Ruby Marinho, Monstro Adolescente

Crítica – Ruby Marinho, Monstro Adolescente

Sinopse (imdb): A doce e desajeitada Ruby Marinho, de 16 anos, descobre que é descendente direta das rainhas guerreiras Kraken e precisará se esforçar para proteger aqueles que ela mais ama contra sereias vaidosas e famintas por poder.

Talvez seja um problema você colocar no pôster do filme os dizeres “da DreamWorks, que criou Shrek e Como Treinar seu Dragão“. Porque isso vai elevar as expectativas, e às vezes o novo filme é bem bobinho. Como é o caso aqui de Ruby Marinho, Monstro Adolescente.

Dirigido por Kirk DeMicco e Faryn Pearl, Ruby Marinho, Monstro Adolescente (Ruby Gillman, Teenage Kraken, no original) traz uma história que já foi contada um monte de vezes, com uma adolescente vivendo mudanças no seu corpo e com problemas de relacionamento com a mãe, ao mesmo tempo que tem os problemas de sempre na escola, como o medo de convidar seu crush para a festa de fim de ano. Parece uma receita de bolo, tem até os momentos musicais quando ela está nadando no fundo do mar.

Ok, a gente sabe que a Dreamworks tem um histórico de copiar a Disney (Monstros S.A. / Shrek, Vida de Inseto / Formiguinhaz, Procurando Nemo / O Espanta Tubarões). Achei que isso tinha ficado no passado mas Ruby Marinho parece uma cópia de Luca (monstro marinho adolescente que vive entre humanos), com toques de Red (menina adolescente que precisa controlar mudanças no corpo).

(Em Luca o monstro marinho fica igual a um humano. Aqui os krakens são azuis e não têm ossos. Mesmo assim, vivem entre os humanos, e dizem que são diferentes porque são canadenses. Ok, entendi a piada, mas achei forçada.)

Ainda falando em plágios, aqui tem uma sereia que é IGUAL à Ariel. Mas, nesse ponto em particular, achei divertido você colocar uma Ariel como a antagonista. Foi uma boa sacada.

A sessão de imprensa foi dublada. A dublagem brasileira é muito boa, não tenho queixas quanto a isso. Mas, dá pena de ver que perdemos as vozes de Toni Collette como a mãe e Jane Fonda como a avó.

Como falei, Ruby Marinho, Monstro Adolescente não é ruim, mas é tão bobinho que decepciona – assim como aconteceu com o recente Elementos da Pixar, lançado duas semanas atrás. Nessa briga entre Dreamworks e Pixar, quem está se dando bem em 2023 é a Illumination com o seu Super Mario Bros.*

*Não esqueci do Aranhaverso 2, é que considero ele feito para outro público alvo

Sede Assassina

Crítica – Sede Assassina

Sinopse (imdb): Baltimore. Véspera de Ano Novo. Uma policial talentosa, mas problemática, é recrutada pelo investigador-chefe do FBI para ajudar a traçar o perfil e rastrear um indivíduo perturbado que está aterrorizando a cidade.

Em certos casos, não entendo qual é o critério para se decidir se um filme vai ser lançado no circuito ou se vai direto para o streaming. Porque de vez em quando aparece um filme “com cara de cinema” que é lançado direto no streaming. E o contrário também acontece, como é o caso deste Sede Assassina (To Catch a Killer, no original). Sede Assassina não é ruim, mas é tão genérico que às vezes parece que estamos vendo um episódio de série de TV tipo CSI.

A direção é do argentino Damián Szifron, autor do excelente Relatos Selvagens, de 2014. Infelizmente Sede Assassina está muito abaixo do seu filme mais famoso. Me lembrei de uma entrevista de um diretor brasileiro (não me lembro quem) que comentou sobre dificuldades quando filmou em Hollywood, ele disse que queria ensaiar com a atriz, mas ela só aparecia na hora exata das filmagens. Pensei que talvez Damián tenha tido problema semelhante.

Como falei, Sede Assassina não é ruim. A primeira parte, quando vemos os assassinatos acontecendo durante a queima de fogos, é muito boa. E tem uma sequência no meio do filme, quando o assassino mata um monte de gente num shopping, que é muito bem filmada – a gente acompanha a ação até quando ia começar o tiroteio, depois corta para a investigação policial e a partir daí vemos fragmentos do que aconteceu em flashbacks. Mas, fora isso, tudo é convencional demais. Já vimos isso um monte de vezes.

O elenco é ok. Os dois atores principais, Shailene Woodley e Ben Mendelsohn, estão bem. Jovan Adepo (Babilônia) é o terceiro nome do elenco, mas tem um tempo de tela bem menor; Ralph Ineson (A Bruxa, A Lenda do Cavaleiro Verde) tem um papel importante mas aparece pouco.

Pouco, mas pode agradar os que tiverem baixas expectativas.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Crítica – Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Sinopse (imdb): O famoso arqueólogo e professor Jones regressa com novos desafios, perigos e aventuras, mas desta vez ele tem o sangue de uma nova geração para o ajudar nas suas descobertas e na sua luta contra um novo vilão.

O que mais tem na Hollywood contemporânea são continuações, remakes e reboots. É mais fácil vender uma ideia reciclada do que algo novo. É por isso que, 15 anos depois, temos mais um Indiana Jones – lembrando que a franquia já teve um “filho temporão” com o quarto filme, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, lançado 19 anos depois do terceiro filme.

Não sei por que, mas Steven Spielberg não dirigiu este filme, o que é uma pena. A direção ficou com James Mangold, que tem um currículo bem irregular – ele dirigiu o fraco Wolverine Imortal, e quatro anos depois, o ótimo Logan. Não sei se a culpa foi a troca de diretor, mas, em alguns momentos, Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, no original) infelizmente acabou ficando com cara de genérico (apesar de manter várias coisas icônicas, como o Harrison Ford e a trilha do John Williams).

Já tem anos que não revejo o quarto filme, na época lembro que curti, mas acho que minha avaliação vai diminuir quando o filme for revisitado. Por isso não vou comparar. Mas, mantenho o que já disse antes: os melhores são o primeiro e o terceiro. Este quinto pode brigar no ranking com o quarto e com o segundo, que é incensado pela maioria, mas é de longe o pior da trilogia original.

Vamos ao filme? Logo que começa, tenho um mimimi que talvez seja head canon. Mas, caramba, nos outros quatro filmes do Indy vemos a vinheta da Paramount virar alguma coisa na tela. E aqui nada acontece.

Pelo menos logo depois temos uma excelente (e longa) sequência de ação com o Harrison Ford rejuvenescido digitalmente. Talvez a gente reveja essa cena daqui a alguns anos e ache o cgi mal feito, mas, por agora, podemos afirmar que é um dos melhores já apresentados no cinema. E, independente do cgi, a sequência é muito boa e traz tudo o que um fã de Indiana Jones gostaria de ver.

Agora, o roteiro tem um monte de inconsistências. Ok, entendo que os outros filmes também têm falhas de roteiro aqui e ali, mas não é por isso que vou ignorar o que acontece aqui. Teve uma coisa que me incomodou bastante, que é quando os mocinhos dão uma dica de lugar para o vilão, mas conseguem fugir, e só depois que se afastam mudam de rumo – e o vilão consegue adivinhar o destino só por causa daquela leve mudança de rumo. Ou quando tem umas vinte pessoas atirando no Indy e ele se abaixa para desviar dos tiros, mas logo depois ele se levanta e ninguém mais quer atirar nele. Isso porque não estou falando de furos graves como a ponte dentro da caverna, que arrebentou mas depois aparece intacta.

Sobre o elenco: Harrison Ford é o Indiana Jones. Mesmo velho, ele é a cara do personagem, e continua ótimo no papel. E um dos pontos positivos de Indiana Jones e a Relíquia do Destino é o excelente vilão interpretado por Mads Mikkelsen. Por outro lado, a afilhada do arqueólogo, interpretada por Phoebe Waller-Bridge, é uma personagem arrogante, egoísta e antipática. Acho que muita gente vai reclamar da personagem.

Ainda no elenco. Antonio Banderas tem um papel menor, que fiquei me perguntando pra que chamar um ator deste porte para algo tão pequeno. John Rhys-Davies reaparece rapidamente como Sallah, admito que queria ver mais cenas com ele. Tem outro nome, é o segundo nome na lista do imdb, mas não sei se é spoiler, então não vou falar, mas posso dizer que no fim aparece uma participação especial que vai tocar o coração do fã. Também no elenco, Boyd Holbrook e Toby Jones.

(Cabe uma crítica ao cgi de rejuvenescimento? Harrison Ford é vinte e três anos mais velho que Mads Mikelsen. Quando o filme está em 1969, Ford realmente parece bem mais velho que Mikkelsen. Mas, no trecho inicial, que se passa durante a guerra, os dois aparentam a mesma idade. Ficou mal feito.)

Preciso falar da trilha sonora, mais uma vez nas mãos de John Williams. Por um lado, a trilha é muito boa porque é pontuada com os temas clássicos ao longo de todo o filme, e isso é arrepiante. Mas, por outro lado, não existe nada de novo aqui. A trilha parece uma colagem dos temas que a gente já conhece há quarenta anos.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino é um pouco longo demais, duas horas e trinta e quatro minutos, chega a cansar (os anteriores estão entre 1h55 e 2h07). Não precisava ser tão longo.

O final do filme é emocionante, vai ter muito nerd velho chorando na parte final. E aparentemente, agora acabou de verdade. Acho difícil Harrison Ford (que fez 80 anos ano passado) voltar ao papel. Existem boatos sobre uma série com a personagem da Phoebe Waller-Bridge, mas acho que isso só será definido pela bilheteria. Aguardemos.

Resgate 2

Critica – Resgate 2

Sinopse (imdb): Depois de escapar da morte por um triz, o mercenário Tyler Rake encara mais uma missão perigosa: resgatar a família de um criminoso implacável.

Novo lançamento da Netflix, Resgate 2 parecia ser apenas mais um filme de ação genérico desses que aparecem de vez em quando no streaming, como o recente Ghosted. Mas existe um plano sequência de 21 minutos que coloca Resgate 2 em um patamar um pouco acima da média.

Resgate 2, claro, é continuação de Resgate, de 2020, ambos dirigidos por Sam Hargrave e estrelados por Chris Hemsworth. Vi o primeiro filme no meio da pandemia, tempos meio confusos, heu tinha dado um tempo das críticas aqui no heuvi (acho que foi a única época que fiquei sem escrever em quase 15 anos de site). Mas não esqueci do filme no top 10 de 2020. E digo mais: ele entrou no top 10 por causa de um bom plano sequência de tiro porrada e bomba durante vários minutos.

E sabe aquela coisa que falam sobre continuações em Hollywood? A continuação tem que ser maior, mais intensa? Então, aqui tem um plano sequência absurdo! São 21 minutos que começam com uma perseguição nos corredores de uma prisão, briga mano a mano, briga generalizada (com dezenas, talvez centenas de extras), tiros, explosões, fogo, depois perseguição de carro, depois fuga num trem sendo perseguido por helicópteros – tudo isso sem cortes!

Ok, a gente sabe que teve cortes. Vários. Toda vez que a câmera faz um pan, ou um close, ou passa alguma coisa na frente, pode cortar. Mesmo assim, o plano seguinte tem que seguir o mesmo ritmo do anterior, ou seja, a concepção da parada tem que ser uma coisa só. Respeito alguém que concebeu algo deste porte – segundo o imdb, demoraram de 4 a 5 meses ensaiando, e 29 dias filmando a sequência!

(Se tenho uma crítica a esse plano sequência é que começa no fim da madrugada, ainda escuro, e começa a amanhecer. E amanhece muito rápido.)

Quando acabou essa sequência, fiquei com pena de não estar vendo isso num cinema, numa tela grande, apreciando uma cena dessas como deveria ser apreciada. Mas depois fiquei feliz por estar no streaming, porque pude voltar e rever… 🙂

Agora, o problema de ter uma sequência dessas na primeira metade do filme é que depois o filme fica sem graça. O plano sequência começa em 26:17 e termina em 47:24, e os créditos começam em 1:51:05. Ou seja, ainda tem mais de uma hora de filme onde vemos sequências genéricas de ação. E a comparação fica na cabeça. E não estamos falando de comparar com outros grande filmes de ação como John Wick, The Raid ou Atômica; estamos comparando com a primeira metade do filme!

A segunda metade do filme é inferior, mas ainda tem uma boa sequência de ação. Porém, na minha humilde opinião, Resgate 2 ia fluir melhor se o grande plano sequência fosse mais pro final do filme.

Ok, chega de plano sequência. E o resto? Bem, Resgate 2 tem um roteiro bem simples, que se baseia num problema de maniqueísmo onde o vilão é malvado, muito malvado. Podiam ter dado alguma profundidade ao antagonista, ficou caricato.

O elenco se baseia na figura de Chris Hemsworth, que é bom ator, carismático e funciona muito bem nas cenas de ação. O resto do elenco principal é de nomes desconhecidos. Olga Kurilenko tem um papel menor, como a ex esposa do protagonista; Idris Elba aparece pouco, seu personagem está apenas querendo direcionar uma nova franquia.

A história se fecha, mas abre espaço pra um terceiro filme. Será que teremos outro plano sequência de explodir cabeças?

Air: A História Por Trás do Logo

Crítica – Air: A História Por Trás do Logo

Sinopse: Segue a história do vendedor de calçados Sonny Vaccaro e como ele liderou a Nike em sua busca pelo maior atleta da história do basquete: Michael Jordan.

A história de um contrato entre uma empresa de tênis e um jogador de basquete pode gerar um bom filme?

Hoje, em 2023, a gente sabe que Michael Jordan é o maior nome da história do basquete, e sabe que a Nike é uma marca gigante, e também sabe que o tênis Air Jordan é talvez o tênis mais vendido da história. Dirigido por Ben Affleck, Air: A História Por Trás do Logo (Air, no original) volta pra 1984, época que Michael Jordan era apenas uma promessa, e que a Nike não era um grande nome no basquete. E vemos as negociações para se chegar a esse contrato que gerou o famoso tênis.

(É curioso analisar o filme com o que a gente já sabe hoje. Essa negociação podia ser um fracasso se o Michael Jordan não vingasse. Outro jogador que era promessa e foi citado no filme como uma das opções era Mel Turpin, cuja carreira nunca decolou. Imagina se a Nike investisse todos os seus esforços num jogador assim?)

Sim, é pouco. Não temos grandes plot twists, não temos grandes momentos de tensão ou de ação. Então, por que muita gente elogia esse filme? Porque, apesar de simples, é uma história bem contada.

Além de ser uma história bem contada, Air ainda traz dois grandes trunfos. Um deles é a perfeita reconstituição de época. Tudo – figurinos, penteados, props – tudo está muito bem feito. E o filme ainda usa trechos de comerciais da época e tem uma trilha sonora repleta de músicas pop que tocavam nas rádios.

O outro trunfo é o elenco. Não sei se é porque o diretor também é ator, mas não é qualquer filme que conta com Matt Damon, Jason Bateman, Viola Davis, Chris Messina e Chris Tucker – todos estão bem. Ben Affleck também está no elenco, num papel secundário (e com uma caracterização bem esquisita).

(Curiosamente, o próprio Michael Jordan não aparece direito. Está sempre de costas ou atrás de alguém, nunca vemos o seu rosto. Jordan virou muito coadjuvante no filme sobre o seu tênis. Segundo o imdb, Ben Affleck teria dito: “Michael Jordan é tão famoso que eu realmente senti que se algum dia víssemos um ator interpretando-o, seria difícil fazer o público suspender sua descrença, porque, na minha opinião, não há como convencer ninguém de que alguém que não é Michael Jordan é Michael Jordan.“)

Na minha humilde opinião, Air não é um grande filme. Mas é uma opção honesta, dificilmente alguém vai desgostar do filme. Em cartaz no Amazon Prime.

Elementos

Crítica – Elementos

Sinopse (imdb): Em uma cidade onde cidadãos de fogo, água, terra e ar vivem juntos, Faísca, uma jovem impetuosa, e Gota, um cara que segue o fluxo da vida, irão descobrir algo elementar: o quanto eles têm em comum.

Às vezes, o rótulo “o novo filme da Pixar” pode atrapalhar. Porque a gente se lembra de Toy Story, Monstros S.A., Wall E, Divertida Mente, Os Incríveis, Up, Soul, e às vezes o novo filme é um filme bem bobinho, como é o caso deste Elementos (Elemental, no original).

A direção é de Peter Sohn, que fez O Bom Dinossauro, filme que IMHO é um dos piores do catálogo da Pixar. Não só é um filme besta, que parece uma versão de Procurando Nemo com sequências tiradas de O Rei Leão, como tem algumas cenas meio bizarras se a gente pensar que é um desenho pra crianças (tem um animal sendo decepado, e tem uma cena onde os personagens experimentam efeitos alucinógenos que funcionam como drogas).

Elementos não é tão ruim quanto O Bom Dinossauro. Mas ainda falta muito pra ser um grande filme. O grande problema aqui é o roteiro. Pra começar, a divulgação do filme tenta forçar uma barra pra falar dos quatro elementos, mas o filme só foca em dois (fogo e água). Aí na porta do cinema tem quatro cartazes, dois deles com os personagens principais, os outros dois com personagens bem secundários (tem um poster do Turrão (acho que e esse o nome), personagem que acho que só aparece umas três vezes, durante poucos segundos cada vez.)

Mas calma que piora. Os dois protagonistas não têm nenhum carisma. O Gota é um cara bobão, que só se envolveu com a Faísca porque a prejudicou intencionalmente. A Faísca também não é uma boa personagem, se irrita por qualquer bobagem, mas é menos ruim que o Gota. Mas o ponto é: são personagens que não cativam o espectador.

Ok, entendo que existe um paralelo sobre racismo / xenofobia. Me pareceu que o povo do Fogo era um paralelo com povos árabes, pelo som do dialeto deles e pelo visual de sua terra natal. Mas, lendo no imdb, o diretor Peter Sohn disse que se inspirou na sua família, que veio da Coreia sem saber falar inglês, se estabeleceu no Bronx e abriu um mercado com o nome da família. Até aí, ok. A gente vê que o povo do Fogo sofre preconceito – em uma cena, vemos que eles são proibidos de entrar em certos lugares. Mas… Se era pra ser um povo que sofre com o preconceito, como é que a Faísca é tão bem recebida pela família do Gota, vários seres de Água que são extremamente simpáticos com a pessoa do Fogo. Se era pra mostrar preconceito, pelo menos um dos personagens de Água deveria tratá-la mal.

Além disso, a trama é extremamente previsível. Cada coisa que aparece na tela já telegrafa para um momento futuro. Zero surpresa. E o fato da trama não ter um antagonista também é ruim. Se a gente parar pra pensar, o vilão do filme é a falta de manutenção do encanamento da cidade. Sim, o vilão é a Cedae.

Dito tudo isso, precisamos admitir que o visual do filme é fantástico. Procurando Nemo, de 2003, tinha 923 cores. Agora, vinte anos depois, Elementos tem 151 mil cores. E a gente vê isso na tela, o visual da cidade dos Elementos é de encher os olhos. Várias cenas você pode pausar e criar um quadro pra pendurar na parede. Nesta parte técnica, o filme realmente é impressionante.

(Um amigo comentou, depois da sessão, que não gostou dos personagens do Fogo, porque é um visual meio 2D em um filme onde tudo tem profundidade. Mas isso não me incomodou, já que o fogo não tem exatamente uma forma.)

Outra coisa divertida são pequenos detalhes ao longo da projeção fazendo piadinhas sobre os elementos, como por exemplo um dirigível zepelin que transporta personagens de Ar que esvazia quando os passageiros saem, mas infla novamente com os novos passageiros.

Mas é pouco. No fim, fica a sensação de um produto bonito, mas vazio.

Por fim, não cheguem atrasados na sessão. Antes do filme, tem um divertido curta com o Carl, de Up.

The Flash

Crítica – The Flash

Sinopse (imdb): Barry Allen usa sua supervelocidade para mudar o passado, mas sua tentativa de salvar sua família cria um mundo sem super-heróis, forçando-o a correr por sua vida para salvar o futuro.

É complicado falar de um filme como este The Flash. O filme é divertido, mas não é nada demais. Mas, assim como aconteceu com o filme do Homem Aranha que trouxe os três Aranhas juntos, The Flash ganha pontos pelas referências e easter eggs. E não vou falar dos easter eggs por causa de spoilers!

Na minha humilde opinião, o quanto menos a gente souber sobre um filme, melhor será a experiência de vê-lo. Lembro de dois exemplos que aconteceram mais ou menos na mesma época, as aparições do Homem Aranha em Guerra Civil e da Mulher Maravilha em Batman vs Superman, duas participações que seriam grandes surpresas, mas estavam nos trailers dos respectivos filmes! E aqui acontece o mesmo: temos o Batman do Michael Keaton de volta. Isso seria uma grande surpresa, mas está em toda a divulgação do filme.

Então, o meu limite de spoiler será o trailer. O que aparece no trailer será comentado aqui. O resto, fica a recomendação: fujam de spoilers e vejam no cinema!

A direção é de Andy Muschietti (Mama, It A Coisa), confirmando uma curiosa predileção da DC por diretores que vieram do terror – Aquaman foi dirigido por James Wan (Sobrenatural, Invocação do Mal); Shazam! foi dirigido por David F. Sandberg (Quando as Luzes se Apagam, Annabelle 2). O filme segue o universo de Liga da Justiça (incluindo o Alfred do Jeremy Irons e o Batman do Ben Affleck) – tem até uma cena copiando o estilo do Mercúrio dos filmes do X-Men – até que o Flash volta no tempo e muda a linha temporal.

Sim, é mais um filme de multiverso, o tema está na moda. Está rolando no MCU, no desenho do Aranhaverso, tem até no filme ganhador do último Oscar, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. E o multiverso aqui gerou uma cena bem engraçada usando filmes clássicos dos anos 80 com atores trocados.

Dois comentários sobre este multiverso. Um deles é que a gente aqui tem um novo conceito de viagem no tempo. Ate uns anos atrás, todos os filmes se baseavam apenas em dois conceitos: “Exterminador do Futuro” (o passado e imutável, tudo vai acontecer de novo da mesma forma) ou “De Volta Para o Futuro” (suas ações no passado vão modificar o futuro). Vingadores Ultimato trouxe um novo conceito, com a viagem em universos paralelos. Aqui em The Flash, essa viagem em universos paralelos é adaptada para poder usar um Batman mais velho.

O outro comentário é sobre o timing errado. A gente acabou de ver o Aranhaverso 2 (ainda está em cartaz nos cinemas), e aqui tem uma situação quase igual: “alguns acontecimentos da vida do herói precisam acontecer para a sua formação”. Sei que não era pra parecer uma cópia, mas como foi lançado depois, parece plágio.

Agora, como falei, o filme é divertido, mas metade da graça do filme está no “massaveísmo” dos easter eggs. Tipo, é muito legal rever o Michael Keaton como Batman, e a trilha sonora usada nas suas cenas é a trilha clássica do Danny Elfman (trilha muito mais marcante que a do próprio filme). E as cenas com os easter eggs fizeram a plateia urrar de emoção durante a sessão de imprensa. Mas acredito que esse “massaveísmo” não vai durar para quem for ver o filme uma segunda vez.

Tem outro problema que precisa ser citado. O cgi aqui e tão pobre que é difícil de acreditar que estamos vendo uma super produção de milhões de dólares. As cenas da Supergirl lutando parecem ser feitas com tecnologia de Playstation! E algumas das cenas onde vemos dois Barrys ficaram bem artificiais.

(Um comentário bairrista sobre a Supergirl. Quase que tivemos uma brasileira no papel. E essa informação não foi tirada de um site brasileiro de fofocas, está no imdb: “Bruna Marquezine and Isis Valverde. The two actresses were top choices for the role, but the COVID-19 pandemic prevented them from traveling to London.” Pena. Pelo menos Bruna Marquezine conseguiu um papel importante em outro filme da DC, o Besouro Azul.)

Aproveito pra falar do elenco. Ezra Miller em dose dupla talvez esteja um pouco acima do tom, mas acredito que tenha sido proposital – o segundo Barry e irritantemente bobão. Michael Keaton está ótimo, como sempre; Sasha Calle, que faz a Supergirl, tem um papel bem menor. Também no elenco sem spoilers, Maribel Verdú, Kiersey Clemons, e Ron Livingston. O resto não vou comentar. 😉

No fim, fica a sensação de filme divertido mas que só será lembrado pelos easter eggs. E também pelo cgi ruim.

Hypnotic

Crítica – Hypnotic

Sinopse (imdb): Um detetive investiga um mistério que envolve sua filha desaparecida e um programa secreto do governo.

Fim do ano passado fiz um top 10 de expectativas pra 2023, mas fugindo de filmes óbvios. Citei este Hypnotic, só por ser “o novo filme do Robert Rodriguez”. Bem, o filme está aí, é hora de ver se acertei no meu chute.

Segundo o imdb, Robert Rodriguez tinha esse roteiro desde 2002. Curioso, porque Hypnotic não tem “cara de Robert Rodriguez”. Parece mais um telefilme querendo copiar Christopher Nolan, com toques de Amnésia e Inception.

Aliás, falando no diretor de Inception, Hypnotic tem um defeito comum em filmes do Nolan: tudo é explicado demais. A gente é apresentado a um mundo onde algumas pessoas têm poderes que as transformam quase em super heróis, e o roteiro traz mais diálogos do que o necessário. Um exemplo claro: na parte final, depois que tudo já se resolveu, ainda tem um personagem falando tudo o que a gente já tinha entendido. A trama traz alguns plot twists, mas também tem algumas inconsistências aqui e ali. É, história confusa com diálogos ruins – talvez tivesse sido melhor uma nova revisão nesse roteiro antes de filmarem.

(Robert Rodriguez é um workaholic, ele aqui está creditado como diretor, roteirista, produtor, diretor de fotografia e editor. E três de seus filhos estão trabalhando no filme: Rebel Rodriguez fez a trilha sonora, Racer Rodriguez está na produção e Rhiannon Rodriguez fez os storyboards. Tem um Sid Rodriguez na equipe de efeitos especiais, mas não sei se é parente, deve ser.)

O elenco é bom. Ben Affleck parece que quer continuar fazendo o Bruce Wayne, enquanto Alice Braga junta mais um filme fantástico ao seu currículo. Também no elenco, William Fichtner, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey, JD Pardo e Dayo Okeniyi.

Hypnotic tem uma cena pós créditos que pode abrir espaço pra uma continuação. Mas sinceramente espero que essa continuação não venha.

No fim, fica a sensação de é apenas uma cópia barata do Nolan. Pena, queria voltar a ver Robert Rodriguez fazendo grandes filmes.

Sangue e Ouro

Crítica – Sangue e Ouro

Sinopse (imdb): No fim da Segunda Guerra Mundial, um desertor alemão e uma jovem se envolvem em uma batalha sangrenta com um grupo de nazistas em busca de ouro escondido.

Lembro que no meio dos anos 90, depois do sucesso de Cães de Aluguel e Pulp Fiction, surgiram vários filmes com o “estilo Tarantino”: violência, personagens marginais, diálogos cool, trilha sonora moderninha, edição não convencional e às vezes fora da ordem cronológica, e, de vez em quando, atores cultuados mas com a carreira em baixa. Cheguei a fazer um top 10, onde citei filmes como Get Shorty O Nome do Jogo, Smokin’ Aces, Xeque Mate e Coisas Para Fazer em Denver Quando se Está Morto.

Este novo Sangue e Ouro (Blood & Gold, no original) podia estar numa lista daquelas. Porque deu a impressão de que o diretor Peter Thorwarth (Céu Vermelho-Sangue) quis fazer um novo Bastardos Inglórios.

Na Alemanha, no fim da Segunda Guerra Mundial, um soldado desertor é perseguido pela SS. Ele acaba se unindo a uma fazendeira que cuida do irmão. Os soldados estão atrás do desertor e também de barras de ouro escondidas em algum lugar da cidade.

A história é simples, basicamente isso aí. Uma coisa boa é que além dos alemães “do bem” e dos alemães “do mal”, tem alguns que estão no meio do caminho, e isso pode direcionar a história pra rumos fora do óbvio. Às vezes o filme tem cara de faroeste, e isso é reforçado pela trilha sonora com cara de Ennio Morricone. E nem todas as mortes acontecem de maneira previsível. Ah, é uma boa avisar: o filme tem algumas cenas bem violentas.

No elenco, heu não conhecia ninguém. O protagonista Robert Maaser tem um bom porte físico (ele me lembrou Tom Hopper, de Umbrella Academy), o cara pode fazer filmes de ação em Hollywood. Seu par, Marie Hacke, funciona pro que o filme pede. E são dois vilões. Um deles é forçado, caricato demais. Gostei do outro, o oficial com o rosto deformado, também caricato, mas dentro de um limite razoável.

No fim, fica uma sensação de diversão efêmera. Sangue e Ouro é correto, mas esquecível.

Transformers: O Despertar das Feras

Crítica – Transformers: O Despertar das Feras

Sinopse (imdb): Durante os anos 90, uma nova facção de Transformers – os Maximals – junta-se aos Autobots como aliados na batalha pela Terra.

Heu nunca tive expectativa de que este novo Transformers seria um bom filme. Sim, Transformers: O Despertar das Feras é ruim como previsto. Mas acontece uma coisa no fim do filme que heu preciso comentar aqui. Então vou falar primeiro sem spoilers, mas no fim do texto preciso comentar isso.

Vamulá. Heu nunca gostei do conceito básico de um Transformer. É um alienígena, inteligente e poderoso, que vem pro nosso planeta pra virar meio de transporte. Um alienígena se viesse pra cá, ou tentaria dominar o planeta, ou viraria amigo. Mas um ET que vem pra cá e vira Uber, pra mim não rola. Esse conceito pode funcionar para um brinquedo, mas, para filme, não rola.

Mas, galera gosta, e os filmes têm boas bilheterias. Sendo assim, vão continuar fazendo mais e mais.

Este novo traz algumas mudanças estruturais. O diretor não é mais Michael Bay (que dirigiu os cinco primeiros filmes), e todos os personagens humanos são novos. Mas, pra mim, a melhor novidade é a duração: menos de duas horas (os cinco filmes dirigidos por Bay têm entre 2h24 e 2h45, são intermináveis!).

Mais curto, mas não exatamente melhor. Dirigido por Steven Caple Jr. (Creed 2), Transformers: O Despertar das Feras (Transformers: Rise of the Beasts, no original) tem um roteiro tão ruim quanto os outros filmes.

Ok, sei que estou vendo um filme onde alienígenas são robôs que viram carros. Mas estou falando da lógica interna proposta pelo próprio filme. Um exemplo: os robôs “do mal” voam. Aí eles viram carros e começa uma perseguição numa estrada. Mas explodem a estrada, e agora os robôs maus não podem alcançar os bonzinhos. Mermão, eles voam! É só voltarem a ser robôs!

Tem outros detalhes que não têm lógica mas a gente acaba deixando pra lá, tipo, os Autobots são robôs que viram carros pra se esconder, enquanto os Maximals ficam usando a forma animal no dia a dia, e só viram robôs de vez em quando. Qual seria a forma “principal” deles?

A sessão de imprensa foi dublada, o que atrapalha duas coisas. Uma delas é que Bumblebee não fala, ele aqui repete trechos de filmes (disseram que ele passou um tempo num drive in). E, dublado, fica difícil de reconhecer quais filmes foram citados. O outro problema é que perdemos um bom elenco de dubladores: Ron Perlman, Michelle Yeoh e Peter Dinklage.

Vamos ao que me incomodou, mas antes os avisos de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

O filme tem um vilãozão que é um robô gigantesco que come planetas (sim, a Marvel tem
um vilão igual, o Galactus). O plot fala sobre uma chave que precisava se escondida, porque o vilãozão ia usar a chave pra encontrar o planeta Terra. Os robôs “do mal” acham a chave e chamam o vilãozão. Quando este está colado na Terra, os robôs bonzinhos quebram a chave, e o vilãozão vai embora.

Não vou nem entrar no conceito das leis da física, porque um robô do tamanho do planeta colado aqui ia acabar com a vida na Terra. Isso é filme sobre robô alien que vira Uber, então deixa a física pra lá. Mas, mais uma vez, dentro da lógica proposta pelo filme: se o vilãozão já chegou, não adianta mais destruir a chave. Ele já está aqui, já era.

Conversei com algumas pessoas ao fim da sessão de imprensa, e ninguém conseguiu explicar qual era a lógica daquela chave. E sabe quando um filme piora quando o fim é ruim? Poizé. Transformers: O Despertar das Feras era um filme fraco, mas virou um filme ruim depois desse final.