Festim Diabólico

Crítica – Festim Diabólico

Em primeiro lugar, pra quem não sabe: estou mudando de status, de “atirador de pedras” para “telhado de vidro”. Escrevi o roteiro de um longa metragem musical, e estou procurando caminhos para realizar o meu filme. Por enquanto, já fiz um curta ligado ao filme, que está aqui, e outro, também musical, que está na pós produção.

Agora estou envolvido na produção de outro curta ligado ao longa. A novidade é que quero fazer um plano sequência. E, para isso, achei uma boa rever o clássico de Alfred Hitchcock Festim Diabólico.

Dois jovens matam um colega apenas para provar a si mesmos que podem cometer o crime perfeito. Para desafiar os amigos e a família, resolvem convidá-los para uma reunião no apartamento deles, e servem a comida em cima de um baú onde está escondido o corpo da vítima.

É complicado falar de um filme desses, lançado em 1949, décadas atrás, que todo mundo já viu e que muita gente boa já criticou. Mas vou tentar dar os meus palpites.

Pra quem não sabe (alguém não sabe?), Festim Diabólico foi concebido para ser apenas uma cena, quase sem cortes. Segundo a wikipedia, são vários planos-sequência de 4 a 10 minutos, e um total de apenas oito cortes. Em alguns momentos, a câmera precisava trocar o rolo de filme, então passava pela parede ou pelas costas de um ator, e o plano-sequência seguia como se não houvesse corte.

A ideia do filme pode dar a impressão de que seria um filme um tanto cansativo – é quase como estarmos diante de um único ato de peça teatral filmada. Nada disso, o resultado é bem interessante. Não é à toa que Hitchcock é considerado até hoje como um dos maiores nomes da história do cinema, o cara sabia direitinho onde posicionar e por onde mover a sua câmera. Alguns momentos são ótimos – e tensos – como quando a empregada começa a guardar as coisas em cima do baú, sem saber o que está dentro.

Hoje a tecnologia é diferente, mais fácil de se trabalhar, e mesmo assim existem poucos filmes com longos planos-sequência – recentemente um uruguaio filmou La Casa Muda, um longa de terror num único plano-sequência, mas é um caso isolado. Historicamente falando, o formato de Festim Diabólico é tão importante que este é o único filme que me lembro de ter passado sem intervalos comerciais na TV Globo dos anos 80!

Uma última curiosidade sobre: todos sabem que Hitchcock sempre fazia uma aparição cameo em seus filmes. Festim Diabólico se passa todo dentro de um apartamento – e agora, como fazer? Bem, diz a lenda que ele é uma das pessoas passando pela rua, na cena inicial (a rua é mostrada, vista da janela). Assim como diz outra lenda que sua silhueta é visível em cima de um dos prédios ao fundo, mas este não consegui ver nem sabendo qual era o momento exato…

Agora preciso tomar vergonha na cara e ver mais filmes do Hitchcock. Corrigir esta falha no meu currículo como cinéfilo…

A Felicidade Não se Compra

Crítica – A Felicidade Não se Compra

Quando montei o Top 10 de filmes de Natal, prometi que veria A Felicidade Não se Compra no Natal seguinte. Visto!

George Bailey é um homem de bom coração, mas é um cara frustrado por não ter tido a vida que imaginou. Durante uma crise, tenta se matar, mas um anjo é mandado à Terra para lhe mostrar como o mundo seria bem pior sem a sua presença.

Admito a minha falha: sou um cinéfilo que conhece muito pouco do cinema “clássico”. Este foi o meu primeiro filme do diretor Frank Capra! Bem, se vi poucos filmes de décadas atrás, pelo menos posso dizer que já li muita coisa – já sabia que Capra era o “cineasta do otimismo”. O que é legal é que ele consegue fazer isso sem parecer piegas.

A gente precisa entender a época que o filme foi feito. Era 1946, a Segunda Guerra Mundial tinha acabado um ano antes, e, apesar de os EUA terem saído “vencedores”, muita gente morreu, muita gente perdeu amigos e parentes. Numa sociedade assim, um filme como A Felicidade Não se Compra cai como uma luva, as pessoas precisavam do otimismo. O curioso é ver que 65 anos se passaram, mas o tema continua atual: George Bailey passa por problemas financeiros, e tem um banqueiro inescrupuloso lhe perturbando a paciência.

A Felicidade Não se Compra é um dos mais tradicionais “filmes de Natal” da história do cinema, acho que só perde para o conto de Natal de Charles Dickens, que tem “trocentas” versões por aí. Uma clássica história de otimismo, pra gente acreditar que as pessoas podem e devem ser boas umas com as outras.

No elenco, não gostei do anjo Clarence de Henry Travers. Mas ele pouco aparece, o filme é de James Stewart, que manda bem como o George Bailey. O roteiro é curioso. Logo depois de uma breve introdução, temos um longo flashback que toma mais de dois terços do filme! Mas, apesar de previsível, o filme flui bem. E o final do filme é emocionante!

Feliz Natal atrasado para os leitores daqui. Andei uns dias sem postar nada, mas tô com uns textos engatilhados, em breve o fluxo volta ao normal!