Armadilha

Crítica – Armadilha

Sinopse (imdb): Um pai e sua filha adolescente assistem a um concerto pop, onde percebem que estão no centro de um evento sinistro.

Antes de tudo, preciso dizer que rolava um pé atrás. M Night Shyamalan esteve no Brasil para divulgar o filme, mas Armadilha (Trap, no original) não teve sessão de imprensa. Quando isso acontece, normalmente é sinal de que não acreditam no sucesso do filme e estão querendo evitar críticas negativas. Mas, preciso dizer que achei um erro da assessoria. Armadilha não é ruim, tem filmes muito piores que ganham sessões de imprensa.

Vamos ao filme. Claro que Armadilha estava no meu radar, vi todos os filmes do Shyamalan quando lançados no cinema, mesmo os ruins, reconheço que gosto do estilo dele. Claro que queria ver seu novo projeto. Shyamalan disse que seu filme seria “e se O Silêncio dos Inocentes acontecesse dentro de um show da Taylor Swift”?

Armadilha parte de uma proposta interessante. É um filme de serial killer, mas pelo ponto de vista do assassino. Acompanhamos o protagonista em um “momento família”, quando ele vai levar a filha adolescente a um concerto de uma artista pop. E, dentro do estádio, ele descobre que caiu numa armadilha e o local está cercado de centenas de policiais atrás de um homem com o perfil igual ao dele.

Armadilha tem pelo menos dois grandes méritos. Um deles é a atuação de Josh Hartnett. É um personagem complexo, porque ele precisa alternar em segundos entre ser um pai dedicado e amoroso, e um assassino frio e calculista. E Hartnett consegue passar todas as nuances que um personagem desses tem.

Outra coisa que achei impressionante foi a parte musical, a cargo de Saleka Shyamalan, filha do diretor. Todas as músicas da Lady Raven foram compostas por ela, e é ela cantando. Não que sejam músicas sensacionais, não é exatamente o meu estilo, mas reconheço que ela fez um excelente trabalho criando essa diva pop fictícia (provavelmente existe um álbum com todas essas músicas que estavam no show dentro do filme). Vendo o filme, dá pra acreditar que a Lady Raven é uma artista real.

É filme do Shyamalan, claro que tem algumas características comuns em seus filmes. Vou citar um ponto positivo e um negativo que quase sempre estão presentes. O positivo é a câmera, gosto do modo como ele posiciona e movimenta a câmera, como aquela cena onde o Cooper vai ao banheiro, a câmera se aproxima lentamente enquanto ele vai até a cabine, e depois o jogo de câmera pra mostrar ao espectador que ele sempre está vendo a mãe. Também rola, mais de uma vez, um close no rosto de Josh Hartnett com a cara pela metade, no canto da tela. Por outro lado, o ponto negativo é ter explicação demais, como a cena onde falam que a mulher do FBI é a chefe da operação, a gente já sabia aquilo tudo. Ou alguns diálogos na parte final que ficaram tão cheios de detalhes que soam artificiais.

E, claro, tem algumas facilitações de roteiro comuns em filmes assim. Tipo, tudo o que o protagonista tenta fazer pra escapar dá certo. A gente até aceita que ele seja um cara meio “sabonete”, mas algumas cenas ficaram meio forçadas. E teve uma coisa que pensei: entendo que é um estádio cheio, mas, centenas de policiais estão procurando um homem de 40 e poucos anos em um show onde a grande maioria é de meninas adolescentes. E quando vemos a plateia, Hartnett é MUITO mais alto do que todos em volta dele. Ok, muita gente, vários outros suspeitos, mas… Ele estava muito exposto…

Mesmo assim, gostei do resultado final. Shyamalan consegue manter a tensão até o fim, quando o filme toma uns rumos que, pelo menos pra mim, foram completamente inesperados, e começa a fechar o cerco em volta do herói / vilão.

Por fim, uma coisa que acredito que não seja spoiler, mas… Assim como seu filme anterior, Batem À Porta, Armadilha não tem nenhum plot twist bombástico. Acredito que tem gente que vai se decepcionar com isso…

Tem uma “cena pós créditos” que na verdade fica no meio dos créditos. É uma cena boa, bem engraçada, o que é curioso, porque não me lembro de ter rido nenhuma vez ao longo do filme, só nessa cena.

Os Observadores

Crítica – Os Observadores

Sinopse (imdb): Quando Mina fica perdida em uma floresta na Irlanda ela acaba encontrando três estranhos que são perseguidos por criaturas misteriosas todas as noites.

Estreia na direção da filha do Shyamalan, Ishana Shyamalan. Podemos dizer que ela se parece com pai – no bom e no mau sentido.

Antes de tudo, preciso dizer que a expectativa estava lááá embaixo, porque Os Observadores (The Watchers, no original) não teve sessão de imprensa, e a divulgação estava muito fraca. Normalmente quando isso acontece é porque a distribuidora não acredita no potencial do filme. Aí o filme é mal lançado, fica uma semana em cartaz, em poucas salas, e já sai de cena. Fui checar agora, na segunda semana, são poucas as sessões.

Enfim, sem sessão pra imprensa, não pude ver antes. Atrasado, vamos ao meu texto.

Os Observadores tem alguns problemas comuns em filmes do Shyamalan pai. Um deles é o excesso de explicações, e pior: explicações sem embasamento. Um exemplo de um filme recente dele: em Tempo, os personagens estão em uma praia onde o tempo passa numa velocidade diferente, todos envelhecem muito mais rápido. Isso era o suficiente para o espectador: “o tempo passa mais rápido”. Mas aí resolvem colocar uma cena onde uma personagem dita números exatos sobre a passagem de tempo. Não só isso era desnecessário, como atrapalhou a trama, porque um dos personagens não seguia essa exatidão.

Aqui em Os Observadores, temos muitas explicações. Tem uma personagem que parece que só está ali pra explicar coisas sobre o lugar onde eles estão (e ninguém pergunta como ela sabe de tudo!). E parece que isso não era suficiente, porque determinado momento do filme descobrem gravações que só servem pra explicar tudo ainda mais. Vejam bem, heu não gosto de filmes herméticos onde o espectador precisa procurar textos explicativos depois pra entender o que acabou de ver. Mas, existe um equilíbrio! Não precisa explicar tudo!

E o pior é que essa história é meio sem sentido. Sério, me lembrei de Dama na Água, lembro que o Shyamalan disse na época que ele queria contar histórias de fantasia para os filhos, achei que essa era uma daquelas histórias. Só depois soube que o filme se baseia num livro que já existia, escrito por A. M. Shine – será que no livro a história flui melhor?

Outro problema comum na família Shyamalan é ter personagens que não agem de maneira natural. Assim como em Batem À Porta, último filme do Shyamalan pai, onde os personagens demoram pra verbalizar “o elefante na sala”, aqui a protagonista cai num mundo cheio de regras, mas as pessoas só falam as regras no dia seguinte! Passaram uma noite inteira juntos, e ninguém pensou em explicar a ela como funciona esse local?

A boa notícia é que se Ishana repete alguns defeitos do pai, também repete algumas virtudes. Os Observadores é bem conduzido e o filme mantém um interessante clima de tensão ao longo de quase toda a projeção. Gostei de como o filme começa a desenrolar o mistério (queria falar mais, mas é melhor não, por causa de spoilers).

Falei “quase toda a projeção”, né? Poizé. O final é bem fuén. Talvez pela desnecessária necessidade de criar uma espécie de plot twist, o filme se estica e tem um final que deixa o espectador com gosto amargo na boca ao final da sessão. Caramba, se você não tem um bom plot twist, é melhor terminar o filme antes!

No elenco, Dakota Fanning faz cara de paisagem o filme inteiro, mas, funciona pro que o filme pede. Também no elenco, Georgina Campbell, Olwen Fouéré e Oliver Finnegan. Um comentário que não tenho certeza se foi ou não proposital, mas… A protagonista se chama Mina, e sua irmã é Lucy. Duas personagens do livro Dracula, de Bram Stoker. Coincidência?

Mesmo assim, gostei da estreia da Ishana. Apesar dos problemas, Os Observadores não é um filme ruim. Só poderia ser melhor. Aguardemos seu novo projeto.

Batem À Porta

Crítica – Batem À Porta

Sinopse (imdb): Durante as férias, uma garota e seus pais são feitos reféns por estranhos armados que exigem que a família faça uma escolha para evitar o apocalipse.

Filme novo do M. Night Shyamalan sempre entra no radar. Afinal, mesmo quando ele faz filmes ruins, dá pra gente aproveitar algo.

Antes do filme, um parágrafo sobre o diretor. Deve ser difícil ser o Shyamalan. Seu primeiro filme foi muito muito bom (Shyamalan chegou a concorrer a dois Oscars, de melhor direção e melhor roteiro), e a partir do segundo, foi ladeira abaixo até o oitavo. Depois disso, ele alterna bons títulos (Fragmentado) com outros nem tanto (Vidro). Mas parece que nunca mais vai alcançar o seu primeiro trabalho. Mesmo assim, defendo os seus filmes, até os ruins, porque Shyamalan sabe dirigir. Ele sabe como posicionar e como mover sua câmera. Mesmo um filme ruim como Dama na Água tem sequências muito boas.

E é justamente esse talento com a câmera o melhor do seu novo filme, Batem À Porta (Knock at the Cabin no original). A história é curta, poderia ser contada em um episódio de Twilight Zone, e mesmo assim Shyamalan consegue manter a tensão ao longo de uma hora e quarenta minutos.

Quase todo o filme se passa dentro de uma cabana, com os sete personagens centrais (temos alguns flashbacks para contextualizar os protagonistas, e também algumas cenas pela TV). E vemos como Shyamalan trabalha: a câmera passeia pelo cenário e entre os personagens. Coisa discreta e bem sacada.

Diferente de boa parte dos filmes do diretor, Batem À Porta não tem nenhum plot twist bombástico. O foco do filme é saber se aquilo tudo é real ou se estamos diante de fanáticos religiosos. Isso talvez decepcione alguns espectadores.

Nem tudo funciona. Um defeito comum nos filmes do Shyamalan é ter muita explicação. Um exemplo que acontece aqui: determinado momento um personagem fala sobre uma catástrofe bíblica. Aí acontece algo que não é exatamente o texto bíblico, mas se encaixa perfeitamente. E então o personagem repete o texto, como se o espectador fosse burro e não tivesse acabado de ver aquilo.

No elenco, Dave Bautista convence mais a cada novo filme. Se antes ele era apenas um brucutu, já conseguimos vê-lo em papéis mais complexos. O outro nome famoso do elenco, Rupert Grint (Harry Potter) passou a impressão de “meu cachê é caro, então não vou ficar o filme todo, ok?”. Ainda no elenco, Jonathan Groff, Ben Aldridge, Kristen Cui, Nikki Amuka-Bird e Abby Quinn.

Ah, curiosidade sobre o elenco: a atriz Abby Quinn tem o mesmo nome da personagem da Demi Moore em A Sétima Profecia. A atriz nasceu em 1996, o filme é de 1988, será que foi coincidência ou homenagem?

(Tem uma cena onde o personagem de Bautista “se esconde”. Impossível não lembrar do Drax ficando “invisível”!)

Por fim, uma piada ruim. Antes de começar a sessão de imprensa, tinha uma imagem N tela dizendo pra compartilhar a hashtag “batemaporta”. Só li “Batema” porta…

Tempo

Crítica – Tempo

Sinopse (imdb): Uma família de férias em um paraíso tropical descobre que a praia isolada onde eles estão relaxando por algumas horas está de alguma forma fazendo com que envelheçam rapidamente, reduzindo suas vidas inteiras em um único dia.

Gosto muito do M Night Shyamalan, vi todos os seus filmes, até os ruins. Inclusive gravei um Podcrastinadores falando da sua carreira. Como quase sempre seus filmes envolvem mistérios, vou tentar falar o mínimo aqui, pra não entrar em spoilers.

Tempo (Old, no original) é a adaptação da graphic novel Sandcastle de Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters. Não li a HQ, não sei se está fiel ou não, mas pouco importa. Como filme, Tempo funciona bem.

Goste ou não do Shyamalan, é preciso admitir que o cara sabe filmar. Lembro de Dama na Água, que é um filme bem ruim, mas que tem cenas extremamente bem filmadas. Aqui, em Tempo, a câmera está sempre bem posicionada, e muitas vezes em movimento, girando e passeando entre os personagens. E lembrando que boa parte do filme se passa numa praia, não temos muitas opções de ângulos. Tem uma sequência muito boa onde a câmera vai de um lado a outro da praia, e acontece um monte de coisas, aparentemente sem cortes (me parece que foi um plano sequência, quando rever vou prestar atenção). Também gostei da maquiagem, algo necessário quando você precisa mostrar os personagens envelhecendo.

Gostei de Tempo, mas o resultado final não é tão redondinho quando um Sexto Sentido. Alguns diálogos soam artificiais, e algumas coisas não fazem muito sentido, como por exemplo o rapper ter chegado antes na praia e não ter envelhecido. Isso sem falar que tem personagem que é esquecido pelo roteiro…

Além disso, não gostei das explicações. Às vezes o filme perde tempo explicando coisas que não precisam ser explicadas. E tenho uma implicância quando um filme estabelece regras rígidas em cima de suposições. Lembro de Inception, quando eles calculavam que o tempo era uma fração quando se estava no sonho, e então o sonho dentro do sonho teria um cálculo matemático exato. Não, gente, era melhor falar de um tempo aproximado. E o mesmo acontece aqui, os números são exatos, baseados em uma observação que não teve nada de comprovação científica. Não que isso tenha estragado o filme, mas heu preferia se dissessem apenas que “o tempo passa de maneira diferente”. O espectador não precisa de números exatos.

No elenco, Gael Garcia Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell, Alex Wolff, Thomasin McKenzie, Abbey Lee e Ken Leung. Elenco apenas ok.

Acho que o fim do filme poderia ser outro, poderia ter parado uns 5 minutos antes. Mas ok, aceito o final do jeito que ficou.

Por fim, uma informação que muita gente vai querer saber: o filme com Jack Nicholson e Marlon Brando é Duelo de Gigantes, de 1976. E essa informação não é nem um pouco necessária para o filme Tempo. 😉

Vidro

Crítica – Vidro

Sinopse (imdb): O segurança David Dunn usa suas habilidades sobrenaturais para rastrear Kevin Wendell Crumb, um homem perturbado que tem vinte e quatro personalidades.

Já falei aqui sobre a carreira do M. Night Shyamalan. Depois de um início sensacional, foi ladeira abaixo até A Visita (seu nono filme) começar uma curva ascendente, que culminou no bom Fragmentado – que terminou com uma cena que o ligava a Corpo Fechado, segundo filme do diretor. Agora é o momento de ver como ficou essa conexão entre os dois filmes aparentemente independentes entre si.

(Todos se perguntam se Shyamalan teve a ideia de fazer uma trilogia lá atrás, quando fez Corpo Fechado. Heu acredito que não, que a ideia só deve ter surgido junto com Fragmentado – quando fez Dama na Água ele tinha moral para um grande orçamento, era melhor ter feito àquela época, quando o Bruce Willis estava mais novo).

O melhor de Vidro (Glass, no original) é como foi feita a união desses dois filmes. Não me lembro de outro caso assim, onde um filme é revisitado quase vinte anos depois, e é ligado a outro filme que não teria nada a ver – com o detalhe de manter o diretor e roteirista, além de todo o elenco (não só temos o trio principal Bruce Willis, Samuel L. Jackson e James McAvoy, como Spencer Treat Clark repete o papel de filho do Bruce Willis e Charlayne Woodard volta como a mãe do Samuel L. Jackson, papeis que eles fizeram em Corpo Fechado). E, vendo Vidro, a gente realmente acredita que os três filmes são uma coisa só. Palmas para o Shyamalan.

Se por um lado a junção dos dois filmes ficou boa, por outro lado Shyamalan perdeu a mão no ritmo do filme. Sim, ele continua sabendo conduzir sua câmera, e a boa trilha sonora ajuda. Mas em alguns momentos Vidro fica chato, com muita enrolação, principalmente na parte do hospital. Talvez pudesse ser um filme mais curto – são duas horas e nove minutos!

Outra coisa que não funcionou é que este era pra ser o filme do Mr. Glass (já que o primeiro foi do David Dunn e o segundo, do Kevin). Ele inclusive ganha o nome do filme. Mas sua participação é discreta, ele passa mais da metade do filme olhando pro nada. (Além disso, fiquei me perguntando por que a personagem da Sarah Paulson o colocou junto com os outros dois, inteligência não é exatamente um super poder).

Sobre o elenco, James McAvoy novamente dá um show. Sim, é a repetição do papel que ele já tinha feito em Fragmentado, mas aqui ele vai além, e conhecemos outras das suas personalidades. E McAvoy realmente convence quando muda de “personagem” – em uma das cenas, a câmera está dando voltas num quarto, enquanto personalidades entram e saem. Impressionante! Por outro lado, Anya Taylor-Joy não acrescenta nada com a volta do seu papel.

Vidro não vai agradar a todos, principalmente quem for ao cinema pra ver um filme de super heróis. Mas os fãs do diretor vão curtir.

p.s.: Vidro funciona muito melhor se você se lembra do que acontece em Corpo Fechado e Fragmentado. Não há explicações, quem não viu ou não se lembra talvez se sinta perdido em algumas situações.

Fragmentado

fragmentadoCrítica – Fragmentado

Três adolescentes são sequestradas por um homem diagnosticado com 23 diferentes personalidades. Elas precisam escapar antes do surgimento de uma assustadora vigésima quarta.

Um filme novo do M. Night Shyamalan já começa com dois problemas. Primeiro, a comparação com o excelente O Sexto Sentido. Depois, a lembrança das bombas que ele dirigiu depois (Dama na Água, Fim dos Tempos, O Último Mestre do Ar e Depois da Terra). A carreira do cara vai do clássico obrigatório até o fundo do poço. Ou seja, pode vir qualquer coisa.

Seu último filme, A Visita, foi bom – nenhuma obra prima, mas muito melhor que os quatro antecessores. Mas o melhor de tudo era sentir que a carreira de Shyamalan estava voltando aos bons momentos.

Fragmentado (Split, no original) não é um novo Sexto Sentido. Mas confirma a boa fase apontada pelo último filme. Um filme bem conduzido, com bons momentos de tensão e uma câmera sempre bem posicionada. E algo essencial para esta proposta: um ator inspiradíssimo.

James McAvoy (o professor Xavier do reboot de X-Men) tem aqui o melhor papel da sua carreira. O cara conseguiu criar personagens muito diferentes, e só no olhar a gente já sabe quem é quem. Este tipo de filme não costuma gerar prêmios de atuação, mas não será surpresa ver McAvoy indicado ao Oscar ano que vem. O outro destaque no elenco é Anya Taylor-Joy, de A Bruxa – o resto do elenco tem nomes pouco conhecidos.

Ah, uma coisa importante: quando li na sinopse que seriam 23 personalidades, achei que não ia funcionar – não tem como desenvolver tantos personagens em um filme de apenas duas horas. Felizmente a narrativa principal foca em apenas 3 ou 4 personalidades. Funcionou muito bem.

Achei a parte final um pouco exagerada. Mas a cena final justifica o exagero. Será que teremos continuação?

A Visita

A VisitaCrítica  – A Visita

Filme novo escrito e dirigido por M. Night Shyamalan. Será uma notícia boa ou ruim?

Uma mãe separada manda seu casal de filhos adolescentes passar uns dias na casa dos avós, que nunca conheceram, porque a mãe saiu de casa brigada antes de casar. Os jovens resolvem fazer um documentário para tentar reaproximar a mãe dos avós, mas acabam descobrindo segredos sobre os avós.

Shyamalan tem uma carreira curiosa. Seu primeiro filme, O Sexto Sentido, foi uma obra prima. Desde então, ele vive à sombra deste filme de estreia. De lá pra cá, foram sete longas, alguns bem ruins. Mas, mesmo assim, ele ainda tem prestígio para lançar seus filmes nos cinemas (nenhum foi direto para home vídeo). E a gente fala mal, mas todo mundo que conheço continua vendo seus filmes, por pior que sejam…

A boa notícia é que A Visita (The Visit, no original) é o melhor Shyamalan em muito tempo. Não chega a ser tão bom quanto O Sexto Sentido, mas é bem melhor que seus quatro últimos filmes (Dama na Água, Fim dos Tempos, O Último Mestre do Ar e Depois da Terra). Aliás, é bom avisar que Shyamalan voltou ao seu estilo, depois de dois filmes “fora da curva” – O Último Mestre do Ar foi uma adaptação, e Depois da Terra era uma tentativa de alavancar a carreira de Jaden Smith (e ambos foram bem ruins). A Visita lembra seu início de carreira.

A Visita é terror, mas o filme é bem humorado. Não chega a ser uma comédia, mas dá pra rir durante a projeção – uma das boas sacadas é que o garoto troca palavrões por nomes de cantoras pop. Temos um susto aqui, outro acolá, mas o que A Visita tem de melhor é o clima criado pelo diretor. Toda a ambientação dentro da casa é muito boa, assim como o mistério sobre os avós.

Shyamalan usa o batido recurso da câmera encontrada, mas o resultado é melhor do que a média – são duas câmeras, os adolescentes filmam tudo o tempo todo. Mesmo assim, acho que este recurso já deu o que tinha que dar. Nas cenas finais, a menina teria largado a câmera…

Gostei do elenco, o quarteto principal de nomes desconhecidos (Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Deanna Dunagan, Peter McRobbie) está muito bem, especialmente a avó maluquinha. O único nome mais conhecido do elenco é Kathryn Hahn, que pouco aparece como a mãe.

No fim, sempre fica a comparação com sua obra mais famosa. Mas podemos dizer que Shyamalan voltou aos “velhos tempos”.

O Sexto Sentido

Crítica – O Sexto Sentido

Hora de rever O Sexto Sentido!

Um garoto que se comunica com espíritos que nem sempre sabem que estão morto é ajudado por um psicólogo infantil.

Todo mundo já viu O Sexto Sentido (The Sixth Sense, no original), não? Bem, se você não viu, faça um favor a você mesmo e veja. E tome cuidado para não ler nada sobre o fim, um dos finais mais surpreendentes da história do cinema.

A boa notícia: O Sexto Sentido continua bom mesmo visto hoje, 14 anos depois (o filme é de 1999). Hoje a gente conhece a carreira do diretor e roteirista M. Night Shyamalan e fica com os dois pés atrás com cada um de seus novos filmes. Mas, mesmo conhecendo sua reputação, seu primeiro filme ainda é um filmaço.

Shyamalan teve problemas na produção de seu filme. O estúdio Buena Vista, da Disney, não queria liberar uma grande produção nas mãos de um diretor e roteirista estreante. Mas no fim, felizmente, o resultado ficou excelente, a história do menino que vê gente morta é muito bem contada. Shyamalan consegue criar o clima perfeito de tensão que o filme pede.

O elenco ajuda. Haley Joel Osment (que, diz a lenda, não passou no teste para ser o novo Anakin no Star Wars ep 1 lançado no mesmo ano) mostra impressionante maturidade ao liderar o elenco de gente mais velha e mais experiente. Bruce Willis também está muito bem, assim como Toni Collette. Ainda no elenco, Olivia Williams e Donnie Wahlberg. Ah, curiosidade: sabe a menininha envenenada? É a Mischa Barton, que cresceu e ficou famosa com a série The O.C.

Pra quem não acompanha bastidores, a carreira de Shyamalan é curiosa. Este seu primeiro filme é realmente muito bom, mas depois foi ladeira abaixo. Depois de O Sexto Sentido, veio Corpo Fechado, bom filme, mas parecido demais com o primeiro. Depois veio Sinais, que começa bem, mas termina mal, muito mal. Aí veio A Vila, ideia interessante, mas que não sustenta um longa, seria um bom episódio de uma série tipo Twilight ZoneDama na Água veio em seguida, e é ruim, ruim, ruim – se fosse despretensioso, seria um bom trash. Pouco depois, veio Fim dos Tempos, que é tão ruim, mas tão ruim, que talvez seja pior que Dama na Água. O Último Mestre do Ar, sua primeira adaptação, também falhou. Depois da Terra, seu último filme, é menos ruim que os três anteriores, mas está bem abaixo do seu debut. É, hoje, 15 anos depois, acho que a gente já pode afirmar que O Sexto Sentido foi o “ponto fora da curva”.

Última curiosidade: catando no google, achei uma crítica da época do lançamento, que citava alguns nomes promissores. Além de Shyamalan, falava dos irmãos Wachovski, que no mesmo ano fizeram o excelente Matrix – e que também nunca mais acertaram depois. É, o tempo ensina muita coisa pra gente…

Depois da Terra

Crítica – Depois da Terra

Mais um filme do M. Night Shyamalan. Será que desta vez ele acertou?

Mil anos atrás, a Terra se tornou um lugar inabitável e forçou os humanos a se abrigarem no planeta Nova Prime. Habituados ao novo planeta, um pai e um filho têm que sobreviver na Terra depois que sua espaçonave cai.

Acho que sou masoquista. Falo mal do Shyamalan, mas não perco nenhum filme dele. E esse aqui ainda tinha um grave fator negativo: é estrelado por Jayden Smith, o filho de Will Smith, que até agora mostrou ser um ator bem fraco e sem um décimo do carisma do pai. Mas… Ficção científica… Superprodução… Não resisti e paguei ingresso pra ver qualé.

Vamulá. Depois da Terra não chega a ser ruim. É melhor que os últimos três filmes de Shyamalan, mas, tendo Dama na Água, Fim dos Tempos e O Último Mestre do Ar como comparação, fica difícil ser pior, né?

Mas, desta vez, acho que o problema foi com o produtor e autor do argumento – Will Smith. Parece que Smith quis fazer de Depois da Terra uma plataforma para lançar seu filho Jayden ao primeiro escalão de Hollywood. Will virou coadjuvante para seu filho brilhar, numa trama que fala justamente de um filho que precisa mostrar seus valores ao seu pai. Mas, como disse lá em cima, Jayden é fraco, e isso é um grande problema para o filme.

(Acho que a única coisa boa em ter Jayden é a semelhança física. O moleque é muito parecido com o pai.)

A história tem outro problema. Rola uma breve introdução contando a história de como os terráqueos se adaptaram no planeta alienígena, e somos apresentados ao “monstro local”. Na minha humilde opinião, isso dava um filme mais interessante do que o pai e o filho caindo de volta na Terra…

Com um argumento fraco e um ator fraco como protagonista, acho que desta vez à culpa não foi de Shyamalan…

Mesmo assim, Depois da Terra não chega a ser ruim como os filmes recentes do diretor. Bons efeitos especiais, algumas boas cenas de ação e belas paisagens de um planeta Terra intocado pelo homem seguram o interesse durante os 100 minutos de projeção.

Falo mal do Shyamalan, mas gosto dele. Torço para que volte a fazer bons filmes como no início da carreira. Depois da Terra pode ser uma guinada de volta ao caminho certo. Tomara!

Demônio

Demônio

Novo filme com o polêmico nome M Night Shyalaman envolvido. Felizmente, fora da cadeira de diretor!

Um policial é chamado para investigar um suicídio, quando, no mesmo prédio, cinco pessoas ficam presas num elevador. E o diabo está entre eles!

O coisa ruim em pessoa está presente. Isso não é um spoiler, não só está no título e no cartaz do filme, como ainda rola uma narração em off e um personagem falando sobre isso. O único mistério é qual deles é o capiroto…

Na minha humilde opinião, o filme tem dois defeitos, e ambos têm a cara do Shyamalan. O primeiro, como disse no parágrafo anterior, é o excesso de explicações – não só existe uma narração como um dos personagens ainda repete tudo. O outro problema são os diálogos, fraquíssimos. Alguns lembram o trash Dama na Água, como o momento que um cara joga um pão com geleia no chão para provar a proximidade do cramulhão!!!

Mesmo assim, o resultado final é positivo. Se este filme viesse logo depois de Corpo Fechado, o nome de Shyamalan não seria hoje sinônimo de galhofa.

O filme é o primeiro de um projeto de Shyamalan, o “The Night Chronicles” (“As Crônicas da Noite”, ou “As Crônicas do próprio M Night Shyamalan”), onde outros diretores filmarão histórias suas. Aqui, só a ideia é dele, o roteiro e a direção estão em outras mãos. Se o roteiro de Brian Nelson (30 Dias de Noite) traz alguns diálogos dispensáveis, pelo menos a direção de John Erick Dowdle (Quarentena) tem planos mais ágeis do que Shyamalan costuma fazer. Assim, Demônio consegue manter a tensão e o interesse durante todo o filme.

O elenco de nomes desconhecidos entrega o esperado: ninguém se destaca, ninguém atrapalha. Quem acompanha o blog vai reconhecer pelo menos um nome: a sérvia Bojana Novakovic, que teve pequenos papeis em Arraste-me Para o Inferno e O Fim Da Escuridão.

Enfim, não se tornará um clássico. Mas é melhor que muita coisa lançada por aí…