O Protetor: Capitulo Final

Crítica – O Protetor: Capitulo Final

Sinopse (imdb): Robert McCall se sente em casa no sul da Itália, mas descobre que seus amigos estão sob o controle do crime local. À medida que os eventos se tornam mortais, McCall sabe que deve tornar-se o protetor de seus amigos enfrentando a máfia.

Vamos ao terceiro filme da franquia O Protetor, os três estrelados por Denzel Washington, os três dirigidos por Antoine Fuqua (que aliás já fez outros dois filmes com Denzel, Dia de Treinamento e Sete Homens e um Destino).

O Protetor: Capítulo Final (The Equalizer 3, no original) tem uma característica que é ao mesmo tempo um ponto positivo e um ponto negativo. O ponto negativo é que a fórmula é a mesma usada nos outros dois filmes. O cara chega no lugar e quer tentar ajudar alguém. Ele é um cara muito habilidoso, e quando vai ajudar essa pessoa, acaba cutucando algum vilão ou grupo de vilões. E esse vilão ou grupo de vilões está apoiado por um grupo maior de vilões, mais perigosos ainda, e aí ele tem que enfrentar sozinho o grupo mais perigoso de vilões. Ou seja, a gente já viu essa história antes.

Por outro lado, é que nem quando você vai num restaurante novo e come um prato muito gostoso, e você pensa, “quero voltar a esse restaurante para repetir este prato”. Se por um lado a história é repetida e você já viu isso antes, por outro lado é muito bem feito e muito bem filmado.

Eu não lembro de detalhes dos outros dois filmes. Vi quando lançaram e nunca revi. Relendo meus textos vi que não curti tanto assim, mas é porque o personagem não tinha me convencido. Curioso, agora me convenceu. Provavelmente é porque o Denzel Washington convence a gente, como sempre. Só que precisamos de uma grande suspensão de descrença, afinal, o ator está com quase 70 anos, e enfrenta, sozinho, vários adversários mais novos e mais fortes. Comentei outro dia, na crítica sobre Resistência, sobre a falta de carisma de John David Washington – filho do Denzel. E agora, logo depois, estreia o filme com o pai, e a gente vê a diferença. Mesmo velho, Denzel convence como um ex-agente da CIA extremamente habilidoso.

Não me lembro se os outros filmes têm muitas sequências de ação. Achei que aqui foram poucas. Pelo menos podemos reconhecer que são muito bem filmadas. E a gente entende como é que o personagem Robert McCall age e como é que ele enfrenta os adversários. A sequência inicial já mostra isso, primeiro vemos vários inimigos mortos, pra depois vê-lo em ação contra uns quatro ou cinco. Ah, a trilha sonora alta e agressiva nesses momentos ajuda a criar o clima.

Ah, quase esqueço. Ok, o cara é muito bom, mas, lembrem-se: precisa de suspensão de descrença. Tem uma cena onde a máfia chega e ele se entrega, e que dificilmente ele sairia ileso. Mas, ok, a gente aceita.

Heu não conhecia quase ninguém do elenco – aparentemente são todos italianos, já que o filme se passa na Itália. O único nome conhecido é Dakota Fanning, num papel de agente da CIA. A gente lembra que ela já tinha trabalhado com Denzel em Chamas da Vingança, quando tinha apenas dez anos, em 2004, é bacana vê-los trabalhando juntos de novo. Mas a personagem dela meio que não acrescenta nada. Heu só não digo que é um personagem completamente inútil porque a cena onde eles conversam ao vivo pela primeira vez é uma cena bem divertida – é uma cena onde ele mostra como ele é bom no que faz, além de ser irônico. Agora, se a personagem dela não tem muita importância durante o filme ela, pelo menos tem relevância na trama, no fim do filme explicam a conexão dela com os outros filmes.

Pra quem curte ação bem filmada e com um bom ator, O Protetor: Capitulo Final estreia quinta agora.

Resistência

Crítica – Resistência

Sinopse (imdb): Em meio a uma futura guerra entre humanos e inteligência artificial, Joshua é recrutado para localizar e matar o Criador – misterioso arquiteto responsável por desenvolver uma arma capaz de acabar com o confronto e com toda a humanidade.

Esta nova ficção científica prometia ser um grande marco no cinema. Afinal, a gente teria algo incomum hoje em dia: um blockbuster “independente”. Hoje quase todos os grandes filmes são continuações, remakes, reboots, spin offs, adaptações de livros, games, HQs, novos filmes usando personagens conhecidos… É difícil ver algo novo, sem nenhuma conexão com nada já publicado (o mercado explica isso, é mais fácil vender um filme que as pessoas já tem alguma conexão).

Tecnicamente falando, Resistência (The Creator, no original) é um filme “independente”, afinal, não traz conexão com nenhuma outra obra publicada. Mas, o problema é que tudo parece reciclado. Resistência parece uma mistura de Matrix com Exterminador do Futuro com Blade Runner com Distrito 9 com IA com Ex Machina. Coloca tudo no liquidificador e bate, vai sair algo parecido com isso.

Não só o roteiro parece uma colagem de outros filmes, como tem algumas coisas meio estranhas. Vou dar só um exemplo pra não entrar em spoilers: no início do filme comentam que as missões na Ásia não têm bases americanas perto, o mais perto seria a 600 km. Mas mais pro fim do filme aparecem veículos americanos enormes, se as bases eram longe, como aqueles veículos chegaram lá?

Se por um lado o roteiro de Resistência deixa a desejar, por outro lado os efeitos especiais são de cair o queixo. Absolutamente tudo o que esta na tela tem um visual impressionante: desde os diferentes tipos de robôs e veículos, até as construções e paisagens futuristas e grandiosas. Sei que ainda é cedo e nem sei quais filmes vão concorrer, mas arrisco dizer que Resistência é um forte candidato ao Oscar de melhores efeitos especiais.

Resistência foi escrito e dirigido por Gareth Edwards, o mesmo de Monstros, Godzilla e Rogue One. O que interessa ao meu comentário é que é o mesmo diretor de Monstros, porque e Resistência traz duas semelhanças. Uma está na qualidade dos efeitos, mesmo usando orçamento reduzido. Monstros tinha orçamento de filme independente e trazia efeitos especiais excelentes; Resistência tem orçamento inferior à maioria dos blockbusters atuais e isso definitivamente não aparece na tela. A outra semelhança é no estilo de filmagem, que usou tática de cinema de guerrilha. Em Monstros, em algumas cenas, eram só o diretor, uma pessoa da equipe técnica e os dois atores. Boa parte do que está na tela eram cenários e pessoas “reais”, que não sabiam que estavam participando de um filme. Resistência usou a mesma estratégia, usando câmeras pequenas e filmagens em locações, que foram alteradas em pós produção – o que gerou um resultado bem melhor do que usar tela verde.

O elenco traz aquele batido clichê do adulto que acompanha uma criança especial (como vimos recentemente em Mandalorian e The Last of Us). O problema deste clichê é que você precisa se afeiçoar aos personagens. E achei que faltou carisma ao protagonista John David Washington. Ok, admito um pouco de head canon aqui, porque sempre comparo John David com seu pai, Denzel Washington – é difícil quando você é filho de um ator do porte do Denzel, porque as comparações serão inevitáveis. Mas, head canon à parte, John David é bom, mas não me fez torcer por ele. Também no elenco, Gemma Chan, Allison Janney, Ken Watanabe, Ralph Ineson e a menina Madeleine Yuna Voyles.

Sei que falei mal do roteiro de Resistência, mas mesmo assim ainda recomendo a ida ao cinema. Não por ser um filme “inovador” ou “revolucionário”, mas pele visual. Esse visual vale o preço do ingresso!

Os Mercenários 4

Crítica – Os Mercenários 4

Sinopse (imdb): O lendário grupo de mercenários liderado por Barney Ross tem uma nova missão: impedir o início da Terceira Guerra Mundial. Quando as coisas saem do controle, Christmas e os membros da equipe são recrutados para impedir que o pior aconteça.

Quarto filme da franquia Mercenários. Alguém esperava um grande filme?

Gosto do conceito de trazer velhos “action heroes” dos anos 80 e 90 para um filme galhofa. Então vamos a um breve recap dos outros três filmes.

Lançado em 2010, o primeiro Mercenários trazia os “velhos” Sylvester Stallone, Dolph Lundgren, Eric Roberts e Mickey Rourke, auxiliados pelos mais novos Jason Statham, Jet Li, Randy Couture, Steve Austin e Terry Crews. Roteiro? Pra que? A graça era ver o elenco se divertindo. E ainda tinha uma cena com participações especiais de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis!

Lançado dois anos depois, o segundo filme tinha Jean-Claude Van Damme, Chuck Norris e uma participação maior de Schwarzenegger e Willis. E trazia piadas ótimas, com várias referências a outros filmes dos veteranos atores. E em 2014 tivemos o terceiro filme. Se por um lado era mais fraco porque tentava introduzir uma nova geração, por outro lado trazia Antonio Banderas, Wesley Snipes, Harrison Ford e Mel Gibson como vilão.

Agora, quase dez anos depois, temos um quarto filme, com Megan Fox e 50 Cent. Nada contra, mas, não seria mais legal se tivesse Kurt Russell, ou Christophe Lambert, ou Eddie Murphy, Jean Reno, Carl Weathers, Steven Seagal, ou mesmo Sigourney Weaver ou Linda Hamilton (Lucy Lawless foi Xena nos anos 90, será que entra?). Cadê aquela proposta de juntar os velhos? Pra piorar, os velhos que estavam nos outros filmes não estão aqui, só sobrou o Dolph Lundgren – Stallone passa a maior parte do filme fora.

Os filmes da franquia sempre tiveram roteiros fracos, mas o elenco de veteranos compensava. Vou transcrever uma frase que escrevi em 2010, comentando o primeiro filme: “Será que alguém vai ver Os Mercenários por causa da história? Não acredito. O legal aqui é ver o dream team dos filmes de ação!” Desculpa, mas Megan Fox e 50 Cent estão bem longe deste dream team.

Tem outros dois problemas, mas preciso ser justo e reconhecer que são problemas comuns em qualquer filme de ação Hollywoodiano. Um são as sequências de luta. Hollywood filma cenas de ação picotadas, porque normalmente os atores não sabem lutar. E aqui temos dois atores orientais que são muito bons de luta, o Tony Jaa e o Iko Uwais que sabem muito bem fazer cenas de luta. Trazer dois atores deste porte e não mostrá-los lutando do modo certo é um grande desperdício.

Outro problema são os antagonistas. Meia dúzia de mocinhos enfrentam centenas de vilões, e todos são incompetentes. Problema recorrente em Hollywood (inclusive comentei sobre este problema no texto de Mercenários 3). Pra piorar, tem uma longa sequência num navio, e parece que o navio só tinha soldados. Cadê marinheiros, cozinheiros, faxineiros, cadê a tia do café? Era uma boa oportunidade de colocar vilões que não têm intimidade com armas.

Junte a isso uma tela verde bem vagabunda e um roteiro que não deve ter sido revisado antes de filmar – só pra citar uma cena, um momento o vilão está enfrentando o time de mocinhos entrando no barco, e na cena seguinte parece que esqueceu disso e está negociando pelo rádio uma troca de prisioneiros. E nem vou falar das motos, convenientemente estacionadas e equipadas com metralhadoras – por que diabos aquelas motos estariam lá daquele jeito???

Minha expectativa era baixa, porque, como disse no início do texto, é o quarto filme da franquia Mercenários. Mas foi ainda pior. Mercenários virou apenas mais um filme genérico.

Agora parece que a franquia ganhou um novo “dono”, Jason Statham. Mas, sinceramente, prefiro vê-lo em Velozes e Furiosos. Galhofa sim, mas pelo menos os filmes são bem feitos.

Som da Liberdade

Crítica – Som da Liberdade

Sinopse (imdb): Um ex-agente especial do Governo Americano embarca em uma missão arriscada para resgatar crianças vítimas de tráfico infantil na Colômbia.

Vamos ao novo filme polêmico? Como sempre, vou falar antes só sobre o filme e no fim do texto comento a polêmica.

Dirigido por Alejandro Monteverde, Som da Liberdade (Sound of Freedom no original) é um drama que traz um grave problema que é pouco falado: tráfico de crianças e pedofilia. O tema é tabu e incômodo. E por isso mesmo achei uma boa ideia ser abordado num filme em cartaz nos cinemas.

Som da Liberdade se baseia na história real de Tim Ballard, que era um policial que caçava pedófilos. Até que um dia caiu a ficha: ele prende o pedófilo, mas não consegue ajudar a criança que foi sequestrada e abusada. Ele então resolve ir para a Colômbia para montar uma nega operação onde vai ao mesmo tempo capturar pedófilos e libertar crianças. E, aparentemente, essa parte foi de verdade, porque vemos nos créditos imagens supostamente da operação real.

Essa parte da operação é muito boa. Pena que a parte final do filme, na minha humilde opinião, é bem mais fraca. O filme entra num “momento Rambo” que destoa do resto do filme. Se antes era tudo crível, pé no chão, essa parte na floresta parece filme de super herói. O cara vai sozinho pra floresta e enfrenta um grupo numeroso e experiente. Não combina com o personagem apresentando anteriormente.

Mesmo assim, Som da Liberdade passa uma mensagem forte. Pena que, na minha humilde opinião, às vezes o filme força a mão no sentimentalismo. Tipo, a gente já sabe que o cara sente falta da filha todas as vezes que vê a cama vazia, o filme não precisa repetir isso várias vezes, e depois ainda mostrar o cara indo pra cama da filha. Como mensagem, ok; como cinema, foi excessivo. E, pra piorar, alguns diálogos são bem ruins e soam muito artificiais.

Algumas atuações são boas. Jim Caviezel se entrega ao papel, e está muito bem. Bill Camp, que faz o “Vampiro”, personagem que é mais ou menos um “braço direito” do protagonista na Colômbia, também está muito bem. Mira Sorvino tem um papel importante, mas aparece pouco, deve ter filmado tudo em uma única diária. Agora, os antagonistas, que fazem os pedófilos, são caricatos demais.

Sobre a polêmica. Parece que o Tim Ballard da vida real é um cara polêmico e tem muita gente que não gosta dele. Ou seja, é um filme “com torcida”: as pessoas que não gostam dele simplesmente falam mal mesmo sem ver o filme. Porque, dentro do filme, não tem absolutamente nada que contribua para a polarização.

Tem outra coisa, mas acho que entra no território das fake news. Som da Liberdade era da Fox, mas quando a Fox foi comprada pela Disney, o projeto foi engavetado – assim como outros projetos. Mas aí tem gente dizendo que a Disney recusou o filme porque apoia a pedofilia. Muita teoria da conspiração…

No meio dos créditos aparece o Jim Caviezel pedindo pra todos divulgarem o filme e convidarem amigos, para espalhar a mensagem. Ele chega a sugerir que o espectador compre um novo ingresso e dê pra alguém. Lembrei daquele filme brasileiro religioso que a igreja comprou vários ingressos e distribuiu…

Ruim Pra Cachorro

Crítica – Ruim Pra Cachorro

Sinopse (imdb): Um cachorro abandonado se une a outros vira-latas para se vingar de seu antigo dono.

Costumo evitar trailers, porque muitas vezes os trailers mostram demais. Mas vi esse trailer de Ruim Pra Cachorro, achei muito engraçado, cheguei a compartilhar o link do trailer.

E aí quando vi o filme, reparei que quase todas as boas piadas estão no trailer… :-/

Enfim, vamos ao filme. Dirigido pelo pouco conhecido Josh Greenbaum, Ruim Pra Cachorro (Strays, no original) guarda uma certa semelhança de marketing com Festa da Salsicha: olhando de longe, parece um filme fofo para crianças. Mas na realidade é uma comédia pesada para adultos. Ok, Ruim Pra Cachorro não é tão ofensivo quando Festa da Salsicha, mas ainda está longe de ser um produto voltado ao público mais novo.

O filme tem algumas piadas bem engraçadas, mas tem outras bem bobas. São basicamente dois tipos de piadas. Tem as piadas “pesadas” – as que envolvem palavrões, sexo e escatologia, e que, na minha humilde opinião, são as menos engraçadas. Pra mim, as melhores piadas são as que brincam com manias de cachorros, tipo a piada do “Toc Toc” ou o mistério sobre os chocolates. Donos de cachorros vão se divertir com essas piadas caninas!

Tecnicamente falando, Ruim Pra Cachorro é muito bom. Segundo o imdb, 95% do filme usa cachorros reais- deve ter dado um trabalhão pra adestrar todos os cães pra fazerem tudo aquilo. Vi a versão legendada, as bocas dos cachorros se movem como as palavras (claro que isso foi cgi).

No elenco, as principais vozes são Will Ferrell e Jamie Foxx. Ferrell está apenas ok como o cachorro bobinho e deslumbrado. Já Foxx está excelente, dá pra visualizar o ator se divertindo nas gravações. Também no elenco, Isla Fisher, Randall Park, Will Forte e Sofia Vergara.

Se você não viu o trailer, vai se divertir mais no filme.

A Noite das Bruxas

Crítica – A Noite das Bruxas

Sinopse (imdb): Na Veneza pós-Segunda Guerra Mundial, Poirot, agora aposentado e vivendo em seu próprio exílio, relutantemente vai a uma sessão espírita. Mas quando um dos convidados é assassinado, cabe ao ex-detetive descobrir mais uma vez o assassino.

Terceiro filme do Kenneth Branagh como Hercule Poirot. Branagh dirige e estrela cada um deles. Mas não são continuações, cada um é baseado em um livro diferente da Agatha Christie. A única coisa em comum é o protagonista.

Tive um problema com o primeiro filme, Assassinato no Expresso Oriente, porque me lembrava do final, lembrava justamente quem é o assassino, então metade do filme perdeu a graça. E o segundo filme, Morte no Nilo, não é tão bom, tem alguns problemas no seu desenvolvimento. Posso dizer que, dos três, gostei mais deste terceiro.

A Noite das Bruxas (A Haunting in Venice, no original) foi baseado no livro Hallowe’en Party, que nunca tinha sido adaptado para o cinema, apenas para a tv. A trama foi trazida do Reino Unido para Veneza. E, apesar do nome sugerir, A Noite das Bruxas não é terror. Mas tem alguns jump scares!

A trama desenvolve bem o whodunit*. Todos os personagens estão fechados dentro de uma casa enorme, isolados porque a chuva fez os canais transbordarem. Acontece um assassinato e Poirot precisa investigar. Claro, ao longo da trama descobrimos que todos têm motivo para terem cometido o crime.

Branagh combinou com a equipe técnica de não avisar ao elenco quando luzes piscavam ou portas batiam. Algumas das reações no filme são legítimas!

A fotografia é muito boa e sabe aproveitar bem as paisagens de Veneza e a mansão onde se passa o whodunit. A boa trilha sonora de Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar pela trilha de Coringa) ajuda a criar o clima.

No elenco, Kenneth Branagh manda bem como era de se esperar. Digo mais: seu Hercule Poirot está meio confuso ao longo da projeção, e ao fim do filme a gente descobre por que. Gostei da personagem da Tina Fey, gosto da atriz, gosto do nome “Ariadne”, e gostei de como a personagem tem camadas diferentes. O grande elenco também conta com Michelle Yeoh, Jamie Dornan, Kelly Reilly, Camille Cottin, Emma Laird, Kyle Allen, Ali Khan e Riccardo Scamarcio.

Noite das Bruxas é melhor que os dois filmes anteriores, mas o fato de ser um terceiro filme talvez afaste o público. E aí vai ficar a dúvida: será que Branagh aposentará o seu Poirot, ou será que veremos mais uma adaptação da Agatha Christie?

*Glossário: Whodunit é o estilo de história onde acontece um crime, a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado.

Que horas eu te pego

Crítica – Que horas eu te pego

Sinopse (imdb): Maddie, à beira da falência, é contratada por pais superprotetores para ajudar seu filho introvertido a se tornar mais confiante antes da faculdade. Ela tem apenas um verão para completar sua missão.

Escrito e dirigido pelo pouco conhecido Gene Stupnitsky, Que horas eu te pego (No Hard Feelings, no original) usa o formato de comédia romântica: um casal improvável, começa a descobrir afinidades, rola um estresse, etc. Receita de bolo. Um bom exemplo da diferença de pontos de vista do casal está na interpretação da música Maneater, do Daryl Hall & John Oats – o garoto interpreta a música como se fosse um monstro que sai à noite para comer pessoas.

(Aliás, a versão piano e voz de Maneater ficou muito boa!)

Que horas eu te pego também tem uma pegada forte de comédias dos anos 90 / 2000 ligadas a temática sexual, tipo American Pie ou Um Show de Vizinha. Mas, na minha humilde opinião, as melhores piadas são as que focam na diferença de idade e de visões do mundo. (conflito de gerações)

Ainda sobre essa pegada de anos 90 / 2000, o filme apresenta uma falha sobre os dias de hoje, porque o garoto ia procurar informações na Internet sobre ela. Se em uma cena todos estão super conectados, no resto do filme até parece que não existem redes sociais.

Que horas eu te pego segue de clichê em clichê, uma piada boa aqui, uma piada sem graça acolá. O melhor são os dois principais. Jennifer Lawrence está ótima, e o garoto Andrew Barth Feldman é um achado. A química entre os dois é muito boa, as interações entre eles são o melhor do filme.

Sobre a polêmica da cena de nudez, preciso dizer que é uma cena corajosa. Jennifer Lawrence ganhou o Oscar de melhor atriz em 2013 por O Lado Bom da Vida e foi indicada outras três vezes, por Inverno da Alma (2011), Trapaça (2014) e Joy (2016). Em 2015 e 16 ela era a atriz mais bem paga do mundo, com um papel importante na franquia X-Men e o papel principal da franquia Jogos Vorazes. Ela tem star power suficiente pra se recusar a fazer uma cena dessas. Mas, se a gente parar pra pensar, não é uma cena gratuita. Ela tirou a roupa pra seduzir o garoto, e foi recuperar as roupas que foram roubadas, existe um motivo pra personagem estar nua. Enfim, a cena ficou engraçada. Jennifer Lawrence nua sim, mas num contexto bem longe de sexual.

No elenco, o filme é dos dois principais. Mas preciso citar o pai de menino, interpretado por Matthew Broderick. Heu não reconheci o eterno Ferris Bueller!

Mesmo previsível, Que horas eu te pego funciona dentro da proposta. Pode divertir quem entrar na onda.

A Freira 2

Crítica – A Freira 2

Sinopse (imdb): França, 1956. Um padre é assassinado. Um mal está se espalhando. A sequência de A Freira (2018) segue a irmã Irene quando ela mais uma vez fica cara a cara com a força demoníaca Valak, a Freira.

James Wan é um dos maiores nomes do terror contemporâneo. O cara fez quatro filmes excelentes, os dois primeiros Sobrenatural e os dois primeiros Invocação do Mal. O único problema é que os filmes fizeram sucesso e geraram continuações e spin-offs – todos de qualidade inferior.

A Feira 2 (The Nun II, no original) é continuação do spin-off A Freira, que por sua vez veio de Invocação do Mal 2. Ou seja, quem for ao cinema com expectativa alta já começou errado!

Quando acabou a sessão de imprensa, alguns críticos amigos estavam revoltados, dizendo que A Freira 2 é um dos piores filmes do ano. Não achei tanto. Está bem longe de ser um grande filme, mas até que tem uma coisa boa aqui e outra ali. Vamulá.

Começo pelo roteiro, que é uma bagunça. Um exemplo simples: tem uma cena no início do filme onde aparece um entregador, que entra numa casa para deixar compras de mercado. E aparece a Freira e o mata. Ok. Agora, quem era esse entregador? Onde ele estava? Pra que mostrar um evento que não vai ligar a nada mais dentro do filme?

O roteiro segue tropeçando até o bode. Acho que alguém viu A Bruxa e gostou da ideia de ter um bode “do mal” – o bode Black Phillip é realmente assustador. Mas aí criaram um bode meio demônio, que aparece do nada, corre corre corre e some da mesma maneira que apareceu. Sabe a piada “tira o bode da sala”? Poizé, tira o bode do filme que tudo melhora.

A direção é de Michael Chaves (A Maldição da Chorona, Invocação do Mal 3), que é um bom discípulo do James Wan, mas ainda falta comer muito arroz com feijão pra alcançar o mestre. Mas, em defesa de Chaves, ele consegue criar um bom clima em algumas cenas, e, pra quem gosta de jump scares óbvios, o filme tem um monte.

Um parágrafo à parte pra falar daquela que provavelmente é a melhor cena do filme: a protagonista está diante de uma banca de revistas, e o vento começa a virar páginas de várias revistas. A cena é criativa, e o resultado ficou muito bom.

No elenco, temos a volta de Taissa Farmiga, irmã da Vera Farmiga (protagonista da série Invocação do Mal). Storm Reid, de Desaparecida, está num papel completamente desnecessário – mais uma vez: tire o personagem e o filme não perde nada. Também no elenco, Jonas Bloquet, Anna Popplewell e Bonnie Aarons (repetindo o papel de Valak – a freira do título).

Como falei antes, A Freira 2 não é um grande filme. Mas acredito que vai agradar aqueles que vão ao Multiplex atrás de jump scares genéricos.

Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Crítica – Tartarugas Ninja: Caos Mutante

Sinopse (imdb): Os irmãos Tartaruga trabalham para conquistar o amor da cidade de Nova York enquanto enfrentam um exército de mutantes.

Antes de tudo, preciso falar que não sou fã das Tartaruga Ninja. Vi os filmes dos anos 90, vi os filmes dos anos 2010, mas nunca li nenhum quadrinho nem nunca vi nenhum desenho animado. Quando soube que este novo longa seria uma animação, quase decidi não ver. Mas um amigo que trabalhou na dublagem do filme comentou que o visual lembrava os longas do Aranhaverso. “You had my curiosity, now you have my atention!”

A gente se acostumou a animações cada vez mais realistas, evoluindo a cada ano – lembro quando vi Soul, que tem cenários que parecem filmados em vez de desenhados. Aí chegou o Homem Aranha no Aranhaverso, que trazia outra proposta: em vez de realismo, parece que estamos vendo páginas de quadrinhos na tela do cinema. Essa proposta foi tão revolucionária que ganhou o Oscar de melhor animação e começou a influenciar grandes estúdios – Gato de Botas 2 usou essas técnicas “low fi” em algumas sequências.

Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Teenage Mutant Ninja Turtles: Mutant Mayhem, no original) foi dirigido por Jeff Rowe e Kyler Spears, que antes tinha trabalhado em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (outro exemplo bem-sucedido de animação que usa um visual diferente do padrão). O longa segue o estilo de “animação não realista”, mas não tenta se parecer com o Aranhaverso. O traço da animação lembra pinturas à mão, e o visual ficou impressionante. E o filme tem algumas cenas muito boas, como uma sequência de ação onde eles atacam mais de um lugar, e a edição corta trechos de cada ataque para mostrá-los em ação.

Mas o filme não é bom só por causa disso, a história também é boa. Como comentei antes, não conheço muito do universo das Tartarugas Ninja. Não sei o vilão já existia ou se foi criado para o filme. Independente disso, achei o vilão ótimo, gostei dele ter a mesma origem dos heróis, e como isso causou uma confusão no entendimento deles. Não sei se fui o único a pensar assim, mas senti uma vibe meio X-Men, com mutantes sendo rejeitados pela população, e dois grupos com perspectivas diferentes, um querendo apenas ser aceito, o outro querendo oposição aos “normais”.

O filme tem muitas piadas boas (logo no início tem uma piada de humor negro envolvendo uma barata que ri tanto que quase perdi a cena seguinte). E são muitas referências à cultura pop: falam de Marvel, de DC, de cantores, etc.

Tartarugas Ninja: Caos Mutante ainda traz outra novidade. Normalmente, cada ator grava suas falas isoladamente, e depois as frases soltas são editadas para parecerem diálogos. Aqui, foram colocados quatro atores adolescentes no mesmo estúdio, falando ao mesmo tempo, e permitindo improvisações. Isso gerou um ótimo entrosamento entre os personagens.

(Um breve comentário sobre a idade dos quatro protagonistas. Fui catar as idades dos atores Nicolas Cantu, Shamon Brown Jr., Micah Abbey e Brady Noon, mas não achei de todos. Um deles é de setembro de 2003, ou seja, mês que vem faz 20 anos. Lá nos EUA ele ainda é “teenager”, mas, aqui no Brasil, não podemos chamá-lo de “adolescente”…)

A dublagem é boa, mas quando vemos o elenco original, dá pena. Dá vontade de rever, pra ouvir as vozes de Jackie Chan, Seth Rogen, John Cena, Rose Byrne, Ice Cube, Post Malone, Paul Rudd e Maya Rudolph.

Temos uma cena pós créditos com um gancho pra continuação, que deve acontecer. Que mantenham a qualidade!

Drácula: A Última Viagem do Demeter

Crítica – Drácula: A Última Viagem do Demeter

Sinopse (imdb): Baseado no livro “Drácula” de Bram Stoker, a história se passa a bordo do navio Demeter, onde uma tripulação condenada enfrenta eventos estranhos e aterrorizantes durante a viagem.

Antes de falar do filme, queria comentar o título nacional. O título original é “A Última Viagem do Demeter”, e acho um nome muito melhor. Mas, lembro que já tinha comentado que queria ver este filme, e mais de uma pessoa veio me perguntar “afinal, quem é Demeter?”. Ou seja, por mais que colocar “Drácula” no título seja ruim, pelo menos deve ajudar a vender o filme.

É o filme novo do norueguês André Øvredal, o mesmo de Caçador de Trolls e Autópsia de Jane Doe. Gosto do estilo de Øvredal, e a informação de que é um norueguês é importante, porque o filme toma certas atitudes corajosas que não são muito comuns em Hollywood, que costuma proteger alguns tipos de personagens.

É um filme do Drácula, como diz o título. Mas não vemos o Drácula charmoso e estilos de sempre, A Última Viagem do Demeter está mais pra “filme de monstro”. E preciso dizer que curti muito esse Drácula monstro.

O diretor falou que queria fazer um novo Alien, um filme que tinha 7 passageiros em uma grande nave onde um monstro assassino estava escondido, matando um a um, e as pessoas não sabiam onde estava o monstro e nem colo enfrentá-lo. Aqui o formato é o mesmo, só que são dez pessoas dentro de um navio em alto mar.

O clima de terror dentro do barco é muito bom. Não tem momento light, não tem alívio cômico, a parada é séria e tensa. A boa trilha sonora de Bear McCreary ajuda a criar o clima.

Tenho um elogio e uma crítica ao Drácula monstro. Gostei muito da caracterização e da maquiagem – usaram o mesmo Javier Botet que já fez vários monstros em filmes de terror. Sempre que precisam de uma criatura alta e magra, ele é chamado – ele foi a Menina Medeiros de REC, o personagem título de Mama, o Homem Torto de Invocação do Mal, o Demônio das Chaves do último Sobrenatural, e o personagem título de Slenderman. Botet ficou perfeito. Agora, em alguns momentos os efeitos práticos são substituídos por cgi, e esse cgi é meio tosco.

Nem tudo funciona. Ok, a gente sabe que o cinema de terror é baseado em decisões burras de personagens, mas, caramba, por que ninguém pensou em abrir as caixas? Por que não faziam as coisas de dia? Mas, como falei, decisões burras de personagens. Temos que relevar.

O elenco está bem. Ok, alguns personagens são um pouco rasos, mas o formato de “filme de terror onde morre um de cada vez” não tem espaço pra construção de muitos personagens complexos. Nenhum nome muito conhecido, os principais são Corey Hawkins, Liam Cunningham, Aisling Franciosi e David Dastmalchian. E, olha lá, comentei aqui outro dia sobre Toc Toc Toc Ecos do Além, o menino Woody Norman também está aqui.

A história fecha, mas o fim do filme traz um gancho para uma possível continuação. Será que veremos um Demeter 2?