MaXXXine

Crítica – MaXXXine

Sinopse (imdb): Na década de 1980, em Hollywood, a estrela de cinema adulto e aspirante a atriz Maxine Minx recebe sua grande chance. Mas conforme um assassino persegue as estrelas de Hollywood, um rastro de sangue ameaça revelar o passado sinistro dela.

Estreou o aguardado terceiro filme da trilogia X!

Em 2022 Ti West lançou X, um bom slasher com cara de anos 70. Poucos meses depois, tivemos Pearl, um prequel, contando a história da velhinha do filme anterior. MaXXXine é o filme que segue a história de X. Ou seja, é bom ter visto Pearl, mas é essencial ter visto X.

Antes de tudo, preciso dizer que MaXXXine é um bom filme, mas achei o mais fraco dos três. Mas reconheço que parte dessa conclusão é head canon. Porque fui ao cinema esperando ver um terror slasher, e MaXXXine é mais um suspense tentando emular Brian de Palma do que um filme de terror – só vemos três mortes em tela! MaXXXine tem muito menos mortes, nudez e sexo do que X.

Mas, por outro lado, tiro o meu chapéu para Ti West com a sua concepção de trilogia. Em vez de fazer “mais do mesmo”, que é o que a maior parte do público esperava (não me lembro qual filme dizia que uma continuação de filme de terror apenas precisa se preocupar sem ter mais mortes e mais violência gráfica), Ti West criou três filmes distintos, com propostas diferentes. X parece um slasher filmado nos anos 70. Já Pearl tem outro ritmo e parece ter sido feito nos anos 40 ou 50 (peço desculpas, conheço pouco do cinema dessa época). MaXXXine parece um suspense policial filmado nos anos 80. Sim, é a mesma personagem do primeiro filme, mas são filmes completamente diferentes nas suas propostas.

(Lembrei de A Morte te Dá Parabéns, que tem uma continuação completamente diferente do primeiro filme.)

Nesse sentido de ambientação nos anos 80, palmas para Ti West. Tudo aqui emula os anos 80, não só os óbvios figurinos, penteados e trilha sonora. O filme realmente parece ter sido feito naquela época. Segundo o imdb, a produção procurou equipamentos e câmeras usadas nos anos 80, e evitaram “truques modernos” durante as filmagens.

MaXXXine é recheado de referências a outros filmes. Quando sair no streaming, devem pipocar alguns vídeos no youtube tipo “10 referências que você não reparou em MaXXXine!”. Algumas estão muito na cara, como o Kevin Bacon de terno claro e curativo no nariz, igual ao Jack Nicholson em Chinatown; ou citarem Marilyn Chambers, que era atriz pornô e fez um filme de terror em 1977, Rabid, dirigido por David Cronenberg. Outras são menos óbvias, teve uma que comentei com alguns amigos depois da sessão e ninguém tinha reparado. Tem uma cena em uma boate que lembra muito Dublê de Corpo, e está tocando uma música muito parecida com Relax, do Frankie Goes to Hollywood (música usada no Dublê de Corpo). Aguardei até os créditos e confirmei: é outra música do Frankie Goes to Hollywood. Ti West provavelmente usou a mesma banda pra fazer mais uma referência.

(Aliás, em alguns momentos vemos a tela dividida, justamente como Brian de Palma costumava fazer.)

O elenco tem muito mais star power do que os anteriores (X tinha a Jenna Ortega, mas antes do hype de Wandinha). MaXXXine conta com Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito, Kevin Bacon, Michelle Monaghan, Sophie Thatcher, Bobby Cannavale, Halsey e Lily Collins, além, claro da Mia Goth, que, mais uma vez, está muito bem no papel – logo no início, na audição para o papel, ela já mostra que é muito boa. Ah, não sei vocês, mas toda vez que o Kevin Bacon aparecia, heu achava que era o Ethan Hawke.

Sou poucas mortes, mas temos uma violência gráfica bem forte. Diria que tem uma cena em particular onde não morre ninguém que é a mais forte de todas, que é quando Maxine se defende de um agressor atacando suas partes íntimas. Essa cena vai dar o que falar!

Agora, vamos ao principal problema do filme. Quando X acaba, policiais encontram uma câmera no meio de vários cadáveres. MaXXXine se passa seis anos depois, a Maxine Minx hoje é uma estrela pornô. Mas ela estava nas filmagens encontradas, e todas as outras pessoas que aparecem nas filmagens morreram. Como é que não teve uma investigação policial sobre isso? Como é que conseguiram abafar um caso desse porte? MaXXXine dá a entender que existe alguém poderoso por trás, mas se essa pessoa é tão poderosa a ponto de apagar uma investigação policial envolvendo sete mortos, acho que o roteiro deveria ter deixado isso mais claro. Do jeito que ficou, parece que o que aconteceu no final de X foi algo pequeno e discreto.

Além disso, não gostei do final de MaXXXine. Achei toda aquela sequência mal construída, mas não entro em detalhes pra não dar spoilers.

Mas, mesmo achando MaXXXine um degrau abaixo dos outros dois, podemos dizer que Ti West fez uma boa trilogia. MaXXXine estreia semana que vem, dia 11 de julho, e merece ser visto no cinema.

Um Lugar Silencioso – Dia Um

Crítica – Um Lugar Silencioso – Dia Um

Sinopse (imdb): Uma mulher vive os aterrorizantes primeiros minutos de uma invasão alienígena na cidade de Nova York.

Hollywood gosta de franquias. Um terceiro filme de Um Lugar Silencioso não chega a ser surpresa. A Paramount disse que seria um prequel, mas pra mim Um Lugar Silencioso – Dia Um é um spin off, já que vemos outros personagens no mesmo universo.

Meu medo era a troca de diretor. John Krasinski deu lugar a Michael Sarnoski (que dirigiu Pig, um dos melhores filmes recentes do Nicolas Cage). Mas podemos dizer que Sarnoski fez um bom trabalho.

Somos apresentados à protagonista, interpretada pela Lupita Nyong’o (não me lembro se ela tem nome), que está numa clínica tratando um câncer terminal. Os pacientes vão até a cidade de Nova York pra assistir a uma peça de teatro, quando chegam os monstros alienígenas e começam a destruir tudo.

Essa parte “filme catástrofe” é muito boa. São sequências tensas, e a parte técnica é perfeita. Lembrei da franquia Alien: no primeiro filme, mal vemos o monstro, mas nas continuações temos uma grande quantidade deles. Aqui e o mesmo, são dezenas de monstros espalhados, destruindo tudo. Tem uma cena em plano sequência, da Lupita andando meio sem destino no meio do caos, que é talvez a melhor sequência do filme.

Mas aí acabam as sequências de catástrofe e o filme muda. Caímos num momento drama que achei meio arrastado. E então algumas conveniências de roteiro começaram a me incomodar. Vou citar duas delas aqui.

A primeira é sobre como funciona a audição dos monstros. Parece que a audição é mais ou menos apurada dependendo do que o roteiro pede. Um exemplo: em uma cena, o som de uma roupa se rasgando é suficiente pra rapidamente atrair o monstro. Mas em outra cena vemos centenas, talvez milhares de pessoas andando, e os monstros demooooram pra aparecer… Tem uma outra cena onde um personagem está quebrando vidros de carros pra disparar alarmes e atrair os monstros, e outro personagem chuta uma latinha – e TODOS os monstros param de seguir os alarmes pra irem na direção da latinha!

(Tem um detalhe que parece que não viram os filmes anteriores. As pessoas andam descalças e pisam de um modo a fazer menos barulho. Aqui o personagem do Joseph Quinn anda de sapato social por mais da metade do filme. Não era melhor alguém ter dito pra ele andar descalço?)

Outra conveniência de roteiro é o gato. Tem um gato que acompanha a Lupita ao longo de todo o filme. Mas tem cenas onde o gato não está. Então a gente combina assim: se der pra aparecer, a gente coloca o gatinho. Mas se for complicado, tipo uma cena debaixo d’água, a gente deixa de lado e depois mostra o gatinho molhado. Ah, detalhe: o gato não mia!!!

Tem um outro probleminha, nada grave, mas, nós, espectadores, sabemos que os monstros são extremamente sensíveis aos sons, então é importantíssimo que se fique em silêncio. Mas, os personagens do filme “ainda” não sabem. Achei que o início foi meio abrupto nesse sentido, podiam ter desenvolvido melhor esse novo perigo desconhecido.

Assim como nos outros filmes, o elenco é pequeno e funciona bem. Quase todo o filme fica em cima da Lupita Nyong’o e do Joseph Quinn, e tem pequenas participações de Alex Wolff e Djimon Hounsou.

Apesar dessas “roteirices”, Um Lugar Silencioso – Dia Um não é de todo ruim. Vai agradar os menos exigentes.

Guerra Sem Regras / The Ministry of Ungentlemanly Warfare

Crítica – Guerra Sem Regras / The Ministry of Ungentlemanly Warfare

Sinopse (imdb): O exército britânico recruta um pequeno grupo de soldados altamente qualificados para atacar as forças nazistas atrás das linhas inimigas durante a Segunda Guerra Mundial.

Pensa num cara que tem trabalhado muito. De 2019 pra cá, Guy Ritchie dirigiu Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco, O Pacto, os dois primeiros episódios da série Magnatas do Crime, e já tem filme novo dele este ano, este Guerra Sem Regras (The Ministry of Ungentlemanly Warfare, no original).

Heu gosto muito do Guy Ritchie, mesmo sabendo que ele desde o início da carreira parecia ser um “sub Tarantino” – Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch são dois filmes excelentes, mas que trazem muitas semelhanças com a “cartilha tarantinesca”. E parece que agora Ritchie quis fazer o seu Bastardos Inglórios.

Vejam bem, heu aceito filmes que de certa maneira copiam outros. Mas, o filme precisa ser bom. E, infelizmente, Guerra Sem Regras tem seus problemas.

Guerra Sem Regras começa bem. Diria que até a metade o filme é bom. A cena inicial, onde somos apresentados ao grupo dos “bastardos inglórios da segunda divisão”, é muito boa. Conhecemos um grupo de “matadores de nazistas” que realmente existiu na vida real – se as coisas aconteceram como no filme, aí já é outra história, mas essas pessoas realmente existiram. O grupo precisa sabotar um grande navio nazista, numa missão tão secreta que nem a marinha britânica podia saber.

A trama se divide em dois grupos – temos os homens num barco, indo até a costa da África, enquanto uma mulher, em terra, precisa seduzir um oficial nazista. E é com essa personagem que está o pior problema de Guerra Sem Regras. Porque todos vão se lembrar de uma cena icônica em Bastardos Inglórios, onde um infiltrado entre os nazistas é descoberto por um detalhe. Aqui acontece EXATAMENTE a mesma coisa. Caramba, “copia, mas não faz igual!”

Depois disso passei a ter menos tolerância com alguns pequenos problemas que heu relevaria se o filme estivesse fluindo bem, como uma inexplicável troca de roupa da personagem da Eiza Gonzalez no meio da festa. Ou, ainda pior: cortam a energia elétrica do local, mas deixam a festa dos oficiais iluminada por lamparinas pra eles não repararem que a base está sem luz. Mas, a Eiza está cantando no microfone! Como aquele microfone está ligado se não tem energia elétrica??? E, pra piorar, a cena final é confusa, a gente vê muitos tiros e explosões, mas é difícil de entender tudo o que está acontecendo.

Sobre o elenco, Henry Cavill está bem, e preciso reconhecer que gostei do Alan Ritchson, que tinha se mostrado um ator péssimo na série Reacher. Por outro lado não gostei da Eiza González, mas não sei se o problema está na atriz ou na personagem. Ah, preciso citar: Til Schweiger é o oficial nazista. Sim, ele mesmo, que estava em Bastardos Inglórios.

Pena, porque o filme começou bem, a reconstituição de época é muito boa, e temos algumas cenas de ação muito bem coreografadas e bem filmadas. Faltou pouco pra ser um “Bastardos lado B”.

Por fim, uma curiosidade: Ian Fleming, um dos oficiais britânicos, é o criador do James Bond. Rumores dizem que ele criou o seu famoso personagem inspirado em Gus March-Phillips, protagonista aqui (personagem do Henry Cavill).

Guerra Sem Regras será lançado em breve no Prime Vídeo…

Clube dos Vândalos

Critica – Clube dos Vândalos

Sinopse (imdb): Acompanha a ascensão de um clube de motociclistas do meio-oeste americano por meio da vida de seus membros.

Clube dos Vândalos (The Bikeriders, no original) se inspira no livro “The Bikeriders”, lançado em 1967 pelo fotógrafo Danny Lyon, pra mostrar a criação do moto clube Vandals, na Chicago dos anos 60. O elenco é ótimo, a reconstituição de época é perfeita, a trilha sonora é boa. Mas…

Senti que falta história pra ser contada. Clube dos Vândalos foi escrito e dirigido por Jeff Nichols, diretor que já está por aí há algum tempo, mas heu ainda não tinha visto nada dele. Me pareceu que ele quis emular o estilo do Scorsese e criar um filme de gangsters, dentro de um moto clube. Acertou na parte da ambientação, mas faltou história. São quase duas horas acompanhado a vida daqueles caras, mas a trama não te leva pra lugar algum. Simplesmente vemos um retrato da vida daquelas pessoas.

Pelo que entendi, o livro “The Bikeriders” é um livro só de fotos, sem texto. Sendo assim, temos um caso diferente de roteiro adaptado, já que o livro base só tem imagens (durante os créditos, inclusive, rolam algumas das fotos originais). Deve ser por isso que o filme não tem exatamente uma historia a ser contada. Ou seja, temos um belo visual, boa fotografia, bons figurinos, boa reconstituição de época – mas o roteiro em si é fraco.

Outro problema é no elenco. São vários grandes atores, mas senti que alguns estão sub aproveitados. O protagonismo é bem dividido entre três personagens – Jodie Comer, Austin Butler e Tom Hardy. Heu diria que, se tem um principal, seria a Kathy da Jodie Comer, que inclusive narra parte dos acontecimentos. Jodie está bem, assim como Tom Hardy. Mas achei curioso ver que Austin Butler, que abre o filme e aparenta ser o principal, é um personagem de certa forma descartável, tanto que em determinado momento ele sai de cena e o filme segue. Caramba, o cara acabou de ser indicado ao Oscar por Elvis e foi uma das melhores coisas de Duna 2, e aqui ele é desperdiçado. O mesmo posso dizer sobre Michael Shannon, que faz um papel que qualquer ator faria. Também no elenco, Mike Faist, Boyd Holbrook e Norman Reedus.

Apesar dessas críticas, Clube dos Vândalos não é ruim. Grandes atores criam bons personagens, e como falei, a ambientação de época é ótima. mas, se tivesse um fio guiando a trama, seria um filme bem melhor.

Os Observadores

Crítica – Os Observadores

Sinopse (imdb): Quando Mina fica perdida em uma floresta na Irlanda ela acaba encontrando três estranhos que são perseguidos por criaturas misteriosas todas as noites.

Estreia na direção da filha do Shyamalan, Ishana Shyamalan. Podemos dizer que ela se parece com pai – no bom e no mau sentido.

Antes de tudo, preciso dizer que a expectativa estava lááá embaixo, porque Os Observadores (The Watchers, no original) não teve sessão de imprensa, e a divulgação estava muito fraca. Normalmente quando isso acontece é porque a distribuidora não acredita no potencial do filme. Aí o filme é mal lançado, fica uma semana em cartaz, em poucas salas, e já sai de cena. Fui checar agora, na segunda semana, são poucas as sessões.

Enfim, sem sessão pra imprensa, não pude ver antes. Atrasado, vamos ao meu texto.

Os Observadores tem alguns problemas comuns em filmes do Shyamalan pai. Um deles é o excesso de explicações, e pior: explicações sem embasamento. Um exemplo de um filme recente dele: em Tempo, os personagens estão em uma praia onde o tempo passa numa velocidade diferente, todos envelhecem muito mais rápido. Isso era o suficiente para o espectador: “o tempo passa mais rápido”. Mas aí resolvem colocar uma cena onde uma personagem dita números exatos sobre a passagem de tempo. Não só isso era desnecessário, como atrapalhou a trama, porque um dos personagens não seguia essa exatidão.

Aqui em Os Observadores, temos muitas explicações. Tem uma personagem que parece que só está ali pra explicar coisas sobre o lugar onde eles estão (e ninguém pergunta como ela sabe de tudo!). E parece que isso não era suficiente, porque determinado momento do filme descobrem gravações que só servem pra explicar tudo ainda mais. Vejam bem, heu não gosto de filmes herméticos onde o espectador precisa procurar textos explicativos depois pra entender o que acabou de ver. Mas, existe um equilíbrio! Não precisa explicar tudo!

E o pior é que essa história é meio sem sentido. Sério, me lembrei de Dama na Água, lembro que o Shyamalan disse na época que ele queria contar histórias de fantasia para os filhos, achei que essa era uma daquelas histórias. Só depois soube que o filme se baseia num livro que já existia, escrito por A. M. Shine – será que no livro a história flui melhor?

Outro problema comum na família Shyamalan é ter personagens que não agem de maneira natural. Assim como em Batem À Porta, último filme do Shyamalan pai, onde os personagens demoram pra verbalizar “o elefante na sala”, aqui a protagonista cai num mundo cheio de regras, mas as pessoas só falam as regras no dia seguinte! Passaram uma noite inteira juntos, e ninguém pensou em explicar a ela como funciona esse local?

A boa notícia é que se Ishana repete alguns defeitos do pai, também repete algumas virtudes. Os Observadores é bem conduzido e o filme mantém um interessante clima de tensão ao longo de quase toda a projeção. Gostei de como o filme começa a desenrolar o mistério (queria falar mais, mas é melhor não, por causa de spoilers).

Falei “quase toda a projeção”, né? Poizé. O final é bem fuén. Talvez pela desnecessária necessidade de criar uma espécie de plot twist, o filme se estica e tem um final que deixa o espectador com gosto amargo na boca ao final da sessão. Caramba, se você não tem um bom plot twist, é melhor terminar o filme antes!

No elenco, Dakota Fanning faz cara de paisagem o filme inteiro, mas, funciona pro que o filme pede. Também no elenco, Georgina Campbell, Olwen Fouéré e Oliver Finnegan. Um comentário que não tenho certeza se foi ou não proposital, mas… A protagonista se chama Mina, e sua irmã é Lucy. Duas personagens do livro Dracula, de Bram Stoker. Coincidência?

Mesmo assim, gostei da estreia da Ishana. Apesar dos problemas, Os Observadores não é um filme ruim. Só poderia ser melhor. Aguardemos seu novo projeto.

Assassino Por Acaso

Crítica – Assassino por Acaso

Sinopse (imdb): Gary Johnson trabalha para a polícia e finge ser um assassino de aluguel para prender aqueles que o contratam. Um dia ele quebra o protocolo para salvar uma mulher desesperada que tenta fugir de um namorado abusivo.

Richard Linklater tem vários bons filmes baseados em personagens e diálogos bem construídos. Não são filmes com muitas “pirotecnias” técnicas, mas são filmes gostosos e agradáveis de se acompanhar. Assassino por Acaso (Hit Man, no original) é um desses casos.

Assassino por Acaso supostamente se baseia numa pessoa real (que heu nunca tinha ouvido falar), um professor universitário que tinha um segundo emprego numa equipe da polícia que prendia pessoas interessadas em contratar assassinos de aluguel. Ele cria personagens pra se aproximar dos suspeitos, e isso é a melhor coisa do filme.

Glen Powell é o nome a ser citado. Não só ele é co-roteirista e produtor, como tem um papel onde pode mostrar muita versatilidade. O cara é bonito e muito engraçado. Seu personagem cria várias situações muito divertidas. Assassino por Acaso não tem o perfil de “filme de Oscar”, mas heu não acharia exagero se ele aparecesse com alguma indicação (se bem que acho que o filme foi lançado lá fora no ano passado, então já era). Enfim, Glen Powell é o cara: bom ator, bom personagem.

Adria Arjona (Andor), que faz o principal papel feminino, também está bem e mostra uma boa química com Glen Powell. Sim, em algumas partes, Assassino por Acaso parece uma comédia romântica. Não conhecia mais ninguém no elenco, mas vou te falar que sempre que aparecia o personagem Jasper, heu me lembrava do Ethan Hawke, que já trabalhou em sete filmes do diretor Linklater: Boyhood, Newton Boys, Waking Life, Nação Fast Food, e a trilogia “Before” – Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite (isso porque não estou citando Blaze, dirigido por Ethan Hawke e com Linklater no elenco).

Boa parte do conflito apresentado pelos personagens é porque Gary conheceu Maddison quando estava em um dos personagens que criava para o seu trabalho, então ele precisa continuar esse personagem durante a relação. E isso gera algumas cenas muito boas!

Sem entrar em spoilers, mas o fim tem uma moral meio cinzenta. Quando foi chegando naquela conclusão, fiquei na dúvida de como terminaria. Heu gostei da conclusão, mas entendo quem reclame da “moral da história”.

Leve e divertido, Assassino por Acaso vai agradar a maioria dos espectadores. Só não sei quanto tempo vai ficar em cartaz, porque já está no catálogo da Netflix gringa, não sei quanto tempo até chegar aqui.

Bad Boys: Até o Fim

Crítica – Bad Boys: Até o Fim

Sinopse (imdb): Os Bad Boys favoritos do mundo estão de volta, mas desta vez com uma reviravolta: os melhores de Miami são agora os mais procurados.

Vou copiar um parágrafo que escrevi 4 anos atrás, na época do filme anterior: “O primeiro Bad Boys, de 1995, foi um grande sucesso. Foi o primeiro longa metragem dirigido por Michael Bay, que nos anos seguintes se firmaria como um dos maiores nomes do “blockbuster com mais explosões que roteiro”. E foi o primeiro sucesso cinematográfico de Will Smith, que emplacaria outros sucessos nos dois verões seguintes (Indepedence Day em 96 e MIB em 97). Não era nada demais, apenas um filme divertido e cheio de cenas de ação bem filmadas. Mas um filme que soube fazer a fórmula direitinho.” Quando resolveram retomar a franquia, em 2020, com Bad Boys Para Sempre, mantiveram o mesmo estilo. Nada demais, mas um filme divertido e competente.

Agora, Adil e Bilall, a mesma dupla que dirigiu o filme de 2020 está de volta com o quarto filme da saga, Bad Boys: Até o Fim (Bad Boys: Ride or Die, no original). Fui ao cinema com zero expectativa, e posso dizer que curti o que vi.

Assim como os antecessores, Bad Boys: Até o Fim não é um grande filme, não vai entrar em listas de melhores do ano. Mas, vou repetir a máxima do Luis Severiano Ribeiro: “cinema é a maior diversão”. E Bad Boys: Até o Fim é divertidíssimo! São várias cenas de ação muito bem filmadas, e sabe equilibrar o humor. O filme não é comédia, mas tem cenas engraçadíssimas.

Queria falar da dupla de diretores Adil e Bilall. Gostei da câmera deles, o filme inteiro fica com a câmera em movimento e mostrando ângulos fora do óbvio. E tem algumas cenas daquelas tão bem filmadas que dá vontade de rever. Tem uma briga num elevador que achei bem legal, é um elevador panorâmico com paredes de vidro, a câmera fica rodando em volta e não vemos quando passa por uma laje, foi uma cena “inventiva”. Outra sequência criativa é quando estamos vendo através de uma câmera de segurança, e o que vemos na tela fica alternando entre a câmera de segurança e a casa “real”. E na parte final tem um “momento videogame”, um tiroteio com a câmera no ponto de vista do atirador – incluindo armas trocando de mãos!

E, claro, tem o humor. O Marcus ter restrições alimentares traz algumas boas piadas. E a participação do Khaby Lame foi sensacional! Além disso, gostei do roteiro explorar uma fraqueza do Mike.

No elenco, Will Smith e Martin Lawrence têm uma boa química e carregam o filme com tranquilidade. Eles estão muito à vontade, parecem que estão se divertindo – e isso passa uma sensação boa para o público. Também no elenco, Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig, Paola Núñez, Eric Dane, Ioan Gruffudd, Jacob Scipio e Joe Pantoliano.

Como falei no início, Bad Boys: Até o Fim não vai mudar a vida de ninguém. Mas quem for ao cinema não vai sair decepcionado. Cinema é a maior diversão!

Garotas em Fuga

Crítica – Garotas em Fuga

Sinopse (imdb): Em busca de um recomeço, Jamie, que lamenta o término com mais uma namorada, e sua amiga Marian, que precisa aprender a se soltar, embarcam em uma viagem improvisada para Tallahassee, que logo sai dos trilhos.

Sou fã dos irmãos Coen desde sempre. Eles começaram a carreira em 1984, mais ou menos na mesma época que comecei a ir ao cinema, acho que vi todos os filmes da dupla, sempre perto da época do lançamento, desde seu segundo filme, Arizona Nunca Mais, de 1987. (O primeiro, Gosto de Sangue, de 84, vi em VHS).

Uma curiosidade: até o filme O Amor Custa Caro (2003), Joel era creditado como diretor e Ethan como produtor, mas diziam que os dois faziam tudo juntos. A partir do filme seguinte, Matadores de Velhinha (2004) eles passaram a dividir os créditos. Provavelmente alguém deve ter avisado que se eles ganhassem um prêmio de direção, como aconteceria em 2008 por Onde Os Fracos Não Têm Vez, seria apenas um prêmio e não dois. (Em 97, eles foram indicados a 4 Oscars por Fargo: ganharam juntos por roteiro, e foram indicados juntos por edição. Mas Ethan foi indicado sozinho como produtor e Joel, sozinho, como diretor. Foi a única indicação “solitária” de cada um, todas as outras 14 indicações ao Oscar foram compartilhadas).

Aí, depois de quase 4 décadas, sei lá por que, eles pararam de filmar juntos. Catei pelo Google mas não achei qual foi a razão. Joel Coen, sozinho, fez A Tragédia de Macbeth, com Denzel Washington, filme que achei tão chato que nem terminei de ver. Achei que a “instituição Irmãos Coen” havia acabado. Pena.

Mas, ano passado vi o trailer deste Garotas em Fuga (Drive-Away Dolls, no original), que me lembrou o clima amalucado de alguns filmes dos Coen dos anos 80, como Arizona Nunca Mais, ou ainda Crimewave, dirigido por Sam Raimi mas com roteiro dos Coen. Gostei tanto do trailer que Garotas em Fuga entrou na minha lista de expectativas para 2024.

E então? Garotas em Fuga presta?

Bem, não é um grande filme. Na verdade, parece uma cópia meio tosca de filmes dos irmãos Coen. Mas é divertidíssimo!

Garotas em Fuga é um road movie com alguns elementos que eram frequentes em filmes dos irmãos, como personagens secundários bizarros e caricatos, e humor negro misturado com violência. E gostei do filme ter apenas uma hora e vinte e quatro minutos (os créditos começam com uma hora e dezessete!), é um filme bobinho, se fosse muito longo ia ser cansativo.

É um filme de lésbicas, então boa parte das piadas é dentro deste assunto. Mas achei que faltou um cuidado maior na hora de selecionar as piadas – algumas são boas, mas outras soam forçadas, me pareceu que estão lá só pra chocar. Além disso, Garotas em Fuga tem algumas vinhetas psicodélicas meio sem sentido, não entendi o que o Ethan Coen queria dizer com aquilo

No elenco, a dupla principal é interpretada por Margaret Qualley e Geraldine Viswanathan. As duas funcionam bem juntas, é aquela dupla clichê de uma certinha que precisa se dar bem com uma maluquinha. Nos papéis secundários, temos algumas surpresas. Pedro Pascal e Matt Damon têm papéis importantes, mas quase não aparecem. E a Miley Cyrus tem um papel chave, que, se bobear, aparece menos que os dois citados.

No fim, apesar de ser nitidamente um filme “menor”, fiquei feliz de ver um dos irmãos Coen voltando às origens e entregando um filme divertido. Mesmo “menor”, prefiro muito mais este Garotas em Fuga do que aquele Macbeth.

Magnatas do Crime (2024)

Crítica – Magnatas do Crime

Sinopse (imdb): Eddie Horniman herda a grande propriedade de seu pai, um aristocrata inglês, e se torna o novo duque de Halstead, apenas para descobrir que ele está na maior fazenda de ervas da Europa, de propriedade do lendário Mickey Pearson.

Magnatas do Crime é um longa dirigido por Guy Ritchie e lançado em 2019. E agora em 2024 veio uma série homônima, dirigida pelo mesmo Guy Ritchie. Como assim?

O filme mostrava um traficante de maconha que tinha plantações escondidas no subsolo de mansões de famílias aristocratas falidas. A série não repete nenhum personagem do filme, mas traz o mesmo conceito: a família de um duque, sem dinheiro, é sustentada pelo tráfico de maconha.

São quatro diretores diferentes – os dois primeiros episódios são dirigidos por Ritchie, e os seguintes, a cada dois, são dirigidos por Nima Nourizadeh (Gangs of London), Eran Creevy e David Caffrey. A boa notícia é que todos mantém o estilo do Guy Ritchie, com personagens marginais mas charmosos, situações bizarras, edição estilosa com uso de elementos gráficos na tela, e muita violência estilizada misturada com humor negro. Ou seja, mudou de diretor, mas continua tudo com a mesma cara.

(Aliás, Ritchie está num frenético ritmo de trabalho, deve ser por isso que delegou episódios pra outros diretores. De 2019 pra cá, ele dirigiu Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco, O Pacto, os dois primeiros episódios dessa série, e já tem filme novo dele lançado lá fora que ainda não chegou no Brasil, The Ministry of Ungentlemanly Warfare. Pensa num cara que trabalha muito!)

Os dois personagens centrais são muito bons. Theo James e Kaya Scodelario estão ótimos, tanto individualmente quanto juntos – detalhe que rola uma boa química mas eles nunca confirmam se são ou se serão um casal (tem uma cena com imagens de um flashback onde todos estavam alcoolizados que dá a entender alguma intimidade, mas parou aí).

Mas, além dos protagonistas, outra coisa que merece destaque são os personagens secundários. Magnatas do Crime tem uma vasta galeria de personagens esquisitões (começando pelo alucinado irmão do protagonista, Freddie). Outra característica dos filmes do Guy Ritchie: personagens secundários exóticos. No elenco, além dos já citados Theo James e Kaya Scodelario, Magnatas do Crime conta com Giancarlo Esposito, Vinnie Jones, Joely Richardson e Ray Winstone

Respondendo à pergunta óbvia: filme ou série? Na minha humilde opinião, o filme é melhor. Reconheço que na série dá pra desenvolver melhor algumas situações e personagens, mas sempre prefiro um produto final mais enxuto.

São oito episódios que variam entre 41 e 67 minutos. Existe um gancho pra uma segunda temporada. Que mantenham a qualidade!

Furiosa: Uma Saga Mad Max

Crítica – Furiosa: Uma Saga Mad Max

Sinopse (imdb): Após ser sequestrada do Vale Verde de Muitas Mães, enquanto os tiranos Dementos e Immortan Joe lutam por poder e controle, a jovem Furiosa terá que sobreviver a muitos desafios para encontrar e trilhar o caminho de volta para casa.

Bora pro quinto filme da saga Mad Max, desta vez sem o Max!

Antes, uma pequena recapitulação. Tivemos três Mad Max, todos dirigidos por George Miller e estrelados por Mel Gibson. O primeiro, de 1979, é bom; o segundo, de 1981, é muito bom; o terceiro, de 1985, é muito ruim. Trinta anos se passaram e Miller fez um novo filme, Mad Max Estrada da Fúria, com Tom Hardy no lugar de Mel Gibson. Este quarto filme tinha uma personagem secundária, Furiosa, que era melhor que o protagonista Max. E acho que não fui o único a pensar assim, porque agora temos um prequel contando a história da Furiosa.

Mais uma vez dirigido por George Miller, Furiosa: Uma Saga Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga, no original) começa com a Furiosa ainda criança morando no Vale Verde, até que é sequestrada por um novo vilão, Dementos.

(Sabe quando a gente vê nomes como “lord Sifo Dyas” ou “conde Dooku” e acha que tem algum brasileiro de sacanagem na Lucas Film? Poizé, os nomes aqui fazem a gente pensar algo parecido. Furiosa, Dementos, Scrotus, Erectus…)

Assim como fez nove anos atrás em Estrada da Fúria, mais uma vez George Miller entrega um espetáculo visual impressionante. O cara acabou de completar 80 anos de idade, dois meses atrás, e dirige um filme com muitas cenas de tirar o fôlego. São diversas cenas de perseguições de carros, todas muito bem filmadas, a câmera sempre bem posicionada. Não sei o que foi efeito pratico e o que foi cgi, mas digo que, pelo menos pra mim, os efeitos funcionaram muito bem.

George Miller é tão detalhista que uma das cenas de ação, que dura 15 minutos na tela, demorou 78 dias para ser filmada, envolvendo perto de 200 profissionais diariamente, com Miller apresentando storyboards sobre cada detalhe a ser filmado!

A fotografia é um espetáculo. Quase todo o filme se passa no deserto, e temos inúmeras cenas belíssimas, daquelas que dá pra tirar um frame e fazer um quadro. A cenografia e os figurinos também enchem os olhos. Mad Max sempre teve personagens exóticos e veículos exóticos. Aqui continua com a tradição – inclusive alguns dos veículos dá até pena de aparecerem tão pouco, como uma “Kombi com carreta” que só aparece por poucos segundos. E vemos cenários com riqueza de detalhes, tanto na Citadel quanto nos outros dois locais que não lembro se aparecem no filme de nove anos atrás, a Bullet Farm e o Gas Town (além de vermos algo do Verde Vale). Também gostei da trilha sonora que usa o didgeridoo, instrumento aborígene.

Uma coisa curiosa sobre o elenco. O filme é da Furiosa, a atriz principal é a Anya Taylor-Joy, mas ela só aparece em cena com 61 minutos de filme. A primeira hora de filme mostra Furiosa criança, interpretada por Alyla Browne, ótima atriz mirim que heu não conhecia (apesar de ver no imdb que ela estava em Era uma vez um Gênio, último filme dirigido por George Miller antes de Furiosa). Alyla Browne manda bem, Anya Taylor-Joy idem. Detalhe: Anya quase não fala no filme, segundo o imdb são apenas 30 linhas de diálogo.

O novo vilão é interpretado por Chris Hemsworth, com uma maquiagem que deixou ele mais parecido com o Charlie Hunnam do que com ele próprio. Conversei com alguns amigos que não gostaram dele, mas heu discordo, gostei de ter um vilão fanfarrão e caricato. Só achei que alguns elementos de cenografia deveriam ser pensados, porque é impossível não lembrar do Thor quando vemos Chris Hemsworth com uma capa, ao lado de um cara com chifres.

Cabe um mimimi? Charlize Theron tinha 40 anos quando Estrada da Fúria foi lançado; Anya Taylor-Joy tem 28 agora, no lançamento de Furiosa. Ok, é uma Furiosa mais nova, coerente ter uma atriz mais nova. Mas… O fim do filme conecta diretamente ao outro filme. É que nem Rogue One, que termina momentos antes de começar Guerra nas Estrelas. Furiosa termina momentos antes de começar Mad Max Estrada da Fúria. Precisava de uns anos pra personagem envelhecer…

Alguns dos atores do filme de nove anos atrás reaparecem aqui, então tem espaço pra outro mimimi. O filme se passa antes, os personagens estão mais novos. Nathan Jones, que faz Rictus Erectus, não parece mais novo… Mais uma curiosidade sobre o elenco: Angus Sampson, que está nos dois filmes como “Organic Mechanic”, tem um papel recorrente na franquia Sobrenatural.

São duas horas e vinte e oito minutos de filme, mas achei um ritmo ótimo, não cansou. Se tenho uma única crítica é que no finzinho tem uma cena entre a Furiosa e o Dementos que se estende demais. É um diálogo que achei desnecessário. Na minha humilde opinião, se tirasse aquele longo diálogo, seria melhor.

Claro, temos referências ao filme de 2015. Max aparece rapidinho,numa cena que se você piscar, perde – mas dá pra ver claramente que é ele. E durante os créditos vemos cenas do filme anterior.

Furiosa: Uma Saga Mad Max estreia esta semana nos cinemas, e é daqueles filmes que vale ser visto no cinema, com uma tela grande e um som alto.