Desde que me entendo por gente, sou fã de cinema. No início dos anos 80, quando ainda era criança (dos 8 aos 14 anos), morei em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. Eram só dois cinemas na cidade! E me lembro que, diferente do Rio, eram duas vezes por semana os dias de novas estréias – me lembro que tive que correr pra ver No Limite da Realidade (Twilight Zone), porque ficou apenas 3 dias em cartaz!
No fim de 85, me mudei pra Botafogo, no Rio. E tinha um cinema fechado, em obras, ao lado da minha casa. Que reinaugurou logo depois, e que, ao longo dos anos, mudou a história do cinema no Brasil. O nome do novo cinema? Cineclube Estação Botafogo.
Um pequeno parênteses pra quem não é do Rio. Quem for carioca e cinéfilo, pule pro próximo parágrafo. Quando o Estação Botafogo abriu, era um cinema com perfil cineclubista. Filmes alternativos, mostras, filmes fora de cartaz… E o negócio deu certo, e aos poucos eles começaram a administrar outras salas de projeção na cidade, e crescer pela cidade. Me lembro que, nos anos 90, o grupo Estação tinha 3 salas, cada uma ícone cinematográfico de uma década: era o Estação Cinema 1, ocupando o Cinema 1, em Copacabana, símbolo dos anos 60; Estação Paissandu, no Flamengo, onde fora o Paissandu, símbolo dos anos 70; e o próprio Estação Botafogo, dos anos 80… Hoje o Estação é um símbolo cultural no Rio.
Vivi muita coisa importante dentro do Estação. Lembro de mostras que duravam uma semana, passando sessões duplas, com dois filmes diferentes por dia. Era Isabelle Adjani numa semana, Copolla na semana seguinte… Vi no cinema muita coisa que a maioria das pessoas da minha idade não viu em tela grande (nasci em 71, tenho 37 anos), como O Fundo do Coração (Copolla); Dublê de Corpo (Brian DePalma); Blade Runner (Ridley Scott); Fome de Viver (Tony Scott); Barry Lyndon (Kubrick); Veludo Azul (David Lynch); vi uma das históricas sessões à meia noite de The Rocky Horror Picture Show; vi muita coisa de Irmãos Marx, Buñuel, conheci Goddard, Bergman, Fassbinder, Herzog, etc.; inclusive criei senso crítico pra conhecer o trabalho e não gostar de certos ícones, como Wim Wenders e Peter Greenaway…
Como acompanhei de perto tudo o que acontecia nas telas, me lembro claramente de momentos ainda desconhecidos de diretores hoje consagrados. Vi Cães de Aluguel antes do mundo saber quem era Tarantino; ri vendo El Mariachi, sem saber que o Robert Rodriguez se tornaria um gênio; via filmes chineses como The Killer, e guardando os nomes de gente como John Woo e Chow Yun Fat; achei genial Delicatessen, e acho graça hoje quando vejo o frisson em volta de Amèlie Poulan; vi num festival um filme novo de um promissor diretor neo zelandês, um tal de Brain Dead, de um tal de Peter Jackson; vi em espanhol, sem legendas, Ação Mutante, trash de Alex de la Iglesia; curti Subway, do “novo cinema francês” nos anos 80; curti o visual despojado de O Balconista, de um ainda desconhecido Kevin Smith…
Além do cinema Estação, ainda rolavam os festivais! Antes, havia o Fest Rio. Quando o Fest Rio acabou, a galera do Estação criou um festival no mesmo molde, que funcionou ainda melhor. Ainda rola até hoje, é chamado Festival do Rio, acho que, ao lado da Mostra Internacional de São Paulo, é um dos maiores eventos cinematográficos do Brasil… Nos festivais, vi muita coisa legal, como esbarrar com o Roger Corman durante um festival trash; ou ver uma sessão de Flesh com o Paul Morrissey presente (aliás, que filme ruim!).
Outra coisa importante foi o VHS. Com o aquecimento de mercado de videocassete, na segunda metade dos anos 80, vi muita coisa legal que antes só era possível através de cópias “alternativas”. E aproveitei pra acompanhar um estilo que eu particularmente gosto muito: terror! John Carpenter, Sam Raimi, George Romero, Cronemberg, tinha muita gente boa… E hoje me divirto vendo o Bruce Campbell fazendo pontas nos filmes do Homem Aranha – e quase ninguém entende porque me divirto…
De 91 a 96, estudei na Escola de Comunicação da UFRJ. Nesta época, eu já tinha uma cultura cinematográfica bem variada, curtindo de filmes trash a filmes cabeça; de clássicos a blockbusters. E, em 96, terminada a faculdade, realizei um sonho: abri uma vídeolocadora!
Tentei segmentar a locadora para um público alternativo. Inclusive no nome da locadora: Pulp Vídeo. Foi uma época curiosa, entrava um cliente novo, comentava “legal, você tem Um dia, um gato”, pra depois perguntar se tinha chegado o novo do Schwarzenegger … Pena que a época era ruim, a TV a cabo estava chegando no Rio, e o movimento de aluguel de filmes caiu drasticamente… Só consegui ficar dois anos, depois fui obrigado a fechar as portas…
Desde a época da locadora, peguei a mania de colecionar filmes. Ainda tenho um monte de fitas VHS originais em casa, filmes que nunca foram lançados no mercado brasileiro. E, com os recentes preços de DVDs, tenho comprado muita coisa… Já devo ter mais de 800 DVDs originais!
Quem leu até agora deve pensar que minha vida é só cinema… Mas, na verdade, sou músico, toco piano e teclado. Gosto muito de rock’n’roll anos 70 e, como vivi a época, conheço e curto muito os anos 80. Aliás, gosto bastante de rock nacional anos 80. Sou um dos fundadores da banda Perdidos na Selva, cover de rock nacional. E. ultimamente, acho que estou virando um colecionador de teclados…
E, além de cinema e música, ainda jogo no mesmo liquidificador séries de TV, algo de quadrinhos (sou fã de Bill Waterson, Goscinny & Uderzo, Carl Barks, além dos Piratas do Tietê do Laerte), resquícios da “infância 80”; e tudo mais o que conseguir como referências culturais. Bonecos de Asterix & Obelix, Animaniacs, Cartman e Kenny, não me fazem um colecionador de “action figures”, mas enfeitam a minha sala, juntamente com um Darth Vader de 12”, acompanhado por Palpatine e Bobba Fett!
Esse sou heu!