Infinity Pool

Crítica – Infinity Pool

Sinopse (imdb): James e Em Foster estão desfrutando de umas férias na ilha fictícia de La Tolqa, quando um acidente fatal expõe a subcultura perversa do turismo hedonista, a violência imprudente e os horrores surreais do resort.

Já tinham me recomendado conhecer o trabalho do diretor Brandon Cronenberg, filho do David Cronenberg. Me falaram do filme Possessor, de 2020, mas outros filmes entraram na frente e acabei me esquecendo. Quando surgiu a oportunidade de ver Infinity Pool, não deixei pra depois!

O trabalho do Cronenberg filho traz semelhanças com o do pai – body horror, cenas graficamente fortes, com muita violência, nudez e sexo. Além disso, tem a parte “cabeça”, imagens viajantes que nem sempre têm explicação dentro da trama. Infinity Pool tem cenas fortes, tanto na parte da violência quanto na parte das perversões sexuais. Isso certamente vai afastar boa parte do público.

Falei aqui recentemente de Triângulo da Tristeza, que levanta questionamentos sobre convenções sociais. Infinity Pool traz alguma semelhança. Se em Triângulo da Tristeza vemos pessoas ricas que não aceitam seguir algumas regras, aqui em Infinity Pool a situação é um pouco mais grave: turistas ricos descobrem que podem cometer crimes e sair impunes. Explico: o país fictício onde a história se passa tem uma lei que diz que um estrangeiro pode pagar para criar um clone, e o clone será punido. Ou seja, o turista pode fazer o que quiser, porque quem vai enfrentar a justiça é o seu clone.

Claro que essa impunidade escala no comportamento dos personagens. E claro que isso gera inúmeras questões na cabeça do espectador.

Sobre o elenco, dois nomes precisam ser citados. Pena que as premiações têm preconceito contra o cinema fantástico. Depois de arrebentar em Pearl, aqui Mia Goth mostra mais uma vez que é uma das melhores atrizes em atividade. E depois de escolher alguns papéis ruins, parece que Alexander Skarsgård está se encontrando – ano passado ele mandou bem em O Homem do Norte, e aqui ele está ainda mais intenso. Também no elenco, Cleopatra Coleman, Jalil Lespert e Thomas Kretschmann.

Infinity Pool é um filme diferente, vai desagradar quem está atrás do terror montanha russa. Mas recomendo pra quem estiver atrás de um filme profundo e perturbador.

Triângulo da Tristeza

Crítica – Triângulo da Tristeza

Sinopse (filmeB): O casal de modelos Carl e Yaya é convidado para um cruzeiro de luxo com uma lista de passageiros super-ricos e um capitão peculiar, alcoólatra e marxista. O que a princípio parecia uma viagem perfeita termina catastroficamente, deixando os sobreviventes presos em uma ilha deserta e lutando pela sobrevivência.

Ganhador da Palma de Ouro de Cannes em 2022 e indicado ao Oscar de melhor filme, claro que queria ver Triângulo da Tristeza, escrito e dirigido por Ruben Östlund (que já tinha ganhado Cannes antes, em 2017, por The Square: A Arte da Discórdia).

Triângulo da Tristeza é uma comédia, mas é uma comédia mais calcada na ironia do que nas piadas. Foram poucos os momentos onde achei realmente engraçados (tipo a piada de humor negro com a granada, onde ri alto!). Mas o filme todo é cheio de críticas irônicas a convenções sociais.

O início do filme me lembrou a série Curb Your Enthusiasm, do Larry David, onde vários episódios são sobre “tempestade em copo d’água”, com uma discussão enorme sobre um assunto besta. Tem duas cenas com discussões assim, uma sobre quem paga a conta do restaurante (a mulher que ganha mais e que combinou que ia pagar faz “cara de paisagem” pro homem assumir a conta); outra sobre um funcionário do navio que está sem camisa e cumprimenta a passageira. Mas, diferente da série do Larry David, aqui não puxa pro lado do humor, fica só no lado do desconforto.

Aliás, falando em desconforto, tem uma cena que vai embrulhar estômagos. O jantar do capitão é servido em uma noite de mar revolto, e muita gente começa a passar mal – e vomitar. Não sei se foi proposital ou não (acredito que sim), mas lembrei do sr Creosote, do filme O Sentido da Vida, do Monty Python. Mas, mais uma vez, a cena é mais desconfortável do que engraçada.

O filme é dividido em três partes. A primeira mostra o casal principal e como é a vida deles; a segunda mostra uma viagem em um iate de luxo onde todos são muito ricos (e por isso acham que podem fazer o que quiserem); a terceira mostra os personagens em uma ilha deserta tendo que repensar convenções sociais para sobreviverem. Não vou entrar em detalhes, mas posso dizer que gostei de como as críticas sociais são apresentadas. Dificilmente o espectador vai sair do cinema sem se questionar sobre alguns temas.

No elenco, um nome conhecido: Woody Harrelson, mas que aparece pouco. Ficou parecendo que a produção não tinha dinheiro para pagar o cachê integral, então pagou só pra aparecer em algumas cenas – o que é estranho, já que é um filme de um ganhador de Cannes. Também no elenco, Harris Dickinson, Charlbi Dean, Dolly De Leon, Zlatko Buric e Vicki Berlin. A nota triste é que Charlbi Dean faleceu pouco depois do lançamento do filme. Ela tinha apenas 32 anos…

Alerta Máximo

Crítica – Alerta Máximo

Sinopse (imdb): Um piloto se vê preso em uma zona de guerra após ser forçado a pousar seu avião comercial durante uma terrível tempestade.

Houve uma época que heu achava que a carreira do Gerard Butler ia deslanchar, quando ele alternava filmes de ação de sucesso com comédias românticas divertidas. Mas em algum momento sua carreira caiu na vala do “filme de ação genérico”. Alerta Máximo (Plane, no original) segue essa linha. Nada com pretensões de listas de melhores do ano, mas, pelo menos, um filme de ação “honesto”.

A direção é de Jean-François Richet. Alguns detalhes são bem filmados como uma cena onde as pessoas entram num ônibus e a câmera foca no retrovisor do ônibus – detalhes discretos, que não atrapalham o desenvolvimento do filme, mas valorizam um pouco o resultado final. Ah, tem uma cena de luta entre Butler e um oponente em plano sequência!

Se os “mocinhos” são ok e têm alguma profundidade, os “vilões” são péssimos. São unidimensionais e caricatos ao extremo. Daquele tipo “não existe ninguém mais malvado que eu!”

No elenco, atores genéricos fazendo personagens genéricos. O único que tem um pouco mais de relevância é o prisioneiro que estava no avião, vivido por Mike Colter, o Luke Cage da “Marvel B”.

Mesmo com vilões ruins, Alerta Máximo ainda pode agradar aos pouco exigentes.

Força Bruta

Crítica – Força Bruta

Sinopse (imdb): Ma Seok-do vai a um país estrangeiro para extraditar um suspeito. No entanto, sabe de outros casos de assassinato e descobre um assassino em série que cometeu crimes contra turistas por muitos anos.

Não sei por que, mas Força Bruta (The Roundup em inglês ou Beomjoidosi 2 em coreano) não entrou no meu radar. Recebi o email da assessoria avisando que estava chegando ao streaming “depois do sucesso nos cinemas”. Fui catar no histórico de programações do ano passado, realmente, o filme foi lançado aqui, entrou no circuito. Mas, sei lá por que, não me liguei na época e não vi.

Força Bruta é continuação de Os Fora da Lei, de 2017, outro filme que não conheço (preciso dar uma atualizada no cinema coreano). Não vi o primeiro filme, mas posso dizer que dá pra entender tudo aqui no segundo – tirando um pequeno detalhe, um personagem que entra no rolê sem nenhum contexto. O contexto deve estar no primeiro filme, mas não é nada grave.

Força Bruta tem cara de filme de ação misturado com comédia feito nos anos 80 ou 90, com um protagonista boa praça mas também bom de briga. E a história tem bem essa pegada: aquele policial que não pode trabalhar porque está fora da sua jurisdição, mas mesmo assim insiste em continuar no caso.

Força Bruta tem pelo menos dois grandes méritos. Um deles está nos dois personagens principais, tanto o protagonista quanto o antagonista. O papel principal é do carismático Ma Dong-seok (também conhecido como Don Lee), de Invasão Zumbi e Eternos. Às vezes parece que o cara tem super poderes, porque é aquele tipo durão, que não tem medo de enfrentar oponentes armados e em maior número, e sempre bate em todos. Funciona muito bem para a proposta do filme. Já o vilão Kang, interpretado por Ha-Jun, é outro excelente personagem, ele é cruel e violento, chega a dar medo.

(O personagem principal se chama Ma Seok-do, e é interpretado por Ma Dong-seok. Não entendo nada de coreano, mas, não são nomes meio parecidos? 😛 )

O outro ponto positivo são as bem coreografadas e bem filmadas cenas de ação. Tem uma cena de luta num apartamento entre vários oponentes armados com facas que é muito boa! Tem um trecho em plano sequência de mais ou menos um minuto onde o Kang enfrenta três ou quatro inimigos que é um espetáculo!

Claro, não é um filme para qualquer ocasião. Mas quem entrar na onda vai se divertir!

Casamento em Família

Crítica – Casamento em Família

Sinopse (imdb): Michelle e Allen estão em um relacionamento. Eles decidem convidar seus pais para finalmente se conhecerem. Acontece que os pais já se conhecem bem, o que leva a algumas opiniões divergentes sobre o casamento.

Comédia romântica é um gênero que sempre gera controvérsias. Todo mundo sempre fala mal. Mas, se você estiver no clima certo, quase sempre é um bom programa. Ok, entendo, é previsível. Antes de começar o filme a gente já sabe como vai terminar. Mas nem sempre o espectador quer roteiros mirabolantes e plot twists que dão nó na cabeça, né?

Escrito e dirigido por Michael Jacobs, Casamento em Família (Maybe I Do, no original) às vezes parece um teatro filmado – principalmente na segunda metade, quando todo o elenco está na mesma casa. Além disso, é previsível e cheio de clichês. E, mesmo assim, é um programa agradável!

Assim como aconteceu em Ingresso para o Paraíso, o melhor aqui é no elenco veterano. É sempre agradável ver em tela Diane Keaton, Susan Sarandon, Richard Gere e William H. Macy. Nada contra Emma Roberts e Luke Bracey, mas os coroas têm muito mais carisma.

(Curioso lembrar que Emma Roberts é sobrinha da Julia Roberts, que teve um grande sucesso com Uma Linda Mulher, ao lado do Richard Gere, que aqui faz o pai de Emma…)

Quem curte comédias românticas vai se divertir, assim como quem curte o elenco veterano. Quem não curte? Tem outras opções em cartaz!

13 Exorcismos

Crítica – 13 Exorcismos

Sinopse (imdb): Após o estranho comportamento exibido pela adolescente Laura Villegas, sua família chama um exorcista sancionado pelo Vaticano para intervir no caso de possessão demoníaca. A partir daí, uma série de fenômenos estranhos aparecerá.

Confesso que estava com um pé atrás, traumatizado com os recentes A Profecia do Mal e Oferenda ao Demônio. Mas aí vi que era um filme espanhol. Ei, isso ajuda, gosto de terror espanhol, tem muita coisa boa vinda do cinema fantástico de lá, tipo A Espinha do Diabo, do Guillermo del Toro, ou REC, do Jaume Balagueró e do Paco Plaza, ou Abre Los Ojos, do Alejandro Almenábar, ou O Dia da Besta, do Álex de la Iglesia, ou Los Cronocrimenes, do Nacho Vigalondo, ou O Orfanato, do Juan Antonio Bayona… A lista é enorme!

E, realmente, 13 Exorcismos (idem no original) não é tão ruim quanto os dois supracitados. Não é um filme “obrigatório”, mas é um terror ok. Dificilmente o espectador comum vai sair desapontado do cinema.

13 Exorcismos é o longa de estreia do diretor Jacobo Martínez. E, por ser um filme espanhol, foge um pouco dos clichês hollywoodianos – por exemplo, tem uma cena com gore, mas é só uma cena. E, boa notícia: alguns dos jump scares não são muito óbvios.

13 Exorcismos tem algumas saídas criativas. Gostei muito de uma sacada de quando o padre exorcista está no hospital. Por outro lado, algumas tramas ficam pelo meio do caminho e não são concluídas – que fim levou o garoto atacado no banheiro?

Teve outra coisa que me incomodou um pouco. A família é muito religiosa, e passou por alguns traumas com os filhos (um filho morreu, outro é cadeirante, a outra teve anorexia). Católicos, eles acreditam que Deus está os castigando por alguma coisa do seu passado. E por outro lado tem a personagem da psicóloga da escola, que traz o ponto de vista ateu. Na minha humilde opinião, essa dualidade entre a religião e a ciência podia ser melhor explorada, porque parte do filme ignora um dos lados e fica só com o outro.

Ah, achei escura a cópia exibida na sessão de imprensa. Não sei se foi alguma falha técnica ou se foi proposital.

Queria falar mal do nome do filme. Não só o nome brasileiro, mas também o nome original (que é o mesmo). O plot de exorcismo só acontece na segunda metade do filme. Mas, por causa do nome, o espectador entra no cinema já pensando em exorcismos. Fiquei pensando, não seria legal se a gente não soubesse de nada antes?

No elenco, heu não conhecia nenhum nome. Gostei da protagonista María Romanillos. Cristina Castaño, que faz a professora de religião, é um bom personagem, mas foi deixada de lado.

No fim, fica aquela sensação de que poderia ter sido melhor, mas pelo menos foi uma diversão honesta.

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania

Sinopse (filmeB): Os parceiros e super-heróis Scott Lang e Hope Van Dyne retornam às aventuras como Homem-Formiga e Vespa. Com os pais de Hope, Hank Pym e Janet Van Dyne, e a filha de Scott, Cassie Lang, eles exploram o Reino Quântico, interagindo com novas criaturas estranhas, em uma aventura que os levará além dos limites do que eles pensavam ser possível.

Outro dia a gente debateu no Podcrastinadores sobre o tema “já cansamos de filmes de super heróis?”. Olha, heu sempre achei que, mantendo a qualidade, nenhum gênero cansa. Mas parece que a Marvel está chegando no limite. Dirigido pelo mesmo Peyton Reed dos dois filmes anteriores do Homem-Formiga, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (Ant-Man and the Wasp: Quantumania no original) tem seus méritos. Mas a gente sai do cinema levemente decepcionado.

Vamos primeiro ao que funciona. Gostei muito do visual do “reino quântico”, tanto dos cenários quanto dos inúmeros seres que lá habitam – mesmo sabendo que é tudo CGI. Aliás, mesmo não se passando no espaço, várias coisas lembram o universo de Star Wars. Se o Episódio 4 fosse feito hoje em dia, teria um monte daqueles seres na cena da cantina!

Agora, o roteiro tem falhas. Vou começar pelos personagens. Um exemplo claro é a guerreira Jantorra, que quando aparece, passa a impressão de que terá algum protagonismo nas cenas de batalha, mas que some, e só aparece ao fim do filme. O espectador nunca vai se importar com uma perosnagem assim! E a Janet da Michelle Pfeiffer na primeira parte do filme está tão perdida que a gente fica com raiva da personagem. Ou ainda a cena do Bill Murray, que é divertida, mas apenas por causa do Bill Murray. Tire esta cena e o filme fica exatamente o mesmo.

Outro exemplo são as cenas confusas, como a batalha onde prendem o Scott Lang e a filha. Tiros e explosões pra todos os lados, tudo muito colorido, mas ninguém entende nada do que está acontecendo! E isso porque não falei das conveniências de roteiro, tipo num momento o vilão Kang é muito poderoso, mas em outro ele não faz nada – tudo depende do quanto o roteiro pede. A Marvel nos apresentou alguns bons vilões, mas Kang não faz parte deste time.

Com um roteiro mal estruturado, não adianta nada ter um visual de encher os olhos. Pelo menos o filme não é muito longo, duas horas e cinco minutos.

Sobre o elenco, a sorte é que Paul Rudd é um cara carismático, então é sempre agradável vê-lo em tela. Porque não consigo encontrar nenhum destque no resto do elenco. Evangeline Lilly, Kathryn Newton, Michelle Pfeiffer e Michael Douglas apenas “cumprem tabela”, mas pelo menos não estão tão mal quanto Jonathan Majors e seu vilão ruim. Ah, gostei do alívio cômico Veb, com a voz do David Dastmalchian (O Esquadrão Suicida). Aparece pouco, mas sempre é divertido. Por outro lado, achei o MODOK um personagem besta.

Por fim, o tradicional Marvel: duas cenas pós créditos, uma depois dos créditos principais, e outra lá no finzinho dos créditos. Fiquem até o fim!

p.s.: Fiquei frustrado de não ver nenhuma referência ao “Homem Tia” / “Aunt Man”…

A sessão de cinema mais louca da minha vida

A sessão de cinema mais louca da minha vida

Para comemorar o marco de mil inscritos, fiz uma enquete para saber qual seria o tema do vídeo. O tema que ganhou foi falar de algo pessoal em vez de uma análise de filme. Como este é um canal onde falo de cinema, que tal uma história que envolva cinema?

Vamulá. Já contei aqui sobre o Festival do Rio, que é um festival de cinema que acontece todos os anos, onde temos centenas de filmes ao longo de duas semanas. Mas, o que acontecia antes de existir o Festival do Rio? Vamos voltar um pouco na história.

Existia o FestRio. A última edição foi em 1987, heu tinha 16 anos, não acompanhei muito o FestRio – aliás, lembro de uma história que rolou nos corredores do Estação Botafogo, que não sei se foi verdade ou não, que o FestRio iria pra uma cidade do Nordeste, acho que Recife ou Fortaleza, o que não fazia o menor sentido. Com o fim do FestRio, o Estação Botafogo, que aquela época já ocupava um papel de protagonismo no cinema alternativo carioca, criou um festival nos mesmos moldes, a Mostra Banco Nacional, que durou de 1988 até 1998 (a partir de 99, a Mostra se juntou ao Rio Cine e virou o Festival do Rio que existe até hoje).

Assim como o Festival do Rio, a Mostra Banco Nacional era dividida em mostras temáticas. E na edição de 1994 teve uma mostra de filmes trash. E ainda teve o Roger Corman de convidado!

O Estação Botafogo tem 3 salas. A sala 1 é um cinema de tamanho “normal”, são 249 lugares. As outras duas salas são bem menores, 32 lugares na sala 2 e 66 na sala 3. A mostra trash era na sala 3, e, não me lembro por que, tinha ingressos mais baratos que o resto do festival. E heu ainda pagava meia entrada, heu era estudante da UFRJ na época!

Então, vamos ao dia onde passei 13 horas vendo filmes. Ok, não foram 13 horas direto, como o cinema era ao lado da minha casa, quando tinha um intervalo de 10 ou 15 minutos entre uma sessão e outra, dava pra dar um pulinho em casa. Sendo assim, me planejei pra ficar boa parte do dia no cinema.

O primeiro filme não era trash, era um filme da programação “normal”: Xeque Mate. Não me lembro absolutamente de nada deste filme, só me lembro que quis ver porque era o novo filme do Jim McBride, que tinha feito A Fera do Rock alguns anos antes, e também porque o horário era compatível com a maratona trash que viria a seguir.

Não me lembro exatamente quais eram os filmes depois. Achei pelo google uma lista da versão paulista da mostra, e não tenho certeza de quais eram os filmes que vi. Lembro de um Sinthia, a Boneca do Diabo, porque estava com um amigo e a gente tinha uma amiga chamada Cintia. E lembro que logo antes deste Sinthia, vimos Roger Corman passando pelo corredor, em direção à sala 1. (Hoje acho que heu iria ver o filme na sala 1 com a presença do Corman…)

Mas um dos pontos altos do evento começaria logo depois de Sinthia. Sabe The Rocky Horror Picture Show, que a galera faz sessões interativas, onde os espectadores interagem com o que acontece no filme? Pois bem, o filme seguinte era Papai Noel Conquista os Marcianos, um filme bobo, com uma trama absurda, onde o rei de Marte captura o Papai Noel. Mas, a pequena sala 3 do Estação Botafogo estava lotada, e TODOS os espectadores entraram na pilha de fazer troça do filme. Foi uma sessão divertidíssima, parecia que era um grupo de amigos de muitos anos, revendo o mesmo filme de sempre – mas não, ninguém se conhecia, só entramos na mesma pilha de galhofa.

A sessão foi tão marcante que, depois do filme, a organização da Mostra veio nos falar que o cara que trouxe os filmes trash tinha ficado impressionado e que nos ofereceria uma sessão dupla, de graça, depois da última sessão naquele dia!

Ainda teve um filme na programação oficial, não me lembro qual. Pode ter sido Carne e Sedução, pode ter sido Juventude Revoltada, pode ter sido A Caveira – achei esses nomes naquela lista paralela paulista. Mas, sinceramente, não me lembro.

O filme seguinte era o primeiro dos dois extras. Era um filme “inédito”, A Gangue das Garotas, de 1954. A história que contaram pra gente no dia foi que fizeram esse filme como uma peça educativa para alertar sobre o uso de heroína, mas, justamente porque mostrava pessoas se drogando, o filme teria sido proibido. Anos se passaram, acharam uma cópia, e estávamos vendo o “lançamento” de um filme feito 40 anos antes.

Mas o segundo ponto alto do evento estava por vir. Durante a exibição de A Gangue das Garotas, o projetor começou a dar um defeito e agarrava o filme. Quando começou o segundo filme extra, 2000 Maníacos, o projetor estava agarrando e o som ficou inaudível. O som fazia um “uóóóuóóóuóóó” o tempo todo, e ninguém conseguia entender o que estava sendo dito.

Para qualquer plateia normal, isso seria uma má notícia e a sessão seria cancelada. Mas, boa parte da plateia de Papai Noel Conquista os Marcianos estava presente. E todos continuavam no mesmo clima de galhofa. Ou seja, o “uóóóuóóóuóóó” era motivo de risos na plateia. Digo mais: em determinado momento, o som voltou ao normal, e a sala inteira, quase em uníssono, soltou um “ahnnn…” de lamento… E, pouco depois, o “uóóóuóóóuóóó” voltou, e todos comemoraram batendo palmas!

Por volta de 02h da madrugada a sessão acabou. Nada mal pra quem tinha chegado no cinema às 13h.

Tár

Tár

Sinopse (imdb): Situado no mundo internacional da música clássica ocidental, o filme é centrado em Lydia Tár, amplamente considerada uma das maiores compositoras-regentes vivas e a primeira diretora musical de uma grande orquestra alemã.

Bora pra mais um filme da lista do Oscar!

Tár (idem, no original) é o novo filme escrito e dirigido Todd Field. É apenas seu terceiro filme como diretor, e, curiosamente, seus filmes anteriores são de muitos anos atrás (Pecados Íntimos, de 2006; Entre Quatro Paredes, de 2001). Mas, o cara deve ter alguma moral nos bastidores, já que Tár é um projeto ambicioso.

Tenho três destaques para citar. O primeiro é a atuação da Cate Blanchett. Ela aprendeu alemão e aprendeu a reger uma orquestra. E ela está realmente sensacional interpretando Lydia Tár, a maestrina super premiada, inteligente e arrogante. Ainda acho que o Oscar vai para Michelle Williams por Fabelmans, mas se for para Cate Blanchett, ninguém vai reclamar.

Também preciso falar da parte musical. No post sobre Missa da Meia Noite, comentei sobre música diegética e não diegética. A música diegética é quando os personagens estão ouvindo – por exemplo, quando alguém liga um rádio ou toca um instrumento. Toda a música diegética de Tár foi executada pelo elenco. Cate Blanchett realmente toca o piano e rege a orquestra. Sophie Kauer, que faz a violoncelista Olga, nunca tinha atuado, ela era uma violoncelista que aprendeu a atuar. Isso faz uma enorme diferença na tela!

Por fim, não escondo de ninguém que curto planos sequência. E tem um muito bom aqui. Nada tão mirabolante como Babilônia, que comentei semana passada, mas mesmo assim, impressionante. Se lá a proposta era um caos organizado, aqui o foco é o diálogo. Lydia Tár está numa aula e desafia um aluno, que não gosta de Bach porque ele era branco, hétero e com muitos filhos. A câmera vai e volta, os atores vão e vem, tocam piano, e é uma cena longa, pouco mais de dez minutos! Melhor cena do filme, de longe!

Dito tudo isso, preciso dizer que reconheço os méritos de Tár, mas acho um exagero tantas indicações ao Oscar. É um bom filme, mas, tirando a indicação da Cate Blanchett, na minha humilde opinião o filme não deveria ser indicado às outras cinco estatuetas: filme, direção, roteiro original, edição e cinematografia. Além disso, é longo demais, são mais de duas horas e meia, chega a cansar.

Vale pela Cate Blanchett!

Oferenda ao Demônio

Oferenda Ao Demônio

Sinopse (FilmeB): O filho do dono de uma funerária volta para casa com sua esposa grávida. Mas, eles nem imaginam que um mal antigo com planos sinistros está os esperando.

E vamos para mais um filme genérico de terror…

Dirigido pelo pouco conhecido Oliver Park, Oferenda ao Demônio (The Offering, no original) traz um terror baseado em mitologia judaica. Tivemos algo parecido naquele Possessão de 2012, estrelado pelo Jeffrey Dean Morgan e pela Kyra Sedwick. A ideia era boa, mas aqui não souberam desenvolver direito. Em vez de desenvolver a mitologia, o roteiro se apoia nos clichês de sempre, e ainda traz algumas coisas que não fazem o menor sentido.

Vou dar um exemplo simples. Às vezes parece que não revisaram o roteiro antes de filmar. O filme começa com o cara voltando para a casa do pai, depois de sei lá quantos anos fora. O pai trabalha preparando cadáveres para funerais. Aí na cena seguinte o cara tá lá preparando um cadáver ao lado do pai. Deve ser normal você preparar um cadáver no meio de uma visita social, quem nunca?

Parte do filme lembra A Autópsia de Jane Doe, onde existe um cadáver sendo preparado, e tem algo “diferente” com esse cadáver. Mas Oferenda ao Demônio sai do necrotério para brincar de jump scares pela casa…

Pra piorar, Oferenda ao Demônio é cheio de jump scares, mas não tem nenhum bem construído – todos são previsíveis. Pior é que alguns podiam ter funcionado, tipo um vulto que surge na chapeleira quando visto através da câmera fotográfica. A criatura em cgi também é bem tosca. Saudade dos filmes de terror com efeitos práticos. Pelo menos a ambientação na casa velha é boa

Vou fazer um elogio, assim como fiz no texto sobre A Profecia do Mal. Tem uma cena onde a personagem olha no espelho e tudo está normal, aí quando se vira todos estão parados, “brincando de estátua”. Ok, não faz o menor sentido, mas o visual ficou legal.

No fim, fica a mesma sensação que tive uma semana atrás com A Profecia do Mal: mais um filme genérico ganhando espaço no circuito, enquanto outros melhores não têm previsão de lançamento. Ok, vi que Pearl tem previsão de lançamento esta semana, mas cadê filmes como X ou Speak no Evil?