O Império / L’Empire

Crítica – O Império / L’Empire

Sinopse (imdb): Uma pequena vila no norte da França é o campo de batalha de cavaleiros extraterrestres disfarçados.

Normalmente não vejo trailers. Gosto de entrar na sala de cinema sem saber nada sobre o filme. Mas, Festival do Rio, dezenas de opções em poucos dias, vi alguns trailers pra decidir quais seriam as minhas escolhas. E o trailer deste O Império é muito divertido. Várias coisas malucas! Fiquei curioso e fui ver.

Mas, tudo o que tem de bom no filme estava no trailer…

Escrito e dirigido por Bruno Dumont, O Império tem bons cenários, bons efeitos especiais, e um monte de ideias promissoras. Mas parece que não desenvolveram as ideias, e o resultado final parece incompleto.

Somos apresentados a dois grupos rivais, os 0s e os 1s, que a principio são alienígenas, mas acho que também poderiam ser anjos e demônios, ou ainda poderiam simbolizar uma briga entre a Igreja e o Estado. Personagens estranhos em situações esquisitas e absurdas. Tinha potencial pra entrar numa onda meio Monty Python, meio Guia do Mochileiro das Galáxias.

Mas… Ideias são apresentadas e não são desenvolvidas. Sério, tem alguns momentos que senti que não leram o roteiro antes de filmar. Um exemplo: tem um personagem chave, um bebê que aparentemente será “o escolhido” quando for mais velho. Aí sequestram o bebê, depois devolvem o bebê, depois sequestram de novo, depois devolvem de novo, depois dizem que vão escondê-lo, mas ele estava no mesmo lugar…

Sobre o elenco, são personagens apáticos, então temos atuações apáticas. Quer dizer, alguns estão apáticos, outros estão caricatos. Fabrice Luchini, que já vi em outros filmes, aqui faz um papel tão bobo que causa vergonha alheia.

Pena. Gostei do visual, e os efeitos especiais não parecem ser de uma produção fora de Hollywood. Tem até um “sabre de luz”! Mas fica uma sensação de pastel de vento. Parece que vai ser gostoso, mas não tem nada dentro.

Sob as Águas do Sena

Crítica – Sob as Águas do Sena

Sinopse (imdb): Um tubarão gigante apareceu no rio Sena, em Paris. Para evitar a catástrofe, uma cientista vai ter que encarar as tragédias do próprio passado.

Olimpíadas em Paris rolando, fui catar um filme relacionado. Que tal Sob as Águas do Sena (Sous la Seine, no original), filme francês de tubarão que se passa em Paris às vésperas dos jogos?

Dirigido por Xavier Gens, diretor do ultra violento Frontière(s), de 2007, e que recentemente dirigiu alguns episódios da série Gangs of London, Sob as Águas do Sena traz um tubarão no Rio Sena. É uma ideia aparentemente absurda, mas, na verdade um tubarão já foi avistado no rio Tâmisa, em Londres. Claro que o filme exagera essa ideia, e o tubarão aqui é mutante, muito maior que o normal, e se reproduz muito mais rápido.

Para tentar se diferenciar um pouco dos clichês de filme de tubarão, Sob as Águas do Sena tem um grupo de personagens ecologistas radicais, daqueles que querem salvar o tubarão, mesmo que pra isso humanos precisem morrer. Mas, não sei se foi proposital ou não, mas esse grupo de ecochatos é muito irritante. Tanto que – pequeno spoiler – quando o tubarão ataca a líder do grupo, comemorei!

De resto, Sob as Águas do Sena é mais do mesmo. Um tubarão de cgi que às vezes funciona, outras vezes não, algumas boas cenas de ataques de tubarão, e outras cenas onde a gente se questiona qual é a lógica – tipo aquela cena nas catacumbas onde metade das pessoas, do nada, começa a se desequilibrar e cair na água; ou uma cena onde vemos dezenas de tubarões adultos e se pergunta como eles se alimentam (até aquele momento só o tubarão principal tinha aparecido para o público).

No elenco, achei uma agradável surpresa ver Bérénice Bejo, de O Artista, no papel principal. Não que seja um papel que exija muito talento, mas pelo menos ela manda bem.

Agora, preciso comentar uma coisa, mas é sobre o fim do filme, então vamos aos avisos de spoilers

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Queria comentar duas coisas que acontecem no fim do filme. Uma delas é bem forçada, mas está dentro da lógica proposta pelo filme. A outra, sinceramente não entendi de onde veio.

Vamos para a primeira. No início do filme, vemos duas pessoas com detectores de metais procurando coisas no fundo do rio Sena, que acham uma bomba. O filme então explica que existem bombas no fundo do rio. Pelo que entendi, essas bombas estão lá desde a Segunda Guerra Mundial, ou seja, há quase 80 anos. Até aí, ok. No fim do filme, vemos pessoas atirando, para tentar matar o tubarão, e um desses tiros atinge uma bomba e causa uma explosão. De novo, até aí, ok. O problema é que essa explosão de bomba causa uma reação em cadeia e várias outras bombas em volta também explodem. O filme mostra dezenas de explosões ao longo do rio, destruindo várias pontes. Não vou reclamar disso, afinal o filme menciona a existência dessas bombas. Mas é esquisito pensar que tem bombas no fundo do rio há quase 80 anos e que, de repente, todas vão explodir em uma reação em cadeia.

Já o segundo comentário é sobre uma coisa que heu sinceramente não entendi de onde veio. De repente aparece um tsunami vindo pelo rio. E as cenas finais do filme mostram Paris debaixo da água. Sabe as imagens que a gente viu do Rio Grande do Sul esse ano, com cidades submersas? Pois é, Paris está daquele jeito. Não entendo muito da geografia de Paris, da geografia da França, mas, pelo que heu lembro, não tem como represar aquela água toda. De onde veio toda aquela água que inundou Paris, e por que a água não escoou?

Sério, se alguém souber a resposta, me avise!

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com esse fim completamente aleatório, Sob as Águas do Sena serve para o proposto. Porque afinal, ninguém vai esperar muito de um filme de tubarão no rio Sena.

Demons (segunda crítica)

Crítica – Demons

(Esta é a segunda crítica que faço para este filme, escrevi sobre ele em fevereiro de 2010. Mas esta está mais completa.)

Sinopse (imdb): Um grupo de pessoas é convidado aleatoriamente para a exibição de um filme misterioso, apenas para se encontrarem presos num teatro com demônios vorazes.

Hora de falar de Demons, clássico trash de 1985. Tenho duas histórias pessoais com esse filme, relacionadas a duas vezes que assisti nos cinemas. Vou falar sobre o filme, depois conto as histórias pessoais.

Demons foi dirigido por Lamberto Bava, filho de Mario Bava, diretor, roteirista e diretor de fotografia de vários clássicos de terror italianos – seu filme La ragazza che sapeva troppo, de 1963, é considerado o primeiro filme “giallo”. Lamberto Bava também é um dos roteiristas, ao lado de um tal de Dario Argento.

Pessoas são convidadas para a inauguração de um cinema, e durante a sessão, começam a se transformar em monstros. Sim, é um argumento meio trash. Mesmo assim, o modo como o filme apresenta a metalinguagem é muito bem construído, porque temos duas camadas. A primeira é que estamos assistindo a um filme onde pessoas estão assistindo a um filme. A outra é que, conforme as coisas acontecem no “filme dentro do filme”, coisas semelhantes acontecem no filme que estamos vendo.

Outro destaque em Demons é a maquiagem. Era 1985, não tinha efeitos em cgi, tudo era efeito prático e de maquiagem. E a maquiagem dos monstros é muito muito boa. A cena da primeira pessoa começando a transformação, em frente ao espelho do banheiro, marcou a minha juventude pelo gore apresentado. Digo mais, tem um detalhe ressaltado pelo meu amigo Célio Silva, crítico do G1: este é talvez o único filme que mostra a troca de dentes por presas. Sempre vemos a pessoa transformada, com uma dentição diferente, mas (quase) nunca vemos como essa dentição foi transformada. Aqui tem uma cena mostrando!

A fotografia também é muito boa, Lamberto Bava consegue mostrar o cinema em alguns ângulos bem criativos. E tem algumas cenas muito bem filmadas, como a parte onde o personagem está em uma moto matando demônios com uma katana.

A boa trilha sonora original é de Claudio Simonetti, da banda Goblin, que trabalhou em dezenas de filmes de terror, como Suspiria, Tenebre e Terror na Ópera. Além disso, a trilha usa músicas rock’n’roll, de artistas como Motley Crue, Billy Idol, Accept e Saxon.

Agora, precisamos entender que é um filme trash. Um bom trash, mas não deixa de ser trash. O roteiro tem algumas coisas que não fazem o menor sentido, estão lá só pelo visual, como um demônio que sai das costas de uma personagem.

Além disso, tem uma trama paralela bem chatinha com um grupo fora do cinema. E se estamos falando de um filme de menos de uma hora e meia, fica estranho ter uma parte arrastada. Aquela trama paralela podia ser encurtada – ou mesmo cortada fora do filme.

No elenco, nenhum ator conhecido, e nenhuma boa atuação. Este é daquele formato de filme onde os atores não têm muito espaço para grandes atuações. Só uma curiosidade relativa ao elenco: o homem com a máscara de ferro que distribui os ingressos no início do filme é interpretado por Michele Soavi, que depois viraria diretor de filmes como Dellamorte Dellamore e O Pássaro Sangrento.

Demons teve uma continuação lançada em 1986. Provavelmente vi na época, mas não me lembro de absolutamente nada…

Vamos para as histórias? Segundo o imdb, Demons foi lançado no Brasil em 1988, o que é compatível com a minha primeira história. Vi no Studio Copacabana, uma sala pequena e meio vagabunda que tinha numa galeria na rua Raul Pompeia, Copacabana (se não me falha a memória, mesma galeria que também teve a Bunker, a Mariuzinn e a Le Boy). Vi sozinho, num cinema que ficava no subsolo de uma galeria, igual ao cinema do filme. Confesso que fiquei bolado com a ideia de ficar preso naquele cinema!

A outra história aconteceu este ano. Estava rolando uma maratona noturna no Estação Net Rio, com filmes passando nas cinco salas, a gente podia trocar de sala à vontade. Estava com meus três filhos, e vi que ia ter Demons em uma das salas, fui com eles pra lá. Vimos o filme, e quando acabou, minha filha de 23 anos e meu filho de 15 disseram, quase ao mesmo tempo, “pai, esse é o pior filme que eu já vi na minha vida!”. Bem, o filho de 13 anos não reclamou, acho que ainda tenho esperança de ter um filho que goste de cinema trash…

A Semente do Mal

Crítica – A Semente do Mal

Sinopse (imdb): Ao lado da namorada, Edward decide desvendar os segredos da família biológica, com quem nunca teve contato. No entanto, o que parecia ser uma jornada de descobertas pelo norte de Portugal rapidamente se transforma em um pesadelo.

Outro dia comentei sobre um terror francês. hoje é dia de um terror português!

(Anos atrás, comentei sobre Coisa Ruim, outro terror português, mas faz tanto tempo que nem me lembro de nada desse outro filme…)

Escrito e dirigido por Gabriel Abrantes, A Semente do Mal (ou Amelia’s Children, título internacional) traz a historia da bruxa Amélia, que não sei se é uma lenda portuguesa ou se foi algo criado para o filme. Mas gostei de como a história foi apresentada. Não digo mais por causa de spoilers!

Um homem, nos EUA, que não sabe quem são seus pais, descobre que tem 99,9% de chance de ser irmão gêmeo de um português, e vai até Portugal conhecer sua família de sangue. E, claro, essa família portuguesa tem seus mistérios.

A mansão portuguesa é um bom cenário e cria um clima interessante. O filme tem vários flashes assustadores, mas achei alguns meio fora de propósito, parece que o diretor só queria colocar algumas cenas aleatórias pra aumentar o ar de suspense e mistério. E preciso dizer que achei a maquiagem da velha Amélia muito exagerada.

O filme é português e tem diálogos em português. Mas, ideia esperta da produção para vender o filme para o mercado internacional: os dois protagonistas são americanos, então a maior parte dos diálogos é em inglês. Foi uma boa saída pra ter um filme falado em inglês sem precisar dublar.

Teve um detalhe na atuação do ator principal, Carloto Cotta, que achei bem legal. Ele interpreta dois irmãos gêmeos, um que foi criado em Portugal, outro nos EUA. Eles conversam em inglês, o segundo não sabe falar português. Mas o ator consegue fazer duas pronúncias de inglês, uma com sotaque e outra sem. Um detalhe, mas valorizo isso.

Agora, um problema que achei no elenco – e que não sei se foi proposital – foi usar atrizes parecidas. A protagonista é muito parecida com a versão nova da velha Amélia! Me questiono se a produção quis fazer algo assim para nos confundir… Ah, sim, não conhecia ninguém do elenco.

A Semente do Mal não é “o melhor terror do ano”. Mas valorizo por ser diferente. Por mais filmes de terror de países “não óbvios”!

Infestação

Crítica – Infestação

Sinopse (imdb): Moradores de um prédio de apartamentos francês em ruínas lutam contra um exército de aranhas mortais que se reproduzem rapidamente.

Um terror francês sobre aranhas. O fato de ser um filme off Hollywood tem vantagens e desvantagens. Vamulá.

Gosto de ver coisas diferentes, então um filme europeu é sempre bem vindo. Longa de estreia do diretor Sébastien Vanicek, Infestação (Vermines, no original) consegue colocar um paralelo subliminar pra fazer uma crítica social: as indesejadas aranhas são invasoras estrangeiras. E as aranhas atacam imigrantes africanos que também podem ser chamados de invasores estrangeiros.

Mas por outro lado, Infestação sofre com personagens antipáticos. O protagonista Kaleb brigou com a irmã, com o amigo, com todo mundo, se der mole ele briga até com o espectador. Caramba, estamos vendo um filme onde pessoas precisam enfrentar aranhas pra sobreviver, heu preciso me importar com essa pessoa. Do jeito que aparece no filme, dane-se o Kaleb, morra.

Tem outro problema, mas é um problema que também acontece sempre em Hollywood. As aranhas preferem o escuro, ok. Se você jogar uma luz forte, elas vão fugir, ok. Mas uma luzinha de celular não deveria fazer elas fugirem daquele jeito! Entendo que o filme precisava dar aos personagens um meio de combater as aranhas, mas achei meio tosco.

Mesmo assim, ainda achei positivo ver um terror com um ritmo diferente dos “Blumhouse” padrão. Agora, tem um problema no fim, mas como é no fim, vou mandar um aviso de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim, o imóvel está tomado pelas aranhas, e eles resolvem implodir o prédio. Caramba! Iam sobrar aranhas e ovos de aranhas nos escombros! Eles deveriam ter colocado fogo no prédio!

FIM DOS SPOILERS!

Por fim, uma curiosidade: aquele prédio redondo onde o filme se passa realmente existe. São as “Arenas de Picasso”, em Noisy-le-Grand, perto de Paris, projetadas pelo arquiteto Manuel Núñez Yanowsky nos anos 80.

O Sabor da Vida

Crítica – O Sabor da Vida

Sinopse (imdb): 1885. A cozinheira Eugenie trabalha para o gourmet Dodin há 20 anos. Com o passar do tempo, a admiração mútua gerou um relacionamento amoroso. Eugenie, no entanto, nunca quis se casar com Dodin. Ele decide, então, cozinhar para ela.

Teve um “causo” que viralizou, e como sou “rato de Estação Botafogo”, várias pessoas me encaminharam o vídeo. Funcionários do Estação Net Rio, cinema de rua, fecharam a porta do cinema enquanto ainda estava rolando a última sessão. Quando acabou o filme, os espectadores se viram presos atrás de uma grade e tiveram que chamar a polícia e os bombeiros.

O Grupo Estação, como pedido de desculpas, conseguiu entrar em contato com todos os que ficaram presos naquele dia, e, como pedido de desculpas, ofereceu um passe livre de um ano pra todo o circuito Estação, e ainda uma sessão pré estreia deste O Sabor da Vida, representante francês no Oscar 2024.

Não ganhei o passe livre do Estação, mas pelo menos participei da sessão, com direito a pipoca e várias bebidas liberadas.

Dirigido pelo vietnamita Anh Hung Tran, O Sabor da Vida (La passion de Dodin Bouffant, no original) conta a história de um casal em 1885, onde ambos são excelentes cozinheiros. Eles são namorados, mas ela se recusa a casar. Mesmo assim, são uma dupla em perfeita sintonia. O filme desenvolve bem a relação entre o casal. Mas tive a impressão de que dedica mais tempo de tela com a comida. É um filme que “dá fome”!

Agora, precisamos reconhecer que pouca coisa acontece. Estamos acostumados com outro ritmo, acredito que boa parte do público vai estranhar ver um filme onde quase o tempo todo vemos pessoas cozinhando.

Uma coisa que amplifica essa sensação de estranheza é a ausência de trilha sonora. Não posso afirmar com certeza, mas tive a impressão que só ouvimos trilha não diegética nos créditos finais.

O Sabor da Vida tem vários planos longos. Não sei se podemos chamar de plano sequência, porque são planos onde a câmera fica parada, ou se move muito pouco. Mas são cenas extremamente bem filmadas.

Por fim, uma curiosidade que não entendi na hora, mas depois li a explicação no imdb. Em uma cena, um grupo de amigos se senta à mesa, e todos cobrem a cabeça para comer. Eles estavam comendo um pequeno pássaro chamado ortolan, que, segundo a tradição, quem come precisa cobrir a cabeça com um guardanapo, se debruçar sobre o prato e enfiar o pássaro inteiro na boca de uma vez só.

No fim do filme, deu fome. E curiosidade de saber o que é um “pot au feu”, prato citado no filme.

O Jogo da Morte

Crítica – O Jogo da Morte

Sinopse (imdb): A estudante Dana chora por sua irmã mais nova, uma criança outrora feliz que cometeu suicídio. Desesperada para saber o que aconteceu, ela explora a história online de sua irmã, descobrindo um jogo sinistro nas redes sociais.

Um amigo mandou o link deste O Jogo da Morte, uma “sessão de imprensa online” deste novo terror russo. Confesso que achei que ia ser bem ruim. Olha, não é que me surpreendeu? Não chega a ser um grande filme, mas é melhor do que muito lixo que chega todos os meses.

(Lembrando que terror russo me traz más lembranças, uns anos atrás tivemos alguns filmes de terror russos lançados aqui, todos eram bem fracos. Aliás, acho que o último filme russo que me empolgou foi o insano Hardcore Henry, mas o seu diretor, Ilya Naishuller, quase não dirige longas, e de lá pra cá so fez o também ótimo Anônimo (vi pelo imdb que ele esta fazendo um filme novo, com John Cena, Carla Gugino e Idris Elba, aguardemos!)).

O Jogo da Morte fala do jogo da Baleia Azul, onde jovens eram incentivados a cometer suicídio. A irmã da protagonista é vítima do jogo, então ela resolve entrar para tentar descobrir quem são os responsáveis.

O formato é aquela espécie de found footage que foi usado em Buscando e Desaparecida, filmes que se passam integralmente através de telas de computadores e celulares. (Não posso afirmar com certeza se todo o filme se passa através de telas, mas não reparei em nenhuma cena fora delas.) Ou seja, tudo aqui é construído através de chats, chamadas de vídeo redes sociais, youtube, etc.

Um detalhe importante para o entendimento do espectador: assim como em Desaparecida, tudo o que aparece escrito nas telas está em português. Lembrando que é um filme russo, isso é essencial, imagina ler tudo em russo e ficar procurando as legendas pro que está escrito?

O ritmo do filme é muito bom, reconheço que fiquei tenso em alguns momentos. Mas, por outro lado, a trama é muito previsível. Qualquer um acostumado com filmes de terror vai adivinhar o suposto plot twist do final.

No elenco, jovens atores russos desconhecidos, ninguém chama a atenção.

O Jogo da Morte não é nada revolucionário, não vai mudar a vida de ninguém. Mas é uma diversão melhor que boa parte dos filmes de terror que são lançados.

Zona de Interesse

Critica – Zona de Interesse

Sinopse (imdb): O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, e sua esposa Hedwig, se esforçam para construir a vida dos sonhos para sua família em uma casa com jardim ao lado do campo.

Imagine uma família: pai, mãe, quatro filhos crianças e mais um bebê. Moram numa bela casa, com um jardim grande, piscina, espaço pra horta e até um gazebo. Família com dinheiro, vários empregados em casa. Família feliz, numa casa feliz! Agora, esse pai de família é um oficial nazista, no meio da segunda guerra mundial. E, ao lado da casa, logo depois do muro, está o campo de concentração de Auschwitz.

Sim, esse é Zona de Interesse, novo filme de Jonathan Glazer, e que está indicado a 5 Oscars.

O filme não mostra nada de dentro do campo de concentração. Ficamos só no dia a dia da família, que tem uma vida normal, ouvindo gritos e tiros que vêm do outro lado do muro, 24 horas por dia.

Ouvi um comentário de um amigo crítico, não me lembro quem foi, que falou algo como “a banalização da crueldade”. Zona de Interesse é isso. O oficial recebe uma promoção e vai ser transferido, mas sua esposa se revolta, porque mora na casa perfeita e não quer sair de lá. Enquanto a mãe planta novas mudas para tentar tapar o muro, filho mais velho brinca com dentes de ouro. Enquanto isso, gritos e lamentos são ouvidos o tempo todo.

O som aqui é algo muito importante. Porque a gente não vê nada, só ouve. Vemos uma rotina perfeitamente normal – enquanto do outro lado do muro estão morrendo milhares de pessoas.

Agora, preciso dizer que tem uma característica do diretor que heu não gosto. Lembro de Sob a Pele, filme dele de uns dez anos atrás, onde acontece o mesmo que vemos aqui: cenas longas e chatas, com a câmera parada, apenas captando o ambiente. Um exemplo: perto do fim do filme vemos uma personagem varrendo uma sala. Não contei, mas deve ser perto de um minuto de câmera parada com alguém varrendo o chão. E são várias cenas assim, onde nada importante acontece. É um filme com temática pesada e importante, mas ao mesmo tempo é um filme chato. Talvez se tivesse uma trama sendo contada ao fundo, o filme fluísse melhor – mas, não, é basicamente o dia a dia banal da família.

O filme tem umas cenas em negativo, com trilha sonora esquisita, tudo pra parecer diferentão. Sei lá, na minha humilde opinião, não combinou com o resto do filme. Parece que o diretor apenas queria chamar a atenção.

No elenco, olha lá, Sandra Huller, de Anatomia de uma Queda, tem um dos papéis principais! Mas, aqui ela está apenas ok, o elenco não se destaca em Zona de Interesse.

Zona de Interesse está concorrendo a 5 Oscars – Filme, Filme Internacional, Direção (Jonathan Glazer), Roteiro Adaptado e Som. Como concorre a melhor Filme e também melhor Filme Internacional, a Academia já deu a dica de que é o grande favorito para filme internacional. Sobre os outros, não sei se tem chances.

Anatomia de uma Queda

Crítica – Anatomia de uma Queda

Sinopse (imdb): Uma mulher é suspeita de ter assassinado o marido, e o seu filho cego enfrenta um dilema moral como única testemunha.

Bora pro filme ganhador da Palma de Ouro em Cannes e do Globo de Ouro de melhor roteiro?

Escrito e dirigido por Justine Triet, Anatomia de uma Queda (Anatomie d’une chute, no original) parece um “filme de tribunal”. Mas só de longe, porque foge de vários clichês dos filmes de tribunal que a gente está acostumado.

Logo de cara, acontece uma morte, e não sabemos se o sujeito se matou ou se foi assassinado. A partir daí temos uma investigação, e depois um longo julgamento.

E por que falei que esse não é um filme de tribunal igual aos outros? Porque o foco do filme não é esclarecer o mistério de quem matou, e sim em aprofundar várias camadas dessa área cinza. O filme foca na personagem principal, em vários aspectos de sua personalidade e de sua vida pessoal e profissional.

E aí vemos talvez o maior trunfo de Anatomia de uma Queda: sua protagonista Sandra Hüller, em uma interpretação sensacional, onde vemos e sentimos toda a sua dor e suas dúvidas, problemas conjugais, problemas com um filho que perdeu parte da visão, além da grande questão do filme – será que ela matou seu marido? Sim, teremos um “duelo de gigantes” no Oscar entre Sandra, Emma Stone (Pobres Criaturas) e Lily Gladstone (Assassinos da Lua das Flores).

Tem uma coisa curiosa: ao longo do julgamento somos apresentados a várias outras características da personagem que pouco importam para o ponto chave (se ela matou ou não), coisas como ela ter tido um caso com outra mulher, ou a dúvida sobre qual idioma a ser usado pela família (ela é alemã e o marido é francês, então decidiram usar o inglês). Sim, são pontos que não importam para o julgamento, mas que ajudam a criar uma personagem complexa.

Mas não é só Sandra Hüller que se destaca. O jovem Milo Machado Graner (pelo que li na internet, é filho de uma portuguesa, Susana Machado), que faz o filho com problemas na visão, também está sensacional. Anotem esse nome, esse menino vai longe!

Anatomia de uma Queda é longo, são duas horas e meia de filme, mas tudo é muito bem conduzido, o filme não cansa. E tem uma cena que achei genial, que é quando todos no tribunal começam a ouvir o áudio de uma conversa, e logo a imagem começa a mostrar o casal conversando, e o diálogo começa a ficar cada vez mais tenso. Admiro quem consegue escrever um diálogo tão longo, fluido e ao mesmo tempo complexo.

Tenho um comentário sobre o final, mas não sei se pode ser spoiler, então vamos aos avisos.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Não sei se isso é exatamente um spoiler, mas… Passamos o filme inteiro na dúvida se ela matou ou não o marido, e o filme conclui sem responder isso. Confesso que o meu head canon queria uma solução hollywoodiana com um plot twist onde a gente descobriria um novo fato que mudaria toda a história. Mas, esse seria o meu filme, não o da Justine Triet.

FIM DOS SPOILERS!

Anatomia de uma Queda ganhou Palma de Ouro em Cannes e está concorrendo a 5 Oscars. Não são muitos, mas todos são “nobres”: Melhor Filme, Diretora, Roteiro, Atriz e Edição. Será que ganha algum?

A Sociedade da Neve

Crítica – A Sociedade da Neve

Sinopse (Festival do Rio): Em 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, caiu no coração da Cordilheira dos Andes. Apenas 29 dos seus 45 passageiros sobreviveram ao acidente. Presos num dos ambientes mais hostis e inacessíveis do planeta, eles precisam recorrer a medidas extremas para permanecerem vivos. Adaptação do livro “A Sociedade da Neve”, de Pablo Vierci.

Ué, acho que já vi esse filme. Não é aquele Vivos, de 1993, com o Ethan Hawke?

Bem, 30 anos se passaram, cabe uma nova versão da mesma história. E a boa notícia é que esta nova versão é melhor que aquela!

Vivos é um bom filme, mas é muito “sessão da tarde”, tudo é muito “limpinho”. Depois da sessão de A Sociedade da Neve (La Sociedad de la Nieve, no original) fui rever uns trechos do filme de 93. Um exemplo simples e sem spoilers: depois de 70 dias isolados da civilização, os personagens ainda estão “bonitinhos”. Além disso, esse aqui ainda tem uma característica importante: é falado em espanhol. Ora, se todos os personagens são uruguaios, eles têm que falar espanhol e não inglês!

Dirigido por J.A. Bayona (O Orfanato, O Impossível), A Sociedade da Neve é mais “pé no chão”. As cenas violentas são mais duras, mais reais – nesse aspecto lembra O Impossível. O acidente de avião aqui é sensacional. Não me lembro de um acidente de avião melhor filmado do que este. (Não é spoiler falar do acidente de avião, né? Afinal, o filme existe por causa do acidente!)

O acidente não é o único momento tenso do filme. Não vou entrar em spoilers, mas alguns outros momentos também geraram desconforto na sala do cinema. Também preciso falar da maquiagem, tanto pela parte dos ferimentos quanto pela falta de higiene, a gente vê aos poucos a degradação daqueles caras isolados na neve.

Outro trunfo de A Sociedade da Neve é a construção dos personagens e as relações entre eles, que precisam encarar dilemas morais e éticos em busca da sobrevivência. Não tem nenhum ator conhecido, mas todos convencem. A gente sente o companheirismo daquele grupo.

Alguns comentários sobre a história real. A primeira coisa que a gente pensa é “por que diabos os caras não tentaram descer a montanha?” Sou carioca, a geografia aqui é mais simples: “desça a montanha, procure um rio, siga o curso do rio até encontrar uma cidade”. Mas, a cordilheira dos Andes não é apenas uma montanha. Lembro que em 1991 fui pra Santiago, no Chile, e lembro que o avião passa precisa de vários minutos pra atravessar a cordilheira.

Mesmo assim, penso que se heu estivesse lá, não esperaria tanto tempo pra tentar sair a pé. A cada dia que passava, eles estavam mais fracos. O ideal seria tentar andar o quanto antes. Lembro que quando heu tinha meus 12 ou 13 anos, meu avô tinha um sítio perto da divisa entre RJ e MG, e tinha um morro perto, e heu sempre tinha curiosidade de saber o que tinha atrás do morro. Um dia peguei uma garrafa de água na geladeira, coloquei numa mochila, e subi o morro – só pra descobrir que depois tinham outros morros iguais. Ok, sei que um morrinho no meio do “mar de morros” não é nada perto da cordilheira dos Andes, mas, penso que, se heu estivesse lá, tentaria sair.

Ontem falei de Pobres Criaturas, que é um filme que ainda vai demorar pra estrear. Como A Sociedade da Neve tem o nome “Netflix” no cartaz, achei que já ia estrear. Mas fui no site da Netflix, só em 4 de janeiro…. Mas, fica a recomendação: vejam quando tiverem oportunidade!