Triângulo da Tristeza

Crítica – Triângulo da Tristeza

Sinopse (filmeB): O casal de modelos Carl e Yaya é convidado para um cruzeiro de luxo com uma lista de passageiros super-ricos e um capitão peculiar, alcoólatra e marxista. O que a princípio parecia uma viagem perfeita termina catastroficamente, deixando os sobreviventes presos em uma ilha deserta e lutando pela sobrevivência.

Ganhador da Palma de Ouro de Cannes em 2022 e indicado ao Oscar de melhor filme, claro que queria ver Triângulo da Tristeza, escrito e dirigido por Ruben Östlund (que já tinha ganhado Cannes antes, em 2017, por The Square: A Arte da Discórdia).

Triângulo da Tristeza é uma comédia, mas é uma comédia mais calcada na ironia do que nas piadas. Foram poucos os momentos onde achei realmente engraçados (tipo a piada de humor negro com a granada, onde ri alto!). Mas o filme todo é cheio de críticas irônicas a convenções sociais.

O início do filme me lembrou a série Curb Your Enthusiasm, do Larry David, onde vários episódios são sobre “tempestade em copo d’água”, com uma discussão enorme sobre um assunto besta. Tem duas cenas com discussões assim, uma sobre quem paga a conta do restaurante (a mulher que ganha mais e que combinou que ia pagar faz “cara de paisagem” pro homem assumir a conta); outra sobre um funcionário do navio que está sem camisa e cumprimenta a passageira. Mas, diferente da série do Larry David, aqui não puxa pro lado do humor, fica só no lado do desconforto.

Aliás, falando em desconforto, tem uma cena que vai embrulhar estômagos. O jantar do capitão é servido em uma noite de mar revolto, e muita gente começa a passar mal – e vomitar. Não sei se foi proposital ou não (acredito que sim), mas lembrei do sr Creosote, do filme O Sentido da Vida, do Monty Python. Mas, mais uma vez, a cena é mais desconfortável do que engraçada.

O filme é dividido em três partes. A primeira mostra o casal principal e como é a vida deles; a segunda mostra uma viagem em um iate de luxo onde todos são muito ricos (e por isso acham que podem fazer o que quiserem); a terceira mostra os personagens em uma ilha deserta tendo que repensar convenções sociais para sobreviverem. Não vou entrar em detalhes, mas posso dizer que gostei de como as críticas sociais são apresentadas. Dificilmente o espectador vai sair do cinema sem se questionar sobre alguns temas.

No elenco, um nome conhecido: Woody Harrelson, mas que aparece pouco. Ficou parecendo que a produção não tinha dinheiro para pagar o cachê integral, então pagou só pra aparecer em algumas cenas – o que é estranho, já que é um filme de um ganhador de Cannes. Também no elenco, Harris Dickinson, Charlbi Dean, Dolly De Leon, Zlatko Buric e Vicki Berlin. A nota triste é que Charlbi Dean faleceu pouco depois do lançamento do filme. Ela tinha apenas 32 anos…

Força Maior

0-Força MaiorCrítica – Força Maior

Uma família passa as férias em uma estação de esqui nos Alpes Suíços. Depois de um incidente durante uma avalanche, as relações de confiança entre marido e mulher começam a ruir.

Vencedor do Prêmio do Júri na mostra paralela Un Certain Regard no último Festival de Cannes, indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, e representante da Suécia na indicação para o Oscar de filme estrangeiro, Força Maior (Force Majeure, no original) tem dois problemas básicos na sua divulgação. O primeiro é o uso de uma avalanche como ponto de partida do conflito, porque o espectador pode achar que se trata de um filme catástrofe. Nada disso, a avalanche não afeta em nada a integridade física do local ou dos personagens, apenas o lado psicológico – como será a sua reação em uma situação limite?

O segundo problema é que o filme está sendo vendido como uma comédia. E li vários pessoas no fórum do imdb defendendo que é uma comédia. Mas vou ser sincero, não vi nenhum momento engraçado em todo o filme. Força Maior é um drama, sério e lento. Muito lento.

E aí vem uma característica do filme que não é exatamente um problema, mas me incomodou bastante: o filme é lento demais! O diretor Ruben Östlund gosta de planos com a câmera parada, sem cortes, onde ficamos vendo longos diálogos entre os atores. De vez em quando é legal, mas quando é sempre, cansa. Algumas cenas ficam insuportavelmente chatas, como aquela onde as crianças brigam com os pais à beira da cama.

Os atores estão bem, não conhecia ninguém do elenco, gostei das atuações do casal principal Johannes Kuhnke e Lisa Loven Kongsli.

Força Maior vale pela discussão sobre os relacionamentos. Mas merecia uma edição mais ágil. Do jeito que ficou, precisa de muita paciência pra chegar ao fim do filme.

Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

Crítica – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

Quando vi que a refilmagem americana de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres (Män som hatar kvinnor em sueco ou The Girl With The Dragon Tatoo em inglês) estava prestes a estrear, procurei o original sueco para ver antes.

O jornalista Mikael Blomkvist, prestes a ser preso, é contratado para tentar descobrir o paradeiro da sobrinha de um milionário, desaparecida 40 anos antes. A hacker esquisitona Lisbeth Salander acaba ajudando-o.

Este é o primeiro filme da falada trilogia Millenium, baseada nos livros do escritor sueco Stieg Larsson. Dei uma checada no imdb, a produção sueca foi rápida: os outros dois filmes vieram logo em seguida, ainda no mesmo ano de 2009, e ainda rolou uma série de tv no ano seguinte. E, agora, a refilmagem hollywoodiana (e pelo sucesso que este primeiro filme está fazendo, aposto que teremos os outros dois nos próximos anos).

Para um filme europeu, sem a grana e os recursos de Hollywood, Os Homens Que Não Amavam As Mulheres funciona direitinho. A produção é bem cuidada e o trabalho dos atores está muito bem, principalmente Noomi Rapace, a Lisbeth Salander. O filme é um pouco longo (pouco mais de duas horas e meia), mas o ritmo é bem equilibrado e não chega a cansar.

Mas admito que não entendi todo esse frisson em torno do filme. Refilmagem americana dois anos depois do original (foi lançado lá fora no fim de 2011), livros nas vitrines de todas as livrarias… Me pareceu um certo exagero. Os Homens Que Não Amavam As Mulheres é bom, mas nada impressionante – principalmente porque segue a cartilha hollywoodiana de “como fazer um thriller”.

Acho que o único destaque é mesmo a já citada Noomi Rapace. Não sei como era a Lisbeth Salander do livro, mas esta aqui é um personagem excelente – estranha e fascinante na medida certa – e completamente diferente do que imaginamos sobre o padrão de beleza sueco. Tanto que Noomi já está em Hollywood, onde fez o segundo Sherlock Holmes e está no elenco do esperado Prometheus (filme que traz Ridley Scott de volta ao univrso Alien). (O protagonista Michael Nyqvist também foi pra Hollywood, onde fez o novo Missão Impossível)

Agora tenho que ver os outros dois filmes, A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar. Mas antes, falarei aqui sobre a refilmagem – no post de amanhã.

Deixe Ela Entrar / Let The Right One In

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Deixe Ela Entrar / Let The Right One In / Låt den rätte komma in

Em uma cidade fria da Suécia, Oskar, um garoto de 12 anos, é maltratado pelos valentões da escola. Eli, uma estranha menina da mesma idade, se muda para o apartamento ao lado, ao mesmo tempo que uma série de crimes violentos começa a acontecer pela cidade. Oskar e Eli viram amigos, mesmo ele descobrindo que ela na verdade é um vampiro.

É um filme de “vampiro teen”, onde um humano e um vampiro se aproximam. Mas não tem absolutamente nada a ver com o recente e famoso Crepúsculo. Aqui o ritmo é lento, temos muito silêncio e poucos efeitos especiais. É quase um drama em vez de um filme de terror. O foco do filme é no lado humano, nas relações entre as pessoas, na amizade e no amor que surge entre os jovens protagonistas – aliás, os atores, desconhecidos por aqui, mandam bem!

Mesmo assim, o filme não nega que estamos falando de vampiros. Inclusive o nome do filme se refere à parte da mitologia dos vampiros que diz que um vampiro só pode entrar na casa se for convidado!

O clima gelado dos cenários com muita, muita neve combina com a solidão dos personagens, e temos um filme de vampiros como há muito tempo não aparece por aí…

Filme sueco independente, Deixe Ela Entrar passou por aqui ano passado na 32º Mostra Internacional de São Paulo. Nada aqui no Rio…

Rolam boatos que Hollywood já comprou os direitos para uma refilmagem. Provavelmente farão que nem nos recentes REC e sua refilmagem Quarentena. Heu espero que não. Recomendo ver o filme original mesmo!

Thriller – A Cruel Picture

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Thriller – A Cruel Picture

Em vários aspectos da nossa vida, a internet veio pra ajudar. Anos atrás, pra ver um filme como Thriller – A Cruel Picture, heu precisaria dar a sorte de encontrar num festival underground, ou de alguém ter uma cópia guardada em casa. Afinal, trata-se de um filme sueco de 1974, e até onde heu saiba, sem distribuição no Brasil. Até acontecia, vi muito filme underground assim, como por exemplo Freaks, do Todd Browning, que vi no MAM (um filme da década de 30 falando sobre freaks de circo!); ou 2000 Maniacs, do Herschell Gordon Lewis, que vi no Estação (um filme da década de 60 onde toda a população de uma cidade é de assassinos); ou ainda Dark Star, uma ficção científica tosca que é o primeiro filme do John Carpenter, que vi uma vez pra vender num camelô o vhs original – e comprei, claro! – e até hoje nunca vi outra cópia…

Bem, hoje é muito mais fácil. Achei o link pro download, baixei, e vi em casa…

Vamos ao filme. Uma menina é violentada, e, traumatizada, fica muda. Anos depois, já adulta, é sequestrada, drogada, torturada e prostituída. E, aos poucos, começa a construir a sua vingança.

Esse filme tem duas coisas que chamam atenção: foi o primeiro filme a ser banido na Suécia; e, diz a lenda, Tarantino o escolheu como o melhor filme de vingança já feito (na minha humilde opinião, o coreano Oldboy é o melhor filme de vingança da história. Mas Thriller tem mais a cara do Tarantino…).

O filme é tosco, mas muito interessante, por fugir totalmente dos padrões hollywoodianos. Muita câmera na mão, muita câmera subjetiva, muito silêncio. Temos algumas cenas de sexo explícito – talvez pra justificar que a protagonista estava se prostituindo. Mas, do jeito como é, closes jogados na tela, me pareceu meio forçado, não precisava disso. E a cena do olho é realmente impressionante – usaram um cadáver de uma menina que cometera suicídio!

Mais pro fim do filme, a tosqueira aumenta e podemos dar gargalhadas com certos “defeitos especiais”, como os carros explodindo quando ela está dirigindo o carro de polícia!

Enfim, pra quem gosta de filme trash, não perca! Mas, pra quem só vê blockbusters de Hollywood, não perca tempo…