudo explodiu, ele só chegaria lá se usasse teletransporte. Mas, ok, o monstrão está lá. Aí ele pega um personagem com as garras e joga de um lado pro outro – cara, na boa, NENHUM ser humano sobreviveria àquilo!

Mas, efeitos ruins não são a única coisa tosca. O roteiro é péssimo. Os personagens não têm nenhum objetivo, uma motivação – a não ser um deles que vai ser o X9 do grupo, esse me pareceu o único personagem que tinha algo a fazer.

E não falo só dos personagens principais. Aparecem zumbis perto da delegacia que não servem pra nada na trama e somem logo depois. E a mansão estava cheia de zumbis, por qual motivo? Aliás, nem me lembro se tinha algum motivo pra irem até a mansão.

O roteiro é tão qualquer coisa que mais ou menos com dois terços de filme reaparece uma nova personagem, Lisa Trevor, que parecia ser um bom adendo à trama – ela aparece rapidamente num flashback no início do filme, A cena onde ela aparece é boa, é uma personagem que gera curiosidade – mas logo depois esquecem da existência da personagem!!! O grupo segue sem ela. Como assim??? E, nos créditos vi que é interpretada por Marina Mazepa, a mesma que fez a criatura / entidade em Maligno.

Aproveito pra falar do elenco. Torço muito pela Kaya Scodelario desde que descobri que ela é filha de uma brasileira. Torço tanto que espero que ela não faça nenhuma continuação deste filme. Também no elenco, Hannah John-Kamen, Robbie Amell, Tom Hopper, Avan Jogia, Donal Logue e Neal McDonough, em atuações que variam entre o caricato e a canastrice.

Li alguns comentários que os fãs do jogo vão curtir alguns cenários, que estariam iguais ao game. Só que os mesmos comentam que todos os personagens foram descaracterizados na adaptação. Ou seja, parece que nem vai agradar aos fãs do jogo.

O pior de tudo é que vão querer continuar fazendo continuações. Que são cada vez piores.

A Última Noite

Crítica – A Última Noite

Sinopse (imdb): Nell, Simon e o seu filho Art estão prontos a acolher amigos e familiares para o que promete ser uma reunião de Natal perfeita. Perfeito exceto por uma coisa: todos vão morrer.

Fiquei na dúvida se valia fazer um texto sobre esse filme. Mas fiquei tão bolado com o fim dele que preciso botar pra fora. Vamulá.

Em primeiro lugar, preciso falar que achei que veria um filme completamente diferente. A gente lê a sinopse e vê o poster, e lê no imdb que é terror – achei que iria ver um filme na onda de Ready or Not, uma família rica com hábitos estranhos e mortais. Que nada. A Última Noite passa longe do terror, é um drama pesado. O único terror aqui é o da morte de pessoas próximas.

(Li algumas críticas que falam sobre comédia. Outra coisa errada. A Última Noite tem alguns diálogos engraçados, mas passa longe da comédia.)

Escrito e dirigido pela estreante Camille Griffin, A Última Noite (Silent Night, no original) é um drama sobre amizades e despedidas. Olhando sob este ângulo, é um bom filme, que se baseia basicamente nas interações entre os personagens, suas amizades e suas rixas, tudo dentro do mesmo cenário que é a casa

O elenco é muito bom. Keira Knightley (Piratas do Caribe) e Matthew Goode (Watchmen) fazem os pais e anfitriões da festa, e Roman Griffin Davis, o Jojo Rabbit, é Art, o garoto principal. Também no elenco, Annabelle Wallis, Lily-Rose Depp, Sope Dirisu, Lucy Punch, Rufus Jones e Kirby Howell-Baptiste. O roteiro consegue construir bons personagens e equilibrar bem as cenas entre eles.

(Curiosidade: a diretora Camille Griffin é mãe do protagonista Roman Griffin Davis e de seu irmãos gêmeos, Hardy e Gilby Griffin Davis.)

Preciso falar do fim, mas antes, os avisos de spoilers:

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Ao longo do filme a gente descobre que existe uma nuvem tóxica se espalhando pelo planeta, e que vai matar todo mundo, de maneira lenta e dolorosa. E o governo distribuiu “pílulas de suicídio”, para que as pessoas possam morrer rapidamente e sem dor.
Perto do fim do filme, o garoto Art foge e encontra um carro com pessoas mortas. Ele se desespera com a situação, e neste momento, tem uma nuvem de poeira tóxica, e ele acaba respirando. O pai o encontra, e acha que o problema é o nervosismo por ter visto o carro com as pessoas mortas. O pai traz o garoto de volta pra casa, e, juntos no quarto, a mãe descobre que o filho está doente porque seus olhos e nariz estão sangrando. O pai e a mãe se desesperam, achando que o filho já morreu, e todos tomam a pílula da eutanásia para morrerem abraçados. E aí você pensa que o filme acabou. Um final triste mas coerente, a família morta abraçada. Mas, no último take do filme, o garoto abre os olhos!

Essa cena mexeu comigo. O garoto está vivo! São duas as opções, segundo a minha interpretação. Uma delas é que ele está doente, e agora vai morrer lentamente, sozinho, porque toda a sua família morreu. A segunda opção é que era uma mentira do governo, e que a fumaça não é tão tóxica assim, então todos morreram à toa.

Independente de qual opção, o futuro do menino será terrível. E desde que acabei o filme não consigo tirar isso da cabeça!

FIM DOS SPOILERS!

A minha ideia inicial era ter visto A Última Noite a tempo de escrever este texto para um post de Natal. Que bom que me enrolei e deixei pra ver o filme depois. Não ia querer um filme tão pesado para o Natal.

Eduardo e Mônica

Crítica – Eduardo e Mônica

Sinopse (imdb): Será que o romance entre uma estudante de medicina e um colegial pode dar certo? Um casal que deve superar suas diferenças significativas para viver um grande amor.

Preciso falar que rolava um certo pé atrás com este filme. É dirigido por René Sampaio, o mesmo diretor de Faroeste Caboclo, que é um bom filme, mas que altera algumas partes essenciais da música original. Ok, admito, o meu head canon me atrapalhou. Mas não consegui curtir aquele filme por causa das adaptações.

Felizmente, aqui em Eduardo e Mônica as adaptações funcionaram – pelo menos para mim – e posso dizer que “entrei no filme”.

Tudo funciona redondinho no filme, que usa o formato de comédia romântica – duas pessoas se conhecem, se gostam, se estranham, se separam, se reconciliam, etc. Fórmula batida, mas eficiente.

Os trechos da música entram naturalmente no roteiro, tipo rola um telefonema onde eles decidem se encontrar e o Eduardo sugere uma lanchonete enquanto a Mônica sugere um filme da nouvelle vague – ou seja, um filme do Godard. Sim, alguns elementos da música estão colocados discretamente, por exemplo, na música a Mônica cita Mutantes, no filme tem uma rodinha de violão tocando Ando Meio Desligado.

Uma boa sacada foi situar o filme na década de 80. Não fala exatamente em quais anos, mas a gente sabe que se passam alguns anos durante o filme. Tem pelo menos dois indicativos: Eduardo tem um poster do Fluminense campeão brasileiro de 1984 no quarto; e um tempo depois aparece ele fazendo o vestibular em 1987.

A reconstituição de época é muito bem feita – tem um personagem que usa mochila da Company! E tem uma cena que a galera da nossa idade vai lembrar do perrengue que era telefonar interurbano com fichas de telefone!

Tem um detalhe que gostei mas que vai passar desapercebido por boa parte da audiência. Tem uma trilha sonora instrumental, tocada por violões e outras cordas, que evoca os acordes da música título. Fica aquele clima no ar, mas sem entrar na música propriamente dita (que só é tocada nos créditos finais).

A música não citava nada de política, mas política era um tema recorrente na época, o Brasil estava saindo da ditadura militar, e duas das principais bandas que vieram de Brasília traziam política e críticas sociais nas suas letras (Legião Urbana e Plebe Rude). No filme, o pai da Mônica foi exilado por causa da ditadura, e o avô do Eduardo é um ex militar. Achei uma boa sacada.

Ok, vou reclamar de uma coisa. Admito que é um problema que acontece muito no audiovisual: a idade dos atores. Não sei exatamente quando foi filmado, a data no imdb é 2020, ou seja, essas filmagens já aconteceram há um tempo. Hoje, Alice Braga tem 38 anos, e Gabriel Leone (Dom) tem 28. A diferença de idade entre os dois é boa, compatível com ele fazendo vestibular enquanto ela se forma em medicina. Mas, o Gabriel Leone, com vinte e muitos anos, dizendo “eu tenho 16 anos” não ficou legal. Mas, sei que é um problema recorrente no cinema, lembro de um Espetacular Homem Aranha onde a Emma Stone, com vinte e muitos, grita “eu tenho dezessete anos!”.

Dito isso, preciso dizer que os dois estão ótimos, são grandes atores e a química entre o casal está perfeita. Excelente escolha de elenco.

(Tem uma participação de Fabricio Boliveira, que fez o João de Santo Cristo no Faroeste Caboclo. Será que existe um “legiãoverso”?)

Como falei, ao fim do filme estava feliz e com vontade de rever. E ao mesmo tempo frustrado, porque não sei quando o filme será lançado – inicialmente a data de estreia era pra ser 06 de janeiro, mas já adiaram de novo pro dia 20.

Mas, posso dizer que, dos últimos quatro filmes que vi no cinema, dois nacionais (Eduardo e Mônica e Turma da Mônica Lições) e dois blockbusters gringos (Matrix e King’s Man), os nacionais são muito melhores!