Megalopolis

Crítica – Megalopolis

Sinopse (imdb): A cidade de Nova Roma é palco de um conflito entre Cesar Catilina, um artista genial a favor de um futuro utópico, e o ganancioso prefeito Franklyn Cicero. Entre os dois está Julia Cicero, com a lealdade dividida entre o pai e o amado.

Poucos filmes realmente merecem o rótulo de “aguardado”. Megalopolis, novo filme de Francis Ford Coppola, é um desses. Não sei exatamente há quanto tempo, mas o projeto de Megalopolis já existe há décadas. E Coppola resolveu vender um vinhedo e bancar o custo de 120 milhões de dólares do próprio bolso!

E o resultado? Olha, não gostei do filme, mas gostei que ele foi feito. Já explico.

Vamulá. Francis Ford Coppola é um nome gigante na história do cinema. Ele dirigiu O Poderoso Chefão 1 e 2, presentes em qualquer lista de melhores filmes da história (ele também dirigiu o 3, mas este passa longe de listas de melhores). Ele arriscou tudo num projeto pessoal, Apocalypse Now, e ganhou muitos frutos com isso (incluindo dois Oscars e a Palma de Ouro em Cannes). Dois anos depois, arriscou de novo em outro projeto pessoal, O Fundo do Coração, mas desta vez foi um grande flop. Mesmo assim continuou, e nos anos 90 ainda fez o excelente Drácula de Bram Stoker, um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.

Um cara talentosíssimo, com um currículo gigante, mas que me fazia pensar naquela frase do Tarantino, que disse que pretendia se aposentar depois do décimo filme. Porque os últimos Coppola que vi foram bem decepcionantes.

(Essa frase do Tarantino serve pra alguns diretores. John Carpenter, autor de vários clássicos, encerrou a carreira com Aterrorizada, um filme com cara de Supercine.)

Coppola estava no mesmo barco. Vi Tetro, com a presença do próprio, numa sessão lotada em Botafogo, mas o filme parece uma novela mexicana. Dois anos depois vi Twixt num Festival do Rio, outra decepção. Nem tive ânimo de ver Distant Vision, que ele fez em 2015 que nem sei se foi lançado no Brasil (no imdb não tem nem poster do filme!).

Pensando por este ângulo, foi uma agradável surpresa ver Megalopolis. É um filme confuso, muita coisa não funciona, mas… É um grande filme, com um grande elenco, e várias cenas memoráveis. Ou seja, se a gente for pensar em um último filme de um diretor octogenário (Coppola está com 85 anos!), Megalopolis é bem melhor que Tetro ou Twixt.

Depois dessa longa introdução, vamos ao filme? Em Nova Roma, uma cidade fictícia (segundo o que li, baseada em Nova York), rola uma briga política entre o prefeito e um arquiteto visionário que quer construir uma nova cidade baseada em um novo elemento criado por ele, o Megalon.

Tudo é contado em tom de fábula (assumido em uma frase de introdução ao filme), tudo é meio onírico, tem muitos simbolismos e muita coisa exagerada.

Mas achei o roteiro muito bagunçado. Por exemplo, a filha do prefeito se envolve com o arquiteto que é seu inimigo, e às vezes ela está com um, outras vezes com o outro, e o filme não deixa claro qual é a dela. Tem cenas que se estendem demais, como aquela cena do coliseu, tão longa que chega a cansar. Tem um narrador, vivido pelo Laurence Fishburne, que de repente some e não volta mais. Tem uma trama paralela de uma cantora que era valorizada por ser jovem e virgem, aí descobrem que ela não é jovem nem virgem, aí ela muda de estilo mas o filme esquece dela. E por aí vai…

Mas por outro lado, o elenco é repleto de grandes estrelas, e algumas sequências são belíssimas. É um filme grandioso, digno da carreira de um nome como Francis Ford Coppola.

Diferente dos últimos filmes do Coppola, Megalopolis conta com um grande elenco: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire e Jason Schwartzman, entre outros. As atuações são exageradas, entendi que fazia parte da proposta de fábula onírica.

Quando acabou a sessão (sessão normal, não teve sessão pra imprensa), fiquei dividido. Não, não gostei do filme. Mas gostei de ver que Coppola continua grande.

Gladiador 2

Crítica – Gladiador 2

Sinopse (imdb): Após ter seu lar conquistado pelos imperadores tirânicos que agora comandam Roma, Lucius é forçado a entrar no Coliseu e deve olhar para o seu passado para encontrar força para devolver a glória de Roma ao seu povo.

O primeiro Gladiador, de 2000, é um filmaço, tanto na parte técnica quanto na história: um general do exército acaba virando escravo e depois vira gladiador, enquanto busca vingança contra quem lhe fez mal. E tem um final fechado, porque – spoiler de um filme de 24 anos atrás – tanto o protagonista quanto o antagonista morrem no fim do filme. Como fazer uma continuação?

(O imdb fala de uma proposta de continuação que seria escrita pelo músico Nick Cave, onde Maximus chegaria no pós vida, onde encontraria Jupiter, que o mandaria de volta pra Terra como um imortal, e ele participaria das Cruzadas, da Segunda Guerra Mundial, da Guerra do Vietnã, e terminaria trabalhando no Pentágono, em Washington. Acho que seria um filme muito ruim, mas heu queria ver esse filme!)

Bem, este Gladiador 2 usa alguns artifícios pra ser chamado de “continuação”. Primeiro, traz de volta um personagem secundário que era criança no primeiro filme. Depois, utiliza exatamente o mesmo formato: homem bom de briga vira escravo e depois gladiador, em busca de vingança. É algo criativo? Não, mas pelo menos não engana o espectador.

Mais uma vez dirigido por Ridley Scott (que faz 87 anos no fim do mês e está cheio de novos projetos para os próximos anos!), Gladiador 2 tem seus altos e baixos. Claramente é inferior ao primeiro, mas o “espectador de multiplex” (aquele que vai ao cinema no fim de semana apenas pra se distrair) não vai se decepcionar. Mas, preciso falar sobre uns problemas…

A comparação com o primeiro filme é inevitável. Lá, o protagonista Maximus Decimus tinha um objetivo claro de vingança, e persegue ela até o fim do filme. Aqui, o novo protagonista também tem um objetivo inicial de vingança, mas no meio do caminho o filme muda de antagonista e a vingança é deixada de lado. Aliás, a mudança do protagonista é muito brusca, ele odeia o personagem do Pedro Pascal, e depois de um breve diálogo, muda de ideia e o que era vilão passa a ser um coitado. Essa virada de chave ficou muito mal construída.

Outra coisa que achei forçada foi a ligação do protagonista com um passado que ele não viveu. Ele era criança no primeiro filme e não tinha vivido as coisas que colocaram aqui pra ligá-lo ao filme anterior. Bem, é forçado, mas é cinema, então é uma crítica mas a gente deixa pra lá.

Tenho elogios e críticas à parte técnica. Por um lado, a tecnologia de efeitos pelo computador evoluiu, e aqui conseguimos ter coisas bem mais difíceis de se recriar vinte anos atrás. O filme começa com uma boa sequência de uma cidade sendo atacada por navios, tem uma cena no Coliseu onde enchem de água pra recriar uma batalha naval, e ainda tem uma outra cena no Coliseu onde vemos um rinoceronte! Todas essas sequências ficaram bem legais. Mas, por outro lado, tem uma batalha de gladiadores contra babuínos onde os babuínos ficaram bem toscos. O efeito especial não funcionou. A piada que rolou depois da sessão de imprensa é que esses babuínos seriam xenomorfos e este filme seria conectado à franquia Alien.

Sobre o elenco, preciso dizer que Paul Mescal não me convenceu – principalmente quando a gente lembra que é uma continuação e ele acaba sendo comparado com o Russell Crowe no primeiro filme. Por outro lado, Denzel Washington está muito bem. Sua interpretação é uma das melhores coisas de Gladiador 2. Não gostei do personagem do Pedro Pascal, achei inconsistente, ele começa sendo o antagonista, mas o roteiro resolve criar uma redenção que, na minha humilde opinião, falhou. Connie Nielsen volta ao mesmo papel, mas achei a personagem fraca. Derek Jacobi também repete o papel do primeiro filme, mas era um papel pequeno lá, e aqui também é bem secundário. Por fim, um dos imperadores é interpretado por Joseph Quinn, o Eddie de Stranger Things, que parece que está com a carreira decolando.

No fim, Gladiador 2 está sendo anunciado como “o épico do ano”, mas será apenas mais um filme ok, que será esquecido em breve.

Operação Natal

Crítica – Operação Natal

Sinopse (imdb): Após um sequestro chocante no Polo Norte, o Comandante da Força-Tarefa E.L.F. faz uma parceria com o caçador de recompensas mais infame do mundo para salvar o Natal.

Às vezes penso em fazer uma seção de “críticas curtas”. Este Operação Natal funcionaria neste formato: “Filme genérico de Natal estrelado por Dwayne Johnson e Chris Evans. Era melhor ter ido direto pro streaming”.

Só isso. Porque não tem muito mais o que falar sobre Operação Natal (Red One, no original). Mas, vamos tentar nos aprofundar.

Dirigido por Jake Kasdan, filho de Lawrence Kasdan (roteirista de O Império Contra Ataca e Caçadores da Arca Perdida) e diretor dos dois Jumanji recentes, Operação Natal traz uma história natalina genérica, bobinha e cheia de clichês. Não se transformará num novo “clássico natalino”, tampouco ganhará haters. Apenas mais um filme descartável.

Operação Natal se baseia no carisma das suas estrelas. O problema é que nenhum parece inspirado. Assim como em outros filmes recentes, igualmente esquecíveis, como Alerta Vermelho (Johnson) e Agente Oculto (Evans) – coincidência ou não filmes para o streaming – a dupla de astros aqui só cumpre tabela. J.K. Simmons está bem como um Papai Noel fortão, mas aparece pouco. Completam o elenco principal Lucy Liu e Kiernan Shipka.

O roteiro não é ruim, mas tem umas forçadas. Por exemplo, depois de Aruba, não existe nenhuma justificativa pra manter Chris Evans no rolê. E alguns efeitos especiais têm cara de que vão perder a validade logo logo.

Em defesa do filme, gostei do universo criado, misturando mágica com tecnologia, e abrindo espaço pra uma franquia usando seres mitológicos. Mas é pouco. Não sei se quero ver outro filme se for tão genérico quanto este.

Por fim, uma coisa que achei curiosa e não entendi o motivo. Por duas vezes, em cenas na oficina do Papai Noel, a gente ouve vozes ao fundo em português. Uma frase é nítida, o resto tem que prestar atenção. E isso na versão original, não vi a versão dublada. (Na sequência em Aruba também parece outra língua nas vozes ao fundo, mas não consegui identificar.) O que acho que aconteceu? De repente alguém da equipe técnica pegou alguns diálogos em uma “língua exótica”, algo que a maior parte do mundo não conseguiria identificar. Será que foi isso?

Anora

Crítica – Anora

Sinopse (imdb): Anora, uma jovem trabalhadora sexual do Brooklyn, conhece e impulsivamente se casa com o filho de um oligarca russo. Quando a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas é ameaçado quando os pais dele partem para Nova York para anular o casamento.

Fiquei na dúvida se valia falar sobre Anora agora. Teve uma sessão de imprensa, e no dia da sessão avisaram que a distribuidora adiou o lançamento pra janeiro do ano que vem, visando a temporada de prêmios. Ou seja, quase não tem nenhuma crítica do filme, porque quase ninguém viu, e vai demorar pra galera conseguir assistir.

Pensei em só comentar depois, mas aí me toquei que vou acabar me esquecendo de detalhes do filme. Então vamos nessa!

Escrito e dirigido por Sean Baker, Anora chega com uma grande credencial: foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Mas aí a gente lembra que o último vencedor foi Anatomia de uma Queda. E antes, foi Triângulo da Tristeza. E antes, Titane. E antes, Parasita. E, preciso dizer isso: achei Anora beeem inferior a esses todos.

(Talvez Titane esteja um degrau abaixo dos outros quatro, mas pelo menos é um filme diferentão, o que conta pontos em uma premiação como Cannes.)

Dito isso, vou falar algo polêmico. Não achei Anora grandes coisas. Pra mim, parece um American Pie melhorado.

Ok, talvez seja um exagero. American Pie é uma comédia besteirol cheia de piadas de cunho sexual, e Anora tem muito sexo, mas só o meio do filme que tem uma pegada de humor mais escrachado. Inclusive, o final do filme mira no drama.

Mas, repito, não consegui ver as qualidades que a galera está vendo. Ani é uma dançarina erótica e garota de programa que se envolve com um jovem russo, herdeiro de uma família milionária. A primeira parte mostra a relação dos dois, a segunda desenvolve problemas com capangas da família russa, e a parte final é a conclusão triste da história da jovem Ani. É ruim? Não, a trama é envolvente e a parte comédia no meio do filme tem algumas situações bem engraçadas. Mas, se a gente pensar que esse filme foi considerado o melhor de Cannes este ano, ou a competição estava bem fraca, ou tem alguma coisa errada aí. Sendo que A Substância estava concorrendo, voto na segunda opção.

Um dos problemas de Anora é que é difícil ter alguma empatia pelo casal protagonista. Ele é um milionário mimado que compra todos em sua volta; ela só está com ele por causa do dinheiro. Em momento algum o filme mostra algo mais afetivo na relação dos dois. Vejam bem: não tenho absolutamente nada contra ela ser uma trabalhadora do sexo, alguém na sua profissão pode ter um parceiro e ter uma vida em família. Mas esta realidade não é mostrada aqui.

Sobre o elenco, Mikey Madison (Pânico 5, Era Uma Vez em Hollywood) está bem em sua nova versão de Uma Linda Mulher. Pena que é uma personagem meio vazia – o filme foca nas festas, no luxo, no sexo e nas drogas e esquece de desenvolver o lado humano da personagem. Já o Ivan de Mark Eydelshteyn podia ser interpretado por qualquer um, ele passa o filme todo jogando videogame, fazendo sexo ou fugindo.

Sobram muitas cenas de nudez e sexo, e uma parte comédia que vai arrancar gargalhadas da plateia. Ou seja, nem está tão longe assim de American Pie…

Arca de Noé

Crítica – Arca de Noé

Sinopse (imdb): Tom e Vini são dois ratinhos boêmios que embarcam na Arca de Noé de forma clandestina. Eles precisam usar seus talentos musicais para participar de um concurso e ajudar a manter a paz entre os animais.

Talvez um pouco atrasado, mas finalmente adaptaram os discos Arca de Noé, baseados na obra de Vinicius de Moraes!

Antes de falar do desenho, vamos a uma breve contextualização, afinal esses discos são tão antigos que já existe uma geração de adultos que não os conhece. Em 1980 foi lançado um disco infantil chamado Arca de Noé, baseado num livro de Vinícius de Moraes. Apesar do nome citar algo bíblico, na verdade o vinil trazia músicas infantis, a maioria relacionadas a bichos (mas tinham outras músicas que não tinham nada a ver com animais). Teve um segundo disco lançado em 81 ou 82, e os dois discos fizeram muito sucesso, tanto que músicas como “Lá vem o pato pataqui patacolá” entraram no cancioneiro popular infantil.

(Me falaram que teve uma coletiva onde jornalistas teriam perguntado como é adaptar uma história bíblica. Galera, façam seu dever de casa antes da entrevista!)

Comentei no início do texto que esse desenho está atrasado. Digo isso porque a minha geração foi marcada por essas canções. Mas, já se passaram 44 anos! Meus filhos já não têm mais idade pra curtir! Se a animação fosse feita 30 anos depois, acho que pegaria o público certo: os filhos das pessoas que cresceram ouvindo esses vinis. Só pra dar um exemplo: depois da sessão de imprensa, conversei com dois amigos críticos, mais novos, que sabiam pouco sobre esses discos.

Enfim, vamos ao filme. Dirigido por Alois Di Leo e Sergio Machado, Arca de Noé é a adaptação da obra de Vinícius de Moraes – li em algum lugar que seria uma adaptação do livro, mas me parece que o filme todo se baseia nas músicas. Temos novas versões de músicas conhecidas como O Pato (que antes foi gravada por MPB4), A Casa (Boca Livre), O Leão (Fagner), A Galinha D’Angola (Ney Matogrosso) e O Relógio (Walter Franco), dentre outras. Algumas foram adaptadas, como São Francisco, que virou instrumental (porque não tem como encaixar a letra neste roteiro); ou Os Bichinhos e o Homem, onde cortaram o trecho da música que fala sobre a morte: “E o homem que pensa tudo saber / Não sabe o jantar que os bichinhos vão ter / Quando o seu dia chegar”. E, claro, não tem músicas que hoje em dia seriam “canceladas”, como O Porquinho (que fala de variadas maneiras de se comer carne de porco) e Aula de Piano (que mostra uma relação muito errada entre um professor de piano e uma menininha). (Curioso que aparece um peru pegando uma partitura pro concurso, mas não toca a música O Peru, que no disco foi interpretada por Elba Ramalho).

A parte musical é muito boa, e estendo o elogio pra parte técnica (a animação não vai fazer feio frente aos grande estúdios como Disney, Pixar e Dreamworks), e também para o elenco, cheio de nomes importantes, mas vou focar nos principais. Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet e Alice Braga fazem os ratinhos protagonistas, e Lázaro Ramos faz um leão bem divertido. E também queria destacar Gregório Duvivier, engraçadíssimo como a barata. Ah, Seu Jorge faz a voz de Deus, só em uma cena, mas também ficou bem engraçado. Também no elenco, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Eduardo Sterblitch e Marcelo Serrado, entre outros.

(Curiosidade que li nos créditos: Rodrigo Santoro e Marcelo Adnet cantam as músicas dos seus personagens, mas Alice Braga não canta. Vi que Mariana de Moraes (neta do Vinícius) cantou no lugar dela. Mas isso foi o que li nos créditos subindo rapidamente, ainda não tenho mais informações sobre isso).

Se a parte técnica e a parte musical são muito boas, por outro lado o roteiro dá suas escorregadas. A competição musical demora muito a acontecer, e o filme enrola em algumas coisas sem graça, tipo a sidequest da baleia (nem tem música de baleia pra justificar!). E ainda tem umas piadas de “tio do pavê” que fiquei na dúvida se funcionaram ou não. Por sorte, o filme é curto (pouco mais de uma hora e meia) e esses problemas quase são apagados pela riqueza da trilha sonora.

A previsão de estreia é essa semana. Boa opção para levar os pequenos!

Ainda Estou Aqui

Crítica – Ainda Estou Aqui

Sinopse (imdb): Baseado no livro de memórias best-seller de Marcelo Rubens Paiva, no qual sua mãe é forçada a se tornar ativista quando seu marido é capturado pelo regime militar no Brasil, em 1971.

E vamos para as reais chances de Oscar para o Brasil!

Ainda Estou Aqui é o novo filme de Walter Salles (Central do Brasil), que não lançava um longa desde 2012. O filme é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, e conta a história real de uma família no Rio de Janeiro do início dos anos 70. Marcelo vive com seus pais e suas 4 irmãs em uma boa casa, na Vieira Souto, na praia de Ipanema. Até que seu pai, Rubens Paiva, é levado por agentes do regime militar. E nunca mais volta.

Ainda Estou Aqui está badalado para o Oscar, e realmente está um degrau acima da média da produção nacional. Começo pela parte técnica: nunca vi no cinema nacional um cgi de reconstituição de época tão perfeito. A começar pela casa onde mora a família – não existem casas residenciais na Vieira Souto! Provavelmente filmaram em uma casa em outro endereço e colocaram a casa lá. E não é só isso, vemos várias cenas nas ruas, onde vemos carros, pessoas e prédios dos anos 70. E tudo, absolutamente tudo está perfeito. Mostrar uma praia não é uma tarefa tão difícil, mas quando vemos o morro Dois Irmãos sem a favela do Vidigal, a gente leva um susto. Sério, o cgi aqui não deve nada pra super produções gringas.

Mas, mais importante que isso, precisamos falar das atuações. Queria rapidamente citar que Selton Mello não está com “cara de Selton Mello” – gosto do ator, mas ele meio que criou um personagem e repete esse mesmo personagem em diversos filmes (vários atores são assim, Christoph Waltz ganhou dois Oscars por papéis quase iguais). Mas, o nome a ser citado é Fernanda Torres, que está simplesmente sensacional. Caros leitores, anotem isso, estou falando em outubro: Fernanda Torres tem uma chance grande de ser indicada ao Oscar ano que vem, 26 anos depois da sua mãe Fernanda Montenegro (coincidência ou não, também dirigida por Walter Salles). Ah, Fernanda Montenegro aparece no final do filme, em uma cena onde ela interpreta a personagem da filha num futuro onde ela está bem mais velha.

Quase o filme todo se passa nos anos 70. No fim tem um trecho em 1996 e uma cena final em 2004. Na minha humilde opinião, o filme perde a força nesses dois “epílogos”. Não chega a estragar o resultado final, mas acho que Ainda Estou Aqui seria ainda melhor se acabasse no momento que a família deixa a casa, o resto da história podia ser uma cartela com um texto antes dos créditos.

Por fim, e o Oscar? Bem, até onde sei, cada país pode mandar um filme para a categoria “filme internacional” (que era “filme em língua estrangeira” até poucos anos atrás). Escolhem uma pré lista com 9 filmes, que depois é reduzida à lista oficial de 5 candidatos. Mas, a gente sabe que a qualidade do filme não é tudo quando se fala em Oscar. O lobby é algo muito importante. E aparentemente esta vez estão com um lobby forte pra tentar indicar o filme brasileiro. Um boato que ouvi entre amigos críticos é que querem tentar indicar Ainda Estou Aqui para o Oscar principal – nos últimos dois anos, o vencedor do prêmio de filme estrangeiro também estava indicado ao Oscar de melhor filme (Zona de Interesse em 2024, Nada de Novo no Front em 2023). Também é ventilada uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Fernanda Torres, o que já estão falando como se fosse uma “reparação ao erro de não ter dado o Oscar para Fernanda Montenegro” (o que talvez seja um exagero, mas tem um fundo de verdade).

Enfim, aguardemos. Mas estou na torcida!

Abraço de Mãe

Crítica – Abraço de Mãe

Sinopse (imdb): Durante uma grande tempestade no Rio de Janeiro em 1996, a bombeira Ana e sua equipe de bombeiros precisam evacuar uma casa de repouso em colapso, mas os misteriosos residentes têm outros planos sinistros.

Ih, olha lá, tem terror nacional novo na Netflix!

Quando li sobre Abraço de Mãe, achei que era um filme argentino, porque o diretor Cristian Ponce é argentino. Mas não, é uma produção brasileira. Legal!

Abraço de Mãe traz a história de Ana. Depois de um prólogo nos anos 70 que explica seu trauma de infância, vemos Ana trabalhando no corpo de bombeiros, na época de uma grande chuva no Rio de Janeiro, em 1996.

(Curioso que pelo filme, o Rio de Janeiro teria tido uma traumática tempestade em 1996. Morei quase minha vida inteira no Rio, já vivi grandes chuvas em diversos anos, não me lembro de 96 ter sido pior…)

Tecnicamente, Abraço de Mãe é muito bom. Bom elenco, bons cenários, boa reconstituição de época, efeitos especiais simples e eficientes. O melhor aqui é o clima de mistério que rola naquele asilo onde boa parte do filme se passa. Excelente uso da locação. Outro ponto a ser elogiado é o elenco. Principalmente a protagonista Marjorie Estiano. Sou fã dela pela série Sob Pressão, e aqui ela dá um show.

Mas… O clima é muito bom, a trama é envolvente e está andando num bom ritmo, mas o final aberto demais me incomodou. Preciso falar do final. Segue um aviso de spoilers:

SPOILERS!

Na minha humilde opinião, o final do filme é decepcionante. Abraço de Mãe levanta algumas coisas legais e instigantes, mas não desenvolve nada. Vemos que existe um monstro ou criatura, vemos garras e tentáculos, mas não sabemos o que é a criatura, se é algo sobrenatural ou alienígena ou sei lá o que poderia ser. Vemos que pessoas estavam esperando uma grande tempestade pra fazer um culto ou algo parecido, mas não sabemos o que seria aquilo. A filha do argentino estava sendo preparada, mas não sabemos para que.

Não acho que um filme precisa explicar todos os detalhes, mas levantar ideias boas e não desenvolvê-las me pareceu um desperdício. Sempre defendo filmes curtos, mas neste caso em particular, acho que seria melhor ver mais 10 minutos mostrando mais cenas sobre esses elementos misteriosos.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo decepcionado com o final, ainda acho que Abraço de Mãe foi uma boa experiência. Que vejamos mais terror nacional na Netflix!

Terrifier 3

Crítica – Terrifier 3

Sinopse (imdb): Art, o Palhaço, está pronto para espalhar o caos sobre os moradores inocentes do Condado de Miles enquanto eles dormem pacificamente na véspera de Natal.

Projeto do diretor e roteirista Damien Leone, Terrifier é uma franquia que não se baseia na qualidade dos filmes, e sim no exagero do gore. Se outros filmes slasher pensam na classificação indicativa e seguram a onda em alguns aspectos, aqui o gore é propositalmente gráfico e explícito. O espectador só tem uma certeza: vai ver muito sangue e gente morrendo das piores maneiras possíveis.

Precisamos tirar o chapéu pra Damien Leone. O cara fez um curta em 2008 com o personagem Art, outro curta em 2011, em 2013 juntou os dois curtas e mais um terceiro em uma antologia (All Hallows’ Eve), até que conseguiu seu primeiro longa em 2016. E este terceiro filme custou apenas 2 milhões e já rendeu mais de 50, ou seja, teremos o quarto filme em breve.

Agora, este Terrifier 3 tem um problema estrutural. Heu explico. O primeiro Terrifier era quase um projeto amador, foi bancado por crowdfunding e pouca gente viu. Mas como rendeu bem mais do que custou, abriu espaço para um segundo filme em 2022, que foi visto por mais gente. Mais um sucesso, e agora temos um terceiro filme, que provavelmente será visto por ainda mais pessoas. Provavelmente vai ter muita gente indo ao cinema sem ter visto nenhum dos outros dois. E não existe um resumo da história pra contextualizar o espectador. Ou seja, vai ter espectador perdido…

Fui um desses espectadores perdidos. Não vi o primeiro filme, só vi o segundo. E fiquei me perguntando – quem é aquela companheira do palhaço Art? Ela estava no primeiro filme…

Enfim, vamos ao filme. Mais uma vez, temos um banho de sangue, desta vez numa produção bem melhor do que os dois filmes anteriores (agora não parece mais um filme amador). O roteiro continua fraco? Sim. Mas a maior parte do público que vai ver Terrifier quer ver o banho de sangue e não vai se importar com o roteiro.

Na minha humilde opinião, o melhor de Terrifier 3 mais uma vez está no palhaço Art, interpretado por David Howard Thornton. Art não fala, ele é um mímico, que faz caras e bocas o filme inteiro. É um personagem genial! E violentíssimo! Tanto que conseguiu algo raro: entrou no “hall da fama de vilões slasher pop”, ao lado de vilões icônicos como Leatherface e Michael Myers (anos 70), Jason Vorhees, Freddy Kruger, Pinhead e Chucky (anos 80), Ghostface e o Pennywise (anos 90) – acho que o último que tinha surgido foi o Jigsaw em 2004, vinte anos atrás.

Alguns amigos acharam este mais violento que o segundo, por causa de uma cena envolvendo ratos. Discordo, pra mim o segundo foi pior, porque tem uma longa cena de tortura, que se estende mais do que o bom senso sugere. Dito isso, o espectador que entrar no cinema querendo ver gore não sairá decepcionado.

Agora, tem um limite que me incomodou: crianças. Me divirto vendo sangue e gore com personagens adultos, mas quando envolve criança, pelo menos pra mim perde a graça. Achei desnecessário.

E preciso comentar sobre o roteiro. Damien Leone conseguiu um grande feito trazendo o seu palhaço Art para o grande público, mas o roteiro mais uma vez não é bom. Terrifier 3 gasta tempo demais com a família no início do filme, e a relação entre Art e sua companheira não é bem desenvolvida – determinado momento do filme parece que ela manda nele. E, pra piorar, o filme é longo demais, tem pouco mais de duas horas, quando uma hora e meia já era mais que o suficiente.

Enfim, isso não deve incomodar o espectador fã do palhaço Art. Porque esse quer ver sangue, e vai sair do cinema satisfeito.

Por fim, só queria deixar registrado que tem uma ponta do Tom Savini. A gente vê que uma franquia tá fazendo sucesso quando tem moral pra chamar um cara desses!

Strange Darling

Crítica – Strange Darling

Sinopse (imdb): Nada é o que parece quando um caso de uma noite se transforma em uma violenta onda de assassinatos cometidos por um serial killer.

Estou com vários filmes do circuito pra comentar, mas quando aparece um filme como Strange Darling, ele fura a fila!

Escrito e dirigido por JT Mollner, Strange Darling está longe de ser um filme convencional. Antes de começar, aparece escrito na tela que é uma história dividida em 6 capítulos. E começa pelo capítulo 3!

Essa ordem não cronológica é uma sacada genial do roteiro, porque nada é o que parece ser. Fui genuinamente surpreendido mais de uma vez ao longo do filme. A gente acha que a história está indo pra uma direção, mas na verdade vai pra outro caminho completamente diferente. Aliás, é bom avisar: evite spoilers sobre Strange Darling. A única coisa que você deve saber é que é um filme de serial killer. Só.

(E por isso o meu texto vai ser enxuto, não quero dar spoilers.)

As atuações estão ótimas. Kyle Gallner está bem, e Willa Fitzgerald está ainda melhor. Pena que Strange Darling não tem o perfil que chama a atenção de grandes premiações, porque ela poderia tranquilamente ser indicada a um prêmio de melhor atriz. O elenco também traz uma curiosidade: o casal de velhinhos hippies é interpretado pelos veteranos Barbara Hershey e Ed Begley Jr.

Ah, falando de um ator, mas que não está atuando, Giovanni Ribisi (O Dom da Premonição) aqui trabalha como diretor de fotografia.

Por fim, antes de começar o filme tem uma cartela avisando que o filme foi filmado em 35mm. Bacana ver que temos uma escolha tradicional e analógica. Mas, achei inútil pra um filme que não será visto nos cinemas aqui no Brasil.

Filmaço. Grandes chances de entrar no top 10 do ano aqui no heuvi.

Venom: A Última Rodada

Crítica – Venom: A Última Rodada

Sinopse (imdb): Eddie e Venom estão fugindo. Caçados pelos dois mundos e com a rede se aproximando, a dupla é forçada a tomar uma decisão devastadora que fechará as cortinas da última dança de Venom e Eddie.

O primeiro Venom, de 2018, é ruim. Venom 2, de 2021, também é ruim. Alguém acreditava que um terceiro filme, Venom: A Última Rodada (Venom: The Last Dance, no original), seria bom?

Analisando sob este aspecto, até que Venom: A Última Rodada nem é tão ruim. É do mesmo nível dos outros. Se você curtiu os anteriores, talvez se divirta neste terceiro (e, esperamos, último) Venom.

Filme de estreia da diretora Kelly Marcel (roteirista dos dois primeiros e também de Cruella e Cinquenta Tons de Cinza), como falei, Venom: A Última Rodada não é muito ruim. Mas achei o roteiro bem forçado. Há tempos não via conveniências tão convenientes. Vou dar um exemplo: existe um monstro perseguindo um tal codex, que só é visível quando o Venom e o Eddie Brock estão juntos. Quando estão juntos, o monstro consegue ver a quilômetros de distância. Mas quando o monstro vai atacar, é só se separar que ele fica cego. Continua vendo e atacando as pessoas em volta, mas Eddie e o simbionte ficam invisíveis!

E isso porque não tô falando da cena da sra. Chen, aquela da loja de conveniência. Ela não só estava em Las Vegas (outra cidade), e no mesmo cassino, como estava numa grande maré de sorte e ganhou uma suíte na cobertura. Completamente forçado, e ao mesmo tempo, completamente desnecessário – tire essa sequência e o filme não perde nada.

Cabe outro problema do roteiro? Existe um núcleo com cientistas, onde a principal era pra ser a personagem da Juno Temple, que tem um background que não serve pra nada. Mas quem ganha protagonismo na sequencia final é aquela personagem secundária do broche de árvore de natal, tão secundária que nem lembro o nome dela.

Mas, como falei lá em cima, já esperava algo meio tosco. E dentro da tosqueira, tem coisas divertidas. Gostei da família de hippies (a cena deles cantando na van é gostosinha), e rolam algumas boas piadas, como a citação ao Tom Cruise na cena do avião. A trilha sonora também escolhe algumas boas músicas pra embalar o filme.

Mas é pouco. Tem coisa melhor por aí. A não ser que você curta muito o Venom e queira ver uma sequência em cgi de vários venoms de cores diferentes lutando contra monstros.

Ah, tem duas cenas pós créditos. Nenhuma vale a pena.