Kung Fu Panda 4

Critica – Kung Fu Panda 4

Sinopse (imdb): Após ser escolhido para se tornar o Líder Espiritual do Vale da Paz, Po precisa encontrar e treinar um novo Dragão Guerreiro, enquanto uma feiticeira perversa busca trazer todos os vilões-mestres já derrotados por Po do reino espiritual.

Heu não ia ver este quarto filme do Kung Fu Panda. Pra ser sincero, não me lembro do primeiro, e, pior, nem me lembro se vi o segundo e o terceiro. E, como comentei aqui num post ano passado, agora que meus filhos estão um pouco mais velho, tenho visto menos filmes infantis. Mas aí lembrei de Gato de Botas 2, que foi uma bela surpresa, e resolvi ir à sessão. Mas, vou fazer meus comentários aqui como um espectador leigo: não trarei nada de head canon relativo aos outros filmes!

O panda Po precisa treinar seu sucessor. Ele escolhe uma ladra e os dois saem “em grandes aventuras”. Claro, tem uma nova e perigosa vilã, mas não achei nada demais, não tem nada de memorável nela. (Li críticas sobre a história não usar os “Cinco Furiosos”, que estavam nos outros filmes. Como falei, me lembro pouco dos outros filmes, então isso não me incomodou.)

Se Gato de Botas 2 trouxe uma textura diferenciada nas imagens (influência de Aranhaverso), aqui a animação não traz muitas novidades técnicas. Algumas cenas de ação ficam com a tela dividida, o que traz um bom efeito visual, e tem uma luta num “contra luz”, onde vemos apenas as silhuetas. Ok, tecnicamente bem feito, mas alguns degraus abaixo dos outros dois filmes citados neste parágrafo.

Claro, o filme é engraçado – as vozes originais são de Jack Black e Awkwafina, ninguém vai esperar algo diferente da comédia. Mas preciso dizer que o que achei mais engraçado foram aqueles coelhinhos “do mal”. Não tem como não lembrar de Monty Python!

Sobre a trilha sonora, preciso dizer que gostei muito de uma versão instrumental de Crazy Train, do Ozzy Osbourne, num daqueles “momento videoclipe”. Se a sequência é clichê, pelo menos criaram uma nova versão da música. O resto da trilha é apenas competente.

Parece que Kung Fu Panda decepcionou os fãs da franquia. Mas, se você for ao cinema apenas atrás de uma hora e meia de uma animação divertida, pode até curtir.

Instinto Materno

Crítica – Instinto Materno

Sinopse (imdb): A vida aparentemente perfeita das amigas Alice e Celine desmorona após um acidente envolvendo um de seus filhos. O que começa como uma tragédia inimaginável acaba transformando a amizade entre elas em um jogo de segredos e mentiras.

O trailer vendia Instinto Materno como um suspense psicológico. Mas o resultado final ficou devendo.

Estreia na direção de Benoît Delhomme, Instinto Materno (Mothers’ Instinct, no original) é a refilmagem de Duelles, filme belga de 2018. Não vi o original, não sei se lá temos algo a mais. Normalmente, os originais europeus são melhores. Mas acredito que seja melhor, ano passado um amigo que mora na Europa tinha me recomendado esse Duelles, mas não achei onde ver aqui.

Acho que são os anos 60, tem um diálogo onde falam dos presidentes americanos, pra situar o espectador sobre qual ano o filme se passa, mas como não entendo de presidentes americanos, não sei qual ano. Enfim, duas famílias, vizinhas, muito amigas. As duas mulheres são amigas, e os filhos, de idades parecidas, são inseparáveis. Mas acontece uma fatalidade e isso abala a amizade.

A gente passa o filme todo pensando quando algo vai sacudir a trama. Um plot twist, uma grande revelação, algo bombástico. Mas nada. O filme é linear, tudo o que acontece é o que aconteceria numa vida normal. Ou seja, o filme acaba sendo chato.

Ok, temos duas grandes atrizes, Anne Hathaway e Jessica Chastain, e ambas estão bem. Mas, nenhuma atuação memorável. Filme linear com atuações lineares.

Quem foi a sessão de imprensa ganhou o livro que deu origem ao filme, e avisaram que a continuação do livro está para ser lançada em breve. Ou seja, o filme deve ter continuação. Mas, boa notícia: a história fecha, não deixa nenhuma ponta solta a ser resolvida num filme que a gente nem sabe se vai existir.

No fim, Instinto Materno não é ruim, mas é decepcionante porque tem cara de telefilme.

Garra de Ferro

Crítica – Garra de Ferro

Sinopse (imdb): Uma família de lutadores que se enfrentam no ringue precisa lidar com uma série de tragédias pessoais.

Bora pro filme do “Zac Efron feio”!

Escrito e dirigido por Sean Durkin, Garra de Ferro (The Iron Claw, no original) conta a história da família Von Erich. Heu não saco nada de luta livre, nunca tinha ouvido falar da família Von Erich. Mas reconheço que é uma história que vale o registro. O Von Erich pai, ex lutador, teve vários filhos, todos acabaram se envolvendo com a luta livre, e boa parte deles teve destinos trágicos. Não vou entrar em detalhes sobre as tragédias, porque pode ser spoiler, mas o filme fala sobre uma suposta “maldição Von Erich”.

(Pelo filme, são quatro irmãos, mais um que morreu criança. Mas, pela trivia do imdb, eram seis no total: Kevin, David, Kerry, Mike e Chris (mais o Jack Jr). Não sei por que o filme não cita o Chris, que segundo a wikipedia, era o caçula, e teria por volta de dez anos no início do filme.)

Garra de Ferro tem personagens ricos e bem construídos, os relacionamentos entre os irmão são bem arquitetados, e o pai super controlador acaba se tornando o grande vilão da história.

O ponto forte aqui são as atuações. Zac Efron surgiu para o mundo com High School Musical, e virou um símbolo para “jovem, talentoso e bonito”. Fez O Rei do Show com o Hugh Jackman, fez Hairspray com John Travolta, Christopher Walken e Michelle Pfeiffer, fez Baywatch com Dwayne Johnson, fez Vizinhos com Seth Rogen, fez 17 Outra Vez com Matthew Perry, entre outros – ele conseguiu criar uma boa carreira “pós sucesso infantil da Disney”. Aqui em Garra de Ferro talvez ele tenha a sua melhor atuação, e duas coisas chamam a atenção. Uma é que Efron está tão forte que de repente podia estar numa cinebiografia do Arnold Schwarzenegger. E a outra é que ele está muito mais feio do que em todo o resto de sua carreira – não sei o quanto é maquiagem e o quanto é resultado de algum procedimento estético que deu errado.

Mas ele não é o único que está bem. Holt McCallany, que normalmente faz coadjuvantes insossos, arrebenta aqui, ele faz o pai vilão, e é uma das melhores coisas do filme. Dois dos irmãos, Harris Dickinson (Triângulo da Tristeza) e Jeremy Allen White (que acabou de ganhar um Emmy pela série The Bear), também estão ótimos (o quarto irmão, vivido por Stanley Simons, é um pouco mais apagado que os outros três). Nos papeis femininos, Lily James está bem, mas nada demais; Maura Tierney tem pouco espaço, mas sua personagem tem alguns ótimos momentos (pena que poucos).

Além disso, a reconstituição de época também é muito boa. O filme se passa no fim dos anos 70 e início dos 80, e toda a parte de roupas e penteados é bem cuidada. A trilha sonora também é boa.

Agora, como “não consumidor de luta livre”, tenho uma crítica. Em uma cena, vemos claramente os supostos opositores combinando os resultados antes da luta. E em outra cena a personagem da Lily James pergunta como funciona um campeonato onde as lutas são combinadas. Faltou algo no filme pra explicar isso. Porque entendo como um show pode (e deve) ser combinado, mas uma competição combinada não tem como ter um campeão.

Não sei por que a produção não tentou indicações ao Oscar. Acho que Zac Efron tinha chances…

Duna: Parte 2

Crítica – Duna: Parte 2

Sinopse (imdb): Diante da difícil escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo conhecido, Paul Atreides, agora ao lado de Chani e dos Fremen, dará tudo de si para evitar o futuro terrível que só ele pode prever.

Estreou a aguardada continuação de Duna, de 2021. Heu tinha um receio sobre o final do filme, mas achei satisfatório – mais tarde volto a esse assunto.

Mais uma vez dirigido por Dennis Villeneuve, Duna: Parte 2 é um filmão, com tudo de superlativo que isso carrega. Elenco recheado de estrelas, cenários fantásticos, figurinos caprichados, trilha sonora excelente, tudo aqui é grandioso.

Não li os livros, tudo o que conheço do universo de Duna aprendi no filme de 2021 e no filme de 1984 dirigido por David Lynch. Um amigo que leu comentou que tem coisa diferente, mas faz parte do conceito de “adaptação”.

A história já começa de onde o primeiro filme acabousim, precisa ver ou rever o filme de 2021, senão você pode ficar um pouco perdido. Agora Paul Atreides está com o povo Fremen e precisa lutar contra os Harkonnen, enquanto rola um questionamento religioso se ele seria o novo messias.

Nem sei por onde começar a falar. Acho que posso começar com o visual do filme. Não tenho ideia do quanto foi filmado em locações e quanto foi filmado em estúdio. Mas podemos afirmar que absolutamente nada parece artificial. Se existe tela verde e cgi (e deve ter de monte), não aparece na tela. Cenários, figurinos, props, efeitos especiais, efeitos sonoros, tudo é tecnicamente perfeito.

Vi o filme no Imax. Não só a imagem é ótima, como o som estava muito alto (em algumas cenas, as poltronas do cinema tremiam!) Todo o som do filme é impressionante, tanto a trilha sonora de Hans Zimmer quanto os efeitos sonoros – o efeito usado nas vozes imperativas é assustador.

Vou copiar um parágrafo que escrevi no texto do primeiro filme, porque repito o mesmo comentário: “De vez em quando falam coisas como “o streaming vai matar o cinema”. Olha, a não ser que você seja muito rico e tenha uma sala de cinema especialmente construída na sua casa, não tem como barrar a experiência de ver um filme desses numa sala de cinema, com uma tela grande e um som equilibrado em volta. Duna é filme pra se ver no cinema!

Uma coisa que heu não me lembrava era toda a pegada religiosa. Paul Atreides vira quase um líder de uma seita extremista. E o personagem do Javier Bardem está ótimo como o cara que alimenta todo o fanatismo em volta desse messias.

O elenco é excelente. Timothée Chalamet está muito bem como o protagonista, e, apesar de ser magrelo, convence quando precisa assumir o papel de liderança. Mas quem rouba a cena é Austin Butler (o Elvis!) como Feyd-Rautha, papel que foi do Sting na versão de 84. Butler está assustador! Muito mais do que Dave Bautista que tem porte físico para colocar medo nos adversários.

(Uma curiosidade: Villeneuve disse que pensou no personagem como uma mistura entre o Mick Jagger, um assassino psicopata, um espadachim olímpico e uma cobra. Mick Jagger foi cotado para viver o mesmo personagem na versão de Alejandro Jodorowsky que nunca foi terminada.)

Ainda no elenco, vou contra a maré. Achei que a Zendaya foi o ponto fraco. A personagem dela gosta do Paul, mas resolve não apoiar o lado messiânico, e na minha humilde opinião ela não conseguiu trabalhar bem essa dualidade. Não estraga o filme, mas todo o resto está melhor.

Também no elenco, Rebecca Ferguson, Josh Brolin, Florence Pugh, Christopher Walken, Léa Seydoux, Stellan Skarsgård e Charlotte Rampling, além do já citado Javier Bardem. E uma curiosidade: Anya Taylor-Joy está no filme mas só aparece em uma cena! Piscou, perdeu!

É um filme longo, duas horas e quarenta e seis minutos. Vai ter gente dizendo que é um filme chato. Mas heu consegui “entrar” no filme e em nenhum momento me cansou.

Por fim, gostaria de falar sobre o final do filme. Heu tinha um pé atrás porque o imdb já falava sobre um terceiro filme, e fiquei traumatizado com o Aranhaverso 2, filme que não tem fim. Mas, a boa notícia é que Duna Parte 2 faz o correto: encerra a história que estamos vivendo, e deixa pontas soltas para serem resolvidas num possível terceiro filme. Mas, se não tiver esse terceiro filme, ok, temos um encerramento.

Filmão. Grandes chances de top 10 do ano.

Madame Teia

Crítica – Madame Teia

Sinopse (imdb): Forçada a confrontar seu passado, Cassandra Webb, uma paramédica em Manhattan que pode ter habilidades de clarividência, cria uma relação com três jovens destinadas a futuros poderosos, se elas conseguirem sobreviver ao presente ameaçador.

Atrasado, mas vamos falar de Madame Teia.

Antes, uma pequena explicação sobre a causa do atraso. Não teve sessão de imprensa no Rio de Janeiro (me falaram que teve em SP, mas não posso afirmar). E, pra piorar, estou em uma cidade do interior. Fui ao cinema, estava escrito que o ingresso nas quartas era 28 reais, mas resolveram cobrar 40. Por que? Deve ser porque é o único cinema da cidade, então eles podem cobrar o que quiserem. Só não podem reclamar depois quando as pessoas escolherem o streaming!

Bem, vamulá. Heu nunca tinha ouvido falar nessa tal de Madame Teia, e também não tinha visto o trailer. Entrei no cinema de coração aberto. E posso dizer que não odiei tanto como a maioria. Sim, Madame Teia está bem longe de ser bom, mas, achei do mesmo nível de Morbius e dos dois Venom. Ou seja, apenas mais um filme ruim no meio de outros igualmente ruins.

Dirigido pela pouco conhecida S J Clarkson, Madame Teia (Madame Web, no original) parece um filme de super herói dos anos 80 ou 90, época que a gente tinha poucos filmes desse sub gênero e por isso a gente aceitava mais fácil aceitar certas coisas. Depois de duas décadas de MCU, fica complicado ver uma personagem que está sendo procurada pela polícia e que resolve visitar o Peru – ué, e as fronteiras?

O roteiro é cheio de pontos fracos. Começo falando da cena inicial. A mãe da protagonista está grávida no meio da Amazônia peruana. O vilão se revela, dá um tiro nela, aparece uma tribo de índios-aranha (num efeito especial que parece videogame mal renderizado) e salva o bebê antes dela morrer, 30 anos se passam, e o vilão está com a mesma cara! Será que ele não envelhece? Não sabemos.

Aproveito pra falar do vilão. Por que ele queria a aranha? Não sabemos. Ele é um cara rico. Ele já era rico ou ficou rico depois de roubar a aranha? Não sabemos. Quais são os poderes dele além de andar nas paredes e soltar veneno pelas mãos? Não sabemos. Qual é o objetivo dele? Não sabemos. Só sabemos que ele tem um sonho premonitório. Todos os dias o mesmo sonho. E, pra piorar, diz que sempre tem o mesmo sonho, mas acaba morrendo de outra forma.

A gente podia seguir, mas o texto ia ficar muito longo. Mas ainda preciso falar da cena onde ela vai para o Peru (mesmo foragida). Pra começar que seria bem difícil ela encontrar o local exato da aldeia dos índios aranha. Mas, ok, é filme, a gente aceita. Agora, todo o diálogo do líder indígena com ela é péééssimo! Como é que ele sabe tantos detalhes sobre o poder dela, se é um poder tão único?

Ah, só mais um! A protagonista não sabe como enfrentar o vilão, então ela joga o carro em cima e o atropela. Ok. Algumas cenas depois, ela o atropela de novo! Sério que os roteiristas repetiram o atropelamento? Pior: ela não tinha como saber se ia atropelar mais alguém no processo.

(Ainda sobre o primeiro atropelamento – por que na visão dela ela anda a pé e chega mais rápido do que depois quando vai de carro?)

Mas, isso não é o pior. Acho que o pior de Madame Teia é ser um filme de super herói sem super heróis. A protagonista passa o filme inteiro tentando entender seus poderes, e são poderes que não servem pra muita coisa enquanto ela não aprender a controlá-los. E as três jovens Mulheres Aranhas só aparecem em uma cena, e é uma cena dentro de um sonho. O único personagem com super poderes é o vilão.

Ou seja, venderam um filme de super heróis e entregaram um filme onde personagens fogem de um vilão.

Agora um comentário de alguém que não lê quadrinhos. O filme se passa no universo do Homem Aranha – um dos personagens é o tio Ben Parker, e a irmã dele está grávida de um menino (não dizem o nome, mas fica implícito que é o Peter Parker). Ou seja, anos antes do Peter ser picado por uma aranha radioativa, já existiam várias pessoas Aranha, e com origens diferentes? Isso faz algum sentido nos quadrinhos?

Também queria falar sobre o product placement. Entendo que muitos filmes colocam propagandas escondidas no roteiro dos filmes, mas não me lembro de um filme recente com uma propaganda tão explícita da Pepsi. Tem uma cena longa onde a protagonista está com uma lata na mão, e toda a sequência final é debaixo de um enorme luminoso da Pepsi. Agora, a Pepsi deveria repensar seu marketing. Não só escolheu um filme errado, como pelo diálogo, não dá vontade de beber Pepsi, afinal a personagem diz que só vai beber Pepsi porque não deixaram ela beber cerveja.

O elenco tem bons nomes, mas ninguém está bem. Dakota Johnson tem cara de paisagem, acho que nunca a vi atuando bem, mas ela não atrapalha. As três jovens, Sydney Sweeney, Isabela Merced e Celeste O’Connor, parecem sofrer com um roteiro ruim e personagens mal desenvolvidas. Agora, Tahar Rahim está péssimo, seu vilão entra fácil na galeria de piores vilões de filmes de super heróis. Adam Scott está apenas ok, e juro que não entendi um nome com o star power da Emma Roberts num papel tão pequeno.

Dito tudo isso, posso afirmar que não saí do cinema com raiva. Ok, raiva de pagar um ingresso mais caro por um filme que não merecia, mas, não tive raiva do filme. Acho que esperar algo do nível de Morbius e Venom ajudou a baixar a expectativa.

Freelance

Crítica – Freelance

Sinopse (imdb): Um ex-agente das forças especiais trabalha fornecendo segurança para uma jornalista que vai entrevistar um ditador. No meio da entrevista, ocorre um golpe militar e eles são forçados a fugir para a selva, onde precisam sobreviver.

Alguns filmes se propõem a ser grandes filmes que vão mudar paradigmas do cinema. Outros apenas querem proporcionar uma leve diversão. Este é o caso de Freelance, novo filme de ação de Pierre Morel, diretor francês que chamou a atenção 20 anos atrás com B13 – 13º Distrito (com roteiro e produção de Luc Besson), e que quatro anos depois dirigiria o filme que mais marcou a carreira do Liam Neeson (Busca Implacável).

Se Busca Implacável foi um grande filme, este Freelance parece uma nova versão de Cidade Perdida, de 2022. Se Cidade Perdida era uma mistura de comédia com ação que se baseava no carisma de seus protagonistas Sandra Bullock e Channing Tatum, Freelance faz o mesmo, só que com John Cena e Alison Brie.

A história é clichê e previsível: uma jornalista vai para um país fictício entrevistar o ditador, e contrata um segurança particular. Quando chegam lá, acontece um golpe de estado, tentam matar o presidente ditador, e o trio “se mete em muitas confusões!”

O que vale no filme é o carisma do elenco. É sempre agradável ver John Cena em cena, se ele aparece pouco em Argylle, pelo menos aqui ele está durante o filme inteiro. A personagem de Alison Brie não é muito consistente, às vezes ela parece querer uma coisa, logo depois parece querer outra, mas a atriz também tem carisma. E gostei de Juan Pablo Raba e seu ditador divertido e irônico. Também no elenco, Christian Slater, Alice Eve e Marton Csokas (como o vilão caricato – por que sempre tem que ter um vilão caricato?).

Agora, todo o filme é genérico. Cenas de perseguição genéricas, tiroteios genéricos… Sim, a gente já viu esse filme antes. Mas serve para os fãs do John Cena e da Alison Brie.

Argylle – O Superespião

Critica – Argylle – O Superespião

Sinopse (imdb): Quando as tramas dos livros de uma reclusa autora de romances de espionagem sobre o agente secreto Argylle começam a espelhar as ações de uma verídica organização de espionagem, as linhas entre o fictício e o real começam a se entrelaçar.

Filme novo do Matthew Vaughn!

Sempre curti a carreira de Matthew Vaughn, desde X-Men Primeira Classe e Kick-Ass. Mas, seu último filme, King’s Man A Origem, foi bem fraco. O trailer deste Argylle – O Superespião (Argylle, no original) prometia algo mais próximo do primeiro Kingsman, o que me fez colocar Argylle na minha lista de expectativas para 2024.

Então, valeu o lugar na lista? Ou foi uma grande decepção como Turma da Mônica Jovem Reflexos do Medo?

Olha, pode não ser tão bom quando Kingsman, mas, me diverti muito. O filme é engraçado, tem cenas de ação muito bem filmadas, tecnicamente enche os olhos e tem um elenco sensacional. Saí da sessão feliz, isso pra mim conta muito.

Algumas sequências são muito bem filmadas. Tem uma luta num trem onde a protagonista está vendo o agente “real” lutando ao mesmo tempo que imagina o personagem dela. Ou seja, uma coreografia de luta onde troca o ator que está lutando. Deve ter dado um trabalho enorme pra coreografar, filmar e editar isso!

Ouvi uma crítica negativa comparando com Missão Impossível, porque lá tudo é mais “real”. Mas aqui nunca teve uma proposta de algo real! Tem uma cena com uma luta em cima de uma enorme poça de petróleo que é completamente galhofa! E tem uma cena usando fumaça colorida que, além de galhofa, é linda! E achei genial a solução dada para o “tiro no coração”. Sim, é absurdo; e sim, é por ser absurdo que curti!

Agora, o filme tem uma quebra no meio e a segunda metade dá umas escorregadas. Existe um plot twist onde muda todo o ponto de vista sobre os personagens, e a partir daí o filme tem uma queda. Não chega a ficar ruim, mas a primeira metade é melhor.

Adorei a trilha sonora! Desde a cena inicial com Barry White, até a nova música Electric Energy, de Ariana DeBose, Boy George, Nile Rodgers – que tem muita cara de música feita nos anos 70! Ok, entendo que a trilha me pegou pelo lado nostálgico, mas, todas as músicas se encaixam perfeitamente!

O elenco é muito bom. Um amigo crítico estava vendo ao meu lado e criticou a escolha dos dois protagonistas, Bryce Dallas Howard e Sam Rockwell, porque eles não têm o perfil para “blockbuster de ação”. Verdade, eles não têm esse perfil. Na página do imdb, os primeiros nomes são Sofia Boutella e Henry Cavill, dois nomes que teriam mais a ver. Mas, curiosamente, o mesmo motivo que fez o meu amigo criticar é o motivo que me faz defender: gostei de ter dois nomes “diferentões” como protagonistas. Henry Cavill aparece bem menos, e Sofia Boutella só aparece em uma única cena, e não é uma cena de ação! Ainda no elenco, Bryan Cranston, John Cena, Samuel L Jackson, Dua Lipa, Catherine O’Hara e Ariana DeBose.

O final traz uma solução “deus ex machina” que achei completamente desnecessária e que diminuiu um pouco o valor do filme na minha humilde opinião. E tem uma cena pós créditos que aparentemente é um teaser de uma nova franquia.

Mergulho Noturno

Crítica – Mergulho Noturno

Sinopse (imdb): Um ex-jogador de beisebol se muda com a esposa e os dois filhos para uma nova casa. Ele acredita que a piscina do quintal pode ser uma diversão para as crianças, mas um segredo sombrio do passado da casa vai desencadear uma força malévola.

Hoje vou começar o texto de maneira diferente. Uma vez fui passar um fim de semana com amigos em uma casa na serra onde iríamos filmar um curta. O roteiro dava uns 15 minutos de história, mas, na empolgação, a gente saiu filmando mais um monte de cenas no improviso, e alguém perguntou “será que conseguimos fazer um longa?

Quando reunimos o material pra edição, ficou claro que não dava pra fazer um longa. Jogamos fora várias cenas e fechamos o curta em 15 minutos mesmo.

Por que estou falando isso? Porque um curta com uma boa ideia é algo bem diferente de um longa. O Night Swim original é um curta de 3 minutos e 54 segundos, onde um minuto são os créditos. E alguém achou que seria uma boa ideia chamar Bryce McGuire, o diretor e roteirista do curta, pra transformar sua ideia em um longa. Mas… É uma ideia de apenas 3 minutos, é difícil esticar isso em um longa de uma hora e 38 minutos!

Isso gera o primeiro problema: Mergulho Noturno (Night Swim, no original) é um filme chato, com muita encheção de linguiça onde nada acontece e a trama se arrasta.

Mas calma que ainda pode piorar. Uma ideia para se esticar uma trama é explorar a mitologia. No curta, apenas vemos uma mulher nadando numa piscina e desaparecendo. Num longa, podemos explorar o que aconteceu com essa piscina pra transformá-la em uma piscina assassina. E o filme começa a mostrar uma lenda “temagami”, ou algo parecido, que liga a piscina a poços de desejos. Mas apenas apresenta a ideia, o desenvolvimento dessa lenda foi completamente tosco. Um exemplo simples: conversei com alguns críticos depois da sessão de imprensa, ninguém entendeu se a maldição estava no local ou na água.

Ou seja, a gente tem um filme arrastado, com uma ideia mal desenvolvida. O que sobra? Jump scares óbvios. Sério que tem gente que acha que colocar alguns jump scares vai salvar um filme ruim?

E, pra piorar, os “monstros” que aparecem na piscina são muito toscos. Sou da filosofia usada no primeiro Alien: o que você não vê assusta mais do que o que está na sua frente. Se a gente não visse nenhuma criatura, o filme ia ser mais assustador. Do jeito que está, mais fácil provocar risos que sustos.

Pena, porque o elenco é bom. Os papeis principais são de Wyatt Russell, filho do Kurt Russell e da Goldie Hawn e irmão da Kate Hudson, e que foi o novo Capitão América na série do Falcão e o Soldado Invernal; e Kerry Condon, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Os Banshees de Inisherin, filme ruim mas com boas atuações. Mas, num filme tão fraco, tanto faz se o ator é bom ou não.

É, o cinema de terror em 2024 começou mal. Rubber o Pneu Assassino é melhor do que este filme da piscina assassina.

Segredos de um Escândalo

Crítica – Segredos de um Escândalo

Sinopse (imdb): Uma atriz pesquisa para interpretar uma mulher que, 20 anos antes, viveu um romance com um adolescente, causando um escândalo e a sua prisão.

Novo filme de Todd Haynes, Segredos de um Escândalo (May December, no original) prometia. Mas infelizmente ficou só promessa.

A história era boa. Vinte e poucos anos antes, um caso sacudiu uma cidade: uma mulher de 36 anos teve um romance com um adolescente de 13, amiguinho do filho dela. Ela chegou a ser presa, mas, quando saiu, o romance continuou, e eles constituíram uma família, com três filhos – e estão juntos até hoje.

A gente lê essa premissa e imagina vários dilemas sociais e morais, né? Mas o filme não se aprofunda nisso. Grace tem uma vida normal em sociedade. A gente fica o filme inteiro imaginando quando algo de impactante vai surgir na história, mas nada acontece.

Um exemplo simples: ela faz bolos. Em uma cena, ela está muito mal, arrasada, porque uma cliente dos seus bolos vai se mudar e vai parar de comprar bolos. Sério que isso é um problema grave? A cliente deixou o bolo pago, e o grande drama é “vou ter que jogar fora um bolo pronto!”

Tem uma coisa que atrapalha, que é uma trilha sonora completamente fora de proporção. Gosto de trilhas que fogem do óbvio, inicialmente heu estava gostando de ter uma trilha diferentona. Mas a trilha eleva o suspense em cenas que não têm nada de suspense! Tem uma cena logo no início onde Grace abre a geladeira, a trilha aumenta dramaticamente, a câmera dá um close, e ela fala “acho que vai faltar salsicha”. Parecia uma comédia nonsense.

Agora, precisamos reconhecer que as atuações das duas atrizes principais estão excelentes, tanto Julianne Moore quanto Natalie Portman. Tem uma cena no fim do filme, um close no rosto de Natalie Portman, onde ela está se preparando para a interpretação, que só essa cena já seria digna de premiações (e pra mim, o filme deveria terminar nesta cena). Charles Melton, que faz o marido, também está bem.

Mas, no fim, fica aquela sensação de que algo estava faltando. Só vale pelas interpretações.

Suitable Flesh

Crítica – Suitable Flesh

Sinopse (imdb): Uma psiquiatra fica obcecada por um jovem cliente com múltiplas personalidades.

Filme novo baseado em HP Lovecraft!

Antes do filme, um breve parágrafo pra contextualizar. HP Lovecraft é um dos grandes nomes da literatura clássica de terror, mas suas histórias devem ser difíceis de se adaptar. Anos atrás fiz aqui no heuvi um top 10 de adaptações de Lovecraft, e constatei que não deve existir material para um top 20. Provavelmente os filmes mais conhecidos baseados na sua obra são Re-Animator (1985) e From Beyond (1986), ambos dirigidos por Stuart Gordon e estrelados por Jeffrey Combs e Barbara Crampton. Este Suitable Flesh é uma espécie de homenagem ao diretor Gordon, falecido em 2020.

(Gordon ainda dirigiu outros dois filmes menos conhecidos baseados em Lovecraft, Dagon, de 2001, e Sonhos na Casa das Bruxas, telefilme que estava na série Mestres do Terror.)

Dirigido pelo desconhecido Joe Lynch, Suitable Flesh parece um filme B dos anos 80 / 90, com toques eróticos, bem no estilo dos filmes dirigidos por Gordon. O roteiro é de Dennis Paoli, também roteirista das quatro adaptações citadas. Mas, um detalhe curioso: tem ar de filme B, mas não é comédia. A galhofa aqui tem um clima mais sério.

Suitable Flesh é a adaptação do conto “The Thing on the Doorstep”, de 1937. O legal aqui é que existe um demônio ou entidade que fica trocando de corpo, então boa parte do elenco tem momentos onde está vivendo outra personalidade. E na parte do gore, tirando uma cena aqui e outra ali, não tem muitas cenas graficamente fortes.

O elenco é melhor do que o esperado, Suitable Flesh tem três nomes “médios”. Heather Graham estrela o filme e, aos cinquenta e três anos de idade, ainda arrisca uma breve cena de nudez parcial. Barbara Crampton, ela mesma, dos filmes do Stuart Gordon, tem um papel importante e ainda é uma das produtoras (e continua linda aos sessenta e seis anos de idade). E Jonathan Schaech, que estava em vários filmes nos anos 90, mas sempre vou me lembrar dele em The Wonders, faz o marido da Heather Graham. Completa o elenco principal Judah Lewis, de A Babá. Só faltou o Jeffrey Combs, não sei qual foi o motivo pra ele não estar aqui.

Agora, precisa entrar na onda do filme. Porque é um filme divertido, mas ao mesmo tempo é exagerado, e tem um pé no trash. Quem curtia o estilo dos filmes do Gordon vai se divertir. Mas acho que boa parte do público de hoje em dia vai torcer o nariz.