Men

Crítica – Men

Sinopse (imdb): Uma jovem vai de férias sozinha para o interior da Inglaterra após a morte de seu ex-marido.

Uns dias atrás falei aqui de Crimes do Futuro, um filme esquisitão de terror, né? Poizé, este Men é ainda mais esquisito!

Produção da A24, Men é o novo filme de Alex Garland, que escreveu o livro A Praia, que depois foi adaptado por Danny Boyle, e que depois escreveu os roteiros de Extermínio e Sunshine (ambos dirigidos por Boyle), e que depois dirigiu os filmes Ex Machina (que gostei muito) e Aniquilação (que detestei muito).

E agora temos Men, que certamente vai dividir opiniões. Men não é um filme fácil, principalmente na parte final cheia de simbolismos. Dava pra fazer um vídeo com “final explicado”, mas não sei se entendi o suficiente para explicar… O fato é: o filme deixa lacunas em aberto para a interpretação de cada espectador.

Não tenho nada contra filmes que deixam coisas em aberto. É uma experiência diferente, você tem que sentir o filme e sentir o que o filme te passa. Mas o problema é que um filme assim anda numa linha muito tênue. Em alguns casos, funciona para mim, em outros casos não. Men não funcionou.

Mas, não chamaria o filme de “ruim”. Longe disso, tem muita coisa boa aí. O início do filme é bem legal, a ambientação naquela casa no meio do nada é muito boa, e tem uma cena fantástica em um túnel – tanto pela parte visual quanto pelo áudio (ela quase compõe parte da trilha sonora usando os ecos do túnel). Não à toa, o poster do filme foi tirado desta cena.

A narrativa flui bem, a trama é entrecortada com flashbacks explicando o que aconteceu com o marido da protagonista. Isso até mais ou menos dois terços do filme, depois a gente entra numa viagem de imagens e sons, e essa parte é que vai atrair uns e vai afastar outros.

Ah, é bom avisar: o filme tem uma boa dose de imagens fortes. Os efeitos especiais nessas cenas são muito bons!

Quero falar um pouco da minha interpretação, talvez seja spoiler, então vou colocar aqui um aviso.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A protagonista Harper precisa encarar a culpa que seu falecido ex marido colocou na cabeça dela. Assim que ela chega na casa, ela come uma maçã, que simboliza o pecado que ela sente. Quase todos os personagens masculinos são interpretados pelo mesmo ator Rory Kinnear – e preciso admitir que só reparei isso na reta final do filme (sou um péssimo fisionomista). Pra mim, são diferentes versões do mesmo fantasma que Harper está enfrentando. Quando ela corta o braço dele, e depois quebra o pé dele atropelando, a gente vê que são os mesmos ferimentos de quando o marido caiu do prédio, confirmando que era sempre a mesma pessoa. E no fim, quando vemos vários homens “nascendo” com os mesmos problemas na mão e pé, a gente vê que não adianta ser uma nova pessoa porque continuam com as mesmas falhas.

FIM DOS SPOILERS

Sobre o elenco, o filme inteiro Fica em cima da protagonista Jessie Buckley e do multi homem Rory Kinnear. Ambos estão bem.

Men tem previsão de chegar no Brasil em setembro. Não sei se vai para os cinemas ou para o streaming. Outros filmes de terror da A24 tiveram boa performance nos cinemas, como A Bruxa ou Midsommar. Mas este acho que é um pouco mais hermético, não sei se vai agradar. Aguardemos!

Minions 2: A Origem de Gru

Crítica – Minions 2: A Origem de Gru

Sinopse (imdb): A história não contada do sonho de uma criança de doze anos de se tornar o maior supervilão do mundo.

Mais um filme da franquia Meu Malvado Favorito. O filme estava previsto para 2020, mas por causa da covid foi adiado várias vezes e, quando finalmente estreou, pelo menos para mim, preciso admitir que a expectativa era zero. É uma boa franquia, os filmes são divertidos, mas sei lá por que, não estava empolgado.

E isso foi bom, porque me diverti muito na sessão! O filme é muito engraçado, e tem umas piadas geniais.

Desde o primeiro filme da franquia, os minions são as coisas mais engraçadas e protagonistas das melhores piadas. Aqui acontece o mesmo. Mesmo quando estão ao fundo, fora da cena, são várias piadas boas, tipo quando um pega fogo e outro fica aquecendo as mãos. E, sem entrar em spoilers, mas tem uma cena envolvendo ovos que me fez gargalhar alto no cinema!

Apesar do nome, este novo filme é mais um prequel do que uma continuação do primeiro Minions, afinal o Gru criança é o protagonista. O nome deveria ser “Meu Malvado Favorito Zero – A Origem de Gru”.

A qualidade da imagem é impressionante, não deixa nada a dever para os gigantes Pixar ou Disney. Mas o que mais chama a atenção é a ambientação nos anos 70, tanto na parte visual como na excelente trilha sonora.

A sessão foi dublada, Leandro Hassum continua fazendo um bom trabalho como Gru. Mas quando li quem eram as vozes originais dos vilões secundários, deu vontade de rever legendado: Jean Claude Van Damme, Dolph Lundgren, Lucy Lawless e Danny Trejo! E ainda tem Alan Arkin e Michelle Yeoh, além da volta de Steve Carell, Julie Andrews e Russell Brand. Excelente elenco, que a gente não vai aproveitar aqui no Brasil. Bem, pelo menos a dublagem é boa.

Longe da pretensão de um filme da Pixar, Minions 2: A Origem de Gru é uma genuína diversão leve.

Crimes do Futuro

Crítica – Crimes do Futuro

Sinopse (imdb): Os humanos se adaptam a um ambiente sintético, com novas transformações e mutações. Com a ajuda de Caprice, Saul Tenser, artista performático, mostra publicamente a metamorfose de seus órgãos em atuações de vanguarda.

Sempre falo aqui que a gente tem que olhar o diretor do filme. Crimes do Futuro (Crimes of the Future, no original) é o novo filme de David Cronenberg. Bora falar um pouco sobre o diretor antes de entrar no filme.

Cronenberg sempre foi um cara ligado ao body horror. Lembro de uma matéria sobre ele numa revista Set ou Cinemin que o nome era “Cronenbleargh”. Ele ficou conhecido no fim dos anos 70 e início dos 80 com filmes como Shivers, Enraivecida na Fúria do Sexo, Scanners e Videodrome, e em 1986 lançou talvez seu filme mais famoso, A Mosca (pelo menos aqui no Brasil fez um grande sucesso). Além de imagens fortes e muito gore, Cronenberg também usava temas pesados, muitas vezes ligadas ao sexo, como em Crash Estranhos Prazeres, que trazia pessoas que se excitavam em acidentes de carro. Nos anos 2000, Cronenberg mudou um pouco o estilo e foi pro drama, com filmes como Marcas da Violência, Senhores do Crime, Um Método Perigoso e Mapas para as Estrelas. Heu prefiro os filmes anteriores, mas, ele agora estava tendo filmes elogiados pela crítica e concorrendo a Oscars (Marcas da Violência concorreu a melhor roteiro adaptado e ator coadjuvante; Senhores do Crime, a melhor ator), achei que era uma espécie de “amadurecimento”…

(Pelo imdb, vi que Cronenberg dirigiu um filme homônimo em 1970, Crimes of the Future, justamente o seu primeiro longa. Nunca tinha ouvido falar deste filme de 1970, li no imdb que apesar dos títulos iguais, a trama é diferente.)

Agora, oito anos depois de seu último longa, Cronenberg lança um novo filme, e de volta ao body horror. Crimes do Futuro tem bastante gore, traz uma certa semelhança com Crash pela perversão sexual, e algo de Exiztenz pela mistura de tecnologia com partes humanas.

O clima do filme é bem legal, a gente começa vendo um menino que come plástico e depois a gente descobre que é uma sociedade onde ninguém mais sente dor, e as cirurgias viram eventos artísticos. Com diz uma personagem, “cirurgias são o novo sexo”. E uma coisa legal é que Cronenberg não explica nada. O espectador que se vire pra entender.

Gostei bastante dessa premissa e de toda a ambientação, mas a história parece que não se desenvolve direito. Algumas subtramas não levam nada. E senti falta de um melhor desenvolvimento de alguns personagens, como a Timlin da Kristen Stewart, que parece que vai chegar em algum lugar mas some do nada. E até agora estou tentando entender qual era a função na trama do policial / detetive que aparece de vez em quando.

Pra piorar, o ritmo é bem lento. Ou seja, o filme tem menos de duas horas, falta coisa pra contar, e mesmo assim é cansativo.

Claro que tem gore. Vemos algumas cenas com corpos sendo cortados e órgãos à mostra. Mas, comparado com outros filmes do diretor, não foi tanta coisa assim.

Sobre as atuações, gostei do Viggo Mortensen e da Kristen Stewart e seus personagens esquisitões, mas eles estão tão esquisitos que acredito que muita gente não vai gostar. Léa Seydoux faz um papel mais dentro da normalidade.

Por fim, queria falar que não entendo este filme estar classificado como terror. Crimes do Futuro não é nada assustador, não tem um vilão / monstro / entidade, o único desconforto que o filme causa é pelo body horror. Será que foi a classificação certa? Fico mais entre ficção científica e drama.

Crimes do Futuro não vai agradar a todos. Arrisco dizer que vai agradar a poucos. Mas, como apreciador da obra do Cronenberg, posso dizer que gostei do resultado.

 

As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi

As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi

Não escondo de ninguém que sou fã de Guerra nas Estrelas. Pra mim, qualquer filme ou série ligado a Star Wars será bem vindo, e vou falar bem. Reconheço que passo pano.

Mas… Essa série do Obi Wan tem tanta coisa tosca… É uma boa série, me diverti, tem alguns momentos excelentes, mas, talvez, se dessem uma enxugada e transformassem num longa metragem, talvez o resultado fosse bem melhor (são 6 episódios entre 40 e 50 min cada, vamos arredondar, seriam 4 horas e meia no total, corta a metade, tem um filme de 2 horas e 15 minutos).

Vejam bem, não estou falando de head canon. Conheço gente que não gostou porque pelo trailer a série seria com o jovem Luke, e na verdade foi foi com a jovem Leia. Gosto de ser surpreendido, não trouxe nenhum head canon para a série.

Também não estou falando de decisões burras dos personagens, como por exemplo o Bail Organa mandar uma mensagem que poderia facilmente ser interceptada. Boa parte do cinema como conhecemos hoje é baseada em decisões burras de personagens.

Meu problema foram detalhes toscos. Gostei da série, gostei de vários momentos, todas as cenas com o Darth Vader nos dois últimos episódios são muito boas. Mas ao lado tinham vários detalhes que a gente pensava “seriously?”.

Vou listar os seis que achei mais toscos. Claro, spoilers liberados.

6- A gente vê uns 50, talvez 100 Stormtroopers, esperando pra entrar na caverna. Tem um canhão lá fora, o ideal seria dar uns tiros de canhão antes, pra dar uma limpada, mas, deixa pra lá. O problema é depois. Ok, a gente sabe que stormtroopers não são bons de mira, a gente sempre viu isso. Mas, é um corredor estreito e eles estão muito perto. Essa cena, pra funcionar, teria que ser num espaço mais amplo, ou com menos gente. Colocar esse monte de gente aglomerada atirando ficou muito ruim. Será que não tinha um estúdio maior?

5- Essas naves menores parecem os snow speeders do Império Contra Ataca. Ok, elas chegam atirando. Mas… Saem atirando de qualquer maneira, acertaram vários stormtroopers, poderiam ter acertado Obi Wan e Leia! E outra coisa: pela velocidade que chegam, não teriam como manobrar e fazer a volta.

4- Os caras têm uma porteira laser. Isso faz sentido para a estrada, para impedir veículos. Por que o Obi Wan precisava atirar e interromper a barreira? Não era só dar a volta?

3- A perseguição na floresta que acontece no primeiro episódio tem que ser citada aqui. Os sequestradores são os mais incompetentes da história, parece até que estávamos vendo um filme dos Trapalhões.

2- A cena do fogo é intrigante. Darth Vader resolve queimar Obi Wan, para se vingar. Aí ele mostra que facilmente pode apagar o fogo. Mas, logo depois, não pode mais? Pra piorar: essa “parede” de fogo tem uns 50 metros. Por que os stormtroopers não deram a volta?

1- Em primeiro lugar, não tem como não ser a fuga da base imperial com a Leia escondida debaixo do roupão. Sim, debaixo do roupão. Sem precisar de muito esforço, qualquer um consegue pensar em vários jeitos melhores dessa fuga acontecer.

Pra terminar, não é exatamente um detalhe, mas achei que a Reva não deveria estar no último episódio. Ela levou um golpe de sabre de luz na barriga – por que Quin Gon Jin morreu, se aqui dois personagens levaram exatamente o mesmo golpe e estão serelepes pela série? Mas, ok, ela sobreviveu. Não estou reclamando disso, estou reclamando dela ir pra Tatooine sem motivo – pra que ela queria o Luke? E aquela redenção dela ficou ruim, muito ruim. Tire a Reva do sexto episódio, o episódio cresce em qualidade.

Vingança a Sangue Frio

Crítica – Vingança a Sangue Frio

Sinopse (imdb): Um motorista de removedor de neve procura vingança contra os traficantes que mataram seu filho.

Vingança a Sangue Frio (Cold Pursuit, no original) é refilmagem do norueguês O Cidadão do Ano (Kraftidioten), curiosamente dirigido pelo mesmo diretor Hans Petter Moland (o mais comum é ter a versão hollywoodiana feita por um americano). Hans Petter Moland fez igual ao francês George Sluizer (O Silêncio do Lago, de 1988 e 1993); ao alemão Michael Haneke (Funny Games – Violência Gratuita de 1997 e 2007); ao dinamarquês Ole Bornedal (Nightwatch, de 1994 e 1997); ao japonês Takashi Shimizu (O Grito, de 2002 e 2004, O Grito 2, de 2003 e 2006); e ao francês Jean-Marie Poiré (Os Visitantes, de 1993 e Os Viajantes do Tempo, de 2001 – inclusive repetindo os dois atores principais, Jean Reno e Christian Clavier). Deve ter outros, mas o mais comum quando o gringo vai pra Hollywood é filmar algo diferente.

Não vi O Cidadão do Ano, então não posso comparar. Mas posso comparar com o que Liam Neeson fez de lá pra cá. Vingança a Sangue Frio não é um grande filme, mas é melhor que Legado Explosivo, Na Mira do Perigo, The Ice Road, Agente das Sombras e Assassino Sem Rastro.

Vingança a Sangue Frio começa como um filme normal de vingança. Um homem mais velho descobre que seu filho foi assassinado, e resolve sair à caça dos responsáveis. Mas o grande lance é que um outro elemento é incluído na trama e começa a acontecer uma briga de gangues paralela à caça aos assassinos. Essa triangulação fez bem ao roteiro, porque a gente já viu várias vezes esse filme do cara sozinho em busca de vingança pessoal.

O roteiro ainda traz alguns pequenos detalhes para sair do óbvio, como alguns diálogos que falam de coisas aleatórias. Outra coisa curiosa é colocar uma tela em “homenagem” a cada morto no filme. E tem muita gente morrendo… O visual do filme também é bem legal, as paisagens na neve foram bem aproveitadas.

No imdb o filme está classificado como “Ação / Policial / Comédia”. Não sei onde está a comédia. Acho que só achei graça na última morte, que foi a única acidental no filme.

Sobre o elenco, Liam Neeson faz o de sempre, mas ele é bom nisso, não reclamo. Achei um desperdício trazer a Laura Dern para um papel tão pequeno. Tom Bateman faz um vilão caricato, mas gostei do personagem. Ah, o ator que faz o filho do protagonista é Micheál Richard, filho de Liam Neeson na vida real.

No fim, fica a pergunta: será que Neeson voltará a fazer filmes bons?

Top Gun – Ases Indomáveis

Crítica – Top Gun – Ases Indomáveis (1986)

Sinopse (google): A escola naval de pilotos é onde os melhores dos melhores treinam para refinar suas habilidades de voo de elite. Quando o piloto Maverick é enviado para a escola, sua atitude irresponsável e comportamento arrogante o colocam em desacordo com os outros pilotos, especialmente Iceman. Porém Maverick não está apenas competindo para ser o piloto superior de caça, ele também está lutando pela atenção de sua bonita instrutora de voo, Charlotte Blackwood.

Maior bilheteria de 1986, desbancando Jornada Nas Estrelas IV: A Volta Para A Terra , Platoon e Curtindo A Vida Adoidado. Foi um dos primeiros grandes sucessos de Tom Cruise, um dos maiores star power de Hollywood nas últimas décadas. E ainda tem uma das trilhas sonoras mais marcantes da história. Este é Top Gun – Ases Indomáveis.

Top Gun talvez seja o filme mais famoso do diretor Tony Scott. Lembro que na época rolava uma piadinha que Tony Scott era o “irmão menos talentoso do Ridley Scott”. Maldade. Tony é talentoso, só pegou um caminho mais pop naquela época – a gente não pode esquecer de Dias de Trovão, um “sub Top Gun lançado poucos anos depois. Mas, Tony Scott foi um grande diretor e tem um currículo com alguns grandes filmes (como Fome de Viver e Amor À Queima Roupa). Pena que faleceu cedo, aos 68 anos, em 2012.

Ok, a gente precisa reconhecer que várias sequências de Top Gun parecem videoclipes de propaganda militar norte americana. Mas, também precisamos reconhecer que as cenas aéreas são muito boas – apesar de hoje, em 2022, ficar claro que as cenas filmadas dentro do cockpit foram feitas em estúdio (mas, caramba, estávamos em 1986!).

E, já que falamos em videoclipe, a trilha sonora do filme é excelente, foi um disco que vendeu muito, e que as músicas imediatamente remetiam ao filme (como Footloose ou Dirty Dancing). Além disso, o tema Top Gun Anthem, de Harold Faltermeyer, é excelente!

Já comentei aqui no canal sobre filmar em ruas e calçadas molhadas – prática aliás bastante utilizada por Ridley Scott. Aqui em Top Gun tem uma certa variação: vemos pessoas suadas, muitas pessoas suadas. Não estou falando da famosa cena do vôlei de praia, estou falando de cenas de tensão, como acontece na sala de comando quando todos estão acompanhando pelo rádio as manobras aéreas. Para acentuar a tensão, todos estão com gotículas de suor espalhadas pelo rosto. E isso acontece várias vezes ao longo do filme.

Já que falei do vôlei de praia, bora falar da “teoria Tarantino”. No filme Vem Dormir Comigo, de 1994, Tarantino faz uma ponta, aparece numa festa dizendo que Top Gun seria um filme gay. Maverick seria um gay no armário, e que Iceman e seus amigos seriam os gays que estariam tentando trazer Maverick para o lado deles. Charlie estaria tentando trazer Maverick de volta para a heterossexualidade, por isso só ela coloca uma jaqueta e um boné escondendo o cabelo para “parecer um homem” e chamar a atenção de Maverick, na cena do elevador. Anos depois, em entrevistas, o produtor Jerry Bruckheimer e o roteirista Jack Epps Jr. disseram que o filme não foi feito pensando neste aspecto, mas que o público tem a liberdade de interpretá-lo como quiser.

Na minha humilde opinião, isso sempre foi uma piada (assim como outras teorias do Tarantino, como a da música Like a Virgin da Madonna). Mas é uma piada bem bolada, e que ganhou força com o passar do tempo. E sim, se a gente tiver isso em mente, Top Gun funciona bem como um filme gay, podemos sentir o clima que rola entre Maverick e Iceman.

(Curioso a gente pensar que Vem Dormir Comigo é de 1994, e que um ano antes Tony Scott lançou Amor À Queima Roupa, com roteiro do Tarantino. Provavelmente eles tiveram essa conversa ao vivo…)

No elenco, esse deve ter sido o primeiro grande sucesso de Tom Cruise – antes disso ele tinha feito A Lenda, Negócio Arriscado, uma ponta em Vidas sem Rumo e mais um ou outro filme irrelevante. Mas a partir daqui, sua carreira decolou e hoje ele é um dos maiores nomes de Hollywood. Também no elenco, Val Kilmer, Kelly McGillis, Anthony Edwards, Tom Skerritt, Michael Ironside, Tim Robbins, Rick Rossovich e Meg Ryan. O elenco de um modo geral funciona bem, mas preciso dizer que a relação entre o casal principal não me convenceu, faltou química.

Datado, mas ainda diverte.

Lightyear

Crítica – Lightyear

Sinopse (imdb): A história de Buzz Lightyear e suas aventuras ao infinito e além.

A franquia Toy Story é uma das melhores coisas feitas na animação nas últimas décadas. E a gente sabe que continuações costumam enfraquecer as franquias. Quando lançaram Toy Story 3, o pensamento era “tem que parar agora, enquanto a franquia está com a qualidade lá no alto”. Mas fizeram o quarto filme, que pode não ser tão bom quanto o terceiro, mas ainda segurou a barra no alto. Valia a pena fazer um quinto filme?

A saída foi fazer um spin-off. Lightyear não fala do boneco, mas sim sobre o personagem que deu origem ao boneco. Antes do filme, tem um texto na tela explicando: em 1995, Andy foi ao cinema e depois ganhou um boneco do personagem. Este é o filme que ele foi ver.

E afinal, Lightyear é bom? Bem, não mantém a mesma qualidade dos filmes Toy Story, mas é um filme divertido e extremamente bem feito. A parte técnica enche os olhos – não que isso seja surpresa em se tratando de Pixar, mas, não custa reforçar. A animação é tecnicamente perfeita!

Dirigido por Angus Maclane (que está estreando como diretor solo, mas trabalha na Pixar desde Vida de Inseto, de 1998). Lightyear é a volta dos lançamentos nos cinemas – Dois Irmãos foi lançado na época do início da pandemia, sei que teve sessões nos cinemas, mas não lembro se chegou a passar aqui no Rio; os três seguintes, Soul, Luca e Red, foram direto para o streaming. Pelo menos para mim isso é uma boa notícia, senti falta de ver Soul num cinema.

Duas coisas me incomodaram no roteiro de Lightyear. Uma delas é uma das premissas básicas do filme, então não considero que seja spoiler. Buzz está numa grande nave, com centenas (milhares?) de pessoas, e eles ficam presos num planeta desabitado. Em um ano, bolam um plano para sair. O plano dá errado, e mesmo assim eles insistem no plano ao longo de décadas! Caramba, ninguém pensou num plano B? Será que anos depois ninguém ia pensar em outra forma de sair do planeta?

A outra coisa que me incomodou é spoiler. Mas, posso dizer que não gostei das motivações do vilão. O vilão é o Zurg, aparece em Toy Story, mas aqui a gente conhece a história dele, e achei essa história bem ruim.

Sobre os novos personagens, preciso dizer que a princípio achei que o gatinho era uma ideia ruim, mas preciso admitir que ao fim do filme, já tinha virado fã do gatinho. Já o resto dos personagens, não tem nenhum memorável. Uma boa piada aqui, outra ali, mas nada que fique na memória.

Uma informação importante sobre a dublagem. O boneco Buzz Lightyear foi dublado por Guilherme Briggs, um dos melhores dubladores brasileiros; e aqui foi dublado por Marcos Mion. Claro que tem um monte de gente reclamando. Mas… Em primeiro lugar, a troca do dublador é algo coerente, porque este Buzz não é o mesmo de Toy Story, aqui é o personagem do filme, lá é o boneco – a mudança de dublador aconteceu também no original, o boneco é dublado por Tim Allen e este é dublado por Chris Evans. E agora, sobre o Marcos Mion: tirando um “paulistês” meio forte, não atrapalhou em nada. Marcos Mion está aprovado.

Está rolando uma polêmica sobre um beijo gay. Sim, acontece um beijo entre duas mulheres, personagens novas, não é o Buzz, ninguém vai poder espernear “arruinaram a minha infância!” Queria dar um recado pra quem se incomodou com o fato de duas personagens, fictícias, desenhadas, que demonstram carinho entre elas. O mundo tem tanto problema real, e você se incomoda com isso? Seriously?

Por fim, são 3 cenas pós créditos. As duas tradicionais, uma ao fim dos créditos principais outra lá no fim. Mas, depois de tudo ainda tem mais uma! Não saia do cinema antes do filme realmente acaba!

Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Crítica – Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Sinopse (imdb): Uma idosa imigrante chinesa se envolve em uma aventura louca, onde só ela pode salvar o mundo explorando outros universos que se conectam com as vidas que ela poderia ter levado.

Este ano tivemos um bom filme com o subtítulo “Multiverso da Loucura”. Quem diria que pouco mais de um mês depois teríamos outro bom filme usando multiversos, e ainda mais louco que o primeiro filme?

Escrito e dirigido pela dupla “Daniels” (Dan Kwan e Daniel Scheinert), Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Everything Everywhere All at Once no original) usa o conceito de multiverso de maneira insana. Algumas sequências têm poucos segundos e conseguem mostrar diversos cenários e figurinos misturados. Parece aquela sequência do gerador de imprevisibilidade de O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas que dura muito mais tempo. É tudo muito intenso, pisque o olho e perdeu partes da viagem.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo tem várias sequências geniais. Para ativar a viagem entre os multiversos, a pessoa precisa fazer algo inesperado. Se a primeira coisa inesperada é comer um batom, essa “inesperabilidade” vai escalando até coisas completamente malucas conforme o filme avança. E como tudo é possível, vemos por exemplo uma batalha entre a vilã e alguns guardas onde cada guarda é derrotado de maneira mais criativa possível.

Não sei se podemos chamar Tudo em todo lugar ao mesmo tempo de comédia, mas tem cenas engraçadíssimas. Tem uma luta na parte final onde a protagonista enfrenta um adversário sem calças, e com algo enfiado naquela parte famosa da anatomia da Anitta. Tem uma divertidíssima citação ao Ratatouille. E o universo com as pessoas com salsichas no lugar dos dedos das mãos é hilário!

Acho que o que mais chama a atenção é a edição. Fiquei imaginando, deve ter dado um trabalho hercúleo organizar todas aquelas imagens misturadas de forma que ainda fizessem algum sentido. E ainda tem inúmeras mudanças de formato de tela (aspect ratio), o que confunde ainda mais.

Mas, também preciso falar da protagonista Michelle Yeoh. Já falei dela outras vezes, mas aqui acho que foi sua melhor atuação. Ela consegue transparecer todos os conflitos de todas as versões de sua personagem – e ainda mostra nas cenas de luta a habilidade que a gente já conhece desde O Tigre e o Dragão – sem uma atriz que luta artes marciais o filme não seria o mesmo. Não será surpresa vê-la concorrendo ao Oscar ano que vem.

Ainda no elenco, preciso falar de dois nomes. Primeiro, a agradável surpresa que foi rever Ke Huy Quan, que foi o Short Round em Indiana Jones e o Templo da Perdição e o Data em Goonies, e não lembro de nenhum outro filme dele desde 1985 (vi no imdb, ele fez pouca coisa de lá pra cá, e nada relevante). Além dele, vemos Jamie Lee Curtis num papel diferente de tudo o que ela já fez. Também no elenco, Stephanie Hsu e James Hong.

Os efeitos especiais são simples e eficientes. Tem um efeito recorrente onde a protagonista parece ser puxada em alta velocidade, que não requer malabarismos em cgi e tem um efeito excelente na tela.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é longo, duas horas e dezenove minutos, e não mantém o pique até o final. Achei a segunda metade bem inferior à primeira. Ok, talvez o filme ficasse louco demais se fosse o tempo todo no mesmo ritmo insano, mas sei lá podiam ter reduzido a segunda metade.

Mas mesmo com o final longo demais, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é um filme altamente recomendado. Afinal, não é todo dia que vemos algo realmente diferente no cinema.

Tico e Teco e os Defensores da Lei

Crítica – Tico e Teco e os Defensores da Lei

Sinopse (imdb): Adaptação live action do clássico “Tico e Teco e os Defensores da Lei”.

Quando vi que tinha um filme novo do Tico e Teco, nem dei bola. O desenho Tico e Teco e os Defensores da Lei estreou aqui no Brasil em 1993, nessa época heu já estava na faculdade, nem me lembro se cheguei a ver algum episódio.

Mas, vi que alguns dos youtubers que acompanho estavam falando do filme. Aí depois me recomendaram, no mesmo dia, no grupo de apoiadores do Podcrastinadores e num grupo de amigos. Pensei, “é, esse filme deve ter algo diferente”.

E foi uma agradabilíssima surpresa! Tico e Teco e os Defensores da Lei é um forte candidato a melhor animação do ano!

Dirigido por Akiva Schaffer, que tem um grande currículo no Saturday Night Live, Tico e Teco e os Defensores da Lei segue a linha de Uma Cilada Para Roger Rabbit: mistura filme live action com personagens animados, e usa muitos personagens de outros lugares.

Duas coisas chamam a atenção logo de cara. Uma delas é a quantidade de referências e easter eggs espalhados pelo filme. A outra coisa é a qualidade da animação, que mistura várias técnicas diferentes.

Sobre os easter eggs: são tantos que nem dá pra contar. Como aconteceu em Jogador Nº1, vai ter gente pausado o filme e ampliando a imagem, porque a quantidade é realmente absurda! E sobre as técnicas de animação, achei uma ideia muito boa misturar os estilos. Um dos personagens é em stop motion! Outro personagem tem aquela animação usada em Expresso Polar, onde os olhos ficaram mal feitos (e o filme faz piada em cima disso)! Tem uma cena com uma personagem naquela animação 3D onde a imagem fica borrada meio vermelha meio azul!

A certa altura, me perguntei se o filme teria graça sem essas referências. Mas aí a gente vê que o filme fala de pirataria, e lembra daqueles dvds vendidos nas Lojas Americanas da Vídeo Brinquedos, com títulos como Os Carrinhos, Ratatoing, Ursinho da Pesada e Voando em Busca de Aventuras – parece até que o filme foi feito pensando nesses dvds!

Além disso, o filme ainda propõe uma reflexão sobre o passar do tempo. Temos um personagem que faz uma “cirurgia computadorizada” para se atualizar; temos outro personagem que tem problemas para conseguir novos trabalhos porque ficou adulto.

Sobre o elenco, acho que a única personagem que aparece em forma humana é a policial interpretada por Kiki Layne (tem uma ponta do Paul Rudd, mas só ponta). Mas o elenco animado está cheio de nomes conhecidos, como Andy Samberg, Will Arnett, Eric Bana, Seth Rogen, J.K. Simmons, Dennis Haysbert e Keegan-Michael Key.

Tico e Teco e os Defensores da Lei é divertidíssimo! Certamente estará no meu top 10 de melhores filmes de 2022!

Jurassic World Domínio

Crítica – Jurassic World Domínio

Sinopse (imdb): Quatro anos após a destruição da Ilha Nublar, os dinossauros coexistem com os humanos. Esse equilíbrio determinará se os humanos continuarão sendo os predadores dominantes em um mundo com as criaturas mais temíveis de todos os tempos.

Preciso confessar que não me lembro de muita coisa do filme Jurassic World: Reino Ameaçado, de 4 anos atrás, junho de 2018. Pra minha sorte, na época escrevi aqui no heuvi, então vou copiar um trecho:

Jurassic World: Reino Ameaçado tem seus momentos, mas o resultado final deixa a desejar.
A parte técnica é impressionante. Se o primeiro Jurassic Park já tinha dinossauros convincentes, hoje, quando o cgi é ainda mais evoluído, a produção não economizou. Mais uma vez, temos vários dinossauros, todos muito bem feitos.
Por outro lado, o roteiro exagera nas forçações de barra. (…) Pra piorar, tudo é muito previsível. Isso porque não tô falando de ideias repetidas dos outros filmes – de novo um dinossauro aprimorado geneticamente.
Claro que teremos mais uma continuação se este filme tiver retorno. E claro que a gente vai ver. E se não tiverem novas ideias, claro que vão repetir tudo. De novo.”

Dirigido pelo mesmo Colin Trevorrow do primeiro Jurassic World, este novo filme, Jurassic World Domínio (Jurassic World Dominion, no original) é isso aí. Tem até esses dinossauros modificados geneticamente.

E preciso confessar que foi uma grande decepção. Não só para mim, mas também para as pessoas que estavam por perto na sessão de imprensa onde vi.

Muita gente se decepcionou porque o final do filme anterior apontava para uma continuação com dinossauros espalhados por áreas urbanas. Realmente, ia ser um filme bem legal – como sobreviver num planeta onde pode aparecer um dinossauro a qualquer momento perto de você?

Mas, Jurassic World Domínio não é esse filme. E não acho certo reclamar de um filme que apenas não foi o que estava na nossa cabeça, isso é um head canon. Vou reclamar de outra coisa. O que me mais incomodou foram as falhas grotescas no roteiro.

Antes preciso falar que aceito conveniências de roteiro, tipo uma cena onde um carro capota e cai ao lado de onde estavam os outros personagens. Qual é a chance disso acontecer? Bem pequena, mas faz parte! É um filme de ficção, pô!

O que reclamo são coisas que não fazem lógica. Tipo alguém cortar a energia elétrica e um trem parar do nada – o trem era rota de fuga, teria um gerador separado para o caso de dar problema.

Vamulá. Existe uma sequência em Malta que é toda errada. Pra começar, é uma sequência que é desnecessária, tire essa sequência e a história do filme não perde nada. E, dentro da sequência, são vários os momentos sem lógica. Exemplo: qual é a  velocidade de um raptor? Uma pessoa a pé consegue fugir, mas logo depois o mesmo raptor está mais rápido que uma moto que está alcançando um avião que vai decolar! Outro exemplo: os raptors são modificados pra seguirem uma pessoa que alguém marcou com um laser. Oi? Como você vai mirar o laser antes de marcar a pessoa? E aquela cena naquele submundo onde existe rinha de dinossauros não faz o menor sentido. Um dinossauro vem e come o vilão, mas todos em volta estão tranquilos por que? Por fim, aquela pilota NUNCA ia oferecer aquela carona.

Mas, vamos em frente. Tem uma cena mais pro fim onde tem duas coisas ilógicas juntas, é quando a Laura Dern e a Bryce Dallas Howard vão desligar a energia elétrica. Ora, se elas não sabiam como fazer, e quem sabia não estava machucado, por que elas foram? E tem outro erro ainda pior: são dezenas de gafanhotos mortos no chão. Quando a energia volta, eles “acordam” e começam a atacar. Quando a energia é derrubada de novo, eles “morrem” de novo. Vem cá, são gafanhotos elétricos?

Mas o pior erro não foi esse. Tem um erro de continuidade que é o erro mais grosseiro que vi em muito tempo. O personagem Ramsey discute com o vilão, e sai da sala dele. E na cena seguinte ele está junto com os mocinhos – que estavam a quilômetros de distância!

Heu podia continuar, mas já deve ter dado pra ver que o roteiro é um lixo. Então vou parar. Mas tem mais, ah, tem.

De ponto positivo: os dinossauros são perfeitos. Os efeitos especiais são perfeitos. Ok, nenhuma surpresa, Jurassic Park sempre teve efeitos bons (o primeiro filme tem quase 30 anos que foi lançado e ainda é impressionante). Mas, é sempre legal ver dinossauros bem feitos.

Sobre o elenco, a série Jurassic Park teve um reboot em 2015 com elenco novo, estrelado por Chris Pratt e Bryce Dallas Howard. Este é o terceiro filme desde o reboot, e este filme trouxe de volta os três principais do primeiro filme, lá de 1993: Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldblum. Foi legal ver todos juntos, mas acabou que são muitos personagens “principais” (porque ainda tem alguns novos). Mas, ok, isso ficou bom. Também no elenco, Isabella Sermon, DeWanda Wise, Mamoudou Athie, Campbell Scott, BD Wong e Omar Sy.

Mas no fim fica a decepção. Disseram que este seria o último filme da saga. Se for só pra focar em efeitos especiais e deixar o roteiro pra lá, tomara que seja o último mesmo.