King’s Man: A Origem

Crítica – King’s Man: A Origem

Sinopse (imdb): Um spinoff da franquia Kingsman sobre essa organização de espiões no início do século XX.

Ah, a expectativa. Já falei aqui diversas vezes, quando a gente cria expectativas, a chance de uma decepção é grande.

Gosto muito do primeiro Kingsman, um excelente filme com cenas de ação insanas e um humor no ponto exato. O segundo é mais galhofa, mas ainda é muito divertido. Fui ao cinema querendo ver algo nessa pegada. Mas esse terceiro filme é muito mais sério. Poucas cenas de ação, e quase nada de humor. E, pra piorar, o filme demora muito tempo no setup inicial, quase uma hora até as coisas começarem a acontecer.

E aí vem a minha dúvida: o problema foi do filme, ou heu que queria ver uma coisa e me foi apresentada outra? Pelo meu head canon, afirmo: achei uma decepção. Talvez vendo uma segunda vez heu mude de ideia, mas, dessa primeira vez, não curti.

Uma coisa que achei estranha foi que é do mesmo Matthew Vaughn que dirigiu os outros dois. Se tivesse mudado o diretor, dava pra entender a mudança de estilo, mas, sendo escrito e dirigido pelo mesmo cara, por que ele resolveu mudar?

Este filme traz uma coisa curiosa. Assim como Tarantino fez em Bastardos Inglórios e Era uma Vez em Hollywood, este King’s Man: A Origem traz personagens históricos reais dentro da trama do filme. Li uma crítica onde falavam que isso era um problema, porque você já sabe o destino de alguns personagens. Mas, admito, falha minha, conheço pouco sobre a história da primeira guerra mundial, então não sabia de nenhum dos acontecimentos.

O primeiro filme tem uma sequência sensacional, que poderia estar em listas de melhores sequências da história do cinema, a cena da igreja. A cena é extremamente bem filmada, e além disso ela tem uma importância muito grande na narrativa, porque o espectador se pergunta “e agora, pra onde a história vai?” Neste novo filme, não tem nenhuma cena que chama a atenção tecnicamente falando, mas tem um desses momentos de “pra onde a história vai?”. Sem spoilers, mas a parte na guerra me causou essa boa estranheza.

O elenco é bom. Como esse filme se passa cem anos antes do primeiro Kingsman, claro que não tem ninguém dos outros filmes – tive a impressão de ter visto Mark Strong na cena final, mas precisaria rever pra ter certeza, no imdb não fala nada. Ralph Fiennes manda bem como o protagonista, e se tiver que dar um destaque, vou de Rhys Ifans (irreconhecível) como Rasputin. Também no elenco, Gemma Arterton, Harris Dickinson, Djimon Hounsou, Matthew Goode, Charles Dance, Alexandra Maria Lara, Daniel Brühl, Tom Hollander e participações menores de Aaron Taylor-Johnson e Stanley Tucci.

King’s Man: A Origem estreia nos cinemas esta semana. Vou tentar rever pra ter uma segunda opinião.

Não Olhe Para Cima

Crítica – Não Olhe Para Cima

Sinopse (imdb): Conta a história de dois astrônomos que participam de uma gigantesca cobertura de imprensa para alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que destruirá a Terra.

Um pouco atrasado, vamos falar de Não Olhe Para Cima. Ia escrever aqui semana passada, mas resolvi fazer os posts de retrospectiva e expectativas. Bem, vamos ao filme.

Tem dois tipos de pessoas que se incomodaram com Não Olhe Para Cima – existe o lado social e o lado cinematográfico. Vamos por partes. Não Olhe Para Cima é o filme novo de Adam Mckey. Se a gente analisar os seus dois últimos filmes, podemos ver um padrão em pelo menos dois aspectos: um bom trabalho com os atores, e uma edição nada convencional. Essa parte da edição sei que vai incomodar muita gente. Pra citar um exemplo claro: em Vice, seu filme anterior, sobem os créditos finais no meio do filme! Aqui em Não Olhe Para Cima não tem nada tão radical, mas mesmo assim, estamos longe da narrativa convencional (em determinado momento do filme aparece um QR Code na tela, que direciona a um clipe da Ariana Grande).

Pra curtir Não Olhe Para Cima tem que embarcar na proposta do diretor. Conheço gente que simplesmente largou o filme no meio por causa dessas maluquices.

Além disso tem a parte ideológica. Não Olhe Para Cima foi criado para criticar o aquecimento global. Mas, pelo menos aqui no Brasil polarizado de 2021, virou uma cutucada explícita nos negacionistas da vacina. E vários aspectos são muito semelhantes a situações vividas aqui no Brasil, inclusive tem personagens que parecem inspirados em pessoas da nossa política. Mas, existem dezenas de textos analisando o filme sob este ângulo, então aqui no heuvi vou focar mais no lado cinematográfico, ok?

O destaque, claro, é o elenco. Só de ganhadores do Oscar, são cinco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett e Mark Rylance; e ainda tem outros dois que já foram indicados (Jonah Hill e Timothée Chalamet). E ainda tem Rob Morgan, Ron Perlman, Tyler Perry, Ariana Grande, Himesh Patel e Melanie Lynskey. E ainda tem uma ponta do Chris Evans!

De um modo geral, todos estão bem. Se for pra escolher um destaque, seria o Leonardo DiCaprio, quem tem um personagem melhor desenvolvido e com mais camadas. E se for escolher um destaque negativo, seria Meryl Streep. Não, ela não está mal, Meryl Streep não consegue atuar mal nunca, mas ela está apenas ok. Já vi filmes fracos onde o destaque era a atuação da Meryl Streep, ela estar apenas ok não é aceitável.

(Uma pequena curiosidade: o personagem de DiCaprio é casado com Melanie Lynskey. E cada um dos dois tem um filme marcante na carreira onde o par romântico é a Kate Winslet – Titanic (97) e Almas Gêmeas (94).)

O roteiro e a direção de Adam McKay acertam o ponto exato da comédia. No início de sua carreira, McKay fez alguns filmes com Will Ferrell, filmes que até têm seus bons momentos, mas têm muitas piadas bobas. Depois McKay entrou numa fase mais “séria”, trocando o humor escrachado pela ironia, nos filmes A Grande Aposta e Vice. Na minha humilde opinião, Não Olhe Para Cima é o seu melhor trabalho, com uma edição precisa e bons efeitos especiais nos momentos do meteoro.

Teve uma coisa que não gostei. A ameaça é mundial, e quase todo o filme só mostra como se fosse um problema só nos EUA – tem uma breve cena onde falam de um plano frustrado envolvendo China, Rússia e Índia. Acho que seria melhor mostrar núcleos em outros países, a trama ia ficar mais rica.

Mesmo assim, o resultado final ficou muito bom. É uma comédia com humor ácido, que acerta o ponto exato na crítica.

Ah, são duas cenas pós créditos. Tem uma piadinha lááá no fim, coisa incomum quando se trata de Netflix – normalmente eles não deixam ver os créditos e te jogam pra ver outro filme / série.

Matrix: Ressurrections

Crítica – Matrix: Ressurrections

Sinopse (imdb): Regresse a um mundo de duas realidades: uma, a vida quotidiana; a outra, o que fica para trás. Para descobrir se a sua realidade é uma construção, para se conhecer a si próprio, o Sr. Anderson terá que seguir o coelho branco.

Alguns amigos estavam com expectativa alta para este novo Matrix, mas preciso dizer que minha expectativa era zero. O primeiro é realmente muito muito bom, mas suas continuações são bem fracas.

A gente tem que reconhecer que o Matrix de 1999 é um marco na história do cinema. O filme levantava questões filosóficas ao mesmo tempo que explodia cabeças com efeitos especiais nunca vistos anteriormente. Mas, as Wachowski parecem ser diretoras de um filme só, seu currículo é repleto de filmes ruins (além dos Matrix 2 e 3, elas fizeram Ligadas Pelo Desejo, Speed Racer, Destino de Júpiter e Cloud Atlas – ou seja, nenhum filme relevante).

Com expectativa lá embaixo, fui ao cinema ver o novo, Matrix Ressurrections, agora dirigido só por Lana Wachowski (primeiro longa sem a irmã Lilly Wachowski). E, olha, gostei da primeira parte do filme!

O filme começa numa boa sacada de metalinguagem. Os anos se passaram, e a gente vê um Thomas Anderson que criou uma trilogia de videogames Matrix e ganhou vários prêmios em 1999, e hoje vive com a sombra do passado brilhante enquanto vive um presente medíocre, ao mesmo tempo que sofre pressão para voltar à franquia e criar o Matrix 4. Não li sobre bastidores da produção, mas provavelmente deve ser um reflexo do que a diretora Lana Wachowski vive hoje.

Enquanto o filme está nessa onda de metalinguagem, rolam várias sacadas muito boas. Tem uma sequência excelente alternando reuniões de brainstorm e um Thomas Anderson desnorteado, tudo isso ao som de White Rabbit do Jefferson Airplane.
Mas aí Thomas Anderson resolve tomar a pílula vermelha e o filme resolve voltar a ser igual ao Matrix de 99…

(Sei não, mas nos últimos 20 anos o significado de “pílula azul” mudou, mas deixa pra lá).

Não sei se é correto dizer que a segunda parte de Matrix Ressurrections é ruim. Mas é uma cópia barata do primeiro Matrix – assim como os outros dois, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions.

E aí a gente lembra que o primeiro filme foi 22 anos atrás, e que muita coisa tecnológica evoluiu de lá pra cá. Se Matrix falava de máquinas controlando homens, o novo filme poderia atualizar esse tema entrando nas Inteligências Artificiais que tanto se intrometem na nossa vida atual. Que nada, o filme nem entra nesse assunto.

E a gente fica se perguntando pra que ver mais um filme da franquia, se não traz nada de novo. E ainda tem uma parte no fim onde tem um plano tão enrolado e tão explicado que me senti num filme do Christopher Nolan.

Pelo menos o filme é tecnicamente bem feito. A parte técnica dos filmes das Wachovski sempre foi muito bem cuidada, e, se aqui o filme não traz nada de novo como o efeito bullet time de 1999, pelo menos os efeitos são bons (teve um detalhe que aparece no início que achei bem legal, mas não voltaram a isso, que são portais que não estão no mesmo eixo). Agora, teve uma cena que me pareceu fora do “estilo Matrix”. A cena do trem é confusa e as lutas são mal coreografadas. Achei uma cena fora da curva – no mau sentido.

Outra coisa me incomodou: o Keanu Reeves com visual de John Wick. Sei que às vezes um ator precisa manter um visual por um personagem, mas não acredito que uma super produção como Matrix tenha problemas em pedir para um ator mudar o visual. Ficou muito estranho.

Reeves está ok, ele não é um grande ator, mas sempre funciona. Gostei da volta da Carrie-Anne Moss, ela está muito bem. Por outro lado, não gostei da substituição do ator do Morpheus, Laurence Fishburne não voltou, sei lá por qual motivo, e ele foi substituído por Yahya Abdul-Mateen II. Até aí, ok, atores são substituídos desde sempre na história do cinema. O problema é que o tempo todo aparecem imagens do Morpheus do Laurence Fishburne – tem até uma estátua dele! Se é pra trocar o ator, que se troque de uma vez, ficar mostrando os dois foi esquisito. Também voltam ao elenco Jada Pinkett Smith, e Lambert Wilson aparece numa divertida participação pequena. De novidade, temos Neil Patrick Harris, Jonathan Groff, Jessica Henwick e Priyanka Chopra Jonas, e uma rápida aparição da Christina Ricci.

No fim, fica sensação de oportunidade perdida. Pena. Fiquem com o primeiro.

As Passageiras

Crítica – As Passageiras

Sinopse (imdb): Um jovem motorista conduz duas mulheres misteriosas de festa em festa durante uma noite em Los Angeles, mas, quando elas revelam quem realmente são, ele precisa encarar um perigoso submundo e lutar por sua vida.

Uma coisa que falo sempre é pra guardarmos o nome do diretor. Adam Randall me chamou a atenção com À Espreita do Mal, seu primeiro longa. Claro que queria ver seu segundo longa.

Pena que o resultado não ficou tão bom. As Passageiras (Night Teeth, no original) é bem mais fraco que seu primeiro filme. Não que As Passageiras seja exatamente ruim. Mas o problema é que é um filme genérico, e parece feito sem nenhum cuidado.

A narrativa se divide em duas tramas. Temos a trama principal, onde o jovem e ingênuo Benny é um motorista meio deslumbrado com suas passageiras vampiras. E tem uma trama paralela com Jay, um caçador de vampiros. A trama principal é ok, Benny é um personagem carismático, e as duas vampiras Blaire e Zoe são bons personagens. Mas a trama secundária é bem ruim. O filme começa com uma introdução que fala em uma trégua entre humanos e vampiros, e o que a gente vê é uma história de um vampiro tentando tomar o poder sobre outros vampiros, sem se importar com os humanos. Enquanto isso um caçador tenta caçar, acompanhado de um pequeno grupo. Cadê a grande guerra anunciada no prólogo? Pra que colocar isso num prólogo se essa história não vai ser desenvolvida?

E quando falei que é um filme sem cuidado é por causa de algumas pequenas inconsistências ao longo da projeção. Por exemplo, determinado momento o Benny tenta fugir, mas a vampira mostra que é muito mais rápida que ele. Ok, vampiros são mais rápidos que humanos. Mas pouco depois tem uma cena onde as vampiras brigam com humanos, e cadê aquela super velocidade? A cena é até boa, mas só se a gente esquecer o que acabou de ver.

E tem outra coisa que me incomodou, que é um flerte entre uma vampira e um humano. Sei lá, até hoje sempre vi em filmes de vampiro outro tipo de sedução, não um flerte bobinho onde os pombinhos apaixonados vão sentar num banco à beira da piscina pra ficar de papo mole pra comer gente.

No elenco, o trio principal é de desconhecidos: Jorge Lendeborg Jr., Debby Ryan e Lucy Fry. Nomes mais famosos têm papeis menores – Alfie Allen (Game of Thrones) tem um papel secundário, e a dupla Megan Fox e Sydney Sweeney só aparece em uma cena.
No fim, fica a sensação de que estamos vendo um filme genérico. E, pra piorar, o filme tem gancho pra continuação.

Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

Crítica – Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa

Sinopse (imdb): Com a identidade do Homem-Aranha revelada, Peter pede ajuda ao Doutor Estranho. Quando um feitiço corre mal, inimigos perigosos de outros mundos começam a aparecer, forçando Peter a descobrir o que realmente significa ser o Homem-Aranha.

Se existe um filme que pode ser chamado de “o filme mais aguardado de 2021”, é este novo Homem Aranha. Desde que saiu o primeiro trailer, que mostrou o Dr Octopus do Alfred Molina, repetindo o papel do do filme de 2004, quando era outro ator fazendo o Homem Aranha, os nerds estão pirando pela internet. Afinal, há poucos anos tivemos o desenho do Aranhaverso, que trazia diferentes Homens Aranhas – será que isso seria possível num filme live action? Outros vilões apareceram nos trailers seguintes, mas…

Mas, não vou entrar em spoilers. Aqui neste texto o limite do spoiler é o trailer: trabalharei apenas com a informação que já temos: existem vilões dos outros dois Homens Aranha.

Mais uma vez dirigido por John Watts, Homem Aranha: Sem Volta Para Casa (Spider-Man: No Way Home, no original), este novo filme continua e redireciona a história deste Peter Parker dentro do MCU, por um caminho que acho que ninguém poderia imaginar. E arrisco dizer: os fãs do Aranha sairão do cinema emocionados.

Para a surpresa de ninguém a parte técnica enche os olhos. Os efeitos especiais são perfeitos. Em determinado momento do filme eles entram no mundo espelhado do Dr Estranho, onde cidades se dobram parecendo um grande caleidoscópio. E não são só os efeitos: logo no início, a gente é apresentado a toda a situação do Peter Parker num bem sacado plano sequência dentro do apartamento.

É complicado de falar sobre o elenco porque entramos na área cinza dos spoilers. Mas, combinei que o que está no trailer pode ser comentado, né? Então queria elogiar o Willem Dafoe, que consegue convencer com todas as nuances do Norman Osborne / Duende Verde.

Se tem um ponto negativo, heu diria que é a participação do Doutor Estranho. Nada contra o ator, mas o personagem convenientemente sai de cena por um bom tempo, e volta só na hora que o roteiro precisa. Estragou o filme? Não. Mas forçou a barra.

Queria comentar a trilha sonora, mas posso cair no mesmo problema dos spoilers. Só digo que o Michael Giacchino mandou bem mais uma vez.

Recentemente tivemos a notícia que este Home Aranha do Tom Holland terá mais três filmes. O fim de Homem Aranha: Sem Volta Para Casa encaminha para este quase reboot. Teremos o mesmo ator, mas o Aranha será diferente no futuro do MCU.

Como acontece tradicionalmente nos filmes do MCU, são duas cenas pós créditos, uma depois dos créditos principais, com uma cena que será importante para o futuro do MCU; e, no fim de tudo, em vez de uma cena pós créditos, temos quase um trailer do vindouro filme do Doutor Estranho. Meio frustrante, preferia ver uma cena pós créditos do que uma propaganda.

Amor, Sublime Amor

Crítica – Amor, Sublime Amor

Sinopse (imdb): Uma adaptação do musical de 1957 que explora o amor proibido e a rivalidade entre os Jets e os Sharks, duas gangues de rua de adolescentes de diferentes origens étnicas.

Outro dia falei aqui de Tick Tick Boom, que citava Stephen Sondheim. E olha só a coincidência: hoje é dia de falar de um musical escrito pelo próprio Sondheim (que infelizmente faleceu menos de um mês antes da estreia do filme).

Amor Sublime Amor (West Side Story, no original) é a refilmagem do clássico homônimo lançado em 1961, que por sua vez era a adaptação do musical da Broadway de 1957. O filme de 1961 é o musical mais bem sucedido da história do cinema, ganhou 10 Oscars (incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro adaptado), 3 Globos de Ouro e 2 Grammys. A história se baseia no clássico Romeu e Julieta, onde dois jovens de universos rivais se apaixonam.

Gosto de musicais, mas nunca vi a peça e nem me lembro se já tinha visto o filme Amor Sublime Amor. Mas o que me interessava aqui era o diretor. É a primeira vez que Steven Spielberg dirigiu um musical. Sou fã do Spielberg, assumo. Cada filme novo que ele faz é bem vindo!

Você pode falar várias coisas negativas sobre o Spielberg, mas ninguém pode falar que o cara não sabe filmar. Aliado ao habitual diretor de fotografia Janusz Kaminski, Spielberg apresenta um filme com o visual fantástico, São várias cenas que enchem os olhos. Só pra citar um exemplo: a cena onde vai ter a briga começa com a câmera no teto, vendo as sombras das duas gangues rivais entrando. Ficou muito legal. Ou então a cena onde Tony conhece Maria, que tem tantos lens flare que lembrei do JJ Abrams.

Agora, tenho um comentário negativo, de alguém que não viu a peça e não se lembra do filme de sessenta anos atrás. Em termos cinematográficos, achei ruim a ordem das músicas. A trama vai num crescente até o clímax que é a luta entre as gangues. E depois disso ainda tem 40 minutos de filme! A música seguinte mostra a protagonista feminina numa grande loja de departamentos, e a gente se pergunta “pra que? A história já acabou!”. No teatro podia funcionar, mas no cinema seria melhor outra ordem das músicas.

No elenco principal, acho que o único que heu conhecia é Ansel Elgort, protagonista de Baby Driver (filme que considero um “musical diferente”). O papel principal feminino é da estreante Rachel Zegler, que ganhou um teste de elenco com 30 mil candidatas. Gostei de Mike Faist, que faz o Riff; e de Ariana DeBose, que faz a Anita. E, para os fãs do filme de 60 ano atrás, Rita Moreno, que fez a Anita naquela versão (e ganhou o Oscar pelo papel) está de volta para outro papel secundário.

Antes de terminar o texto, preciso falar das legendas. São dois grande problemas. O primeiro descobri que a culpa não é da distribuição brasileira: os diálogos em espanhol não têm legendas. Spielberg declarou que queria apenas atores latinos para os papeis dos porto-riquenhos, e até aí ele está super certo e ninguém vai discordar. Mas, o que as legendas têm a ver com isso? Segundo o imdb, Spielberg teria dito “Se eu legendasse o espanhol, estaria simplesmente sobrepondo o inglês ao espanhol e dando ao inglês o poder sobre o espanhol. Isso não ia acontecer nesse filme, eu precisava respeitar a língua o suficiente para não legendar.” Desde quando legendar um diálogo em outra língua é um desrespeito??? Desculpa, Spielberg, sou seu fã, mas desta vez você pisou na bola.

A outra crítica é pra quem fez as legendas que estavam na sessão de imprensa – ou seja, provavelmente estarão nas cópias em cartaz. Em vez de traduzir as canções, rolou uma adaptação. Não sei se o tradutor usou alguma versão pré existente com outra letra, ou se simplesmente quis adaptar as sílabas à melodia, mas, o fato é que na tela a gente ouve uma coisa e lê outra. Ficou bem difícil acompanhar o filme assim.

Tick Tick Boom

Crítica – Tick Tick Boom

Sinopse (imdb): Enquanto espera por sua grande chance, Jon escreve uma peça chamada Superbia, que ele espera que seja um grande musical. Ao se aproximar do seu aniversário, ele se sente tomado pela ansiedade, perguntando-se se seu sonho vale a pena.

Antes de entrar no filme, queria falar sobre o gênero musical. Conheço algumas pessoas que não gostam de musicais, usando o argumento de que não seria natural uma pessoa começar a cantar do nada. Mas… Seria natural uma pessoa com super poderes em filmes de super heróis? Ou, seria natural as leis da física serem ignoradas em filmes de ação? Ou, seria natural um cara feio e sem jeito ficar com a menina mais bonita num filme romântico? (se bem que já vi casos assim). Enfim, se é pra reclamar da falta de naturalidade, a partir de agora só poderemos ver documentários…

Heu gosto de música. E gosto quando a música é boa, e é colocada num contexto visual empolgante. Boas músicas dentro de um bom visual, com bons atores e uma boa coreografia, podem criar um belo espetáculo visual. E é isso o que gosto num musical. Pra citar dois exemplos, quando vi Rock of Ages, saí do cinema empolgadíssimo, querendo comprar logo o cd com a trilha sonora. Por outro lado, achei Os Miseráveis chaaato. Um belo filme, a cena da Anne Hathaway é um espetáculo – mas o filme é chaaato, e nada empolgante.

Ah, preciso falar que vi poucas peças de teatro musical. Vejo 3 a 4 filmes por semana, e já vi umas 20 peças de teatro musical ao longo da minha vida. Não tenho muita propriedade pra falar de teatro, vou me ater ao cinema musical.

Heu sabia muito pouco sobre Tick Tick Boom, sabia que era o filme de estreia do Lin-Manuel Miranda como diretor, e que tinha como personagem Jonathan Larson, o autor de Rent. Gosto muito de Rent, e mais uma vez volto ao espetáculo visual. Porque a história de Rent é super deprê, galera com dificuldade financeira, vários no elenco estão doentes, um personagem morre ao longo do filme… Mas a parte musical é tão empolgante que a gente acaba o filme com vontade de colocar a trilha em loop.

Como falei, sabia pouco sobre o filme. Achei que ia ter a ver com Rent. E perto do fim descobri que Tick Tick Boom é o musical que Larson fez antes de Rent!

Não sei como era no teatro, mas o formato de Tick Tick Boom funciona muito bem dentro de um filme. Temos uma peça, onde, num palco quase vazio, acompanhado apenas de uma banda, Jonathan Larson canta, toca e conversa com a plateia, contando sobre as tentativas de levar adiante o Superbia, um musical que ele escreveu e estava há 8 anos tentando levar aos palcos. E a trama vai e volta o tempo todo, mostrando o que estava acontecendo nas narrações.

Posso citar pelo menos dois grandes destaque. Um deles é o protagonista Andrew Garfield – não sabia que ele cantava e tocava piano (não mostra nada mirabolante como o Ryan Gosling em La La Land, mostra o básico, e funciona perfeitamente na tela). A empolgação do Jonathan Larson do Andrew Garfield é uma das melhores coisas de Tick Tick Boom.

O outro destaque são as músicas. São vários momentos muito bons. Vou destacar três cenas que achei excelentes, e que não seguem necessariamente o formato tradicional dos musicais. Uma é Boho Days, que gostei pela descontração, uma música a capella, onde Larson canta acompanhado apenas por palmas. Outra é Therapy, um contraste entre dois momentos bem opostos – Andrew Garfield e Vanessa Hudgens cantam sorridentes uma música super alegre ao mesmo tempo que rola uma DR séria entre os personagens. Por fim, Come to your Senses, que traz um dueto entre Vanessa Hudgens e Alexandra Ship, sendo que as duas não estão juntas. Como falei no início, gosto de belos espetáculos usando música e imagens. Aqui são três bons exemplos.

Sobre a trilha, achei estranho não ter nenhuma música inédita composta por Lin-Manuel Miranda. Uma coisa que acontece frequentemente em adaptações de musicais é ter uma música inédita, para concorrer ao Oscar – para concorrer ao Oscar de melhor canção, a música tem que ser composta para o filme. Lin-Manuel Miranda já concorreu ao Oscar de melhor canção por Moana, achei que aqui ele poderia ter composto uma música para a trilha, e pelo que vi nos créditos, tirando as músicas pop e de outros musicais, todas as músicas são compostas por Jonathan Larson.

No fim do filme a gente tem a triste notícia que Jonathan Larson depois de Tick Tick Boom faria Rent, que seria um grande sucesso, mas ele nunca veria este sucesso. Larson faleceu de dissecção aórtica aos 35 anos. Muito triste. Pelo menos ele conseguiu deixar um legado, Rent é um grande sucesso.

E agora, depois de Tick Tick Boom, torço pra algum produtor resolver bancar uma versão póstuma de Superbia!

Casa Gucci

Crítica – Casa Gucci

Sinopse (imdb): Quando Patrizia Reggiani, uma mulher humilde, casa-se com um membro da família Gucci, a sua ambição desenfreada começa a desvendar o seu legado e desencadeia uma espiral de traição, decadência, vingança e finalmente homicídio.

Mês passado falei aqui de O Último Duelo, filme novo do octogenário Ridley Scott. E, olha só, mais um filme do Ridley Scott em cartaz nos cinemas!

Pena que, na minha humilde opinião, o resultado aqui ficou bem abaixo daquele. Vamulá.

Casa Gucci (House of Gucci, no original) segue o livro The House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed, de Sara Gay Forden. Preciso admitir que não só não li o livro, como nem sabia do caso. Assim, não tenho ideia de quanto do que vemos na tela é história real e o quanto foi romantizado.

Casa Gucci é um belo filme. Boas locações, belos figurinos, boa reconstituição de época, atuações inspiradas. Mas… Não empolga. Digo mais: com duas horas e trinta e sete minutos de duração, o filme cansa.

O grande destaque são as atuações. O elenco é ótimo, e todos estão bem – acho que o único que está apenas ok é o protagonista Adam Driver. Lady Gaga, Al Pacino e Jeremy Irons estão ótimos. E Jared Leto consegue estar um degrau acima.

Jared Leto está irreconhecível. Não vi o trailer antes, não tinha visto nada sobre o filme, vou confessar que não o reconheci durante o filme. Quando começaram os créditos, a surpresa: como assim Leto é o Paolo Gucci? Quase deu vontade de rever o filme só pelas suas cenas. Uma indicação ao Oscar é algo quase certo.

Mas, o filme é longo e chato, a gente fica esperando, e a história não decola nunca. Além disso, algumas coisas ficaram meio abruptas, como por exemplo a separação do casal, que veio meio de repente. Me parece que o roteiro poderia ter uma lapidada melhor.

Ah, e tem uma cena que vai gerar risadas nos cinemas brasileiros, mas pelos motivos errados. Uma personagem fala que a música lhe traz recordações de Ipanema, e diz que vai dançar salsa por isso…

Tem gente reclamando dos sotaques. Todos falam inglês, com sotaque de italiano. Sim, ficou estranho, talvez fosse melhor se os atores falassem em italiano. Mas… Isso é meio padrão em filmes hollywoodianos, então não vejo muito sentido de reclamar só aqui.

No fim, fica a sensação de que esse elenco merecia um roteiro melhor.

A Casa Sombria

Crítica – A Casa Sombria

Sinopse (imdb): Uma viúva começa a descobrir os segredos perturbadores de seu recém falecido marido.

A Casa Sombria (The Night House, no original) é um bom filme “pequeno” de terror psicológico, que se baseia num bom roteiro, numa boa ambientação, e numa inspirada atuação da Rebecca Hall.

A ideia é boa. Uma mulher acabou de perder o marido, que se suicidou, e precisa aprender como seguir em frente. Eles moravam numa grande casa, isolada, à beira de um lago – a casa é quase um personagem no filme.

Diferente do tradicional que acontece em filmes de terror, não é uma casa velha, é uma casa moderna, cheia de grandes janelas. E mesmo assim, a ambientação é ótima. Uma coisa que achei muito legal aqui são silhuetas formadas por pedaços de móveis e de paredes. A personagem olha de um ângulo que aquilo parece uma silhueta de uma pessoa, mas a câmera se move e vemos que não tem nada lá. Efeito simples e eficiente, e que gera alguns bons jump scares.

Sobre o elenco, este filme é da Rebecca Hall. É daquele formato de filme onde todo o foco é no personagem principal – não só ela está em todas as cenas, como em várias cenas ela está sozinha. E Rebecca não decepciona, ela realmente convence com a complexa Beth, que está seriamente desnorteda pela morte de seu marido – e a narrativa do filme ajuda neste aspecto, sem deixar claro o que está acontecendo.

Ainda no elenco, uma coisa que achei curiosa foi o nome da Stacy Martin ter vindo em segundo lugar nos créditos, seu papel é bem pequeno. Também no elenco, Sarah Goldberg, Vondie Curtis-Hall e Evan Jonigkeit.

Quero fazer um comentário que pode entrar no terreno dos spoilers, então vou falar depois do aviso.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Você pode interpretar A Casa Sombria de duas maneiras diferentes. Realmente pode existir alguma coisa sobrenatural assombrando a Beth. Mas, se a gente pensar que ela está sempre sozinha quando acontecem as coisas, isso tudo pode ser dentro da cabeça dela. O filme deixa espaço para as duas interpretações. A minha é que tudo é psicológico.

FIM DOS SPOILERS!

O diretor David Bruckner está escalado para dirigir o reboot de Hellraiser. Heu gostava muito do primeiro filme, mas fui deixando de gostar conforme iam surgindo continuações (a última vez que contei, já tinham nove filmes!), então nem me empolgo com a notícia de um novo filme. Mas, ok, aguardemos antes de falar mal.

Oats Studios

Crítica – Oats Studios

Wikipedia: Oats Studios é um estúdio de cinema independente fundado em 2017 pelo cineasta sul-africano indicado ao Oscar Neill Blomkamp. O estúdio foi criado com o objetivo de distribuir curtas experimentais via YouTube e Steam, a fim de avaliar o interesse da comunidade e feedback sobre quais deles são viáveis para expansão em longas-metragens. Os atores apresentados nos filmes incluem Sigourney Weaver, Carly Pope, Sharlto Copley, Kellan Lutz e Dakota Fanning.

Quando fiz o texto sobre Demonic, pesquisei a página do imdb do Neill Blomkamp e vi que tinham vários curtas feitos nos últimos anos. Foi uma agradável surpresa ver que os curtas estão disponíveis na Netflix, como se fosse uma temporada de série, este Oats Studios.

São dez curtas, entre 4 e 26 minutos de duração. Nove foram dirigidos por Neill Blomkamp: Rakka, Base, Cozinhando com Bill, Deus: Serengeti / Chicago, Zigoto, Adam ep 2, Adam ep 3, Gdansk e Kapture: Gafanhotos. Presidente Ruim é o único que não sei se é dirigido por ele – no imdb não tem créditos de diretor!

De um modo geral, achei que todos têm um ponto positivo e um ponto negativo. O positivo é que o visual, a ambientação e os efeitos especiais são excelentes. Por outro lado, o ponto negativo é que quase todos parecem boas ideias, mas sem nenhum desenvolvimento. É uma introdução, quando parece que a história vai começar, o filme acaba. É meio frustrante, queria ver mais de algumas das histórias.

Na minha humilde opinião, três dos curtas não têm muito a ver com os outros, Deus: Serengeti / Chicago, Cozinhando com Bill e Presidente Ruim – aliás este Presidente Ruim é muito bom, principalmente nos dias de hoje. Curiosamente, os dois últimos têm o mesmo elenco, Alec Gillis e Carly Pope. Esses três fogem um pouco da proposta de futuros distópicos e invasões alienígenas que os outros trazem.

Um breve comentário sobre cada um:

Rakka – A Terra foi invadida e os alienígenas estão transformando o planeta e exterminando humanos. Um grupo de resistência se prepara para reagir.
Base – Vietnã, 1970, a CIA investiga o deus do rio e os eventos sobrenaturais que ele evoca.
Cozinhando com Bill – São 4 historinhas satirizando programas de culinária, mas com receitas e equipamentos bizarros. Engraçado, mas bobinho, e não tem muito a ver com os outros.
Deus: Serengeti / Chicago – Dois curtas onde Deus controla as pessoas em uma maquete. Esse é bem sem graça.
Zigoto – Duas pessoas estão em uma base isolada, com quase tudo destruído em volta, e estão fugindo de um ser assustador.
Adam ep 2 – Animação com robôs. História besta, animação excelente.
Adam ep 3 – Uma mulher procura abrigo num mundo pós apocalíptico
Gdansk – Animação curtinha que mistura idade média com ficção científica.
Kapture: Gafanhotos – Duas animações curtinhas com experiências bélicas.
Presidente Ruim – Um presidente americano caricato, vai agradar muita gente, só achei que não tem a ver com os outros curtas.

Alguns curtas são de alguns anos atrás, lembro de ter visto Zigoto no youtube em 2017.

Não é nenhuma novidade, mas é legal ter isso organizado pela Netflix. E foi legal ter visto algo do Neill Blomkamp depois da catástrofe que foi. Demonic.