Festival Mondo Estronho 2015

Mondo Estronho - PosterFestival Mondo Estronho 2015
Cá estou de volta de mais um festival de cinema, onde fui mais uma vez representar meus filmes – desta vez, os curtas Noite Sem NomeManifestação de Zumbis e Duelo Impossível – colocarei os links no fim do texto.
Retornei à Curitiba, cidade onde estive em fevereiro/2015 no festival Grotesc-O-Vision. O Mondo Estronho é um festival organizado pela Editora Estronho. Além da mostra de cinema independente, teve em sua programação palestras, bate-papos, pocket shows das bandas Repelentes eSemblant e uma feirinha vendendo livros, hqs, dvds, camisas, quadros,etc.
Na parte que mais me interessa, a mostra cinematográfica, com curadoria de Otávio Pereira, houve a exibição de pelo menos três longas que são boas novidades para quem acompanha o terror nacional. Dia 25 foi exibido Fábulas Negras, de 2014, novo projeto de Rodrigo Aragão, em parceria com Zé do Caixão, Joel Caetano e Petter Baiestorf, mostrando cinco histórias de terror baseadas em folclore nacional – Saci, Lobisomem, Iara, Monstro do Esgoto e Loira do Banheiro. Dia 26 foi a vez de A Maldição do Sanguanel, também de 2014, dirigido por Felipe M. Guerra, Ricardo Ghiorzi, Eliseu Demari e Rafael Giovanella, contando vários “causos” do Sanguanel, um diabinho que parece o Saci. Dia 28 tivemos 13 Histórias Estranhas, de 2015, que, como o próprio título diz, traz 13 curtas independentes entre si, dirigidos por 13 diferentes diretores (entre eles, Cristian Verardi, Paulo Biscaia Filho, Cesar Coffin Souza e os já citados Felipe M.Guerra e Petter Baiestorf).
(Nervo Craniano Zero, realizado em 2012 por Paulo Biscaia Filho, também foi exibido, mas este já existe em dvd.O filme é muito bom, mas já não é novidade.)
Nem todos os filmes eram longas, houve espaço também para sessões de curtas. Teve uma sessão só com curtas da RZP (Recurso Zero Produções), de Joel Caetano, onde observamos a evolução do diretor, um dos nomes mais promissores do cinema independente contemporâneo (tanto que ganhou – merecidamente – o troféu “Estorvo” de melhor curta metragem com o seu Judas). Também tivemos curtas de Julio Wong, Ivo Costa, Rodrigo Aragão, Davi Ribeiro, Laurence West, Guilhermo Ferraro, Louis Mota, Carlos Alberto Machado e Larissa Anzoategui, entre outros.
Além dos filmes, palestras e shows, o evento apresentou a “Casa do Macaco“, onde o escritor e colecionador Saulo Adami expôs todo o seu impressionante acervo de material ligado aos filmes e série Planeta dos Macacos. Em sua palestra, Saulo contou como conseguiu contato com os realizadores, participou de convenções e até vestiu a fantasia que foi de Roddy McDowell. O festival ainda contou com a premiação do concurso Miss Zombie 2015, concurso que começou na famosa Zombie Walk de Curitiba, no domingo de carnaval.
Mas o melhor de tudo foi o clima de confraternização. Organizadores, escritores, diretores, expositores, palestrantes e público em geral tiveram um fim de semana inesquecível. Agora é contar no calendário quantos dias faltam para a edição 2016!
Noite Sem Nome:
https://www.youtube.com/watch?v=wErIsrfr7ik
Duelo Impossível:
https://www.youtube.com/watch?v=vNh5XbUtZ-4
Manifestação de Zumbis:
https://www.youtube.com/watch?v=cQvQ2RuWDYA

Grotesc-O-Vision 2015

Grotescovision 2015Grotesc-O-Vision 2015

Partiu carnaval em Curitiba?

Sexta agora, dia 13, começa o Grotesc-O-Vision 2015, em Curitiba, uma inciativa genial da produtora Vigor Mortis: uma mostra de cinema de horror em pleno carnaval curitibano!

E por que este Grotesc-O-Vision 2015 é tão importante para este que vos escreve? Ora, porque, depois do Viewster, do FICMA, do ITV Fest Bar Montenegro, do Zinema Zombie Fest, do Munich Underground e do FICVI (6 festivais na Europa e na América Latina), o meu curta Noite Sem Nome terá a primeira exibição pública no Brasil!

Anotem nas suas agendas: no sábado 14, as 18h, no cine Glóriah (Praça Tiradentes, 106), haverá uma sessão de curtas. Dentre eles, dois curtas meus: Noite Sem Nome e Manifestação de Zumbis (que fazia parte do canal Percevejo).

E tem pelo menos outra coisa imperdível no festival: uma exibição do novíssimo longa Fábulas Negras, a esperada parceria entre Rodrigo Aragão (Mar Negro, A Noite do Chupacabras) e José Mojica Marins, o Zé do Caixão – e que ainda têm o auxílio luxuoso de Petter Baiestorff e Joel Caetano – cada um dos quatro dirigindo uma história de terror baseada no folclore brasileiro.

Além das sessões de curtas (são duas sessões) e de Fábulas Negras, o Grotesc-O-Vision 2015 ainda terá exibições dos longas Judas Ghost (Reino Unido, 2013) e Chocolate Strawberry Vanilla (Australia, 2014), ambos inéditos em terras brazucas.

Paralelamente aos filmes, rola uma oficina de maquiagem com o próprio Rodrigo Aragão, além de eventos como o PsychoCarnival e a Zombie Walk.

Ou seja, boas opções pra o feriado. Um viva para Curitiba, que, diferente do Rio de Janeiro, não impõe blocos de carnaval aos seus habitantes!

ITV Fest – Bar – Montenegro

noite sem nome cartazPrezados leitores, peço desculpas pelo meu sumiço. Estive fora do Brasil, fui a um festival de cinema…

Dizem por aí que todo crítico de cinema é um cineasta frustrado. Bem, admito que comigo esta afirmação é verdadeira.

Mas, como disse J.J. Abrams numa palestra do TED, hoje em dia qualquer um com uma ideia na cabeça pode filmar. Assim, reuni um grupo de bons amigos afinados com a minha motivação e comecei a fazer meus curtas – em dois anos, produzi e dirigi uns quarenta, entre terror, comédia e musicais.

Um desses curtas, o terror Noite Sem Nome, já foi selecionado por seis festivais internacionais: Viewster (Suíça), ITV Fest Bar (Montenegro), Munich Underground Film Festival (Alemanha), FICMA, Zinema Zombie Fest e Festival Internacional de Cine de Villavicencio 2014 (os três na Colômbia). Mas o reconhecimento veio mesmo com o convite para estar presente no ITV Fest Bar representando o meu filme. Tudo pago para um cineasta de terras tupiniquins mostrar o valor da nossa produção de terror em terras sanguinárias europeias.

Fui para lá duas semanas atrás. Pra quem tiver curiosidade de ver no mapa, Montenegro é parte da antiga Iugoslávia, bem ali entre a Bósnia, a Sérvia, o Kosovo e a Albânia. Cenário de muitas guerras, com cenas de terror da vida real, a região não poderia ser mais apropriada ao gênero.

A propósito, fiquei na paradisíaca cidade de Bar – ótimo nome, não? – onde aconteceu o ITV Fest. E dessa vez não estava em um festival assistindo filmes como crítico. Estava cercado de críticos avaliando o meu filme num festival. E provando que todo crítico-cineasta-frustrado pode um dia ter seu lugar ao sol. Mesmo que seja no frio nublado do leste europeu.

A partir de amanhã, o heuvi volta à programação normal!

Boyhood – Da Infância à Juventude

boyhoodCrítica – Boyhood – Da Infância à Juventude

Que tal um filme cujas filmagens demoraram 12 anos?

Boyhood é simples: conta a história de Mason, desde os 5 anos até os 18 anos de idade.

Boyhood – Da Infância à Juventude vai entrar pra história, acho difícil outro diretor repetir tal feito: foram apenas 45 dias de filmagem, mas espalhados ao longo de 12 anos – 3 ou 4 dias por ano! Nunca antes na história do cinema acompanhamos o desenvolvimento de um personagem de maneira tão perfeita!

Claro, existe todo um marketing em torno disso – “o filme que demorou 12 anos para ser completado”. Mas, se não fosse o talento de Richard Linklater (Escola de Rock), Boyhood não chamaria a atenção. Seria apenas um filme experimental, que poucos cinéfilos iam conhecer. Nada disso, Linklater nos apresenta um dos melhores filmes do ano.

Na verdade, não há muita história a ser contada. Linklater sabe fazer filmes simples, baseados em pessoas e em diálogos – vide a trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite, onde apenas acompanhamos Ethan Hawke e Julie Delpy, muitas vezes em diálogos improvisados na hora.

Linklater, também autor do roteiro, deve ter usado um esquema parecido aqui. Não vemos grandes eventos da vida de Mason, e sim situações do cotidiano. Pontuando aqui e ali, temos músicas de cada época e citações à cultura pop, como Harry Potter e Lady Gaga. Simples, não? E apenas isso, filmado com talento, ficou ótimo!

Claro, o filme não é perfeito. São quase três horas, e não precisava de tanto…

Sobre o elenco, Richard Linklater deu sorte com o ator Ellar Coltrane, o protagonista, que se revelou um bom ator. Pena que Lorelei Linklater (a filha do diretor) não é tão talentosa, em algumas cenas ela deixa a desejar (inclusive a menina chegou a desistir do projeto lá pelo terceiro ou quarto ano de filmnagem, e pediu para seu pai matar o seu personagem – mas Linklater a convenceu a ficar). Completam a família Patricia Arquette, e, claro, Ethan Hawke (acho que este é a sexta parceria entre o ator e o diretor).

Por fim, um fato curioso. Lá pelo meio do filme, numa cena filmada em 2008, Mason e seu pai conversam sobre um possível Star Wars 7. E eles acertaram: ano que vem teremos o sétimo Star Wars!

p.s.: Com Boyhood, encerro minha participação no Festival do Rio 2014. Por problemas pessoais, vi pouca coisa, apenas 11 filmes… Ano que vem compenso!

Cold in July

cold-in-julyCrítica – Cold in July

Texas, 1989. Um pai de família mata um ladrão em sua própria casa, num ato de legítima defesa. Saudado como herói, ele logo tem de encarar um ex-presidiário, pai do homem que matou, que chega em busca de vingança. Mas a corrupção de uma cidade pequena e a paranoia vão transformar estes dois inimigos em aliados improváveis.

Uma produção simples, dirigida por um cara pouco conhecido (Jim Mickle, do interessante Stake Land), Cold in July se revela uma boa surpresa.

Além de uma boa fotografia e uma interessante trilha sonora com cara de anos 80 (o filme se passa em 1989, e parte da trama tem tudo a ver com a época), Cold in July tem dois grandes méritos: um roteiro muito bem estruturado e um inspirado trio de atores principais.

O roteiro (de Mickle e Nick Damici, também de Stake Land), baseado no livro homônimo de Joe R. Lansdale, tem vários plot twists bem colocados ao longo da trama. Você acha que a história vai pra um lado, e tudo muda de repente. E não só todas as mudanças são coerentes, como o filme ainda consegue manter a tensão lá no alto.

Sobre o elenco: Michael C. Hall larga a “cara de Dexter” – não só no visual (ele não está parecendo um irmão mais novo do William H. Macy?) como também na personalidade. Hall está excelente com o seu anti-heroi sem rumo. Seus companheiros em cena, Sam Shepard e Don Johnson (sim, o bonitão da série Miami Vice), também estão muito bem.

Por fim, precisamos avisar sobre a violência. Cold in July é muito violento. Nada gratuito, tudo bem filmado. Mas é bom avisar, tem gente que não curte…

Der Samurai

kinopoisk.ruCrítica – Der Samurai

Outro filme alemão underground…

Jakob é um jovem policial em uma pequena cidade que é constantemente aterrorizada por lobos. Quando um misterioso pacote é entregue na delegacia, Jakob sai à procura do remetente na floresta. Em uma cabana, encontra um homem com olhar selvagem trajando uma vestimenta branca, que abre o pacote e revela uma katana – a espada dos samurais. Tem início então um jogo de gato e rato entre o samurai e o policial, que tenta conter a todo custo o que está sendo ofertado por seu periogoso opositor: as fantasias transgressoras.

Muitas vezes fico curioso com filmes desconhecidos. Às vezes encontramos ótimos filmes fora do radar, mas, claro, nem sempre isso acontece. O fórum do imdb ajuda a ter uma noção, mas num festival, com filmes ainda não lançados, ainda não tem nada no imdb. Aí a gente tem que arriscar.

Arrisquei, e me decepcionei. Der Samurai é bem fraquinho.

Li por aí que Der Samurai é o TCC (trabalho de conclusão de curso) do estreante Till Kleinert. Tá, visto como trabalho de faculdade, nem é tão ruim – tecnicamente o filme é ok, os atores também estão bem, e temos um pouco de gore bem feito. Mas, como filme “de verdade”, fica devendo.

Parece que Kleinert quis fazer um ensaio sobre a homossexualidade reprimida, e colocou várias metáforas sobre isso na luta do policial Jakob contra o samurai travesti. O filme tem um pé no slasher e outro na história da Chapeuzinho Vermelho, mas o foco sempre volta na arrastada luta interna do reprimido Jakob. Ah, e a dancinha que ele faz quando confronta o travesti causa vergonha alheia de tão ridícula.

Se tem algo aproveitável aqui é o vilão construído pelo ator Pit Bukowski. Taí, queria ver este mesmo personagem em um filme bom. Porque este Der Samurai ficou devendo.

Alleluia

ALLELUIA-AFF 120x160.inddCrítica – Alleluia

Vamos de filme belga underground?

Uma mulher se relaciona com um homem que vive de enganar mulheres, mas, em vez de largá-lo, torna-se cúmplice de uma série de assassinatos de viúvas, seduzidas por ele através de sites de relacionamento. Inspirado no caso real do notório casal Raymond Fernandez e Martha Beck.

Alleluia é um daqueles filmes que promete muito mas cumpre pouco. A história é boa – e baseada em fatos reais, que chegaram a inspirar outro filme baseado no casal, The Honeymoon Killers, de 1969 (não vi esse outro, não posso comparar.)

O problema é que pouca coisa acontece aqui, a trama é linear e arrastada demais. Além disso, alguns lances do roteiro parecem forçados – como assim o cara já casou de novo e ainda levou a namorada a tiracolo, chamando de irmã? E onde ficou a filha dela?

A mania do diretor Fabrice du Weltz de filmar tudo em close não ajuda. Dá nervoso, parece que estamos vendo uma tv com o zoom ligado. Demorei um tempo pra conseguir ver a cara do personagem principal, já que a tela do cinema mostrava só do queixo até a testa. Ok, deve ser estilo. Mas não ficou legal.

Sobram as boas atuações do casal principal, Lola Duenas e Laurent Lucas. Mas é pouco, muito pouco. Alleluia deixa a desejar.

Annabelle

annabelleCrítica – Annabelle

Spin-off de A Invocação do Mal!

Um casal vivencia terríveis eventos sobrenaturais envolvendo uma velha boneca, logo depois de ter sua casa invadida por praticantes de um culto satânico.

Confesso que heu estava com um grande pé atrás com esse Annabelle. James Wan, o diretor dos dois Sobrenatural e de A Invocação do Mal passou a batuta para o seu diretor de fotografia, John R. Leonetti (que já tinha dirigido o fraco Efeito Borboleta 2). E a história do cinema nos conta que quando bons diretores passam a bola, o resultado muitas vezes deixa a desejar.

Ok, Annabelle é inferior a A Invocação do Mal. Mas isso não significa que seja um filme ruim, longe disso! Leonetti mostra que aprendeu com Wan (aqui como produtor) e faz um filme no mesmo estilo dos três citados no parágrafo anterior. Terror “old school” – truques de câmera, trilha sonora tensa, poucos efeitos especiais e pouco gore. E, o principal: muitos sustos.

Falando em poucos efeitos especiais: uma coisa que achei bem legal é que a boneca Annabelle não se mexe. Não é um boneco com vida, como o Chucky, de Brinquedo Assassino. Annabelle só se move quando ninguém está vendo… Dá mais medo assim, né?

Alguns lances de Annabelle são muito bons. Por exemplo, a sequência da máquina de costura e da pipoca é um exemplo de perfeita construção da tensão – takes simples bem costurados, sem a necessidade de efeitos especiais. Resultado: todo mundo nervoso no cinema!

No elenco, uma coisa curiosa: a atriz principal se chama Annabelle Wallis. Mais ou menos como se o Jason Momoa estrelasse um Sexta Feira 13 ou o Freddy Rodriguez, um A Hora do Pesadelo. Deve ter rolado um monte de piadas no set de filmagens… Também no elenco, Ward Horton, Alfre Woodard e Tony Amendola. Os personagens de Vera Farmiga e Patrick Wilson, de A Invocação do Mal, são citados, mas não aparecem.

Por fim, ver um filme desses num cinema cheio é muito legal. Como é um filme que mexe com medo e com sustos, muitas pessoas na plateia reagem de maneira divertida. Recomendo!

Primavera / Spring

spring-posterCrítica – Primavera / Spring

Depois que sua mãe morre, um jovem de vinte e poucos anos decide realizar o sonho de fazer uma viagem pela Europa com destino incerto. Chegando à Itália, descobre uma pequena cidade no sul do país onde conhece uma linda habitante local. Os dois iniciam um romance delicado que é ameaçado por um sinistro e avassalador segredo dela.

Dirigido pela dupla Justin Benson e Aaron Moorhead, Primavera (Spring, no original) traz um novo conceito de “monstro” – mas não vou entrar em detalhes pra não dar spoilers. Só digo que é um conceito interessante, apesar de me parecer meio furado (Ela usa injeções para controlar, mas como fazia antes de inventarem a seringa? E como ela aprendeu sobre as células tronco no passado?). Mesmo assim, gostei da nova criatura.

Mas o problema é que o filme parece que quer focar mais no relacionamento amoroso do casal do que na criatura fantástica. Aí, em vez de filme de terror, Spring vira um romance ensolarado, aproveitando belas paisagens italianas… Nada contra, mas, poxa, heu preferia ver mais a criatura e menos “DR” turística. Parecia um filme do Richard Linklater, uma espécie de “Before the Twilight Zone”…

O casal principal (Lou Taylor Pucci e Nadia Hilker) está ok, e os efeitos especiais são discretos e funcionam bem. Pena que tudo é muito lento, pouca coisa acontece ao longo do filme.

Por fim, um comentário parecido com o de Deus Local: mais uma vez a música brasileira atrapalha o clima. Sempre que leio o título brasileiro, começo a ouvir, na minha cabeça, os versos da música do Cassiano – “É primavera / Te amo / É primavera…”

Deus Local / Dios Local

dios-localCrítica – Deus Local

Filme de terror rock’n’roll uruguaio!

Uma banda de rock que acaba de gravar um álbum conceitual viaja para o campo para gravar alguns vídeos musicais, onde encontram uma antiga mina de ouro abandonada, guardada por um antigo ídolo de pedra, usado para assustar os mineiros. Logo, um terrível espírito desperta e força cada um dos membros da banda a reviver eventos traumáticos do passado que inspiraram as suas músicas.

Não é o primeiro terror uruguaio aqui no heuvi. Falei de La Casa Muda, filme de 2010, dirigido pelo mesmo Gustavo Hernández, que chamou a atenção por ser um filme de 72 minutos que usava um único plano-sequência – sim, todo o filme acontece em um único take.

Aqui, neste novo projeto de Hernández, a ideia era promissora: um filme de terror onde tudo acontece em volta de uma banda de rock e os traumas pessoais de cada integrante. Mas me parece que faltou roteiro, essa ideia não foi o suficiente pra segurar um longa metragem.

Tecnicamente, temos algumas coisas muito boas. Não temos um plano-sequência único, mas Hernández faz vários planos-sequência inspirados ao longo da projeção. A fotografia também é bem cuidada. Os três atores (Mariana Olivera, Gabriela Freire e Agustín Urrutia) também funcionam bem, assim como o roteiro com narrativa não linear. E alguns detalhes, como os carros caindo, ficaram bem legais.

Mas falta história, e o ritmo do filme muito lento. Tudo é muito arrastado, o filme é interminável apesar de ter pouco menos de uma hora e meia. E o filme estar dividido entre os três personagens torna tudo previsível.

Outro problema é que a narrativa não se decide entre o terror e o drama. Sim, existem momentos de tensão aqui e acolá, mas a maior parte do filme foca nos dramas pessoais de cada um dos três personagens.

(Heu também queria ver mais da banda em si, só ouvimos uma música, no início do filme, que mostra um trecho de show. Mas isso não chega a ser uma falha.)

Por fim, um exemplo de como a música brasileira pode estragar o clima de um filme. Uma das músicas da banda é “Icarus”, e o baterista conta a lenda de Ícaro, que fez suas asas e saiu voando. E, dentro da minha cabeça, comecei a ouvir o Biafra cantando “Voar, voar, subir, subir / Ir por onde for”…