Crítica – Demons
(Esta é a segunda crítica que faço para este filme, escrevi sobre ele em fevereiro de 2010. Mas esta está mais completa.)
Sinopse (imdb): Um grupo de pessoas é convidado aleatoriamente para a exibição de um filme misterioso, apenas para se encontrarem presos num teatro com demônios vorazes.
Hora de falar de Demons, clássico trash de 1985. Tenho duas histórias pessoais com esse filme, relacionadas a duas vezes que assisti nos cinemas. Vou falar sobre o filme, depois conto as histórias pessoais.
Demons foi dirigido por Lamberto Bava, filho de Mario Bava, diretor, roteirista e diretor de fotografia de vários clássicos de terror italianos – seu filme La ragazza che sapeva troppo, de 1963, é considerado o primeiro filme “giallo”. Lamberto Bava também é um dos roteiristas, ao lado de um tal de Dario Argento.
Pessoas são convidadas para a inauguração de um cinema, e durante a sessão, começam a se transformar em monstros. Sim, é um argumento meio trash. Mesmo assim, o modo como o filme apresenta a metalinguagem é muito bem construído, porque temos duas camadas. A primeira é que estamos assistindo a um filme onde pessoas estão assistindo a um filme. A outra é que, conforme as coisas acontecem no “filme dentro do filme”, coisas semelhantes acontecem no filme que estamos vendo.
Outro destaque em Demons é a maquiagem. Era 1985, não tinha efeitos em cgi, tudo era efeito prático e de maquiagem. E a maquiagem dos monstros é muito muito boa. A cena da primeira pessoa começando a transformação, em frente ao espelho do banheiro, marcou a minha juventude pelo gore apresentado. Digo mais, tem um detalhe ressaltado pelo meu amigo Célio Silva, crítico do G1: este é talvez o único filme que mostra a troca de dentes por presas. Sempre vemos a pessoa transformada, com uma dentição diferente, mas (quase) nunca vemos como essa dentição foi transformada. Aqui tem uma cena mostrando!
A fotografia também é muito boa, Lamberto Bava consegue mostrar o cinema em alguns ângulos bem criativos. E tem algumas cenas muito bem filmadas, como a parte onde o personagem está em uma moto matando demônios com uma katana.
A boa trilha sonora original é de Claudio Simonetti, da banda Goblin, que trabalhou em dezenas de filmes de terror, como Suspiria, Tenebre e Terror na Ópera. Além disso, a trilha usa músicas rock’n’roll, de artistas como Motley Crue, Billy Idol, Accept e Saxon.
Agora, precisamos entender que é um filme trash. Um bom trash, mas não deixa de ser trash. O roteiro tem algumas coisas que não fazem o menor sentido, estão lá só pelo visual, como um demônio que sai das costas de uma personagem.
Além disso, tem uma trama paralela bem chatinha com um grupo fora do cinema. E se estamos falando de um filme de menos de uma hora e meia, fica estranho ter uma parte arrastada. Aquela trama paralela podia ser encurtada – ou mesmo cortada fora do filme.
No elenco, nenhum ator conhecido, e nenhuma boa atuação. Este é daquele formato de filme onde os atores não têm muito espaço para grandes atuações. Só uma curiosidade relativa ao elenco: o homem com a máscara de ferro que distribui os ingressos no início do filme é interpretado por Michele Soavi, que depois viraria diretor de filmes como Dellamorte Dellamore e O Pássaro Sangrento.
Demons teve uma continuação lançada em 1986. Provavelmente vi na época, mas não me lembro de absolutamente nada…
Vamos para as histórias? Segundo o imdb, Demons foi lançado no Brasil em 1988, o que é compatível com a minha primeira história. Vi no Studio Copacabana, uma sala pequena e meio vagabunda que tinha numa galeria na rua Raul Pompeia, Copacabana (se não me falha a memória, mesma galeria que também teve a Bunker, a Mariuzinn e a Le Boy). Vi sozinho, num cinema que ficava no subsolo de uma galeria, igual ao cinema do filme. Confesso que fiquei bolado com a ideia de ficar preso naquele cinema!
A outra história aconteceu este ano. Estava rolando uma maratona noturna no Estação Net Rio, com filmes passando nas cinco salas, a gente podia trocar de sala à vontade. Estava com meus três filhos, e vi que ia ter Demons em uma das salas, fui com eles pra lá. Vimos o filme, e quando acabou, minha filha de 23 anos e meu filho de 15 disseram, quase ao mesmo tempo, “pai, esse é o pior filme que eu já vi na minha vida!”. Bem, o filho de 13 anos não reclamou, acho que ainda tenho esperança de ter um filho que goste de cinema trash…