A História Sem Fim

Crítica – A História sem Fim

Sinopse (imdb): Uma criança com problemas mergulha em um maravilhoso mundo de fantasia através das páginas de um livro misterioso.

Depois de muito tempo resolvi rever A História sem Fim. Sabe quando um filme envelhece mal? Poizé.

A História sem Fim é a adaptação do livro homônimo escrito por Michael Ende (curioso que o sobrenome do autor significa “fim”). Não sei como é o livro, mas o filme investe na metalinguagem, o garoto lê um livro e dentro do livro acontece a outra história. É uma história dentro da outra, e em alguns momentos pontuais elas se misturam. Ah, o escritor não gostou do desenvolvimento da produção e pediu pra ter o nome retirado dos créditos.

Nem todos sabem, mas A História sem Fim é uma produção alemã – era na época a produção mais cara da história do cinema alemão. A direção é de Wolfgang Petersen, que aproveitou o sucesso do filme e fez carreira em Hollywood, dirigiu vários filmes como Inimigo Meu, Epidemia, Força Aérea Um, Mar em Fúria e Tróia.

Parte da premissa ainda funciona. A História sem Fim tem como vilão o “Nada”, que cresce quando as pessoas param de ler e perdem a criatividade. Ou seja, essa parte ainda funciona nos dias de hoje.

Por outro lado, algumas coisas no roteiro não fazem mais sentido. Tipo logo no início, vemos que Bastian sofre bullying de três garotos maiores. E tem um monte de adultos em volta, e ninguém faz nada? Sei lá, de repente na época as pessoas não davam bola pro bullying, e a gente hoje vê que evoluímos nesse aspecto.

Mas a parte que me deu mais raiva do roteiro foi o cavalo afundando no pântano. O roteiro é claro quando diz que quem está triste afunda. Na minha humilde opinião, um cavalo fica triste é algo meio estranho mas, ok, aceito. Ok, o cavalo ficou triste. E sabe quem mais ficou triste? O Atreyu! Ficou muito mais triste que o cavalo! E por que ele não afundou???

Teve uma parte do roteiro que achei ruim na hora, mas, depois, entendi a ideia. Uma parte importante do final é que Bastian precisa dar um nome para a imperatriz. E não conseguimos ouvir qual foi o nome que ele deu! Mas, isso foi proposital. Acho que era pra deixar aberto para diferentes interpretações dos espectadores.

Vou dividir os comentários sobre os efeitos especiais em duas partes. Existe toda uma ambientação, com cenários e maquiagens, que ficou completamente datada. O filme tem cara de Castelo Rá Tim Bum. Mas, isso não é exatamente um defeito do filme, é uma característica, os realizadores tinham a intenção de fazer algo com esse visual. E, vamulá, não é algo mal feito. Só é muito datado.

Já os voos do Falcor, dragão com cara de cachorro, ficaram péssimos. Aquele chroma key é muito tosco. Impressionante como a gente via aquilo e aceitava na boa. Ah, aquele lobo também ficou muito ruim.

Também tenho dois comentários sobre a trilha sonora. A música tema Neverending Story, cantada por Limahl, é uma música muito boa e fez um enorme sucesso – foi até um ponto importante no encerramento de uma temporada recente de Stranger Things. E além dessa música, a trilha conta com uma outra música instrumental, também muito boa, que aparece em alguns pontos chave do filme.

O único nome a ser citado no elenco é Barret Oliver, que faz o Bastian. A fama de A História sem Fim abriu portas para ele em outros filmes da época, como Daryl e Cocoon (ambos de 1985). Mas seu último filme foi em 1989. Noah Hathaway (Atreyu) estava no Battlestar Galactica de 1978, e tem alguns títulos no imdb, mas nada relevante – seu terceiro título mais importante é Troll O Mundo do Espanto. Tami Stronach, a imperatriz, só fez este filme e não seguiu com a carreira de atriz. Dentre os coadjuvantes, acho que o único que heu reconheci é Deep Roy, que estava em Peixe Grande e A Fantástica Fábrica de Chocolate.

Foi lançada uma continuação em 1990, dirigida por um George Miller homônimo do cara que fez Mad Max, mas esse nunca revi…

Gangs Of London – Segunda Temporada

Crítica – Gangs Of London – Segunda Temporada

Sinopse (Amazon Prime): Um ano após a morte de Sean Wallace, o mapa de Londres foi reescrito e existe uma nova e brutal força no poder. Mas com uma rebelião sendo fermentada, quem vai ganhar a batalha pela alma de Londres?

Heu achei que tinha falado ano passado sobre a primeira temporada de Gangs Of London, mas não achei nem aqui nem no youtube. Devo ter comentado alguma coisa no Podcrastinadores, mas certamente apaguei minhas anotações. Vou comentar a segunda temporada, mas antes aproveitarei pra falar um pouco sobre a primeira.

Gangs Of London e uma série violentíssima, criada por Matt Flannery e Gareth Evans (responsáveis pelos dois Operação Invasão). Na primeira temporada a gente acompanha uma família irlandesa que lidera gangues de várias etnias, como nigerianos, paquistaneses, libaneses e albaneses, no submundo do crime da Londres dos dias de hoje.

A segunda temporada traz um novo e perigoso personagem que quer tomar o posto de líder dos criminosos. E se você não viu, recomendo não ler muita coisa porque existem surpresas ao longo da temporada.

Uma coisa que senti falta foi de um “previously”. Começou a temporada sem nada pra resumir o que tinha sido exibido um ano atrás. Tive que rever o último episódio da primeira temporada antes de seguir com a segunda.

Gangs Of London tem dois pontos fortes. Um, o mais claro é a qualidade e quantidade de violência gráfica. Não me lembro de nenhuma outra série de TV tão violenta. Vou além: arriscaria dizer que não existe nada mais brutal do que o episódio 5 da primeira temporada, uma das peças mais violentas da história do audiovisual, um espetáculo de tiros, explosões e sangue. A segunda temporada não tem nenhum episódio dirigido pelo Gareth Evans (o responsável pelos momentos de maior violência gráfica), mas tem alguns momentos com bastante gore.

O outro ponto a ser citado é o xadrez de poder que vemos na série. Vemos jogadas ousadas, onde os personagens não têm problema em sacrificar peças do tabuleiro para alcançar o objetivo. E aqui não tem ninguém bonzinho, o protagonista Elliot está longe de ser um cara “do bem”.

Tenho um mimimi sobre o novo personagem, Koba. Ok, a gente vê que ele é mau muito mau, mas quando ele surge em cena, um cara magrelo com o cabelo oxigenado, a gente lembra do Rafael Portugal. E lembrar do Rafael Portugal não é nada amedrontador.

Queria fazer outro comentário sobre o elenco. No sexto episódio a gente vê a Lale lutando contra vários oponentes. Quero ver um filme de ação com a atriz Narges Rashidi!

Heu preferia que a história tivesse terminado aqui, mas o último episódio deixa um gancho para uma terceira temporada. Que mantenham a qualidade!

A Profecia do Mal

Crítica – A Profecia do Mal

Sinopse (imdb): Um culto rouba o Sudário de Turim para propósitos perversos.

Ok, reconheço que um filme com esse nome e esse cartaz não prometia ter muita qualidade. Mas, admito que gosto do tema, então fui ao cinema conferir.

O problema de A Profecia do Mal (The Devil Conspiracy, no original) é que tudo é tão bagunçado que nem sei por onde começar. Ok, começo com um filme de terror onde não existe absolutamente nada assustador.

Mas acho que o pior é o roteiro, que traz duas tramas diferentes e aparentemente desconexas. Temos um cientista louco que quer clonar grandes gênios da humanidade (ele mostra uma criança clone do Vivaldi), e que quer o santo sudário para clonar Jesus Cristo. Paralelo a isso, temos um culto de adoradores de Lúcifer. Nada contra um filme abordar dois plots diferentes, mas, devo ter cochilado e não entendi onde eles se conectam. Por que diabos um grupo de adoradores de Lúcifer ia querer Jesus de volta?

Só sei que em determinado momento apareceu um “boitatá”, e desisti de tentar entender a lógica do filme. Aquela cena da gaiola pendurada com os caras em volta e a cobrinha passeando pelas mulheres não faz o menor sentido. Ok, entendo que a cobra de fogo simbolizava Lúcifer, mas, caramba, pra mim, cobra de fogo é um boitatá!

Se a gente pensar sobre o plot, o filme vai dar um bug e vai travar. Porque eles precisavam de uma mulher para gerar o bebê que seria possuído. Por que não pegar uma voluntária dentro do culto? Precisava sequestrar mulheres aleatórias? Pega uma voluntária que vai concordar com essa loucura toda. Mas, não, vamos sequestrar mulheres que não querem, só pra complicar.

(Isso porque não estou falando de querer trazer Lúcifer dentro de um clone de Jesus. Deixa quieto.)

O elenco caricato não ajuda. A protagonista Alice Orr-Ewing é a única aceitável entre os quatro principais nomes. O padre possuído pelo arcanjo Miguel é péssimo! E os dois líderes da seita / clonadores de dna seguem a mesma linha.

Talvez se o filme se assumisse um trash, aí, talvez, ficasse divertido. Porque nem isso o filme é. Tinha que ser mais escrachado e abraçar o absurdo com vontade. Mas manteve o ar sisudo, o que só piora.

Ok, vou fazer um elogio. Tem uma cena onde o personagem vai ser atacado, aí a câmera acompanha e dá uma cambalhota junto com os personagens. Um único take “inventivo”. Acho que tá bom de elogio.

Enfim, este é mais um exemplo de como as distribuidoras no Brasil não estão fazendo um bom trabalho. Enquanto X, Pearl ou Speak No Evil ainda não têm distribuição aqui, A Profecia do Mal estreia hoje no circuito.

That ’90s Show

Crítica – That ’90s Show

Sinopse (imdb): Agora é 1995 e Leia Forman está visitando seus avós durante o verão, onde irá conhecer a nova geração de Point Place, Winsconsin. As crianças estarão sob o olhar atento de Kitty e severo de Red.

Sou muito fã da série That ’70s Show. Talvez seja a minha sitcom favorita. Claro que vou ficar empolgado com um revival!

That ’90s Show cai naquela classificação de “requel” que a gente viu no último Pânico: é um reboot, porque temos novos personagens em uma nova história, mas ao mesmo tempo é um “sequel”, porque temos personagens do anterior reprisando os seus papeis. A série traz a filha adolescente de Eric e Donna indo passar as férias de verão na casa dos avós. E assim abrem-se os portões pra inúmeras referências à série antiga!

E o resultado? Bem, algumas coisas funcionam, outras não. Heu admito que a nostalgia me pegou em cheio e reconheço que adorei, mas consigo ver algumas falhas. Vamos a elas.

Tenho minhas dúvidas se o “formato sitcom” funciona hoje. Depois da piada, o ator precisa dar um tempo para a claque reagir. Não me lembro quando foi a última vez que tinha visto um programa assim, com claque. Achei muito estranho revisitar o formato.

Mas acho que o principal problema é a falta de desenvolvimento dos personagens. That ’70s Show tinha seis personagens principais e a gente conhecia a personalidade e as características de cada um deles. Já em That ’90s Show, temos dois personagens “iguais” – o Jay e o Nate estão fazendo o papel do “novo Kelso” (isso porque não estou falando sobre as meninas Gwen e Nikki, que também são bem parecidas). Some-se a isso a falta de carisma. Me parece que queriam criar um “novo Fez” com o Ozzie, mas o Fez original do Wilmer Valderrama era muito melhor.

Além disso, tem outro problema: vemos poucas coisas com a cara dos anos 90. Não sei se por culpa do roteiro preguiçoso, ou se porque os anos 90 são menos caricatos que os anos 70. O fato é: a outra série tinha cara de algo passado nos anos 70, essa não tem cara de algo passado nos anos 90.

Dito tudo isso, adorei voltar a Point Place e ao porão dos Forman. Adorei cada referência, como o Vista Cruiser ou um Kelso gritando “BURN!”. Adorei rever as geniais cenas de “roda de maconha”; adorei ver piadas repetidas, como o nome do país do Fez. Reconheço todas as falhas, mas adorei toda a temporada. E, poxa, é curtinha, são dez episódios, o primeiro tem meia hora, os outros têm vinte minutos cada.

Sobre a volta dos atores da outra série: Kurtwood Smith (Red) e Debra Jo Rupp (Kitty) são personagens centrais, estão em todos os episódios. De participações especiais, temos cinco dos seis principais: Topher Grace (Eric), Ashton Kutcher (Kelso), Mila Kunis (Jackie), Laura Preppon (Donna) e Wilmer Valderrama (Fez). Também temos participações de Tommy Chong (Leo) e Don Stark (Bob) (Tanya Roberts, que fazia a mãe da Donna, deu declarações de que queria participar, mas infelizmente faleceu oito meses antes de anunciarem o revival). Tem mais uma participação especial ligada a Barrados no Baile, mas essa não vou dizer aqui.

Por fim, vou esclarecer duas dúvidas que tive durante a temporada, relativas a participações. Temos um personagem, Fenton, que seria um rival do Fez, mas não me lembro dele. Fui catar no imdb, nem o personagem existiu na série anterior, nem o ator participou. Não entendi a reação da claque quando aparece o personagem. A outra dúvida é: cadê o Hyde? Fiquei esperando até o último episódio pra ver se ele aparecia, e nada. Aí fui ver o imdb, o ator Danny Masterson está sendo julgado por casos de estupro! Por isso ele não foi convidado…

Adorei revisitar, mas não sei se a série tem fôlego para mais uma temporada. Aguardemos.

M3gan

Crítica – M3gan

Sinopse (imdb): Uma engenheira de robótica de uma empresa de brinquedos constrói uma boneca realista que começa a ganhar vida própria.

Novo filme de terror, com produção de James Wan e Jason Blum, trazendo uma boneca assassina. Podia dar certo. Mas não deu…

Vamulá. A ideia de uma Inteligência Artificial que se torna algo do mal não é exatamente novidade, mas podia gerar um bom filme. O problema aqui é que tudo está muito bagunçado. O filme originalmente seria censura “R”, mas a produção mudou de ideia e cortou várias cenas violentas pra virar um filme “PG13”. Ou seja, é um filme de terror onde temos poucas mortes e zero gore. Desconfio que M3gan seria bem melhor com essas cenas…

Digo mais: o design da boneca é legal. Mas ela não é assustadora. Como podemos ter um filme de terror onde o vilão não assusta?

Com pouco terror, M3gan entra no drama. Parte do filme tenta desenvolver o problema de pais que não têm muito tempo para se dedicar aos seus filhos, mas não achei o assunto muito bem desenvolvido. E não sei se foi por causa disso, mas a parte “terror” demora pra começar. A primeira morte só acontece depois da metade do filme.

O nome do James Wan está nos cartazes, e tem gente achando que o filme é dele. Mais ou menos, ele produziu e é um dos roteiristas. Mas a direção é do pouco conhecido Gerard Johnstone, que fez o cult neozelandês Housebound em 2014.

Curioso o nome do James Wan estar no roteiro, porque este é bem fraco. Você precisa de uma grande suspensão de descrença pra relevar vários problemas, como por exemplo um grande (e caro) lançamento de uma grande empresa estar nas mãos de uma equipe tão pequena, e que pretendem lançar o produto sem testar antes. Isso fora  alguns outros probleminhas…

O roteiro é cheio de furos. Um me incomodou bastante, que é quando vemos que um personagem está roubando os planos da boneca. Só que isso não leva a nada! Pra que somos apresentados a um sub plot que não vai ser desenvolvido?

Algumas coisas ficaram bem ruins, como a “dancinha tik tok”. Ok, a gente sabe que aquela cena foi incluída pra viralizar, e deu certo, viralizou. Mas a cena não tem nada a ver com o resto do filme! Se o filme fosse assumidamente trash, essa dancinha seria sensacional. Mas ficou muito tosco.

No elenco, só dois papéis têm algum desenvolvimento: Allison Williams (Corra!) e a menina Violet McGraw. Todos os outros personagens são rasos. Já a boneca M3gan é interpretada por Amie Donald, mas ela usou uma máscara de boneca e foi substituída por cgi em parte do filme, não sei quais cenas tem a atriz e quais não tem. A voz da boneca é da Jenna Davis, o que, confesso, me criou uma confusão mental, porque me falaram o nome e pensei na Geena Davis, de Thelma e Louise e A Mosca.

M3gan pode até divertir o povo que vai ao multiplex aos domingos, mas termina com um gostinho de que podia ter sido bem melhor.

The Last of Us – E01S01

Crítica – The Last of Us – E01S01

Sinopse (imdb): Joel e Ellie, uma dupla conectada pela dureza do mundo em que vivem, são forçados a suportar circunstâncias brutais e assassinos implacáveis em uma jornada pela América pós-pandemia.

Estreou no domingo passado uma série na HBO baseada no famoso videogame The Last Of Us. Como nunca joguei o game – nem sei do que se trata – nem me interessei pela série. Mas, ouvi elogios em mais de um grupo, e reparei que alguns dos youtubers que acompanho estão comentando, então resolvi ver qualé.

E preciso dizer que rolou uma certa decepção. A série não é exatamente ruim, mas… falta muito pra ser tão boa quanto estão falando por aí. Vamos por partes.

Antes de tudo, queria falar que gosto do formato de um episódio por semana. Alguns streamings liberam de uma vez toda a temporada de uma série, e os espectadores mais afoitos fazem binge watching. Acho isso ruim, prefiro ver um episódio de cada vez, dá tempo de digerir o que a gente acabou de ver.

Vamos primeiro ao que deu certo. O criador do videogame, Neil Druckmann, é roteirista aqui. Isso já coloca The Last Of Us num patamar acima de muitas adaptações ruins – lembro de uma recente adaptação de Resident Evil que conseguiu a façanha de desagradar tanto quem jogou o game quanto quem apenas gosta de um bom filme ou série. Outro acerto foi trazer Gustavo Santaolalla, que fez a trilha sonora do videogame, para fazer a trilha sonora aqui.

Uma curiosidade: o diretor Craig Mazin não dirigia nada desde 2008, quando fez a comédia nonsense Super Herói: O Filme (e antes ele tinha escrito o roteiro de duas sequências de Todo Mundo em Pânico!). Mas, boa notícia: Mazin faz um bom trabalho aqui. E hoje ele é mais conhecido por ser o criador da série Chernobyl do que pelo seu passado no besteirol.

Algumas sequências são muito bem filmadas. Gostei muito da sequência do carro, onde o ponto de vista está sempre dentro do veículo enquanto o caos acontece lá fora, inclusive com alguns planos sequência no meio (me lembrei de Filhos da Esperança, que também tem um plano sequência sensacional envolvendo um carro e o caos em volta). E não é só isso, alguns detalhes são boas sacadas como a cena onde vemos uma personagem que está virando zumbi, mas em segundo plano, fora de foco.

Dito isso, precisamos reconhecer que a gente já viu tudo isso. Estou meio saturado com o tema “apocalipse zumbi”. E o episódio traz um “plot twist” com a Ellie, mas no primeiro diálogo onde ela aparece a gente já saca qual é o segredo dela.

Tem outro problema: tudo é muito lento. O episódio tem uma hora e vinte minutos, que se arrastam…

No elenco, Pedro Pascal mais uma vez mostra que é um nome em ascensão. O seu Joel é um cara complexo, tem seus problemas, seus traumas, trabalha com coisas dentro e fora da lei, é um personagem muito bem construído. Bella Ramsey, o outro nome principal, por enquanto não é um bom personagem, ela só faz uma adolescente chata. Isso pode ser do roteiro, ou pode ser um problema com a atriz, aguardemos os próximos. Anna Torv, de Fringe, tem um papel importante, mas também ainda não mostrou a que veio.

Bem, fiz essa análise vendo apenas um episódio. Ainda faltam oito. Ou seja, admito que é cedo pra tirar conclusões. Espero que a série traga algo de novo e seja realmente isso tudo o que prometeram.

Os Banshees de Inisherin

Crítica – Os Banshees de Inisherin

Sinopse (imdb): Dois amigos de longa data encontram-se em um impasse quando um deles decide abruptamente terminar sua amizade, com consequências alarmantes para ambos.

Saiu a lista dos vencedores do Globo de Ouro. Melhor filme drama ganhou Os Fabelmans, ok até previsível. Melhor filme musical ou comédia foi este Os Banshees de Inisherin, que tinha passado direto pelo meu radar. Opa, bora ver! Mas… comédia???

Vamulá. O Globo de Ouro é dividido em duas categorias: melhor drama e melhor musical ou comédia. Às vezes um estúdio manda um filme que não é comédia para essa categoria, porque teoricamente é mais fácil do que ganhar melhor drama (artifício semelhante é usado de vez em quando no Oscar de melhor ator /ator coadjuvante, quando acham que o candidato tem mais chances na outra categoria). Chequei os ganhadores dos últimos dez anos. Ano passado foi Amor Sublime Amor, musical; ano anterior foi Borat, comédia. Mas, reconheço que tem alguns que não são exatamente comédias, como Era uma vez em Hollywood, que ganhou em 2019; ou Perdido em Marte, que ganhou em 2015.

(Cabia outra discussão sobre esse preconceito com outros estilos. Por que só drama, comédia e musical pode se melhor filme? Senhor dos Anéis O Retorno do Rei, fantasia, ganhou o Oscar de melhor filme em 2004. O Silêncio dos Inocentes, terror, ganhou em 1992. Esses e vários outros estariam “desqualificados” pro Globo de Ouro?)

Voltando ao Os Banshees de Inisherin. Mesmo sabendo que podia não ser exatamente uma comédia, fui ver o filme esperando algo leve e divertido. E Os Banshees de Inisherin pode ser um monte de coisas, mas está bem longe de ser leve e divertido. O filme traz bicho de estimação morrendo porque engasgou com dedos decepados! E olha, isso até podia ser mostrado de forma engraçada, mas não é. O filme te coloca pra baixo.

Segundo o imdb, Colin Farrell resumiu a história como “a desintegração da alegria”. Seu Padraic começa o filme, “Como se ele tivesse acabado de ganhar na loteria; ele está tão feliz, contente e conectado”, mas no final, ele se transforma em “Alguém que acredita que há um lugar para a violência no mundo, e que não nem precisa ser justificado… e ele não consegue encontrar nada da alegria que já teve em sua vida.”

Enfim, só precisei desabafar. Quem ainda não viu, não espere uma comédia!

Depois desta looonga introdução, finalmente vamos ao filme. Os Banshees de Inisherin se passa em 1923, numa ilhazinha pequena na costa da Irlanda, em uma comunidade onde moram pouquíssimas pessoas. Vemos uma amizade se deteriorando: Colm simplesmente não quer mais ser amigo de Padraick porque acha que perde tempo demais batendo papo, e poderia ser mais útil utilizar seu tempo de outras formas.

(Este tema pode levar a uma reflexão sobre perder tempo com inutilidades nos dias de hoje…)

Os Banshees de Inisherin foi escrito e dirigido por Martin McDonagh. Preciso dizer que acho ele um cara superestimado. Seu filme de estreia, Na Mira do Chefe, é um filme super badalado pela crítica, e acho um filme apenas ok. Não é ruim, longe disso. Mas também está longe de ser um grande filme.

Aqui no heuvi tem críticas de dois filmes dele, Na Mira do Chefe e Sete Psicopatas e um Shih-Tzu. Curiosamente, alguns comentários que fiz para esses dois filmes também se encaixam aqui, principalmente quando falo da parte de direção de atores – destaque em ambos os filmes e também destaque aqui em Os Banshees de Inisherin.

O elenco, que é um dos pontos fortes de Os Banshees de Inisherin. Os dois principais, Colin Farrell e Brendan Gleeson, estão ótimos e devem concorrer a vários prêmios. Kerry Condom, o principal papel feminino, também está excelente. Mas, se heu tivesse que escolher um destaque, heu diria que Barry Keoghan, o Druig de Eternos, está ainda melhor do que os outros. Esse garoto vai longe!

Também precisamos falar dos belíssimos cenários. O filme se passa na fictícia ilha Inisherin, foram usadas duas ilhas na costa da Irlanda como locações. O filme é muito bonito.

Os Banshees de Inisherin não é o meu estilo de filme. Reconheço os méritos, não é um filme ruim, mas, não estaria num top 10 meu. Como diria o ditado em inglês, “it’s not my cup of tea”.

Por fim, nome. Inisherin é um lugar, não tem tradução. Banshee é uma palavra de origem irlandesa, seria uma fada do folclore irlandês, que anuncia a morte de um membro da família, geralmente gritando ou lamentando. Ou seja, também não tem uma tradução exata. Este era um filme para usar o título original, “The Banshees of Inisherin”. Pra que traduzir para “Os Banshees de Inisherin”? Pior: se banshee é feminino, por que “os banshees”?

The Killer

Crítica – The Killer

Sinopse (imdb): Um assassino desiludido aceita um último trabalho na esperança de usar seus ganhos para restaurar a visão de uma cantora que ele acidentalmente cegou.

John Woo é um grande nome no cinema de ação. Autor de vários filmes antológicos na China, também teve uma passagem em Hollywood a partir dos anos 90, onde fez a obra prima A Outra Face. Hoje é dia de The Killer, considerado pelo próprio Woo um dos seus melhores filmes da fase chinesa (ao lado de Bala na Cabeça).

The Killer é um bom exemplo de um formato usado outras vezes pelo próprio Woo: dois protagonistas, bem parecidos entre eles, mas em posições opostas. Inicialmente são inimigos, mas acaba que se unem por algum objetivo. Essa dinâmica funciona muito bem aqui, entre o “assassino do bem” e o policial. Dois antagonistas que se respeitam e se admiram.

Como comentei no texto sobre Bala na Cabeça, o ritmo do cinema oriental é diferente do que estamos acostumados. Muitas atuações exageradas, muita gritaria, e ao mesmo tempo muitos momentos dramáticos, sempre ao som de uma trilha sonora melosa. E claro, muita câmera lenta – e muitas pombas voando.

As coreografias de luta são muito boas. Ok, o cinema de ação evoluiu, não podemos esperar lutas estilo John Wick, mas mesmo assim, gosto das cenas exageradas, com muitos adversários, muitos tiros, muitas mortes. E os momentos onde os dois principais estão com armas apontadas um para o outro são muito bons, a coreografia parece uma dança.

(Umas poucas cenas me incomodaram, como uma onde um cara usa um inimigo como “escudo humano” enquanto tem uns dez caras apontando armas pra ele. Aí ele vai até o carro, dispensa o “escudo” e entra no carro. Tem alguns segundos antes de começarem a atirar nele, por que esperaram?)

Teve uma coisa que envelheceu mal: a personagem da Jenny, uma típica “donzela em perigo”. Ela passa o filme todo chorando, esperando ser salva pelo seu “príncipe no cavalo branco”. Sei lá, hoje, 2023, acho que é um tipo de personagem que não faz mais sentido.

Os papéis principais são de Chow Yun Fat e Danny Lee. O primeiro fez outros filmes com Woo e, além de O Tigre e o Dragão, chegou a fazer alguns filmes nos EUA. Segundo o imdb, ele chegou a ser cotado para fazer o Morpheus em Matrix! Já Danny Lee, esse não me lembro de nenhum outro filme.

Uma coisa curiosa sobre Chow Yun Fat: a maioria dos chineses / orientais que fazia carreira internacional trocava o nome por um nome em inglês, como John Woo ou Danny Lee (ou Jackie Chan, ou Jet Li). Chow Yun Fat manteve o nome oriental até quando foi pra Hollywood filmar Assassinos Substitutos (com a Mira Sorvino), O Corruptor (com o Mark Wahlberg), Anna e o Rei (com a Jodie Foster) ou O Monge À Prova de Balas (com o Sean William Scott).

The Killer é de 1989. Não me lembro do lançamento nos cinemas, não tenho certeza se passou no circuito aqui no Brasil. Lembro de ter visto no Estação Botafogo, mas na época o Estação tinha programação de cineclube, não eram filmes do circuito. Também não lembro se o filme chegou a ser lançado aqui como “O Matador”, como está no imdb. Quando vi no Estação, era “The Killer” mesmo.

Esquema de Risco – Operação Fortune

Crítica – Esquema de Risco – Operação Fortune

Sinopse (imdb): O agente especial Orson Fortune e sua equipe de agentes recrutam uma das maiores estrelas de cinema de Hollywood para ajudá-los em uma missão secreta quando a venda de uma nova tecnologia de armas ameaça perturbar a ordem mundial.

Ah, as expectativas. Detesto criar expectativas, mas às vezes é meio inevitável. Foi o que aconteceu com este Esquema de Risco – Operação Fortune, novo filme do Guy Ritchie.

O último Guy Ritchie, Infiltrado, foi muito bom, chegou a estar no meu top 10 de 2021. Aí a gente chega em Esquema de Risco: bom elenco, boas locações, algumas cenas de ação muito bem filmadas, com direito a perseguição de carros e helicópteros… e tem um resultado tão… genérico…

Ok, não é ruim. Tecnicamente bem feito, algumas cenas são divertidas, mas, tudo é tão esquecível… Até a edição e a trilha sonora, que costumam ser destaques em filmes do diretor, soam burocráticas. Esquema de Risco está bem abaixo do “padrão Guy Ritchie”.

Teve uma coisa que não gostei no roteiro cheio de reviravoltas. O personagem JJ parece ser um coringa para o que o roteiro pede. O cara é bom pilotando carro, hackeando computador, atirando como sniper, o cara até amansa cães de guarda! Caramba, se um cara desses consegue fazer tanta coisa, merecia protagonismo na equipe, às vezes parece que ele é mais importante que o personagem principal.

Alguns comentários sobre o elenco. Jason Statham é bom, carismático, sabe brigar. Usá-lo num filme desses é “jogo ganho”. Mas preciso citar outros dois que estão ainda melhores. Aubrey Plaza é simpática, engraçada, irônica, passa quase o filme inteiro com um delicioso ar sarcástico, acaba o filme e a gente queria ver mais dessa personagem. E Hugh Grant está sensacional como o bilionário com ligações criminosas, bem diferente do inglês bobo e simpático que a gente se acostumou a vê-lo fazendo nas comédias românticas. Também no elenco, Josh Hartnett, Cary Elwes, Eddie Marsan e Bugzy Malone.

A previsão era lançar Esquema de Risco ano passado, mas o filme traz vilões ucranianos, então resolveram adiar por causa da guerra. Como a guerra ainda não acabou, mudaram de ideia e lançaram logo.

O fim do filme deixa espaço pra virar uma franquia. Se fosse em outros filmes do diretor, isso me empolgaria. Mas Esquema de Risco não empolga ninguém. Porque no fim, fica a frustração com o nível “sessão da tarde”. Meu top 10 de expectativas 2023 começou mal.

Caleidoscópio

Crítica – Caleidoscópio

Sinopse (Netflix): Um ladrão magistral e sua equipe querem roubar 7 bilhões de dólares. Mas, para o plano dar certo, eles terão que lidar com traições, ganâncias e muitas outras ameaças.

Surgiu na Netflix uma série com um novo formato: oito episódios, e você pode vê-los em qualquer ordem.

A princípio achei que era o “formato antigo”, série com episódios fechados, como era na época que a gente acompanhava Supernatural e CSI, que traziam um arco ao longo da temporada, mas a maioria dos episódios eram independentes uns dos outros – hoje é tudo “novelinha”, o que, na minha humilde opinião, é pior pra assistir. Mas não, Caleidoscópio (Kaleidoscope, no original) conta uma única história, e conseguiram roteirizar e editar de maneira que você não precisa ver em uma ordem específica. A produção diz que tanto faz a ordem, mas recomenda deixar o episódio “Branco” para o fim. Realmente, este episódio encerra bem a história.

E agora a grande dúvida: funcionou?

Vamos por partes. Antes de tudo, preciso falar que gostei da proposta. É legal ver algo diferente do óbvio, vai ter muita gente vendo e comentando a série justamente pela novidade. Digo mais: em termos de marketing, é uma boa a Netflix inovar assim, aposto como Caleidoscópio terá mais views do que se fosse um seriado no mesmo formato dos outros.

Porque o roteiro não tem nada de mais. A gente já viu vários filmes e séries de “heist”, e a história de Caleidoscópio não traz nenhuma novidade. É vou além: o roteiro tem algumas coisas bem forçadas, como o lance das abelhas, que ninguém explicou como e por que funciona.

Teve uma coisa que heu não gostei. Determinado momento da série o Leo fala que eles precisam ter confiança nos outros membros da equipe. E o Bob é marrento, violento e desagregador, ele é o oposto da confiança. Ele deveria ser expulso do time. Mas, a série explica por que ele continua na equipe. A explicação não me convenceu, mas existe uma explicação, então não podemos falar de falha de roteiro.

A produção é muito boa. Não sei qual foi o orçamento, mas temos a sensação de uma série cara, com vários cenários, alguns deles grandiosos. A fotografia, claro, usa cores diferentes para cada episódio. Também gostei da trilha sonora.

O elenco também está bem. Ok, achei estranha a maquiagem (ou cgi) que usaram pra rejuvenescer o Giancarlo Esposito e o Rufus Sewell no episódio que se passa 24 anos antes, mas, ok, aceito. Além dos dois, Caleidoscópio conta com Paz Vega, Rosaline Elbay, Jai Courtney, Tati Gabrielle e Peter Mark Kendall.

Espero que Caleidoscópio traga um bom retorno à Netflix, e que eles arrisque mais vezes com formatos diferentes!