Maligno

Crítica – Maligno

Sinopse (imdb): Madison fica paralisada por visões chocantes de assassinatos terríveis, e seu tormento piora quando ela descobre que esses sonhos acordados são, na verdade, realidades aterrorizantes.

Dentre as várias vertentes do terror, duas são mais populares hoje em dia. Uma é o terror cabeça, de títulos como Babadook, It Follows, A Bruxa, Hereditário e Midsommar. A outra é o que chamo de “trem fantasma de parque de diversões”, onde o principal objetivo é a diversão do espectador, mesmo que use fórmulas repetidas. E nesta vertente, James Wan é o cara.

Sou muito fã do James Wan. Gosto muito do primeiro Jogos Mortais, dos dois primeiros Sobrenatural e dos dois primeiros Invocação do Mal, todos dirigidos por ele. O problema é que Wan saiu do terror e foi ganhar dinheiro em blockbusters – ele dirigiu Velozes e Furiosos 7 (que é uma das dez maiores bilheterias da história do cinema) e Aquaman, um dos melhores filmes da DC (e, segundo o imdb, está no momento dirigindo o Aquaman 2). E todos os outros filmes do Waniverso (continuações, prequels e spin-offs) dirigidos por outras pessoas são mais fracos. Filmes divertidos, mas esquecíveis.
Claro que vê-lo de volta na cadeira de diretor de um filme de terror era algo aguardado. E, vou te falar, Wan não decepcionou!

Sobrenatural e Invocação do Mal são filmes diferentes, mas ambos usam conceitos parecidos, de casa mal assombrada. Aqui em Maligno (Malignant, no original), Wan muda um pouco o conceito. Tem algo de possessão, um pouco de investigação policial, e tem uma criatura / entidade / vilão que é um grande achado. Mais tarde volto a falar deste personagem.

Precisamos falar da câmera de Wan. O cara sabe filmar. Você pode até não curtir o estilo, mas é preciso reconhecer que Wan sabe muito bem posicionar sua câmera como poucos no cinema atual. Ângulos, movimentos de câmera, cada cena é bem cuidada – chega a ter uma cena filmada de cima, dentro da casa, por vários cômodos, como se fosse uma casa de bonecas. Ver um filme bem dirigido assim é uma delícia!

Os efeitos especiais são outro destaque. Adorei os efeitos para mudar o cenário nas visões da protagonista, o cenário se dissolve e se reconstrói, com a câmera rodando em volta da personagem. O visual disso ficou muito legal. Outro destaque está na criatura, vou falar mais na parte com spoilers.

A fotografia aproveita a câmera sempre bem posicionada e os efeitos especiais, e, junto com uma boa trilha sonora do habitual colaborador Joseph Bishara, dão a Maligno um resultado visual muito bom.

Aliado a tudo isso, Maligno traz um plot twist de explodir cabeças! Sério, quando acabou o filme, conversei com um amigo, que comentou a mesma coisa!

Quero falar dos efeitos especiais da criatura, mas, isso pode entrar no terreno de spoilers, então vou deixar um aviso. Mas, quem quiser seguir, só vou falar da parte técnica, nada sobre a trama.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A criatura / entidade se movimenta de maneira diferente do normal. Logo de cara a gente pensa que é cgi, mas nem tudo nessa movimentação é digital. Quem está debaixo da maquiagem é a bailarina / contorcionista Marina Mazepa. O trabalho dela deu um upgrade no visual do filme!

FIM DOS SPOILERS!

No elenco, o papel principal é de Annabelle Wallis, que está muito bem, e já esteve no Waniverse, é uma das principais atrizes em Annabelle. Fora ela, ninguém digno de nota no elenco principal. Agora, queria fazer 3 comentários sobre o elenco secundário. A personagem principal, quando adolescente, é interpretada por McKenna Grace, de A Maldição da Residência Hill, Eu, Tonya e Annabelle 3. A enfermeira (que acho que só aparece uma vez) é Patricia Velasquez, dos filmes A Múmia com o Brandon Fraser. Por fim, a loira que briga na cadeia é Zoë Bell, figurinha frequente nos filmes do Tarantino, como dublê ou como atriz.

O fim do filme traz espaço pra uma nova franquia, o que não surpreende ninguém. Tomara que o diretor seja o mesmo. Se trocar, a gente sabe que a qualidade deve cair.

Por fim, cuidado com os nomes. Teve um filme mal lançado aqui em 2019, que tem o mesmo nome em português, apesar de no original ter o nome The Prodigy. Cuidado!

A Profissional / The Protege

Crítica – A Profissional / The Protege

Sinopse (imdb): Resgatada quando criança pelo lendário assassino Moody, Anna é a assassina de aluguel mais hábil do mundo. Mas quando Moody é brutalmente assassinado, ela jura vingança pelo homem que lhe ensinou tudo o que ela sabe.

Falei no texto sobre Gunpowder Milkshake sobre o atual momento de filmes de ação girl power. São vários filmes de ação estrelados por mulheres, coisa que heu gosto muito. Mas… Infelizmente são poucos os bons filmes no meio destes. A Profissional (The Protege, no original) é um desses.

A Profissional é mais um filme genérico. Algumas boas cenas de ação aqui e ali, mas uma história de vingança besta.

A direção é de Martin Campbell, que tem altos e baixos na carreira. Ele é lembrado por dois 007s de gerações diferentes, Goldeneye (1995) e Cassino Royale (2006). Mas, também é lembrado por Lanterna Verde, aquele com o Ryan Reynolds. Ok, The Protege não é tão ruim quanto Lanterna Verde. Mas está bem abaixo dos filmes do James Bond.

O filme tem um plot twist lá perto do terço final que quase me fez desistir. Não foi um bom caminho…

Três comentários sobre o elenco. Maggie Q não atrapalha, mas lhe falta carisma para carregar o protagonismo de um filme assim. Ela não está ruim, mas também não está bem – coerente com o filme. Samuel L. Jackson tem uma carreira gigante, está na Marvel, estava em Star Wars, em vários filmes do Tarantino. Mas, de uns filmes pra cá, parece que ele está no automático, sempre repetindo o mesmo papel. Continuo gostando dele, mas, queria vê-lo fazendo algo diferente. Já Michael Keaton, esse sim, é a melhor coisa do filme. Assim como no Homem Aranha, seu personagem está longe de ser um vilão caricato, e suas cenas com a Maggie Q são a melhor coisa do filme. Ainda no elenco, mais um nome digno de nota é Michael Bien, num papel menor como o líder dos motociclistas.

Enfim, como falei, A Profissional não é ruim. Vai distrair os menos exigentes. Mas ainda estou esperando um novo Atômica

Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis

Crítica – Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis

Sinopse (imdb): Shang-Chi é obrigado a confrontar um passado que julgava ter deixado para trás quando é atraído à teia da misteriosa organização conhecida como os Dez Anéis.

Ah, como é bom viver este momento! Sou fã do cinema de entretenimento, do blockbuster bem feito, e é muito bom estar acompanhando ano a ano o que a Marvel está construindo com o MCU. Foram mais de vinte filmes ao longo de 11 anos, pouco a pouco construindo um time de super heróis que se juntariam num grande evento que foram os dois últimos filmes dos Vingadores.

E a pergunta que ficava na cabeça do espectador era: e agora? O que vem depois? Como seguir em frente depois de algo tão grandioso?

Vieram as séries (WandaVision, Loki e Falcão e o Soldado Invernal), mostrando opções para o futuro do MCU, boas séries, mas ainda sem muitas novidades, tudo muito preso ao que já existia (ok, Loki mostrou um novo caminho). Veio o filme da Viúva Negra, bom filme, mas que veio atrasado, e também muito preso ao passado do MCU.

E agora estreia Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis, um filme de origem, onde a Marvel finalmente apresenta novos personagens e um novo universo a ser explorado.

O personagem Shang Chi era publicado aqui no Brasil em HQs com o nome de “Mestre do Kung Fu”, mas, nunca li nenhuma dessas revistas (assim como nunca li nenhuma HQ dos outros heróis). Aliás, vou te falar que nunca tinha ouvido falar do personagem. Mas, pra este filme, não precisa conhecer previamente. Tudo o que precisamos saber do personagem está no filme.

Dirigido pelo quase desconhecido Destin Daniel Creton, Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings no original) traz um visual deslumbrante, lutas excelentes, personagens carismáticos e uma história envolvente. Nada mal para um filme de origem de um novo super herói.

Aliás, é bom falar. Assim com acontecia nos primeiros filmes de cada super herói, Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis é um filme independente dos outros. Se você nunca viu nenhum filme do MCU, sem problemas, você pode acompanhar tudo o que acontece aqui. Mas, tudo se passa dentro de um contexto, onde tudo o que existia antes continua sendo respeitado. Alguns elementos do MCU são inseridos aqui, pra mostrar que Shang Chi faz parte de um projeto maior.

A primeira coisa que chama a atenção em Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis é o visual. A fotografia é linda, cheia de cores, cheia de elementos da natureza. E as lutas são ótimas, tanto pelas coreografias quanto pelos efeitos usados nelas. Por fim, ainda temos um cgi perfeito, que mostra seres fantásticos e efeitos impressionantes com água.

(Parênteses pra voltar a falar das lutas. A luta no ônibus, que aparece no trailer, é muito boa, e olha que a gente já teve outra luta boa em ônibus este ano, em Anônimo. E a luta onde o casal se conhece é sensacional, uma mistura de luta com dança onde os adversários flutuam lembrando filmes como O Tigre e o Dragão. E essas duas lutas são no início do filme!)

O elenco principal é quase todo oriental, um bom sinal que finalmente Hollywood está se diversificando – se Shang Chi fosse feitos anos atrás, ia ter um monte de gente branca no elenco. O papel principal ficou com Simu Liu. Heu não conhecia ele, achei que era que nem o Chris Hemsworth, que era um coadjuvante de poucos papéis antes de virar o Thor, mas o imdb dele tem títulos desde 2012. Gostei dele, vai ser uma boa vê-lo nos próximos filmes do MCU. O pai do Shang Chi é interpretado por Tony Leung, ator chinês que tem uma filmografia enorme, e não me lembro de nenhum filme hollywoodiano – lembro dele em Bala na Cabeça, um dos meus filmes favoritos do John Woo (ele também fez Fervura Máxima e A Batalha dos Três Reinos com o John Woo). Tony Leung também está ótimo, é um vilão bem construído, dá pra entender suas motivações.

E são pelo menos quatro papeis femininos importantes. Duas eram novidades pra mim: a mãe, interpretada por Fala Chen; e a irmã, interpretada por Meng’er Zhang (segundo o imdb, é seu primeiro papel). Gostei das duas, são bonitas, carismáticas, lutam bem, vou procurar mais filmes com ambas. Também tem a Michelle Yeoh, currículo enorme, inclusive foi citada aqui recentemente duas vezes, em Gunpowder Milkshake e Boss Level – e não podemos esquecer que ela estava em O Tigre e o Dragão, citado lá em cima. Por fim, tem a Awkwafina como alívio cômico. Descobri que ela tem um grande fã clube, mas, sei lá, acho ela meio sem graça. Pelo menos aqui em Shang Chi ela funcionou bem, as piadas foram bem dosadas.

Ah, não só são vários atores orientais, também achei muito bom ver um blockbuster americano com muitos diálogos em chinês!

Tem mais nomes no elenco, mas pode ser spoiler. Heu não sabia, foi uma agradável surpresa, então não vou falar aqui.

É Marvel, então tem humor. Mas não é uma comédia assumida como Thor Ragnarok, por exemplo. É um filme de ação com momentos engraçados.

Ah, claro, tem cenas pós créditos. Duas. Uma no fim dos créditos principais, outra lá no final de tudo. Padrão.

Heu poderia continuar falando aqui, mas vou parar pra não ficar muito grande. Em breve vou gravar um podcrastinadores, e com spoilers, lá entrarei em mais detalhes. Fiquem de olho em podcrastinadores.com.br

The Green Knight

Crítica – The Green Knight

Sinopse (imdb): Uma fantasia que reconta a história medieval de Sir Gawain e o Cavaleiro Verde.

Quando falam em filmes da A24 que dividem opiniões, me lembro de quatro filmes que ajudaram a cunhar a polêmica expressão “pós terror”: Hereditário e Midsommar (ambos dirigidos por Ari Aster), e A Bruxa e O Farol (ambos dirigidos por Robert Eggers) – gostei dos 3 primeiros, detestei o quarto. Mas, independente de gostar ou não, vendo esses quatro títulos, a gente entende que a proposta dos filmes da A24 é bem longe do mainstream.

Ou seja, heu já sabia que The Green Knight seria um filme cabeça. Até curto alguns filmes assim, mas admito que prefiro quando um filme não precisa de “manual de instruções”. Ou seja, The Green Knight já começou contando pontos negativos pra mim.

Dirigido por David Lowery (que anos atrás fez A Ghost Story, que é outro filme que também dividiu opiniões), The Green Knight tem problemas, mas também tem seus méritos . Vamos por partes.

O visual do filme é ótimo. É um filme medieval, temos o Rei Arthur e a távola redonda, e a ambientação é muito boa, tanto nas cenas internas quanto nas externas – não sei o que era paisagem natural e o que era tela verde. O visual do cavaleiro verde é outro destaque, a cena onde ele aparece no meio da távola é muito boa (aliás, parênteses pra falar da voz do Ralph Ineson, nunca tinha prestado atenção na voz dele, e que vozeirão!).

Também precisamos falar de Dev Patel. The Green Knight é daqueles filmes centrados na jornada de um personagem, basicamente todo o filme gira em torno dele. E Dev Patel está ótimo, não será surpresa se ele for indicado ao Oscar por este papel. O resto do elenco está ok, mas sem destaques. Também no elenco, Alicia Vikander, Joel Edgerton, Sean Harris e Kate Dickie.

Gostei bastante da sequência final. Li críticas negativas, mas curti como a história se desenvolveu naquele ponto.

Agora, o filme é chato. São duas horas e dez minutos, e várias sequências desafiam a paciência do espectador.

Sobre o “lado cabeça” do filme. Não acho que um filme precise explicar tudo. Mas tem coisas que funcionam, e outras não. Vou dar dois exemplos, pra não entrar em spoilers. Por um lado, a gente tem a raposa. Ninguém explica o que é a raposa, e essa explicação não é necessária para o filme. Heu acho que significa uma coisa, mas se não for, ok. Por outro lado, tem uma sequência com mulheres gigantes. Pra que? Tire as mulheres gigantes, o filme não perde nada; tire a raposa, o filme perde.

The Green Knight vai dividir opiniões. Uns vão achar genial, outros vão achar pretensioso. Minha recomendação é:vá de cabeça aberta!

Caminhos da Memória

Crítica – Caminhos da Memória

Sinopse (imdb): Um cientista descobre uma maneira de reviver seu passado e usa a tecnologia para procurar seu amor perdido há muito tempo.

Escrito e dirigido por Lisa Joy, que é uma das criadoras da série Westworld, mas ainda não tinha dirigido nenhum longa até então, Caminhos da Memória (Reminiscence, no original) é uma mistura de ficção científica distópica com filme noir. Caminhos da Memória traz elementos do filme noir, como narrações em off, um protagonista mal humorado e uma femme fatale misteriosa, mas o que mais me chamou a atenção aqui foi a ambientação num mundo onde as águas estão subindo.

O filme não entra em detalhes (e nem precisa), mas a gente entende que algo aconteceu e o planeta está mais quente. As pessoas trocaram o dia pela noite, porque os dias são quentes demais; e o filme se passa em uma Miami parcialmente tomada pelo mar. Alguns prédios estão “dentro” do mar, e parte da cidade tem barreiras segurando a água. Também sabemos que aconteceu uma guerra, mas não sabemos muito sobre isso, se tem a ver com o problema climático ou não.

O filme explora pouco essa ambientação do mar invadindo, o que achei uma pena, porque isso pareceu muito mais interessante do que a história do filme em si. Fiquei imaginando o Rio de Janeiro com o mar subindo. O bairro onde moro ia ficar quase todo com água alcançando os prédios.

(Aliás, não entendo de geografia da Florida, mas será que não seria melhor a população se mudar para regiões mais altas? Aqui no Rio isso ia ser fácil, a serra não é longe.)

Enfim, temos uma boa ambientação, mas isso pouco importa para a trama, que foca mais no clichê do cara obcecado pela mulher misteriosa…

Nada contra a trama seguir por este caminho, mas, aqui, tivemos um problema: o filme ficou chato. Tão chato que a gente pára de se importar com os personagens. No meio do filme me peguei brincando de “Seis Passos para Kevin Bacon” – lembrei que Bacon foi vilão em um X-Men, mas não me lembrava se o Hugh Jackman estava neste X-Men. Aí lembrei que Thandiwe Newton e Rebecca Ferguson estiveram em filmes da série Missão Impossível, ambas trabalharam com Tom Cruise – que fez Questão de Honra com Kevin Bacon. E acabou a minha diversão enquanto esperava o filme passar… 😛

(Heu fiz um curta com o Fernando Caruso, que fez o filme do Pelé com o Diego Boneta, que fez Rock Of Ages com Tom Cruise, que fez Questão de Honra com Kevin Bacon. Estou a 4 passos do Kevin Bacon!)

O elenco está ok. Hugh Jackman está competente como sempre. Thandiwe Newton (que mudou a grafia do nome a partir deste filme) também está bem, mas teve uma cena em particular que achei sua personagem exagerada. Rebecca Ferguson, que foi dublada em O Rei do Show, aqui finalmente mostra sua voz cantando. (Teve uma cena que achei que ela estava igual à Jessica Rabbit, será que foi proposital?) Também no elenco, Cliff Curtis, Marina de Tavira, Daniel Wu e Angela Sarafyan.

No fim, fica aquela sensação de belo visual, mas num filme vazio. Não quero ver uma continuação, mas veria um prequel mostrando como o mundo chegou naquele estado.

Snake Eyes

Crítica – Snake Eyes

Sinopse (imdb): Um spin off de G.I. Joe centrado no personagem Snake Eyes.

GI Joe é uma linha de bonecos. Sou velho, lembro do Falcon, que era um GI Joe – ou Comandos em Ação, como foi traduzido aqui na época. Os bonecos do Falcon foram vendidos entre 1978 e 1984 pela Estrela, que depois trocou a linha pelos bonecos GI Joe, que eram menores (o Falcon tinha 30cm, o GI Joe tinha 10cm). A partir de 1986, a Globo começou a exibir uma série animada baseada nos bonecos – prática que era comum, se não me engano lançaram outros combos brinquedo + desenho (ajudava nas vendas e também na audiência).

Uns anos atrás tivemos dois filmes baseados nos bonecos GI Joe. Não me lembro muito bem dos filmes, lendo os meus textos aqui no heuvi, vi que gostei do primeiro, mas não gostei muito do segundo. Enfim, este aqui não tem nada a ver com aqueles, a história recomeça do zero.

Então finalmente vamos ao novo filme. Dirigido por Robert Schwentke (Red, RIPD Agentes do Além, Te Amarei Para Sempre), Snake Eyes (Snake Eyes: G.I. Joe Origins, no original) é um reboot total, não se baseia nem nos filmes, nem no desenho. Ouvi críticas de gente reclamando “o meu Snake Eyes não é assim”, “Destruíram o meu Snake Eyes!”. Mas, pra quem não era fã, a história funciona bem como uma introdução a este universo.

Snake Eyes tem coisas boas, mas tem outras não tão boas assim. E infelizmente tem mais do segundo do que do primeiro. Vamos por partes.

Gostei de algumas sequências de ação. Tem uma cena onde a personagem pula de uma moto em movimento, se apoia num caminhão e dá um golpe de espada, que é bem legal. Algumas lutas de um personagem contra dezenas também são boas. Não são ótimas, mas são boas.

(Explico: prefiro quando o câmera “dá um passo pra trás” e a gente vê melhor a coreografia das lutas. Isso acontecia mais no cinema oriental, mas Hollywood já traz alguns casos de lutas bem coreografadas e bem filmadas desta forma. Mas, o comum em Hollywood é vermos uma luta com muitos closes, muitos cortes e muita câmera tremida. Pensando neste formato, as lutas em Snake Eyes não são ruins. Poderiam ser melhores, mas, “passam na média”.)

Agora, o roteiro é uma bagunça. O personagem Snake Eyes não passa confiança nenhuma, e é aceito facilmente pelo clã japonês. E mesmo quando é pego na traição, tudo bem, deixa pra lá. Não tô nem falando da cena ridícula das cobras gigantes mágicas, até aceito isso, mas não dá pra aceitar um clã milenar ser tão ingênuo.

E isso porque não tô falando da personagem da Samara Weaving. Gosto da atriz, adorei ela no Ready or Not, um filme recente que foi mal lançado por causa da pandemia. Mas, qual é o sentido da personagem dela aqui? É só pra cumprir cota?

Isso me traz o elenco. O protagonista Henry Golding não é um bom ator, ele faz a mesma cara o filme inteiro. Mas nem atrapalha tanto. O problema dele ser fraco é que o coadjuvante Andrew Koji é muito melhor, dá vontade de focar mais no seu personagem do que no principal. Gosto muito do Iko Uwais, estrela dos maiores filmes de ação indonésios dos últimos anos, ele aqui tem um papel secundário. Aparece pouco, mas é sempre um prazer vê-lo lutando (ele manja dos paranauês de coreografia daquele tipo de luta onde o câmera pode dar um passo pra trás). Peter Mensah, o Doctore de Spartacus, também passa confiança ao defender o seu papel.

Agora, o trio feminino está bem ruim. Olha só, heu gosto de filmes de ação com mulheres, comentei isso no texto sobre Jolt. Falei da Samara Weaving, que tem um personagem completamente descartável. Tem também a Úrsula Corberó, que passa o filme inteiro repetindo as caras e bocas que ela fazia ao interpretar a marrenta Tokio de Casa de Papel. Agora, as duas aparecem pouco. Já a Haruka Abe, que aparece o filme inteiro, é péssima. Tanto a atriz, que passa o filme inteiro com cara de que não sabe o que fazer; quanto a personagem, que toma várias atitudes inexplicáveis durante o filme.

No fim do filme, claro, espaço pra continuação. Querem uma nova franquia. Sei lá, se começou cambaleante, nem sei se quero ver essa continuação.

Till Death

Crítica – Till Death

Sinopse (imdb): Uma mulher é deixada algemada ao marido morto como parte de uma trama de vingança doentia. Incapaz de se soltar, ela tem que sobreviver quando dois assassinos chegam para acabar com ela.

A princípio a gente lembra de Jogo Perigoso, do Mike Flannagan, onde a Carla Gugino fica algemada a uma cama e não tem como pedir ajuda. Mas a semelhança para por aí.
Till Death pode ser classificado como terror, mas não tem nada de sobrenatural, fantasmas ou monstros. O terror aqui é da vida real, é um jogo de sobrevivência – como a personagem vai conseguir escapar? Existe um plano de vingança por trás de tudo, o que torna o filme uma sequência de situações onde a protagonista precisa se virar pra sobreviver.

O roteiro é bem pensado. Quando vi o trailer, pensei “ué, por que ela não…” e parece que o roteirista já sabia que iam fazer perguntas assim, então tratou de amarrar essas possíveis pontas soltas mais na cara do espectador (mas teve um detalhe relativo a um pneu de carro que me pareceu uma falha de roteiro, felizmente nada grave).

O único nome do elenco a ser citado é Megan Fox, que é mais conhecida pela sua beleza do que pelo seu talento na atuação (tudo bem que ela escolhe alguns filmes que não precisam de muita atuação, como Transformers e Tartarugas Ninja). Mas ela não está mal aqui.

Tem uma coisa que me incomodou um pouco, que foi a maquiagem da Megan Fox. Ok, entendo que o diretor quis mostrar toda a beleza da sua protagonista, mas, caramba, ela está passando por maus bocados, e continua com a maquiagem linda linda linda. Entendo que não precisava chegar a uma Frances McDormand, mas podia ter segurado um pouco a maquiagem.

Não gostei do fim do filme, acho que ficou um pouco forçado demais, mas nada grave, nada que atrapalhe o bom resultado final. Com pouco menos de uma hora e meia, Till Death não é um grande filme, mas é uma diversão honesta de baixo orçamento.

Out of Death

Crítica – Out Of Death

Sinopse (imdb): O departamento de um xerife corrupto em uma cidade rural montanhosa é desfeito quando uma testemunha involuntária atrapalha sua operação sombria.

Dirigido por Mike Burns (que tem um currículo razoável no departamento de música de diversos filmes) e roteirizado pelo estreante Bill Lawrence (acho importante guardar esses nomes pra gente evitá-los no futuro), Out Of Death é ruim ruim. Alguns filmes são ruins mas são divertidos, mas não é o caso aqui. O filme já começa errado quando, antes de tudo, já temos uma espécie de trailer com um resumo do que vamos ver.

Out Of Death tem atuações péssimas. Talvez a Jamie King não esteja mal, mas isso não é um destaque – apenas estou dizendo que ela não está tão ruim quanto o resto do elenco. Em terra de cego quem tem um olho é rei, Jamie King se destaca por isso. Mas, já vi centenas de filmes com elenco ruim, isso infelizmente tem muito por aí. Mas… o roteiro é cheio de diálogos péssimos. atuação ruim mais diálogos péssimos, já viu que não vai dar boa coisa.

Mas calma, porque ainda piora. O filme é cheio de cenas que parecem ser feitas pra convencer o espectador a desistir. Tem várias cenas onde personagens tomam decisões burras, como a protagonista que não para de fotografar mesmo depois que o que ela estava fotografando já acabou. Mas, até aí a gente aceita, porque boa parte do que vemos hoje no cinema tem decisões burras de personagens. Então, vou relevar decisões burras, mas não podemos relevar cenas inteiras sem sentido. Um bom exemplo é a cena onde os personagens estão fugindo, mas precisam parar pra conversar e se conhecerem melhor. Não só isso não faz nenhum sentido, como logo depois eles se separam. Pra que??? Ok, provavelmente o orçamento não era suficiente pra ter o Bruce Willis por todo o filme, então o personagem dele tinha que ter uma desculpa para sair de cena. Mas custava pensar em uma ideia menos ruim?

Teve uma cena onde dei uma gargalhada, mas certamente não era o objetivo dos realizadores. Depois de um momento onde o policial demonstra todo o amor e carinho pela companheira que acabou de falecer, ele a larga o corpo no chão, e o corpo sai rolando…

Ah, os efeitos especiais são péssimos.

Não só o filme é ruim como algumas cenas parecem arrastadas. Me pareceu que não tinham material para uma hora e meia, então esticaram algumas cenas pra preencher a metragem necessária. Ou seja, ruim e chato.

Se posso dizer que gostei de alguma coisa, foi da trilha sonora. Era melhor ter lançado o filme no spotify.

O Esquadrão Suicida

Crítica – O Esquadrão Suicida

Vou começar lançando a polêmica: será que estamos diante do melhor filme da DCEU?

Sinopse (imdb): Os supervilões Harley Quinn, Bloodsport, Peacemaker e uma coleção de malucos condenados na prisão de Belle Reve juntam-se à super-secreta e super-obscura Força Tarefa X enquanto são deixados na remota ilha de Corto Maltese, infundida pelo inimigo.

Antes de começar, vamos explicar as siglas. A Marvel tem o MCU, o Marvel Cinematic Universe, que é o universo onde estão situados as dezenas de filmes. DCEU é o DC Extended Universe, o paralelo da DC. Não leio HQs, então não posso palpitar sobre qual editora é mais bem sucedida nos quadrinhos. Mas no cinema, nem o mais fanático fã da DC vai deixar de reconhecer a superioridade da Marvel.

(Bem, fãs fanáticos às vezes têm cegueira seletiva, então se o cara é muito fanático ele não vai reconhecer os fatos. Mas isso é assunto pra outro post.)

Em 2016 a gente viu o primeiro filme do Esquadrão Suicida, que teve um trailer excelente, um bom início, mas que depois se perdeu completamente e conseguiu decepcionar quase todo mundo. Até achei que iam desistir do time do Esquadrão Suicida, deixa pra lá, foi uma parada que não deu certo.

Mas aí apareceu um James Gunn no horizonte. Vamos lembrar quem é James Gunn? O cara começou na Troma, produtora de filmes trash, acho que seu primeiro trabalho no cinema foi o roteiro de Tromeu e Julieta, de 1996. Ele tinha uma carreira discreta, com filmes “menores” como Seres Rastejantes (2006) e Super (2010), até que foi contratado pela Marvel pra fazer Guardiões da Galáxia. Só pra dar um exemplo da proporção: o orçamento de Super era de 2,5 milhões de dólares, enquanto Guardiões tinha 170 milhões.

Guardiões da Galáxia era um projeto audacioso. Um filme que se encaixaria nos filmes dos Vingadores, mas era uma aventura espacial com um grupo que tinha um guaxinim e uma árvore, feito por um diretor que começou na Troma. E o resultado foi excelente, um dos melhores filmes do MCU (lembrando que tem um monte de filmes bons no MCU!).

Claro que a moral do James Gunn subiu. Ele fez o Guardiões volume 2, e ia fazer o terceiro – até que resolveram catar uns tweets politicamente incorretos que ele tinha feito anos antes, e a conservadora Disney (como mencionei no texto de anteontem sobre Jungle Cruise) o demitiu.

A Warner então o contratou pra “consertar” o Esquadrão Suicida – afinal, tanto os Guardiões quanto o Esquadrão são grupos de anti-heróis com alguns esquisitões no meio.

Vendo isso, a Disney o recontratou pra fazer Guardiões 3, mas antes ele ainda ia fazer este Esquadrão Suicida antes.

E agora a gente tem um James Gunn livre das restrições da Disney. O Esquadrão Suicida parece uma mistura dos anti-heróis de Guardiões da Galáxia com a violência e o humor politicamente correto do Deadpool. Um filme violento, engraçado, e, principalmente, divertidíssimo!

Antes de entrar no filme, vamos à pergunta: é uma continuação ou um reboot? Na verdade, tem cara de reboot, mas é uma continuação. Alguns personagens do outro filme voltam. Mas não precisa (re)ver aquele, a história aqui é independente.

Uma das poucas coisas boas do primeiro filme foi a introdução dos personagens. Aqui não tem isso, sabemos pouco sobre cada um. Mas sabe que não fez falta? O filme até faz piada com isso.

Falei que o filme era violento, né? MUITO violento. Sem entrar em spoilers, mas muita gente morre no filme. Aliás, essa é uma grande diferença para os filmes de super heróis que a gente está acostumado. Aqui morre um monte de gente, tanto personagens quanto extras. Mas não são mortes dramáticas – apesar de algumas serem bem gráficas – tem tiro na cara, tem cabeça explodindo… O filme tem muito sangue, mas a pegada é humor negro – várias mortes geram gargalhadas.

Um bom exemplo disso é uma sequência muito boa onde rola quase uma competição entre o Idris Elba e o John Cena pra ver quem é mais eficiente matando. E quase todas as mortes são engraçadíssimas. E o encerramento da sequência é inesperado e genial!

Uma coisa que gostei muito aqui é justamente essa imprevisibilidade. O roteiro sai do óbvio várias vezes (característica que também acontecia em Guardiões da Galáxia). Você está vendo a cena, achando que ela vai ter uma conclusão, e o roteiro te dá uma rasteira e mostra outro caminho. Gosto disso, gosto de ser surpreendido por soluções fora do óbvio.

As cenas de ação são muito boas. São várias, com vários personagens, e a câmera sempre consegue mostrar bem a ação. E os efeitos especiais também são ótimos. Falei mal da onça de Jungle Cruise, né? O Tubarão Nanaue aqui é muito mais bem feito. Ok, parece uma ideia reciclada, um novo Groot – inclusive porque ambos são dublados por atores famosos (o Groot é o Vin Diesel; o Nanaue é o Sylvester Stallone). Mas, assim como o Groot é um personagem adorável, digo o mesmo sobre o Nanaue.

Ah, ainda nos efeitos. O filme é entrecortado por intertítulos, como se fossem títulos para cada capítulo. E esses intertítulos são escritos com elementos que estão na cena. Boa ideia. Simples e eficiente.

Claro que ainda preciso falar da trilha sonora. Assim como nos dois Guardiões, a trilha aqui é muito bem escolhida. E, olha só, tem música brasileira no meio!

O elenco é ótimo. Mas, como falei, morrem personagens, então não vou entrar em detalhes sobre cada um, pra não dar indícios de quais são os mais importantes. Pelo star power do elenco, arrisco a dizer que os principais seriam Margot Robbie e Idris Elba, mas o filme divide bem o protagonismo entre todo o time. Tem a Alice Braga, num papel pequeno mas importante, mais um filme fantástico na carreira dela (comentei sobre isso no texto sobre Novos Mutantes). Também no elenco, Michael Rooker, Viola Davis, Joel Kinnaman, Nathan Fillion, Jai Courtney, Sean Gunn, John Cena, Daniela Melchior, David Dastmalchian, Sylvester Stallone, Peter Capaldi e uma ponta do Taika Waititi (pisque o olho e você perderá!).

Se for pra falar mal de alguma coisa, falo do vilão Thinker, interpretado pelo Peter Capaldi. Personagem sub aproveitado. Não estraga o filme, claro. Mas é um personagem besta.

Heu poderia continuar falando aqui, mas chega. O filme estreia hoje, quero rever assim que possível. E recomendo pra qualquer um que goste de se divertir nos cinemas.

Ah, tem cena pós créditos! Fiquem até o fim do filme!

Por fim, só pra confirmar a frase do início. Não dá pra comparar este filme com filmes de fora do DCEU, como Coringa ou a trilogia do Nolan, porque são propostas completamente diferentes. Agora, dentro do DCEU, já tivemos Homem de Aço, Batman vs Superman, Esquadrão Suicida, Mulher Maravilha, Liga da Justiça, Aquaman, Shazam, Aves de Rapina, Mulher Maravilha 84 e o novo Liga da Justiça versão do diretor. Alguns bons, outros maomeno, outros ruins. É, olhando a lista, O Esquadrão Suicida é realmente o melhor até agora.

#pas

Jungle Cruise

Crítica – Jungle Cruise

Sinopse (imdb): Baseado no passeio do parque temático da Disneylândia, onde um pequeno barco leva um grupo de viajantes por uma selva repleta de animais e répteis perigosos, mas com um elemento sobrenatural.

Não é a primeira vez que fazem um filme baseado em brinquedos do parque da Disney. O mais famoso e mais bem sucedido é Piratas do Caribe, que já tem cinco filmes, sendo que dois deles passaram a marca de um bilhão de dólares na bilheteria. Os últimos filmes não foram muito bem aceitos, mas é um sucesso incontestável. Agora, heu lembrava de pelo menos mais dois, ambos mal sucedidos nas bilheterias: Mansão Mal Assombrada, de 2003, com o Eddie Murphy; e Tomorrowland, de 2015, com o George Clooney. Mas aí lembrei de quando fui à Disney em 2018, que depois do brinquedo Torre do Terror, vi dvds à venda de um filme feito em 1997 baseado naquela atração, com Steve Guttenberg e Kirsten Dunst – lembro que pensei “vou procurar o filme pra assistir quando voltar pro Brasil”, mas nada ainda. Aí resolvi pesquisar pra saber se tinham outros filmes, e descobri que Missão Marte, feito pelo Brian de Palma em 2000, com Gary Sinise, Tim Robbins, Don Cheadle e Connie Nielsen, tem um roteiro inspirado na atração da Disney! E ainda descobri mais um, que nunca tinha ouvido falar: Beary e os Ursos Caipiras, de 2002, baseado no brinquedo Country Bear Jamboree.

Resumindo: a gente vê que apesar do sucesso dos parques, transformar isso em bilheteria não é fácil. Deve ter sido por isso que convidaram Dwayne Johnson para protagonizar. Arrisco a dizer que Dwayne é o nome com mais star power na Hollywood contemporânea. O cara tem um carisma gigantesco e é um dos poucos casos do cinema atual onde o nome do ator é mais importante que o nome do filme.

Ainda pegando o gancho do parque da Disney: a atração Jungle Cruise é meio bobinha, é um passeio de barco onde vemos animais animatronics, enquanto um capitão do barco narra o passeio, sempre contando piadas infames. Sim, em inglês, muitos brasileiros não entendem as piadas, e arrisco a dizer que – olha só que irônico – metade da graça do brinquedo são as piadas sem graça do capitão. E tem uma sequência do filme onde o personagem de Dwayne Johnson fala algumas das piadas que estão no roteiro do parque.

Ah, no parque o passeio é na África, aqui estamos na Amazônia, o passeio começa em Porto Velho, Rondônia. Mas foi filmado no Havaí.

Curiosamente, aqui em Jungle Cruise, Dwayne Johnson divide o protagonismo. Emily Blunt tem um papel tão importante quanto o dele. E a dupla está muito bem, aquele clássico clichê de parceiros que se cutucam o tempo todo – e como são dois atores talentosos e carismáticos, a química fluiu bem.

A direção ficou com Jaume Collet-Serra. Gosto dele, ele fez A Órfã, Águas Rasas, alguns filmes com o Liam Neeson badass – mas não entendi a escolha dele pra este filme. Collet-Serra faz um trabalho competente, mas que em nada lembra seus trabalhos anteriores. Me lembrei do Guy Ritchie dirigindo Aladdin. Me parece que em ambos os casos os diretores abriram mão dos respectivos estilos habituais pra fazerem um “filme de estúdio”.

Muitas vezes a história lembra os filmes do Indiana Jones – até na época em que se passa, pouco antes da segunda guerra mundial. Emily Blunt tem algumas cenas que a gente quase ouve o clássico tema do John Williams.

Aliás, comentário sobre a trilha sonora. Quando vemos os flashbacks dos espanhóis, tem uma música de violão dedilhado que foi uma agradável surpresa. É uma versão de Nothing Else Matters! Agora tem Metallica em filme da Disney!

Falei dos personagens principais, mas acho que ainda tem outros dois que merecem ser mencionados. Jesse Plemons (que parece um genérico do Matt Damon) faz um bom vilão, um alemão caricato como pedem os clichês da Disney. E Jack Whitehall, que faz o irmão, toca num assunto que não deveria ser nada de mais em 2021, mas ainda é tabu na Disney – o personagem é gay, ele declara que não queria se casar com nenhuma mulher porque gostava de outra coisa. Existem algumas teorias malucas pela internet tentando forçar uma barra de casos homo afetivos em Luca e em Raya, coisa que só existe dentro da cabeça dos autores dessas teorias. Mas aqui não é teoria, é um caso real, faz parte do filme. Por um lado, é muito discreto; mas por outro lado é a Disney assumindo que tabus podem ser quebrados. Vejo isso como um “copo meio cheio”. Estamos progredindo! Ainda no elenco, Edgar Ramirez e um Paul Giamatti exagerado e desperdiçado.

Achei que os efeitos especiais dos espanhóis lembram os efeitos de Piratas do Caribe, mas com temas de floresta em vez de mar. Será que é uma homenagem? Ou foi coincidência? Ainda sobre os efeitos, gostei da onça, mas em algumas cenas fica nítido o cgi.

Por fim, queria deixar registrada uma experiência pessoal. Sempre fui muito ao cinema, e sempre levei meus filhos. Nos últimos meses fui algumas vezes, mas sempre sozinho. Jungle Cruise foi a volta ao cinema com a família inteira. Todos de máscara, cinema quase vazio, mas, finalmente, cinema voltou a ser um programa familiar.