Sorria 2

Crítica – Sorria 2

Sinopse (imdb): Prestes a embarcar em uma turnê mundial, a cantora pop Skye Riley começa a viver experiências aterrorizantes e inexplicáveis. Tomada pelo horror e pela pressão da fama, Skye é forçada a confrontar seu passado.

A regra em Hollywood é clara: se um filme de terror barato faz sucesso, logo vem a continuação.

Mais uma vez escrito e dirigido por Parker Finn, Sorria 2 (Smile 2, no original) é bem semelhante ao primeiro Sorria, tanto nos pontos positivos quanto nos negativos. De positivo, preciso dizer que gosto da direção de Finn, gosto de como ele posiciona e movimenta sua câmera. Sorria 2 tem alguns planos sequência bem legais, inclusive a sequência inicial é um impressionante take único, que se heu estivesse vendo em casa, certamente ia voltar pra rever. (Ainda tem pelo menos dois bons planos sequência, um com a protagonista arrumando as malas em casa, outro com ela fugindo do hospital).

Agora, o final tem uns elementos que não gostei, como quando aparece uma desnecessária criatura, mas é uma criatura que também estava no primeiro filme. Ou seja, são elementos que têm a ver estarem aqui, mas, na minha humilde opinião, não foi bom da primeira vez, e continua não sendo bom.

Sorria 2 tem outro problema: é longo demais. São duas horas e sete minutos, e nada justificava uma duração tão longa. E aí a gente lembra que tem momentos musicais longos que poderiam facilmente ser reduzidos ou mesmo cortados.

Assim como no filme anterior, Sorria 2 tem vários jump scares. E tem algumas cenas onde o gore é bem explorado. Agora, tem uns momentos que acho que a ideia era fazer algo assustador, mas na verdade me causou gargalhadas, como as alucinações com o corpo de bailarinos perseguindo a protagonista.

No elenco, Naomi Scott (Power Rangers, Aladdin, As Panteras) está muito bem, e consegue trazer a intensidade necessária a uma personagem desesperada porque não consegue controlar suas alucinações. A personagem dela tem um detalhe interessante: ela tem um passado de uso de drogas, então para as pessoas em volta, essas alucinações poderiam ser algo ligado a isso. Ainda no elenco, uma curiosidade: o namorado da protagonista, morto no acidente, é interpretado por Ray Nicholson, filho de um tal de Jack Nicholson.

O fim do filme abre um gancho pra um terceiro filme que tem o potencial de expandir essa proposta da maldição que passa de pessoa pra pessoa. Pode ser legal, mas pode dar muito errado. Aguardemos.

Todo Tempo que Temos

Crítica – Todo Tempo que Temos

Sinopse (imdb): Após um encontro inusitado, uma talentosa chef de cozinha e um homem recém-divorciado se apaixonam e constroem o lar e a família que sempre sonharam, até que uma verdade dolorosa põe à prova essa história de amor.

Quando vi o trailer do Todo Tempo que Temos (We Live in Time, no original), imaginei que seria um dramalhão daqueles que fazem todo o cinema se debulhar em lágrimas. Não sou muito fã do gênero (não curto filmes sobre gente doente), mas resolvi encarar. E posso dizer que me surpreendi positivamente.

Como diz no cartaz do filme dirigido por John Crowley (Brooklyn), “cada minuto conta”, ou seja, já sabemos que teremos uma história de um casal muito apaixonado, onde um dos dois descobre uma doença terminal. Ok, isso é clichê. Mas o roteiro de Todo Tempo que Temos consegue apresentar essa história fora da ordem cronológica, e assim conseguiu burlar o “clímax chororô”, e ainda deu um ótimo ritmo ao filme. Detalhe: em nenhum momento vemos indicações de tempo (tipo “um ano antes”, “dois meses depois”), e mesmo assim dá pra entender tudo.

Além do roteiro, outro trunfo de Todo Tempo que Temos é o casal principal. Andrew Garfield e Florence Pugh estão ótimos, e têm uma boa química juntos. E o filme explora bem o relacionamento dos dois, quase o filme todo é só com os dois, tanto que fiquei me perguntando quem seriam os principais coadjuvantes, e só consigo pensar na filha do casal e na assistente da Florence. (Curiosidade: ambos estão na Marvel, Garfield foi o segundo Homem Aranha; Florence é a Yelena, irmã da Viúva Negra, e estará ano que vem em Thunderbolts).

Agora, preciso dizer que este não é o meu estilo de filme. Li uns comentários no imdb de gente reclamando que as idas e vindas na linha temporal teriam atrapalhado o envolvimento emocional do espectador com os personagens. Ou seja, o que pra mim foi um ponto positivo, tem gente achando que é um defeito. Sei lá, prefiro sofrer menos. Afinal, pra mim, “cinema é a maior diversão”!

Super/Man: A História de Christopher Reeve

Crítica – Super/Man: A História de Christopher Reeve

Sinopse (imdb): Documenta a ascensão de Christopher Reeve ao estrelato como Super-Homem, bem como sua luta para encontrar uma cura para lesões na medula espinhal depois que ele ficou tetraplégico após um acidente de cavalo.

Não sou muito fã de documentários, mas alguns amigos recomendaram este, então fui ver.

Sou um “nerd velho”, claro que fui impactado pelo Superman de 1978, e claro que me lembro do acidente que deixou o ator tetraplégico nos anos 90. Mas, vamos a uma contextualização, de repente tem alguém novo aqui que não viveu esses acontecimentos.

No fim dos anos 70, não existia o gênero “filme de super herói”. Ninguém fazia filmes assim. Digo mais: os efeitos especiais da época não permitiam mostrar de maneira convincente uma pessoa voando. Aí em 1978 estreou o filme Superman, dirigido por Richard Donner (A Profecia, Os Goonies, Máquina Mortífera, O Feitiço de Áquila), que acertou tão em cheio que até hoje está presente em listas de melhores filmes de super heróis da história.

O Superman era interpretado por um até então desconhecido, um tal de Christopher Reeve, que ficou muito marcado pelo papel – ele voltou a interpretar o Superman em três continuações, em 1980 (bom filme), 83 (filme mais ou menos) e 87 (filme péssimo!). E se por um lado o ator não teve nenhum outro filme marcante no seu currículo (talvez só Em Algum Lugar do Passado, de 1980), por outro lado nunca houve um Superman tão marcante quanto Christopher Reeve.

E, ironias do destino, ele sofreu um acidente em 1995, caindo de um cavalo, e ficou tetraplégico. Para o mundo do entretenimento, foi um choque, porque “o Superman” estava de cadeira de rodas!

Dirigido por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui, Super/Man: A História de Christopher Reeve (Super/Man: The Christopher Reeve Story, no original) conta essa história. E conta de maneira emocionante, vai ser difícil o nerd velho segurar o choro durante a sessão! Heu me lembrava de algumas coisas, e mesmo assim, foi emocionante rever, tipo a cerimônia do Oscar onde ele aparece, pouco depois do acidente, e é aplaudido de pé por gente como Tom Hanks, Meryl Streep, Tom Cruise, Brad Pitt, Quentin Tarantino, Will Smith, Nicole Kidman, Jim Carrey, Nicolas Cage, Winona Ryder, etc. E tem coisas que heu não sabia, como por exemplo o quanto Christopher Reeve era próximo de Robin Williams (eles eram amigos desde antes da fama) – a ponto de ter um depoimento da Susan Sarandon dizendo que se Reeve não tivesse morrido, era capaz de Williams não cometer suicídio. (O filme conta com depoimentos de gente como Sarandon, Glenn Close, Jeff Daniels e Whoopi Goldberg, além de membros da família).

Mas preciso dizer que achei que Super/Man tem um problema. A segunda metade é menos interessante. Na primeira metade, vemos a ascensão da carreira de Reeve e depois detalhes sobre o acidente e sua recuperação. Depois o filme foca mais na procura de soluções para os problemas ligados a tetraplégicos e no instituto criado pelo ator. Ok, é uma coisa importante, mas, convenhamos, a história do ator que virou “o Superman mais icônico do cinema” é muito mais interessante do que as conquistas de um instituto.

O filme também entra em problemas ligados à família de Reeve. Mais uma vez, são problemas reais, é válido abordar isso no filme, mas não tem o mesmo impacto da primeira metade. O ritmo do filme cai. Talvez se a gente estivesse vendo na TV num formato de minissérie, funcionasse melhor.

Mesmo assim, vale ser visto Super/Man é um produto originalmente feito para a TV, mas estará em cartaz nos cinemas. Obrigatório para os “nerds velhos”!

Canina

Crítica – Canina

Sinopse (imdb): Uma mulher interrompe sua carreira para se tornar uma mãe que fica em casa, mas logo sua vida doméstica dá uma guinada surreal.

A divulgação deste Canina (Dogbitch, no original) falava de um filme onde a Amy Adams virava um cachorro. Essa ideia pode gerar um bom filme de terror, algo na pegada de um filme de lobisomem. Ou podia gerar uma comédia engraçada, com todos os absurdos que surgiriam desta proposta.

Nada disso. Canina é um drama que fala da maternidade e de tudo o que a mulher abre mão para cuidar do(s) filho(s).

Baseado no livro de Rachel Yoder e dirigido por Marielle Heller, Canina até tem cenas engraçadas – em alguns momentos rolavam gargalhadas no cinema. Mas o maior foco é o drama que a protagonista passa, e o dilema que ela vive – ela deve voltar à vida que levava antes de ser mãe, ou agora o foco deve ser 100% seu filho?

O melhor de Canina é a Amy Adams, que se entrega ao papel e faz o filme valer a pena. Amy já concorreu ao Oscar seis vezes e nunca ganhou, será que ano que vem vem uma nova indicação? Scoot McNairy faz o marido, um papel bem secundário.

Mas, no geral, achei o filme meio bobo. Porque todas as agruras da maternidade apresentadas no roteiro de Canina já foram contadas outras vezes, e de formas mais criativas. Canina se vende como algo diferente, mas é mais do mesmo.

Stopmotion

Crítica – Stopmotion

Sinopse (imdb): Segue uma animadora de stop-motion que luta para controlar seus demônios após a perda de sua mãe autoritária.

Outro filme da Shudder no Festival do Rio. Bora!

Ella, nossa protagonista, trabalha com a mãe abusiva num filme de stop motion. A mãe foi uma grande cineasta no gênero, e agora está com uma doença onde não pode usar as mãos. Quando a mãe adoece e entra em coma, Ella resolve terminar seu filme, mas, por influência de uma menina vizinha, resolve largar o projeto da mãe e criar outro filme.

Stopmotion é a estreia em longas do diretor Robert Morgan, que já fez alguns curtas fantásticos usando animação em stop motion (mas que infelizmente não vi nenhum). Seu longa tem atores reais, mas o filme traz várias sequências usando a técnica de animação, e são sequências muito boas – talvez seja o melhor do filme. Aliás, não só as sequências em stop motion. Os efeitos especiais são muito bons, tem um onde o rosto da protagonista “vira” massinha de modelar que ficou com um visual impressionante.

(Uma curiosidade: embora possa parecer estranho, usar carne para stop motion é uma técnica real usada pela lenda do stop motion Jan Svankmajer.)

Por outro lado, a história é hermética, aquele estilo de trama cheia de simbolismos, onde o espectador termina o filme sem entender muita coisa. A partir de um momento, a história entra numa espiral crescente de loucura que, quando chega no fim, a gente fica com vontade de catar o “manual de instruções”.

A atriz principal é Aisling Franciosi, que estava recentemente em Não Fale o Mal, e que também fez A Última Viagem do Demeter (temos uma nova scream queen?). Ela está bem, ela convence quando sua personagem pira na batatinha.

Queria falar de teorias sobre o final do filme, mas entraria em spoilers, então não vou por este caminho. Só digo que gostei da parte técnica, mas por outro lado, a trama cheia de simbolismos me cansou.

Emilia Pérez

Crítica – Emilia Pérez

Sinopse (imdb): No México, uma advogada recebe uma oferta inesperada para ajudar um temido chefe de cartel a se aposentar de seus negócios e desaparecer para sempre, tornando-se a mulher que ele sempre sonhou ser.

Filme de abertura do Festival do Rio, Emilia Pérez traz uma advogada que é levada à presença de um chefe de cartel que deseja se transformar em uma mulher e precisa de ajuda para conseguir o seu objetivo. E, um detalhe importante: é um musical. Sim, mistura a brutalidade do tráfico de drogas com a leveza de um musical.

O filme co-escrito e dirigido por Jacques Audiard ganhou dois prêmios em Cannes: prêmio do júri, e um prêmio conjunto de melhor atriz, dividido entre Zoe Saldaña, Selena Gomez, Karla Sofía Gascón e Adriana Paz. Todas estão bem, mas, na minha humilde opinião, Zoe Saldaña é a que mais se destaca. Ela canta, dança, faz coreografias, interpreta em espanhol, ela realmente está impressionante.

(Aliás, achei curioso ver que o filme é quase todo em espanhol, e duas das três atrizes principais têm ascendência latina, mas nasceram nos EUA. Zoe Saldaña fala espanhol fluente, mas Selena Gomez de vez em quando soltava algumas frases em inglês. Segundo o imdb, Selena disse em entrevistas que não é fluente e que não estava satisfeita com o seu espanhol.)

O melhor de Emilia Pérez é a parte musical. Outro dia falei mal de Coringa Delírio A Dois, onde as músicas não empolgavam; aqui foi o oposto. Não sou fã do estilo das músicas, mas mesmo assim saí do cinema com vontade de procurar a trilha sonora. E as cenas de dança e coreografia são impressionantes e contribuem significativamente para a narrativa visual do filme. Isso sim é um musical de verdade!

Teve um detalhe que não gostei muito: achei que a personagem título muda de personalidade muito rapidamente. Era uma pessoa violenta, de repente vira uma santa, de repente volta a ser violenta… Ok, o filme nos mostra fatos que teriam gerado essas mudanças de comportamento, mas mesmo assim achei as mudanças muito abruptas.

Filmão, saí da sala com vontade de rever. Pena que, como acontece de vez em quando no Festival do Rio, Emilia Pérez vai ser um daqueles filmes que vou falar sozinho por um tempo. Segundo o imdb, só estreia aqui no Brasil em fevereiro de 2025…

Coringa: Delírio a Dois

Crítica – Coringa: Delírio a Dois

Sinopse (imdb): O comediante fracassado Arthur Fleck conhece o amor de sua vida, Harley Quinn, enquanto está encarcerado no Arkham State Hospital. Os dois embarcam em uma desventura romântica condenada.

2019 tivemos Coringa, que parecia uma ideia arriscada: um filme do Coringa mas sem o Batman. Ideia arriscada, mas que deu muito certo: foi um sucesso de público e de crítica, e ainda ganhou dois Oscars entre onze indicações.

Cinco anos depois, o mesmo diretor Todd Phillips apresenta a continuação, Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux, no original), desta vez um musical, e com a Lady Gaga como Arlequina.

E ver o segundo filme dá vontade de rever o primeiro e esquecer que fizeram uma continuação…

Vamos começar pela parte musical. Não tenho nada contra musicais, sou fã de vários. Mas sempre que lembro de musicais, lembro de músicas e de cenas “pra cima”, sempre alto astral – Pequena Lojas dos Horrores, Rock of Ages, Hairspray, Hair, La La Land, Across The Universe, The Rocky Horror Picture Show, O Rei do Show, heu sempre saio do filme empolgado pelas músicas e coreografias. Mesmo quando o tema do filme é barra pesada, como Rent, a parte musical é empolgante. Os Miseráveis, que não gostei por achar longo e cansativo, tem músicas em momentos tensos, mas mesmo assim são cenas memoráveis. E aqui não, todos os momentos musicais são “pra baixo”, e acabam sendo números chatos. E ainda tem um agravante: as músicas usadas são conhecidas, são standards clássicos, de gente como Frank Sinatra e Burt Bacharach. E mesmo com músicas conhecidas, os arranjos ficaram quase todos ruins.

Provavelmente não foi o primeiro “musical deprê” da história, mas isso pra mim foi um ponto negativo. A ponto de, em determinado momento do filme, quando ia começar uma música, heu pensava “não, de novo não!”

Vamos para outro problema, que é o protagonista. O Coringa é um personagem fascinante porque é desequilibrado e imprevisível. E aqui ele está apático. Joaquin Phoenix está bem, mas o personagem não está. Não vou nem comparar com outras versões, como o Coringa do Heath Ledger, estou falando do próprio Joaquin Phoenix. Depois da sessão de imprensa, ouvi um amigo crítico que falou uma frase que resume isso: “em determinado momento de filme, eu estava vendo o filme do Coringa há duas horas, e estava há duas horas esperando o Coringa aparecer”.

Pra “fechar a tampa”, a Arlequina da Lady Gaga não é boa. Duvido que alguém veja o filme e pense na Arlequina, todos vão ver a Lady Gaga na tela.

Agora, apesar disso tudo, Coringa: Delírio a Dois não é exatamente ruim. Tecnicamente falando, é muito bem feito. A reconstituição de época é perfeita. A fotografia enche os olhos, são várias cenas belíssimas. A trilha sonora da parte “não musical” é muito boa, mais uma vez a cargo de Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar pela trilha do primeiro filme). E tem um plano sequência sensacional na parte final do filme.

Mas, repito, é um filme longo demais, e essa proposta cansou. São duas horas e dezoito minutos. Talvez se o filme tivesse meia hora a menos (meia hora de músicas a menos!), acho que a galera ia curtir bem mais.

Por fim, não tem cena pós créditos, mas tem um desenho animado na abertura. O desenho não é engraçado e não se conecta com o filme. Pra que esse desenho? Não sei. Por mim, deveria ser cortado do filme.

Pacto de Redenção

Crítica – Pacto de Redenção

Sinopse (imdb): Quando um assassino profissional descobre que tem uma forma de demência que evolui rapidamente, ele tem a oportunidade de se redimir salvando a vida do filho adulto com quem estava afastado.

Pacto de Redenção (Knox Goes Away, no original) parece um thriller à moda antiga: uma boa história, usando um bom elenco. Sem pirotecnias, apenas uma boa história sendo contada por alguns bons atores.

A direção é de Michael Keaton, seu segundo filme como diretor. Não entendi por que ele resolveu dirigir, mas podemos dizer que ele faz um trabalho correto. O roteiro de Gregory Poirier é bem estruturado. A gente vê as peças soltas do quebra cabeças, mas pelo menos heu não consegui descobrir qual era o plano do cara antes do final, achei muito bem bolada a solução.

Sobre o elenco, o marketing está vendendo Pacto de Redenção como um filme estrelado por Michael Keaton e Al Pacino. Como sempre, Pacino está ótimo, mas aparece em poucas cenas. Seu personagem é importante, mas é daquele tipo de papel que provavelmente o ator fez em uma ou duas diárias. Agora, preciso destacar positivamente a atuação de Keaton e também de James Marsden, que faz seu filho, um cara que cometeu um erro grave e isso está afetando todo o seu comportamento. Ambos estão excelentes. Por outro lado, achei bem fraca a personagem da policial interpretada por Suzy Nakamura. Também no elenco, Joanna Kulig, Lela Loren e Marcia Gay Harden.

Não achei o final ruim, mas heu cortaria alguns minutos. Tem uma sequência final mostrando uma conclusão meio óbvia. Nada grave, felizmente. Por outro lado, gostei de como o filme mostra a progressão da doença do protagonista.

Pacto de Redenção não é um grande filme, não estará em listas de melhores do ano. Mas, em meio à mediocridade que é despejada no circuito, é uma boa opção. Dificilmente alguém sairá decepcionado da sala de cinema.

Tipos de Gentileza

Crítica – Tipos de Gentileza

Sinopse (imdb): Um homem procura libertar-se do seu caminho predeterminado, um policial questiona o comportamento da sua esposa após um suposto afogamento e a busca de uma mulher para localizar um indivíduo profetizado para se tornar um guia espiritual.

Olha que surpresa agradável: menos de um ano depois do sensacional Pobres Criaturas, já tem filme novo do Yorgos Lanthimos em cartaz!

Antes de entrar no filme, um aviso aos desavisados: Yorgos Lanthimos não costuma fazer filmes convencionais. Temática fora do convencional, personagens fora do convencional, visual fora do convencional. Heu não sabia nada sobre Tipos de Gentileza (Kinds of Kindness, no original), mas sabia que provavelmente iria encontrar um filme esquisitão.

E Tipos de Gentileza é por aí. São três histórias, independentes entre si, todas elas com temas malucos. Na primeira vemos um funcionário completamente submisso ao rico patrão, a ponto de, quando é dispensado por ele, topa fazer qualquer coisa para voltar a ser a sua “marionete”. Na segunda, uma mulher se acidenta e passa um tempo desaparecida, e quando volta, seu marido acha que ela é uma impostora. E a terceira traz um culto que está procurando uma pessoa com poderes sobrenaturais.

(Como quase sempre em um filme dividido em histórias independentes, o resultado é irregular, achei a segunda história mais fraca que as outras duas.)

Detalhe interessante: é o mesmo elenco, fazendo personagens diferentes. O trabalho de atuação e construção de personagens ficou excelente, você vê o mesmo ator, mas claramente é outro personagem, não dá nem pra pensar “ah, será que se passou um tempo e ele agora está diferente?”. Willem Dafoe e principalmente Jesse Plemons estão sensacionais. Também no “elenco de multiverso”, Emma Stone, Margaret Qualley, Hong Chau e Mamoudou Athie. Ah, o xará do diretor, Yorgos Stefanakos, é o único que faz o mesmo personagem nas três histórias.

Tipos de Gentileza abre espaço pra várias discussões comportamentais – nas três histórias, temos personagens dispostos a atitudes extremas em busca de aceitação. E é um filme que deixa pontas soltas pro espectador conectar como preferir. Mais uma vez, um filme de Yorgos Lanthimos deixa a gente pensando quando acaba a sessão…

A trilha sonora é de Jerskin Fendrix, sua segunda trilha, sendo que concorreu ao Oscar pela primeira (Pobres Criaturas). Se a outra trilha é muito estranha, essa daqui é ainda mais. Muitas vezes parece que tem um gato passeando em cima das teclas do piano. Trilha muito estranha, mas heu gostei.

O filme é longo, são duas horas e quarenta e quatro minutos. Não achei que precisava ser tão longo. Mas, não me cansou, talvez por serem três histórias independentes.

Por fim, tem uma cena no meio dos créditos, com o “coadjuvante quase principal” RMF.

A Substância

Crítica – A Substância

Sinopse (imdb): Uma celebridade em decadência decide usar uma droga do mercado negro, uma substância que replica células e cria temporariamente uma versão mais jovem e melhor de si mesma.

A ideia aqui era boa: uma estrela de um programa de fitness na TV está ficando velha, então oferecem a ela uma misteriosa substância que criaria uma nova versão dela, mais jovem. Essa substância vem com regras estritas, que claro que não serão seguidas, e claro que coisas vão dar errado. Uma bela crítica à exploração do corpo feminino pela mídia e ao etarismo.

É um filme fantástico, essa tal substância não tem nada ligado à ciência, não existe um laboratório ou uma clínica ou acompanhamento de médicos. Não tem nem uma cobrança financeira pelo tratamento! Aliás, fiquei pensando, se heu recebesse um daqueles kits, heu não saberia fazer aquela auto-aplicação.

A direção e o roteiro são de Coralie Fargeat, que em 2018 fez Vingança, filme que tinha uma premissa simples mas muito bem executada (uma mulher é estuprada e se vinga de seus agressores). Aqui é outra pauta feminista, mais uma vez muito bem executada.

Todo o visual do filme é muito bom. Cores, ângulos de câmera, edição, trilha sonora, efeitos sonoros, tudo carrega a trama num modo hipnotizante – são duas horas e vinte minutos de filme que fluem muito rápido. De quebra o fã de terror ainda vai encontrar várias referências, como a seringa de Re-Animator, o corredor de O Iluminado, os alienígenas de Bad Taste, o monstro de O Enigma de Outro Mundo, o banho de sangue de Carrie a Estranha

A Substância (The Substance, no original) traz diversas cenas visualmente bem desagradáveis, seja mostrando ferimentos, seja quando um personagem simplesmente mastiga a sua refeição (lembro de uma cena parecida em Vingança, Coralie consegue transformar o simples mastigar em algo nojento). A maquiagem é um dos destaques, usando o chamado “body horror”, que é quando vemos imagens que causam repulsa. Talvez isso afaste parte do público, mas, é algo que faz parte da história.

Mas acho que o maior destaque são as duas atuações principais. Tanto Demi Moore quanto Margaret Qualley estão ótimas! Demi Moore estava meio sumida, e heu diria que esse papel tem tudo a ver com ela, que era uma das mulheres mais bonitas da sua geração, e agora, com 61 anos (continua linda, diga-se de passagem), deve estar enfrentando problemas semelhantes aos de sua personagem.

Aliás, foi uma atuação, digamos, corajosa da Demi Moore, que faz várias cenas onde ela está nua – e não é nudez gratuita, se ela estivesse vestida, seriam cenas estranhas (assim como a sequência final de Vingança, onde o ator está completamente nu num longo plano sequência).

O principal papel masculino é de Dennis Quaid, que está caricato, mas todos os personagens masculinos aqui são caricatos. Faz parte da proposta. (Esse papel seria de Ray Liotta, que faleceu antes das filmagens começarem. Seu nome aparece nos créditos como uma homenagem.)

Não gostei da parte final. Vou falar, mas vou colocar aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A protagonista gera uma cópia. No fim do filme, a cópia está se deteriorando e resolve fazer uma cópia da cópia, e isso gera um monstro. E essa versão monstruosa vai para o estúdio de TV e entra no programa ao vivo. Pra mim, essa parte do estúdio enfraqueceu o filme, nunca deixariam ela entrar na transmissão ao vivo daquele jeito. Ok, vira um banho de sangue, isso foi legal de ver, mas, essa sequência destoou do que a gente tinha visto até então. Por mim, era melhor cortar toda a parte do estúdio, e deixar só o finzinho – a cena final é boa.

FIM DOS SPOILERS!

Filmaço. A Substância é daquele tipo de filme que fica na sua cabeça por dias depois de ter visto. Agora quero esperar estrear pra poder rever.