Tetris

Crítica – Tetris

Sinopse (imdb): Baseado na história real do vendedor americano de vídeo games, Henk Rogers (Taron Egerton) e sua descoberta do Tetris, em 1988. Quando ele se propõe a levar o jogo para o mundo e se depara com uma perigosa teia de mentiras e corrupção por trás da Cortina de Ferro.

No meio de um monte de adaptações de vídeo game para o cinema, será que fizeram uma adaptação do Tetris? Não, é um filme que conta a história do licenciamento do jogo numa época quando o mundo não era globalizado.

O jogo Tetris foi criado numa União Soviética perto do fim. Algumas empresas negociavam os direitos de distribuição nas diferentes plataformas (computador, console, fliperama). Dirigido por Jon S Baird, o filme Tetris mostra a história dessas negociações.

Parece pouco para um longa metragem, né? Poizé. Então a trama entrou numa de colocar um maniqueísmo de capitalismo vs comunismo. E na minha humilde opinião, o filme perdeu muito nesse ponto, porque começou a usar clichês que não funcionam mais desde os anos 90.

De pontos positivos, gostei da trilha sonora de Lorne Balfe, que usa variações em cima do tema do jogo. Também gostei de alguns efeitos pontuais usando tecnologia 8 bit.

Sobre o elenco, Taron Egerton está bem. Durante os créditos aparecem imagens do Henk Rogers original, eles não são muito parecidos; por outro lado, Nikita Efremov, que faz o criador do Tetris, é bem parecido com o Alexey Pajitnov original. No resto do elenco, heu só conhecia Toby Jones. Roger Allam, que faz o dono da Mirrorsoft, está com uma caracterização estranha, parece excesso de maquiagem, não ficou bem.

Não diria que Tetris é uma perda de tempo, mas tem coisa melhor por aí.

O Chamado 4: Samara Ressurge

Crítica – O Chamado 4: Samara Ressurge

Sinopse (Paris Filmes): Pessoas que assistem a um vídeo amaldiçoado subitamente morrem. Essas mortes ocorrem em todo o Japão. Ayaka Ichijo é uma estudante de pós-graduação extremamente inteligente e com um QI acima de 200. Sua irmã mais nova assiste a um vídeo amaldiçoado por diversão. Ayaka Ichijo tenta revelar o mistério que envolve o tal vídeo.

Tenho muitas coisa pra falar mal aqui. Preciso começar falando da divulgação brasileira. Porque, infelizmente, o nome do filme no Brasil é uma enganação. Este não é o quarto filme da Samara, e sim o oitavo filme da Sadako!

Voltemos um pouco no tempo. Em 2002 foi lançado O Chamado (The Ring), com a Naomi Watts. Era uma refilmagem de um terror japonês, Ringu, de 1998, que chegou no mercado de home vídeo pra aproveitar a onda. Com o sucesso da franquia, tivemos uma continuação americana em 2005, e me lembro que algumas continuações japonesas que chegavam aqui pelas locadoras (se não me engano, também teve um prequel). Passei uns anos sem ouvir falar da franquia, até que em 2017 foi lançado o terceiro filme americano, O Chamado 3. Nessa época vi pela internet que a franquia japonesa continuou lançando filmes, mas não vi nenhum desses. Mas agora com o lançamento deste novo filme, achei um link na wikipedia que fala de toda a franquia. São 13 longas no total: 8 filmes japoneses, 3 americanos, um sul coreano, e um crossover com a franquia Ju-On (que aqui no Brasil foi chamada de O Grito).

Resumindo: O Chamado 4, ou Sadako DX no original, é o oitavo filme da franquia japonesa! Não tem nada a ver com a franquia americana! Não tem Samara, é a Sadako! Chamar de “4” é querer enganar o espectador!

Dito isso, a boa notícia é que a história contada aqui não é continuação direta de nenhum outro filme. É uma história independente, que se passa no mesmo universo dos filmes anteriores. Ou seja, não precisa rever nada antes.

Pena que é a única boa notícia de hoje. Porque O Chamado 4 é bem ruim.

Pra começar, é um filme de terror que não assusta. Acho que eles tentaram criar jump scares com toques de celular! E só me lembro de duas mortes, as duas bem toscas – a vítima dá uma cambalhota e cai morta de olho aberto. Só.

Mas o pior é o roteiro, que é péssimo. Em todos os outros filmes quem vê o vídeo depois recebe uma ligação. Cadê a ligação? Por que não ligam mais? Ninguém se importa.

Em todos os outros filmes quem vê o vídeo morre sete dias depois. Aqui o tempo cai pra 24 horas. Qual é o motivo? Ninguém se importa.

A maioria das pessoas morre exatamente quando batem as 24 horas – nem um minuto a mais, nem a menos. Mas se você correr, a Sadako não te alcança. Como assim? Ninguém se importa!

Calma que piora. As pessoas morrem em 24 horas, a não ser que sejam importantes pro roteiro. Porque se forem importantes, o tempo conta diferente. Ah, ninguém se importa!

O roteiro é um lixo, mas tem uma coisa que poderia ter dado certo. A protagonista, inteligente, que quer ciência no lugar de negacionismo, quer dizer, no lugar de maldição, quer provar que tudo tem uma explicação dentro da ciência, e começa a comparar a disseminação da maldição com a disseminação de um vírus. Ok, poderia ter dado certo, se soubessem desenvolver. Mas não souberam.

Mas calma, que ainda pode ficar pior. A Samara / Sadako aparece como pessoas conhecidas da vítima (mais um ninguém se importa, porque não tem nenhuma lógica). A maquiagem é bem tosca, um camisolão branco e a cara pintada de branco, e tá bom. Mas, claro que pode piorar ainda mais um pouco, aí o cabelo começa a crescer. Céus, acho que nunca vi um efeito digital tão ruim quanto esse cabelo crescendo!

Ainda posso reclamar de uma coisa? Era pra ser um filme de terror. Terror ruim, mas terror. Aí chega nos créditos, o filme continua, e vira uma comédia! Piadinhas rolando junto com os créditos! De onde surgiu essa ideia???

Se heu precisar salvar uma única coisa desse filme, gostei da última cena, pós créditos. Ok, foi uma boa sacada. Mas não vale ver o filme só por causa disso.

Ghosted: Sem Resposta

Crítica – Ghosted: Sem Resposta

Sinopse (imdb): O corretíssimo Cole se apaixona pela enigmática Sadie, mas logo enfrenta a chocante descoberta de que ela é uma agente secreta. Antes que eles possam decidir se terão ou não um segundo encontro, Cole e Sadie são arrastados para uma aventura internacional para salvar o mundo.

Na época que heu tinha videolocadora, existiam os conceitos de “filme de ponta” e “filme de apoio”. O filme de ponta era aquele que passava no cinema, com atores conhecidos, e que, apesar de um pouco mais caro, tinha boa saída. O filme de apoio era quando o cara entrava na locadora e não tinha o filme que ele queria, então ele pega a um genérico qualquer.

Me parece que hoje em dia o filme de apoio virou “direto para o streaming”. Apesar de ter atores conhecidos, temos uma leva de filmes genéricos e esquecíveis que acho que fariam feio nas bilheterias. Filmes como Esquadrão 6 (com Ryan Reynolds), Alerta Vermelho (com Dwayne Johnson, Ryan Reynolds e Gal Gadot), A Guerra do Amanhã (com Chris Pratt), e O Agente Oculto (com Ryan Gosling, Ana de Armas e Chris Evans).

(Não podemos generalizar, afinal alguns grandes filmes vão direto para o streaming, tipo o Pinóquio do Del Toro, melhor filme de 2022 aqui no heuvi. Alguns filmes muito bons são do streaming, como O Irlandês, Roma, Mank, Não Olhe Para Cima, Os 7 de Chicago… Mas, vamulá, esses bons são minoria.)

Voltando… Ghosted: Sem Resposta (Ghosted, no original) me lembrou outros filmes genéricos do streaming, principalmente O Agente Oculto (pelo casal protagonista). Filme raso e genérico, mas com bom elenco, boas locações, “muita correria e muita confusão!”

Aliás, falando em genérico, a trívia do imdb me lembrou de Encontro Explosivo, filme de 2010 com Tom Cruise e Cameron Diaz que tinha basicamente a mesma história, mas invertendo os gêneros (o homem era o agente secreto). Os filmes são tão parecidos que vou copiar um parágrafo do que escrevi sobre aquele filme: “Encontro Explosivo é uma eficiente mistura de comédia com ação exagerada. A ação tem um ritmo frenético, deve ser pra gente não reparar nas várias inconsistências do roteiro – muita coisa lá é absurda! Mas, relevando o lado impossível, dá pra se divertir.

Aliás, falando nessa inversão de gêneros, quero elogiar Ghosted: Sem Resposta. A melhor cena do último 007 foi quando Ana de Armas entrou em ação ao lado do James Bond. Vê-la como protagonista de um filme de ação girl power e muito bom! Aguardo ansiosamente pelo Ballerina, spin off de John Wick que ela vai estrelar.

Mas, vamos ao filme. Genérico sim, esquecível também, mas se a gente relevar isso, Ghosted: Sem Resposta é um filme divertido. A direção e de Dexter Fletcher, que era ator (lembro dele em Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes), mas que também virou diretor, e dirigiu Rocketman, além de ter terminado Bohemian Rhapsody. O elenco é muito bom, tanto o principal quanto as várias participações especiais. A trilha sonora com músicas pop bem colocadas também é boa.

Claro, nem tudo funciona. Tem uma coisa que me incomodou bastante que rola logo no início do filme (espero que não seja spoiler). O cara conhece a garota, eles se dão bem e passam a noite juntos. Aí depois ele fica obcecado por ela a ponto de descobrir que ela viajou pra Inglaterra e vai atrás dela. Amigo, ela não tem nenhum compromisso com você! Ela pode ter um outro cara, e você não tem nada a ver com isso! Pare de ser stalker!

(Pra piorar, ele vai até a Inglaterra atrás de uma bombinha de asma que não e citada pelo roteiro no resto do filme. Se a bombinha era algo tão sem importância, pra que colocar um gps?)

Algumas sequências de ação são bem filmadas, mas não fazem muito sentido. O personagem de Chris Evans é um fazendeiro, ele não saberia brigar e atirar tão bem como aparece no filme. Ou seja, as cenas são boas, mas precisa desligar o cérebro.

Sobre o elenco: Ana de Armas e Chris Evans têm boa química – já e o terceiro filme onde eles atuam juntos (além de O Agente Oculto, teve Entre Facas e Segredos). Adrien Brody está bem como o vilão caricato. E as participações especiais são ótimas! Anthony Mackie, Sebastian Stan, John Cho e Ryan Reynolds aparecem por poucos segundos, mas cada um tem um bom momento. Tim Blake Nelson e Burn Gorman têm um pouco mais de tempo de tela (pouca coisa), e também são cenas divertidas.

Quem conseguir relevar os problemas vai ter uma boa diversão por quase duas horas. Mas provavelmente vai esquecer do filme depois de alguns dias.

Beau Tem Medo

Crítica – Beau Tem Medo

Sinopse (imdb): Após a morte repentina de sua mãe, um homem gentil e atormentado pela sua ansiedade enfrenta seus medos mais obscuros enquanto embarca em uma jornada épica e Kafkeana de volta para casa.

Escrevo críticas há mais de dez anos. Normalmente, quando acaba uma sessão, já começo a pensar no que vou comentar aqui. Mas, quando acabou Beau Tem Medo, travei. Não tenho ideia do que vou falar.

Beau Tem Medo (Beau is Afraid, no original), é o novo filme escrito e dirigido por Ari Aster, diretor de Hereditário e Midsommar, dois filmes que heu gosto muito – e por isso, estava na minha lista de expectativas para 2023. Terror psicológico, clima tenso, sem jump scares, mas com cenas fortes e extremamente bem filmadas, Ari Aster conquistou meu respeito e minha admiração, claro que quero ver seu(s) novo(s) projeto(s).

Mas, preciso dizer que desta vez não rolou. Não curti Beau Tem Medo. E, diferente dos dois anteriores, não tem nada de terror aqui.

Existem filmes onde tudo é explicado, e existem filmes que deixam lacunas abertas para interpretação do espectador. Um tipo não é melhor nem pior do que o outro, são apenas estilos diferentes. Gosto de Buñuel, gosto de alguns filmes do David Lynch, muitas vezes curto a experiência sem entender o que o filme queria me dizer.

Mas, na minha humilde opinião, o problema de Beau Tem Medo não é ser um filme sem explicações, e sim ser um filme chato. Tem uma parte no meio, onde entra uma animação no meio da peça de teatro, onde quase dormi. Achei chaaaato… Depois olhei no relógio, ainda tinha mais de uma hora de filme!

Pena, porque algumas partes do filme são bem instigantes. Gostei da parte inicial, que mostra a vizinhança maluca onde o Beau mora – camelô vende armas de fogo, tem cadáver apodrecendo no meio da rua, e ao mesmo tempo tem um cara dançando na esquina. Heu veria um filme inteiro nesse cenário!

Sobre a parte técnica, não há o que falar. Aster sabe o que fazer com a câmera, temos algumas boas sacadas, como por exemplo um close no olho onde vemos o que acontece através do reflexo.

No elenco, Joaquin Phoenix mais uma vez manda muito bem, não será surpresa se ganhar outra indicação ao Oscar. Não há destaques no resto do elenco, o filme é só do Joaquin Phoenix. Também no elenco, Patti LuPone, Amy Ryan, Nathan Lane, Kylie Rogers, Denis Ménochet, Parker Posey, Zoe Lister-Jones, Richard Kind e Stephen McKinley Henderson. Ah, temos os jovens Armen Nahapetian e Julia Antonelli, interpretando versões adolescentes do Joaquin Phoenix e da Parker Posey. Se o garoto Armen é parecido com Joaquin, achei a Julia IGUAL à Parker!

Com intermináveis quase 3 horas de duração (são 2 horas e 59 minutos!), acredito que Beau Tem Medo vai desagradar a maior parte do público. Vou torcer para Ari Aster voltar mais inspirado no seu próximo projeto, lembro que não gostei de O Farol, dirigido por Robert Eggers, mas gostei muito do filme seguinte do diretor, O Homem do Norte. Aguardemos.

A Morte do Demônio: A Ascensão

Crítica – A Morte do Demônio: A Ascensão

Sinopse (imdb): Beth visita sua irmã mais velha, Ellie, que está criando 3 filhos em um apartamento apertado em Los Angeles. Sua reunião é curta quando eles encontram um livro demoníaco, The Necronomicon Ex-Mortis.

Antes de falar do filme, posso faltar um pouco sobre o mercado cinematográfico? Evil Dead é uma marca muito forte. O primeiro filme, de 1981, é um clássico incontestável e revolucionário. Foram duas continuações, um remake, e três temporadas de uma série de TV (isso porque não vou entrar em outras mídias). Resumindo: Evil Dead é uma franquia importante.

Fazer parte de uma franquia dessas tem um ponto positivo, que é trazer público. Mas também tem um ponto negativo: A Morte do Demônio: A Ascensão não é exatamente ruim, mas é bem inferior ao outro A Morte do Demônio. E, por fazer parte da franquia, a comparação é inevitável.

Escrito e dirigido por Lee Cronin, A Morte do Demônio: A Ascensão tem seus pontos positivos. Para manter o espírito da franquia, rolam travellings de câmera, muito gore e litros de sangue, e ainda tem uma motosserra e um olho voando (e também tem uma referência a O Iluminado). Além disso, a trilha sonora é boa e a vilã é excelente.

Uma das minhas críticas à versão de 2013 era que tinham feito um filme sério. Se você quer fazer parte de uma franquia, tem que respeitar as características dessa franquia. E a galhofa é uma das características mais marcantes dos três filmes dirigidos por Sam Raimi. Este novo A Morte do Demônio: A Ascensão não é tão galhofa quanto a trilogia original, mas tem uma boa dose de humor negro.

O humor negro ajuda a amenizar a quantidade de gore e de sangue. Neste aspecto, A Morte do Demônio: A Ascensão não decepciona: tem MUITO sangue, principalmente na parte final (segundo o imdb, foram usados 6.500 litros de sangue artificial). Ah, outra coisa: gostei de algumas sacadas criativas sobre o posicionamento da câmera, como por exemplo uma cena mostrada através do olho mágico.

Não conhecia ninguém do elenco, mas diria que todos estão bem. Vou além: gostei muito da Alyssa Sutherland, que faz a mãe. Ela é assustadora! Também no elenco, Lily Sullivan, Gabrielle Echols, Morgan Davies e Nell Fisher.

Falemos sobre o livro. A sinopse do imdb fala que é o Necronomicon, mas acho que não é o mesmo livro. E durante o filme falam que são três livros diferentes. Me parece que este é um livro semelhante, mas não é o mesmo dos outros filmes. Além disso, a gente precisa lembrar que a palavra “Necronomicon” é de autoria do H.P. Lovecraft, e não tenho ideia de como são os direitos autorais sobre isso, talvez tenham mudado por causa dos direitos.

Agora, na minha humilde opinião, o filme seria melhor se tirasse do título a parte “A Morte do Demônio”. Exatamente a mesma história: um garoto encontra um livro e um disco, e isso libera uma entidade que possui as pessoas. Ia vender menos ingressos, sei disso. Mas não ia ser comparado com o filme clássico, então ia ser um produto final melhor. Pena que no mercado de hoje em dia coisas assim são necessárias.

Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan

Crítica – Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan

Sinopse (imdb): D’Artagnan chega em Paris a procura de seus agressores após ser dado como morto. Sua busca o leva para o centro de uma guerra real que coloca em risco o futuro da França. Ele se alia à Athos, Porthos e Aramis, três mosqueteiros do rei.

Bora pra mais uma versão da clássica história dos três mosqueteiros?

Produção francesa, essa nova versão tem um problema logo de cara: o filme não tem fim, e o espectador só descobre isso durante a projeção. Qual é o problema de se colocar no cartaz, ou no imdb? Só está escrito “Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan”, quando deveria ter um “parte 1”. Ou seja, estão enganando o espectador!

Dito isso, vamos ao filme. Dirigido por Martin Bourboulon, Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan (Les trois mousquetaires: D’Artagnan, no original) tem algumas sequências de ação muito bem filmadas, como uma luta entre os quatro mosqueteiros e vários soldados do Richelieu, onde tudo acontece em plano sequência (ok, dá pra ver que tem alguns cortes ali, mas não tiro o mérito da filmagem). Outra cena boa é quando a Rainha é encurralada num cômodo, a briga sai do cômodo mas a câmera continua – sem cortes – com a Rainha.

Gostei de toda a ambientação de época. Tudo é muito sujo, e sempre impliquei com filmes medievais “limpinhos”. Aqui não, D’Artagnan aparece sujo no início do filme e continua sujo por várias cenas. Quem está acostumado só com o cinema hollywoodiano talvez ache estranho.

Na minha humilde opinião, o filme tem uns escorregões no terço final. Por exemplo, o Duque de Buckingham estava arrasado, triste porque perdeu o amor da sua vida, e logo depois já estava alegre e serelepe dando mole pra primeira piriguete que apareceu. Mas… Me disseram que no livro é assim também. Não li o livro, não sei, mas, no filme, soou incoerente.

Outro problema: tem um momento onde o Athos conta uma história do seu passado para o D’Artagnan. E essa história não se conecta com absolutamente nada do que acontece no filme. Provavelmente é algo que vai ter continuidade na Parte 2. Mas acho bem ruim deixar algo assim aberto. Porque, se a gente olhar só esse filme, tira aquela cena e o filme não perde nada.

O elenco está bem, mas, tem aquele problema de sempre sobre a idade dos atores. Vincent Cassel é um grande ator, dono de uma grande filmografia, mas, ele está com 56 anos, me pareceu um pouco velho pra ser um mosqueteiro do Rei (fui catar na wikipedia, o personagem era pra ter 30 anos). Mas, isso é um problema recorrente, então deixemos pra lá. O elenco também conta com Eva Green, François Civil, Romain Duris, Pio Marmaï, Louis Garrel, Vicky Krieps e Lyna Khoudri.

Ainda preciso falar desse lance de dividir entre duas partes. Na verdade, isso já foi feito, nos anos de 1973 e 74 foram lançados os filmes Os Três Mosqueteiros e A Vingança de Milady, com Michael York, Oliver Reed, Richard Chamberlain, Raquel Welch, Faye Dunaway e Christopher Lee. Mas não sei se naquela época alguém avisou aos espectadores que a história não teria fim. Porque aqui, nesta versão de 2023, parece um seriado de TV: o arco da história tem uma conclusão, mas acontece um cliffhanger para chamar para um próximo episódio ou próxima temporada. Bem, pelo menos a segunda parte já foi filmada e tem previsão de ser lançada ainda este ano, em dezembro.

RRR

RRR

Sinopse (Netflix): Um guerreiro corajoso em uma missão perigosa encontra um policial durão que serve ao exército britânico nesta saga épica ambientada na Índia pré-independência.

Preciso confessar que, por preconceito, quase perdi esse RRR. Agora, depois de ter visto, reconheço que tem grandes chances de entrar num top 10 aqui no heuvi. Sempre lembro da frase que é o lema do grupo Severiano Ribeiro: “cinema é a maior diversão”. Reconheço que gosto de filmes divertidos. Gosto de sentar na sala do cinema, relaxar e me divertir. E RRR é pura diversão!

O filme dirigido por S.S. Rajamouli é exagerado, muito exagerado. Parece que tudo está ligado em 220V. Tudo é intenso, tudo é acima do tom. Logo numa das primeiras cenas temos um único soldado lutando contra centenas de indianos revoltados. Centenas! E ele consegue derrotar todos facilmente. Acho que foi uma cena colocada lá pra dizer para o espectador o que ele vai encontrar. Se o cara achar muito over, já pode desistir logo. Porque se seguir em frente, o filme continuará nessa pegada e mostrará algumas outras sequências muito exageradas.

Os personagens principais, Alluri Sita Ramaraju e Komaram Bheem, realmente existiram. Eles lutaram pela liberdade da Índia, mas nunca se encontraram na vida real. RRR é uma ideia completamente fictícia do que aconteceria se os dois se encontrassem. E o diretor falou sobre uma “amizade imaginária entre dois super heróis”. Ou seja, é exagerado de propósito.

Os efeitos especiais às vezes não convencem. Mas, se a gente pensar que toda a estética do filme se baseia no exagero, um efeito especial tosco pode virar uma opção estilística. Então sim, alguns efeitos não passam credibilidade – mas mesmo assim servem à proposta do filme.

Preciso falar da parte musical. Não entendo muito de Bollywood, mas sei que a Índia tem fama de sempre incluir números musicais nos filmes. E comentei no texto sobre o Oscar 2023 sobre o erro da academia cinematográfica da Índia, que não enviou RRR para ser o representante do Oscar de filme internacional, mas que acabou ganhando o Oscar de melhor música, com Naatu Naatu. A música Naatu Naatu é muito boa, e a cena onde ela é apresentada é sensacional!

Claro, nem tudo é perfeito. O visual do filme é incrível, mas a história é rasa, assim como os personagens. Os “mocinhos” são irretocáveis, enquanto os “vilões” são o cúmulo da malvadeza. Ou seja, o espectador que estiver atrás de uma história mais profunda sobre a independência da Índia não vai encontrar aqui.

A partir de agora heu terei um problema. Porque sei que existe um grande universo de filmes indianos, e preciso procurar outros!

Belo Desastre

Crítica – Belo Desastre

Sinopse (imdb): Abby, caloura na faculdade, tenta se distanciar de seu passado sombrio enquanto resiste à atração pelo bad boy Travis.

Não conhecia o diretor nem ninguém do elenco principal, o poster não era atrativo e muito menos a sinopse. Mas sabe quando a expectativa é zero, e mesmo assim o filme decepciona? Pois é…

Escrito e dirigido por Roger Kumble, Belo Desastre (Beautiful Disaster, no original) é a adaptação do livro homônimo escrito por Jamie McGuire e que conta uma história besta e cheia de clichês baseada apenas no romance do casal principal. Pior: romantiza um relacionamento abusivo. Ou seja, são dois problemas: é ruim como cinema e ruim pelo lado comportamental. Mas este é um site que fala de cinema, então vou deixar o lado social para ser comentado por gente com mais propriedade.

(Depois de ver o filme fui catar informações pela internet, e descobri que tem muita gente falando mal do livro. Parece que o relacionamento tóxico do livro é bem pior do que o que vemos no filme.)

Vamulá. Menininha certinha chega e encontra bad boy mulherengo. E eles passam dois terços do filme numa onda de quero / não quero. Personagens desinteressantes e história chata. Chata e mal contada, chega a ter uma cena onde ela está na sala de aula vendo o Instagram dele e comentando em voz alta, e ele está na fileira de trás, e eles começam a discutir. E ainda piora: a professora dá uma bronca, e eles continuam discutindo!!!

Existe um livro chamado Manual do Roteiro, do Syd Field, que traz uma fórmula de três atos. Um filme não precisa usar a fórmula do Syd Field, mas a grande maioria dos longa metragens feitos atualmente usam essa fórmula: meia hora de apresentação dos personagens e da situação, acontece um ponto de virada que direciona a trama para outro caminho, até que meia hora antes do fim acontece outro ponto de virada e o filme direciona para uma conclusão.

Belo Desastre só tem ponto de virada no terço final (a não ser que você considere a aposta como um ponto de virada – pra mim, não mudou nada do que estávamos vendo). No terço final aparece uma parada a ser resolvida em Las Vegas, envolvendo o pai da protagonista. Ok, mudança de rumo da trama. Pena que na parte “cinema” o filme continua tão ruim quanto antes. Um exemplo simples: ela precisa ganhar dinheiro num cassino. Ela vai, ganha, e quando está saindo, um segurança diz que ela é menor de 21 então não pode jogar. Amigo, você deveria ter impedido a menina durante o jogo, naquele momento ela não estava fazendo nada de errado, apenas carregando um dinheiro. E ela entrega sem ao menos questionar!!! E a cena de sexo no quarto de hotel em Las Vegas causa vergonha alheia.

Falei que era ruim, né? Se a história é ruim e mal contada, colocar um casal de atores ruins e sem nenhuma química só atrapalha. Os personagens são muito mal construídos, o cara quer passar que é um bad boy mas fica com ciuminho adolescente, a menina diz que não quer nada com ele mas fica dando mole o tempo todo. E ainda tem o problema recorrente da idade do elenco – Virginia Gardner tem 27 anos e não consegue convencer ninguém que tem menos de 21.

Ah, tem um nome conhecido no elenco, Brian Austin Green. E quando a gente vê ele aqui, entende por que sua carreira não deslanchou.

Agora, preciso dizer que talvez heu não seja o público alvo. Duas fileiras atrás de mim tinham duas mulheres rindo alto algumas vezes. Aparentemente, elas estavam se divertindo. Ou seja, o filme deve agradar algumas pessoas. Boa sorte se você for ver, porque existe uma série de livros – deve ter continuação…

Daisy Jones & The Six

Crítica – Daisy Jones & The Six

Sinopse (imdb): Siga o sucesso da banda de rock Daisy Jones e The Six através da cena musical de Los Angeles da década de 1970 em sua busca para se tornar um ícone global.

Há umas semanas, atrás me indicaram lá no grupo de apoiadores do Podcrastinadores uma nova série musical: Daisy Jones and The Six, da Amazon Prime, que mostra uma banda fictícia dos anos 70 que estava no auge do sucesso, quando algo aconteceu durante uma turnê e a banda se separou e nunca mais fizeram nada. Anos depois, eles estão sendo entrevistados (separadamente), para contar o que aconteceu. A série alterna momentos dessa entrevista com flashbacks, num formato que parece uma mistura de This is Spinal Tap com Quase Famosos.

A reconstituição de época está perfeita, e a parte musical é muito boa. A banda é inspirada no Fleetwood Mac, banda que conheço pouco. Tenho um grande elogio e um mimimi pra fazer sobre a parte musical. O elogio é que poucas vezes vi um filme ou série com músicos tão bem representados. Sou chato e presto atenção no ator interpretando um músico – ele não precisa tocar, mas precisa fingir bem que toca (caso do De Volta para o Futuro) (um ator interpretando um cirurgião não precisa fazer a cirurgia, apenas precisa convencer no seu fingimento). E, tirando um detalhe aqui, outro detalhe ali, aqui os atores estão excelentes! Inclusive, segundo o imdb, eles chegaram a fazer um show como se fossem uma banda de verdade, como laboratório! Digo mais: em mais de um momento ao longo da série, a gente vê uma música sendo executada num estúdio ou num palco, e o volume dos instrumentos varia conforme a câmera anda – o que aconteceria na vida real.

Agora, posso fazer um mimimi? Todos os atores convencem (inclusive Riley Keough quando toca violão meio sem jeito enquanto compõe – ela não domina o violão, mas toca os acordes pra apresentar a música para os companheiros de banda), menos a Suki Waterhouse como tecladista. Ok, um tecladista ou pianista pode interpretar bem sem mostrar as mãos, mas, teve uma cena em particular onde parece que ela está usando pick up de DJ, enquanto mexe em drawbars de um órgão Hammond!

A série é baseada no livro “Daisy Jones and The Six, Uma história de amor e música”, da escritora Taylor Jenkins Reid. Não li o livro, não sei se a série é fiel, mas tenho algumas críticas. A história da banda é muito boa, mas tem uma história paralela sobre a Simone, amiga da protagonista Daisy Jones, que tenta carreira como cantora disco. E essa história paralela é bem mais fraca que a história principal. Digo mais: o episódio onde Daisy vai pra Grécia e se casa é completamente dispensável. Podia ter um episódio a menos, e quando ela aparecesse com o marido, era só apresentá-lo.

Sobre o elenco, tem um problema recorrente em Hollywood, que é a idade dos atores. Sam Claffin tem 36 anos, e precisa convencer como um jovem recém saído da escola no início da banda. E como temos todo o elenco em diferentes épocas, esse problema acontece com todos. Mas, se a gente relevar esse detalhe, o elenco está bem.

Riley Keough é filha de Lisa Marie Presley e neta de Elvis Presley, e nunca tinha interpretado uma cantora (ela estava no filme The Runaways, mas interpretava a irmã da vocalista). Ela convence aqui como um dos dois principais nomes, e ela funciona bem ao lado de Sam Claffin, que também está bem. Sobre o resto da banda, tive um problema com Will Harrison e Josh Whitehouse, que fazem o guitarrista e o baixista, porque achei os personagens muito parecidos (só consegui diferenciar um do outro no décimo episódio!). Completam a banda Suki Waterhouse e Sebastian Chacon, o baterista, que é um dos melhores personagens. Um nome relativamente conhecido num papel menor é Timothy Olyphant, como um empresário que ajuda a banda. Ainda no elenco, Camila Morrone, Tom Wright e Nabiyah Be.

O último episódio traz um plot twist que achei bem legal, mas não contarei por aqui porque não gosto de spoilers.

Cidade Invisível – segunda temporada

Crítica – Cidade Invisível – segunda temporada

Sinopse (wikipedia): Após um bom tempo ausente, Eric aparece em um santuário natural protegido por indígenas e procurado por garimpeiros, perto de Belém do Pará. Ele descobre que sua filha, Luna, e a Cuca estavam morando na região com o objetivo de trazê-lo de volta à vida. Embora queira retornar imediatamente para o Rio de Janeiro com Luna, Eric percebe que a menina tem uma missão maior a cumprir na região. Ao mesmo tempo, ao tentar protegê-la, ele se torna uma ameaça para o delicado balanço entre natureza e as entidades.

Não escondo de ninguém que sou fã de folclore nacional, inclusive fiz um curta de câmera encontrada com o Boitatá em 2012. Claro que gostei de Fábulas Negras, e claro que gostei da primeira temporada de Cidade Invisível. E agora temos a segunda temporada, em um lugar diferente, e com entidades diferentes!

Comecei a temporada empolgado, cheguei a gravar uma dica pro Instagram do Podcrastinadores, mas, preciso reconhecer que não gostei da conclusão da temporada. Mas, vamos por partes, vou trazer os elogios e depois falo por alto do que não gostei (pra não dar spoilers).

Uma coisa que achei bem legal foi trocarem a ambientação da série. Se a primeira temporada se passava no Rio de Janeiro, agora a trama está no Pará, onde uma entidade misteriosa quer achar uma reserva de ouro escondida por mágica. E se antes a gente tinha o Saci, a Iara, o Boto e o Curupira, agora temos contato com outros seres fantásticos do folclore brasileiro, como um lobisomem, a Matinta Pereira, e tem até uma mula sem cabeça!

Um parágrafo à parte pra falar da Matinta Pereira, interpretada pela Letícia Spiller. A Matinta é uma personagem misteriosa e assustadora; e a Letícia Spiller, irreconhecível, está ótima! E os efeitos especiais do personagem são discretos e eficientes.

Já que entrei no elenco… São poucos os nomes da primeira temporada que voltam aqui. Marco Pigossi e Alessandra Negrini estão de volta como Eric e a Cuca; Luna, a filha do Eric, trocou a atriz, agora é interpretada por Manu Diegues. Julia Konrad também reaparece aqui, mas só em poucas cenas. Além da Letícia Spiller, temos outra atriz conhecida, Simone Spoladore. Não gostei do ator mirim Tomás de França, que faz o Bento, achei ele bem ruim. Também no elenco, Zahy Guajajara, Tatsu Carvalho, Mestre Sebá e Rodrigo dos Santos.

São só cinco episódios, e assim como acontece na primeira temporada, a história fecha mas abre uma porta para uma possível nova temporada. Não gostei do fim, não entendi por que todo mundo precisava ir para o Marangatu, achei tudo muito forçado. Não chegou a estragar a boa experiência que a série proporcionava até então, mas quando um filme / série termina mal, perde pontos na avaliação.

Sobre o gancho: um dos últimos frames da temporada traz de volta um personagem da primeira temporada. Por que? Como? Bem, este é aquele tipo de gancho que, se tiver uma terceira temporada, será explicado. Mas se deixarem pra lá, ok, não atrapalha.