Sinopse (imdb): Um triângulo amoroso se desenvolve entre uma vampira bonita, mas perigosa, seu companheiro violoncelista e uma gerontologista.
Hoje é dia de revisitar um dos melhores filmes do Tony Scott e um dos maiores cults de vampiros dos anos 80: Fome de Viver.
Mas antes do filme, posso falar do diretor? Lembro de uma piadinha maldosa que rolava nos anos 80 se referindo a Tony Scott como “o irmão menos talentoso do Ridley Scott”. Isso é porque enquanto Ridley era famoso por Alien, Blade Runner e A Lenda, Tony fazia filmes como Top Gun, Um Tira da Pesada 2 e Dias de Trovão. Mas acho isso maldade, Tony simplesmente usou um caminho mais pop.
Tem uma história boa envolvendo um tal de Quentin Tarantino. Tarantino escreveu e dirigiu Cães de Aluguel em 1992, e depois teve dois roteiros oferecidos para outros diretores. Um foi Assassinos por Natureza, dirigido por Oliver Stone. Na época rolaram boatos de que Stone e Tarantino teriam brigado, e Tarantino teria pedido pra tirar o nome dos créditos. Hoje Tarantino é um nome gigante, mas, na época, parecia muita audácia de um jovem quase estreante que estava comprando briga com um veterano que já tinha 3 Oscars (roteiro por Expresso da Meia Noite e direção por Platoon e Nascido em 4 de Julho). Mas o tempo passou e vimos que aquele jovem quase estreante tinha boas cartas na mão.
O outro roteiro era Amor À Queima Roupa, que foi dirigido por Tony Scott. Não ouvi falar de nenhum problema entre os dois. Pelo contrário, o que se falou na época é que ficaram amigos. Tanto que o filme seguinte de Scott, Maré Vermelha, teve colaboração do Tarantino. O roteiro estaria sério demais, então Tarantino teria sido chamado escrever algumas cenas para quebrar a sisudez. Sendo assim, temos algumas cenas um pouco “diferentes”, como aquela onde tem uma citação a Star Trek, ou outra onde rola uma discussão sobre o Surfista Prateado.
Infelizmente Tony Scott faleceu em 2012, aos 68 anos de idade.
Vamos ao filme? Baseado no livro homônimo de Whitley Strieber, Fome de Viver (The Hunger, no original) é um filme de vampiros um pouco diferente. A palavra “vampiro” não é dita em nenhum momento do filme, os vampiros não têm dentes caninos pontiagudos, e eles andam de dia (me lembrei de Quando Chega a Escuridão (1987), da Kathryn Bigelow, outro filme que traz vampiros “diferentes”).
Mesmo revendo hoje, quase quarenta anos depois, o visual do filme ainda é bem legal. A fotografia abusa do contra-luz,várias cenas têm cara de videoclipes – e, coincidência ou não, o filme abre com uma participação da banda Bauhaus com a música Bela Lugosi’s Dead. Achei boa a maquiagem do envelhecimento. Uma coisa que não gostei são os takes em câmera lenta, mas não sei se isso é falha ou se foi estilo do diretor.
(Assim como o irmão Ridley, Tony Scott veio da propaganda, então seus filmes sempre foram estilosos.)
Os vampiros aqui não têm presas, eles usam um colar com um pingente com o símbolo egípcio Ankh, e dentro do pingente tem uma lâmina.
Duas coisas que reparei durante o filme, e confirmei depois lendo a sessão de trívia do imdb. A primeira é um comentário “de músico”. Tem uma cena onde vemos um número musical, Bowie está no violoncelo, Deneuve está ao piano e temos uma outra personagem no violino. Bowie aparece tocando, vemos os seus dedos, ele realmente está tocando – talvez até o som que ouvimos não seja tocado por ele, mas ele, que é músico, aprendeu a tocar violoncelo para o filme. Já Deneuve ao piano finge bem mal…
O outro comentário é sobre as cenas de nudez. Susan Sarandon aparece nua, mas tive a impressão de que Catherine Deneuve tinha usado dublê de corpo – e isso foi confirmado no imdb.
No elenco, o filme fica basicamente em cima dos três principais: Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Tem uma breve participação de um ainda desconhecido Willem Dafoe em uma cena.
Por imposição do estúdio, o fim tem espaço para continuações (algo comum em filmes de terror), mas nunca fizeram um segundo filme. Foi feita uma série homônima em 1997, mas não tem nenhuma conexão com a história deste filme (apesar de usar David Bowie como apresentador).
Fome de Viver não foi bem sucedido nas bilheterias, então Tony Scott desistiu de fazer cinema e voltou a fazer comerciais. Até que dois anos depois Jerry Bruckheimer e Don Simpson o convenceram a fazer Top Gun, que viria a ser o maior sucesso comercial de 1986. A partir daí, Scott não largou mais o cinema.