Ninguém Vai Te Salvar

Crítica – Ninguém Vai te Salvar

Sinopse (imdb): Uma mulher reservada e com transtorno de ansiedade deve lutar contra um alienígena que chegou em sua casa.

Ah, o mercado… Filmes meia boca como Jogos Mortais X vão pro cinema, enquanto filmes muito melhores como este Ninguém Vai te Salvar vão direto pro streaming. Pena…

Ninguém Vai te Salvar é o segundo longa metragem dirigido por Brian Duffield, roteirista de A Babá, Ameaça Profunda e Amor e Monstros. Gostei do cara, vou procurar o primeiro filme que ele dirigiu, Espontânea, que, segundo a sinopse, se passa num mundo onde pessoas simplesmente explodem do nada, sem aviso prévio.

Fiquei na dúvida sobre se seria spoiler comentar sobre os aliens. Mas, falar sobre Ninguém Vai te Salvar e não mencionar os aliens seria um texto muito curto: “não leiam NADA e vejam o filme!” Mas vou comentar o mínimo para não estragar a experiência de ninguém.

Uma característica curiosa de Ninguém Vai te Salvar é ser um filme sem diálogos. Segundo o imdb, apenas oito palavras são ditas ao longo de todo o filme! A protagonista fica quase o filme todo só interagindo com os alienígenas, que falam uma língua incompreensível. E existe algo no passado dela, então nas poucas cenas onde ela tem alguma interação com os habitantes da cidade, essa interação é truncada.

Ninguém Vai te Salvar ainda traz alguns daqueles detalhes bem filmados do jeito que heu gosto. Um exemplo: em uma cena, a protagonista está num ônibus e descobre um alienígena, e ela quer fugir do ônibus. Vemos então o ônibus parado, a câmera se afasta e só então vemos que ela já está correndo. Detalhes que não são essenciais, mas engrandecem a experiência de se assistir um filme.

E isso porque não estou falando da sensacional primeira meia hora de filme, que mostra a casa sendo invadida e a protagonista tentando escapar. Sequência tensa, e com um desfecho onde quase dei um salto da poltrona.

Sobre o cgi dos aliens: em algumas cenas ficou meio falso. Mas por outro lado às vezes os vemos com movimentos propositadamente estranhos. Isso amenizou as falhas. Ah, gostei de ter formatos diferentes de aliens!

Além da aparência dos ets lembrar o clássico “alien grey”, o plano deles também lembra os filmes de invasão alienígena dos tempos da guerra fria, onde humanos são “alterados” para aceitarem a nova situação, em uma metáfora sobre o comunismo. E sim, o clima às vezes lembra a série Twilight Zone.

No elenco, todos os elogios possíveis à Kaitlyn Dever (Ingresso Para o Paraíso), que passa quase o filme inteiro sozinha e sem falar com ninguém. Ela está excelente!

Preciso falar do final do filme, mas sem entrar em spoilers. É um final que vai dividir opiniões, e preciso admitir que estou no grupo que não gostou do rumo tomado. Mas, em defesa do filme, sempre defendi quando filmes pegam caminhos fora do óbvio, então não vou reclamar da decisão do diretor.

Ninguém Vai te Salvar está no Star+, ou seja, pouca gente vai ver. Ah, o mercado…

Jogos Mortais X

Crítica – Jogos Mortais X

Sinopse (imdb): John Kramer, doente e desesperado, viaja para o México para um procedimento médico experimental, na esperança de uma cura milagrosa para seu câncer, apenas para descobrir que toda a operação é uma farsa para fraudar os mais vulneráveis.

Sim, Jogos Mortais X. Dez! Muita preguiça, mas, vamulá.

Já comentei aqui outras vezes, vou trazer um trecho do que escrevi sobre o nono filme “Gosto muito do primeiro Jogos Mortais, um filme tenso, bem filmado, e com um dos melhores plot twists do cinema recente. Mas o segundo é pior que o primeiro, o terceiro é pior que o segundo, o quarto é pior que o terceiro, e por aí vai.”

Ou seja, fui ao décimo filme com expectativa zero. E, vendo sob este ângulo, Jogos Mortais X nem é tão ruim. Não, não é bom, mas tem coisa pior por aí.

Jogos Mortais X (Saw X, no original) se passa entre o primeiro e o segundo filmes. Pra quem não acompanhou a saga, ou pra quem se esqueceu: John Kramer, o Jigsaw, foi diagnosticado com câncer terminal e resolveu criar as armadilhas, sempre com a ideia torta de que ele está ajudando os outros a serem pessoas melhores. Neste décimo filme ele está enfrentando sua doença, e resolve “ajudar” pessoas que oferecem falsas curas.

Se por um lado é legal ver a motivação do Jigsaw para alcançar suas vítimas, por outro lado Jogos Mortais X perde tempo demais nesse setup. Quase meia hora onde quase nada acontece, só com o tratamento do cara. Essa parte do filme é bem chata. E depois o espectador ainda precisa de muita boa vontade pra acreditar que ele ia conseguir construir todas as armadilhas, em poucos dias, em um país estrangeiro.

Agora, se o espectador comprar essa ideia, aí sim a gente tem o que todo fã da franquia quer ver: armadilhas criativas e sádicas, com muito “torture porn”.

Não tem mais muito o que se falar. Achei que o plano do John Kramer tinha muitas variáveis e por isso tinha uma grande chance de dar errado, mas, isso também acontece em muitos outros filmes. Tem uma espécie de “plot twist” relativo a um novo personagem no ambiente das armadilhas, mas era algo bem óbvio.

No elenco, o mesmo Tobin Bell que fez o Jigsaw nos outros filmes aqui tem uma participação maior, o filme quer que o espectador o veja como vitima e não como vilão. Shawnee Smith, que estava em alguns filmes (não vou lembrar quais) também tem um papel importante. E tem uma cena pós créditos que também traz outro nome que já esteve presente na franquia. O resto do elenco é de desconhecidos.

Enfim, como falei lá em cima, Jogos Mortais X nem é tão ruim. Mas é medíocre. E dá pena saber que existem filmes melhores indo direto pro streaming, como Ninguém Vai te Salvar, filme que comentarei em breve.

Resistência

Crítica – Resistência

Sinopse (imdb): Em meio a uma futura guerra entre humanos e inteligência artificial, Joshua é recrutado para localizar e matar o Criador – misterioso arquiteto responsável por desenvolver uma arma capaz de acabar com o confronto e com toda a humanidade.

Esta nova ficção científica prometia ser um grande marco no cinema. Afinal, a gente teria algo incomum hoje em dia: um blockbuster “independente”. Hoje quase todos os grandes filmes são continuações, remakes, reboots, spin offs, adaptações de livros, games, HQs, novos filmes usando personagens conhecidos… É difícil ver algo novo, sem nenhuma conexão com nada já publicado (o mercado explica isso, é mais fácil vender um filme que as pessoas já tem alguma conexão).

Tecnicamente falando, Resistência (The Creator, no original) é um filme “independente”, afinal, não traz conexão com nenhuma outra obra publicada. Mas, o problema é que tudo parece reciclado. Resistência parece uma mistura de Matrix com Exterminador do Futuro com Blade Runner com Distrito 9 com IA com Ex Machina. Coloca tudo no liquidificador e bate, vai sair algo parecido com isso.

Não só o roteiro parece uma colagem de outros filmes, como tem algumas coisas meio estranhas. Vou dar só um exemplo pra não entrar em spoilers: no início do filme comentam que as missões na Ásia não têm bases americanas perto, o mais perto seria a 600 km. Mas mais pro fim do filme aparecem veículos americanos enormes, se as bases eram longe, como aqueles veículos chegaram lá?

Se por um lado o roteiro de Resistência deixa a desejar, por outro lado os efeitos especiais são de cair o queixo. Absolutamente tudo o que esta na tela tem um visual impressionante: desde os diferentes tipos de robôs e veículos, até as construções e paisagens futuristas e grandiosas. Sei que ainda é cedo e nem sei quais filmes vão concorrer, mas arrisco dizer que Resistência é um forte candidato ao Oscar de melhores efeitos especiais.

Resistência foi escrito e dirigido por Gareth Edwards, o mesmo de Monstros, Godzilla e Rogue One. O que interessa ao meu comentário é que é o mesmo diretor de Monstros, porque e Resistência traz duas semelhanças. Uma está na qualidade dos efeitos, mesmo usando orçamento reduzido. Monstros tinha orçamento de filme independente e trazia efeitos especiais excelentes; Resistência tem orçamento inferior à maioria dos blockbusters atuais e isso definitivamente não aparece na tela. A outra semelhança é no estilo de filmagem, que usou tática de cinema de guerrilha. Em Monstros, em algumas cenas, eram só o diretor, uma pessoa da equipe técnica e os dois atores. Boa parte do que está na tela eram cenários e pessoas “reais”, que não sabiam que estavam participando de um filme. Resistência usou a mesma estratégia, usando câmeras pequenas e filmagens em locações, que foram alteradas em pós produção – o que gerou um resultado bem melhor do que usar tela verde.

O elenco traz aquele batido clichê do adulto que acompanha uma criança especial (como vimos recentemente em Mandalorian e The Last of Us). O problema deste clichê é que você precisa se afeiçoar aos personagens. E achei que faltou carisma ao protagonista John David Washington. Ok, admito um pouco de head canon aqui, porque sempre comparo John David com seu pai, Denzel Washington – é difícil quando você é filho de um ator do porte do Denzel, porque as comparações serão inevitáveis. Mas, head canon à parte, John David é bom, mas não me fez torcer por ele. Também no elenco, Gemma Chan, Allison Janney, Ken Watanabe, Ralph Ineson e a menina Madeleine Yuna Voyles.

Sei que falei mal do roteiro de Resistência, mas mesmo assim ainda recomendo a ida ao cinema. Não por ser um filme “inovador” ou “revolucionário”, mas pele visual. Esse visual vale o preço do ingresso!

O Continental: Do Mundo de John Wick

Crítica – O Continental: Do Mundo de John Wick

Sinopse (imdb): O Continental é uma rede de hotéis localizados em todo o mundo que funciona como um território neutro para membros do submundo do crime. Eles são frequentados por muitos assassinos notórios.

Falei ontem sobre Os Mercenários 4. Agora pensem em uma situação curiosa: de um lado tem um filme, pra cinema, estrelado por Sylvester Stallone e Jason Statham; do outro lado tem uma série de TV, spin off de um filme de ação, e o único nome conhecido é o Mel Gibson, em um papel secundário. Alguém poderia imaginar que o seriado ia ser muito melhor?

O Continental: Do Mundo de John Wick (The Continental: From the World of John Wick, no original) é um prequel de John Wick, e vai mostrar como o Winston (Ian McShane nos filmes) virou o cara tão importante que ele é em toda a saga. A série se passa nos anos 70, ou seja, provavelmente não veremos o próprio John Wick – se ele já nasceu, é apenas uma criança. Ah, o Charon, que nos filmes foi vivido pelo recém falecido Lance Reddick, também aparece. Por enquanto, só esses dois personagens.

O grande diferencial da franquia John Wick são as coreografias de luta. O primeiro filme foi dirigido por Chad Stahelski e David Leitch, os três seguintes por Stahelski (Leitch estava só na produção), e ambos têm um extenso currículo como dublês. Logicamente, eles vão querer mostrar lutas bem filmadas. Stahelski e Leitch aqui são só produtores executivos, a direção é de Albert Hughes (O Livro de Eli), que, curiosamente, não tem nenhum crédito como dublê. Mas ele conseguiu captar muito bem o estilo dos filmes.

Claro que o que mais chama a atenção são as cenas de luta – temos algumas excepcionalmente bem filmadas. Mas heu ainda citaria como destaque toda a ambientação nos anos 70, incluindo a trilha sonora que alterna entre disco music e clássicos do rock setentista. O mesmo falo sobre a fotografia – o visual da série lembra muito o dos filmes. Pra completar, O Continental: Do Mundo de John Wick ainda traz alguns personagens bem esquisitos, o que é coerente com o conceito dos filmes.

Um parágrafo à parte pra falar dos doze primeiros minutos do primeiro episódio, que começa com um plano sequência muito bom, passeando por uma festa. E pouco depois tem uma sequência de tiro porrada e bomba que vai agradar até o mais xiita fã dos filmes.

Se heu puder fazer uma crítica: não gostei da perseguição de carros. Entendo que deve ter tido um problema orçamentário que limitou os takes, mas, sei lá, se não tinha dinheiro pra fazer a cena, era melhor trocar por outra coisa. Não chega a estragar o episódio, mas precisamos reconhecer que ficou estranha.

O Continental: Do Mundo de John Wick será uma série curta, apenas três episódios. Mas, cada episódio é quase um filme de longa metragem – o primeiro, “Brothers in Arms” (único disponível até agora) tem uma hora e vinte e seis minutos. A boa notícia (pelo menos pra mim) é que só tem um episódio por semana – não gosto do conceito de maratonar séries, prefiro um tempo pra digerir o que vimos.

No elenco, o único nome conhecido é Mel Gibson, num papel importante mas secundário. O resto do elenco é de nomes pouco conhecidos. Gostei das atuações de todos, mas, tive um problema, achei que alguns atores são meio parecidos, isso me causou uma certa confusão (os dois que roubam o artefato na primeira sequência não são “iguais”?). Nomes pouco conhecidos, mas, já comentei antes que minha memória bizarra guarda alguns nomes, né? Sabe a irmã de cabelo esquisito, que aparece se alongando? É a Marina Mazepa, que fez a criatura em Maligno.

O primeiro episódio termina com um ótimo gancho (com uma frase usada pelo próprio John Wick, “guns, a lot of guns”). Aguardo ansiosamente pelo segundo!

Os Mercenários 4

Crítica – Os Mercenários 4

Sinopse (imdb): O lendário grupo de mercenários liderado por Barney Ross tem uma nova missão: impedir o início da Terceira Guerra Mundial. Quando as coisas saem do controle, Christmas e os membros da equipe são recrutados para impedir que o pior aconteça.

Quarto filme da franquia Mercenários. Alguém esperava um grande filme?

Gosto do conceito de trazer velhos “action heroes” dos anos 80 e 90 para um filme galhofa. Então vamos a um breve recap dos outros três filmes.

Lançado em 2010, o primeiro Mercenários trazia os “velhos” Sylvester Stallone, Dolph Lundgren, Eric Roberts e Mickey Rourke, auxiliados pelos mais novos Jason Statham, Jet Li, Randy Couture, Steve Austin e Terry Crews. Roteiro? Pra que? A graça era ver o elenco se divertindo. E ainda tinha uma cena com participações especiais de Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis!

Lançado dois anos depois, o segundo filme tinha Jean-Claude Van Damme, Chuck Norris e uma participação maior de Schwarzenegger e Willis. E trazia piadas ótimas, com várias referências a outros filmes dos veteranos atores. E em 2014 tivemos o terceiro filme. Se por um lado era mais fraco porque tentava introduzir uma nova geração, por outro lado trazia Antonio Banderas, Wesley Snipes, Harrison Ford e Mel Gibson como vilão.

Agora, quase dez anos depois, temos um quarto filme, com Megan Fox e 50 Cent. Nada contra, mas, não seria mais legal se tivesse Kurt Russell, ou Christophe Lambert, ou Eddie Murphy, Jean Reno, Carl Weathers, Steven Seagal, ou mesmo Sigourney Weaver ou Linda Hamilton (Lucy Lawless foi Xena nos anos 90, será que entra?). Cadê aquela proposta de juntar os velhos? Pra piorar, os velhos que estavam nos outros filmes não estão aqui, só sobrou o Dolph Lundgren – Stallone passa a maior parte do filme fora.

Os filmes da franquia sempre tiveram roteiros fracos, mas o elenco de veteranos compensava. Vou transcrever uma frase que escrevi em 2010, comentando o primeiro filme: “Será que alguém vai ver Os Mercenários por causa da história? Não acredito. O legal aqui é ver o dream team dos filmes de ação!” Desculpa, mas Megan Fox e 50 Cent estão bem longe deste dream team.

Tem outros dois problemas, mas preciso ser justo e reconhecer que são problemas comuns em qualquer filme de ação Hollywoodiano. Um são as sequências de luta. Hollywood filma cenas de ação picotadas, porque normalmente os atores não sabem lutar. E aqui temos dois atores orientais que são muito bons de luta, o Tony Jaa e o Iko Uwais que sabem muito bem fazer cenas de luta. Trazer dois atores deste porte e não mostrá-los lutando do modo certo é um grande desperdício.

Outro problema são os antagonistas. Meia dúzia de mocinhos enfrentam centenas de vilões, e todos são incompetentes. Problema recorrente em Hollywood (inclusive comentei sobre este problema no texto de Mercenários 3). Pra piorar, tem uma longa sequência num navio, e parece que o navio só tinha soldados. Cadê marinheiros, cozinheiros, faxineiros, cadê a tia do café? Era uma boa oportunidade de colocar vilões que não têm intimidade com armas.

Junte a isso uma tela verde bem vagabunda e um roteiro que não deve ter sido revisado antes de filmar – só pra citar uma cena, um momento o vilão está enfrentando o time de mocinhos entrando no barco, e na cena seguinte parece que esqueceu disso e está negociando pelo rádio uma troca de prisioneiros. E nem vou falar das motos, convenientemente estacionadas e equipadas com metralhadoras – por que diabos aquelas motos estariam lá daquele jeito???

Minha expectativa era baixa, porque, como disse no início do texto, é o quarto filme da franquia Mercenários. Mas foi ainda pior. Mercenários virou apenas mais um filme genérico.

Agora parece que a franquia ganhou um novo “dono”, Jason Statham. Mas, sinceramente, prefiro vê-lo em Velozes e Furiosos. Galhofa sim, mas pelo menos os filmes são bem feitos.

Som da Liberdade

Crítica – Som da Liberdade

Sinopse (imdb): Um ex-agente especial do Governo Americano embarca em uma missão arriscada para resgatar crianças vítimas de tráfico infantil na Colômbia.

Vamos ao novo filme polêmico? Como sempre, vou falar antes só sobre o filme e no fim do texto comento a polêmica.

Dirigido por Alejandro Monteverde, Som da Liberdade (Sound of Freedom no original) é um drama que traz um grave problema que é pouco falado: tráfico de crianças e pedofilia. O tema é tabu e incômodo. E por isso mesmo achei uma boa ideia ser abordado num filme em cartaz nos cinemas.

Som da Liberdade se baseia na história real de Tim Ballard, que era um policial que caçava pedófilos. Até que um dia caiu a ficha: ele prende o pedófilo, mas não consegue ajudar a criança que foi sequestrada e abusada. Ele então resolve ir para a Colômbia para montar uma nega operação onde vai ao mesmo tempo capturar pedófilos e libertar crianças. E, aparentemente, essa parte foi de verdade, porque vemos nos créditos imagens supostamente da operação real.

Essa parte da operação é muito boa. Pena que a parte final do filme, na minha humilde opinião, é bem mais fraca. O filme entra num “momento Rambo” que destoa do resto do filme. Se antes era tudo crível, pé no chão, essa parte na floresta parece filme de super herói. O cara vai sozinho pra floresta e enfrenta um grupo numeroso e experiente. Não combina com o personagem apresentando anteriormente.

Mesmo assim, Som da Liberdade passa uma mensagem forte. Pena que, na minha humilde opinião, às vezes o filme força a mão no sentimentalismo. Tipo, a gente já sabe que o cara sente falta da filha todas as vezes que vê a cama vazia, o filme não precisa repetir isso várias vezes, e depois ainda mostrar o cara indo pra cama da filha. Como mensagem, ok; como cinema, foi excessivo. E, pra piorar, alguns diálogos são bem ruins e soam muito artificiais.

Algumas atuações são boas. Jim Caviezel se entrega ao papel, e está muito bem. Bill Camp, que faz o “Vampiro”, personagem que é mais ou menos um “braço direito” do protagonista na Colômbia, também está muito bem. Mira Sorvino tem um papel importante, mas aparece pouco, deve ter filmado tudo em uma única diária. Agora, os antagonistas, que fazem os pedófilos, são caricatos demais.

Sobre a polêmica. Parece que o Tim Ballard da vida real é um cara polêmico e tem muita gente que não gosta dele. Ou seja, é um filme “com torcida”: as pessoas que não gostam dele simplesmente falam mal mesmo sem ver o filme. Porque, dentro do filme, não tem absolutamente nada que contribua para a polarização.

Tem outra coisa, mas acho que entra no território das fake news. Som da Liberdade era da Fox, mas quando a Fox foi comprada pela Disney, o projeto foi engavetado – assim como outros projetos. Mas aí tem gente dizendo que a Disney recusou o filme porque apoia a pedofilia. Muita teoria da conspiração…

No meio dos créditos aparece o Jim Caviezel pedindo pra todos divulgarem o filme e convidarem amigos, para espalhar a mensagem. Ele chega a sugerir que o espectador compre um novo ingresso e dê pra alguém. Lembrei daquele filme brasileiro religioso que a igreja comprou vários ingressos e distribuiu…

One Piece

Crítica – One Piece

Sinopse (imdb): Em um mundo marítimo, um jovem capitão pirata parte com sua equipe para alcançar o título de Rei dos Piratas e descobrir o tesouro mítico One Piece.

Antes de tudo, preciso dizer que nunca vi o anime. Meus comentários serão feitos apenas sobre o que está na série da Netflix.

Nunca vi, mas posso dizer que tenho pelo menos duas conexões com o anime. Uma delas é que tenho filhos adolescentes que veem One Piece, através deles descobri que são mais de mil episódios. A outra é que estou montando uma banda pra tocar temas de anime e estamos ensaiando o tema do anime.

Mas vamos à série!

Comecei a assistir sem sem ter ideia do que ia encontrar. E preciso dizer que gostei bem mais do que achei que ia gostar. A série é ótima! Gostei dos personagens, da ambientação, dos efeitos especiais, das coreografias de luta…

Tudo é muito exagerado. Tudo, caracterizações, cenários, atuações, tudo na série está no limite da caricatura. Não conheço o original, desconfio que deve ser tão exagerado quanto – afinal, Eiichiro Oda, o criador do anime, estava perto dos roteiristas e diretores para que o resultado ficasse o mais próximo possível da sua visão. Mas independente do anime, pra mim, o tom está perfeito. A gente vê desde o início que não é pra se levar a sério. A série nunca quer passar realismo. Um exemplo claro são os telefones, que são feitos de caramujos! Outro exemplo: Sanji, um dos melhores personagens, só luta com os pés, e sempre de terno e gravata!

Todos os personagens são bons. São vários, todos são bem desenvolvidos, todos são carismáticos, lembrei da adaptação da Turma da Mônica, quando acaba a série dá vontade de conhecer melhor essa turma. Ok, gostei de todos, mas um deles gostei menos. Achei que Usopp em alguns momentos parece sobrar no grupo. Por outro lado, Zoro e Sanji são personagens excelentes, e os dois juntos são ainda melhores.

Uma curiosidade: Eiichiro Oda disse que, se fossem pessoas reais, Luffy seria brasileiro, Nami seria sueca, Zoro, japonês, Usopp, sul-africano, e Sanji, francês. É coerente, Luffy é alegre, simpático e malandro, poderia ser brasileiro.

São 8 episódios. Todos os episódios seguem uma história principal, que tem uma divisão bem equilibrada: cada episódio traz uma nova ambientação e um novo pirata vilão. Coisa rara em séries de hoje em dia: não tem barriga!

Os efeitos especiais são ótimos. One Piece não quer se parecer com o mundo real, temos muitas cenas com elementos fantásticos, e a todos funcionam muito bem na tela. E preciso falar das coreografias de luta: são muitas, são de estilos diferentes, e são todas muito bem filmadas (luta em equipe onde um começa comendo). Gostei muito da luta do Zoro e Sanji contra homens peixe.

Heu não conhecia NINGUÉM do elenco, coisa rara hoje em dia, já que costumo prestar atenção em nomes obscuros dos créditos. Mas posso dizer que todos estão muito bem. O mexicano Iñaki Godoy, que faz o protagonista Luffy, é ótimo (mas fica um mimimi pra reclamar que o ator podia ser brasileiro!).

Tenho uma reclamação, mas é sobre algo que acontece no último episódio, então vou colocar um aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Ao longo da temporada a gente descobre que o vice almirante da marinha que está perseguindo o Luffy é o seu avô. Até aí, ok. Mas, quando o avô finalmente captura o bando, ele simplesmente libera todo mundo e deixa pra lá. Por que perseguiu então?

FIM DOS SPOILERS!

Como falei lá no início, gostei mais do que achei que ia gostar. Mas não vou encarar os centenas de episódios de anime. Netflix, quero a segunda temporada!

Ruim Pra Cachorro

Crítica – Ruim Pra Cachorro

Sinopse (imdb): Um cachorro abandonado se une a outros vira-latas para se vingar de seu antigo dono.

Costumo evitar trailers, porque muitas vezes os trailers mostram demais. Mas vi esse trailer de Ruim Pra Cachorro, achei muito engraçado, cheguei a compartilhar o link do trailer.

E aí quando vi o filme, reparei que quase todas as boas piadas estão no trailer… :-/

Enfim, vamos ao filme. Dirigido pelo pouco conhecido Josh Greenbaum, Ruim Pra Cachorro (Strays, no original) guarda uma certa semelhança de marketing com Festa da Salsicha: olhando de longe, parece um filme fofo para crianças. Mas na realidade é uma comédia pesada para adultos. Ok, Ruim Pra Cachorro não é tão ofensivo quando Festa da Salsicha, mas ainda está longe de ser um produto voltado ao público mais novo.

O filme tem algumas piadas bem engraçadas, mas tem outras bem bobas. São basicamente dois tipos de piadas. Tem as piadas “pesadas” – as que envolvem palavrões, sexo e escatologia, e que, na minha humilde opinião, são as menos engraçadas. Pra mim, as melhores piadas são as que brincam com manias de cachorros, tipo a piada do “Toc Toc” ou o mistério sobre os chocolates. Donos de cachorros vão se divertir com essas piadas caninas!

Tecnicamente falando, Ruim Pra Cachorro é muito bom. Segundo o imdb, 95% do filme usa cachorros reais- deve ter dado um trabalhão pra adestrar todos os cães pra fazerem tudo aquilo. Vi a versão legendada, as bocas dos cachorros se movem como as palavras (claro que isso foi cgi).

No elenco, as principais vozes são Will Ferrell e Jamie Foxx. Ferrell está apenas ok como o cachorro bobinho e deslumbrado. Já Foxx está excelente, dá pra visualizar o ator se divertindo nas gravações. Também no elenco, Isla Fisher, Randall Park, Will Forte e Sofia Vergara.

Se você não viu o trailer, vai se divertir mais no filme.

A Noite das Bruxas

Crítica – A Noite das Bruxas

Sinopse (imdb): Na Veneza pós-Segunda Guerra Mundial, Poirot, agora aposentado e vivendo em seu próprio exílio, relutantemente vai a uma sessão espírita. Mas quando um dos convidados é assassinado, cabe ao ex-detetive descobrir mais uma vez o assassino.

Terceiro filme do Kenneth Branagh como Hercule Poirot. Branagh dirige e estrela cada um deles. Mas não são continuações, cada um é baseado em um livro diferente da Agatha Christie. A única coisa em comum é o protagonista.

Tive um problema com o primeiro filme, Assassinato no Expresso Oriente, porque me lembrava do final, lembrava justamente quem é o assassino, então metade do filme perdeu a graça. E o segundo filme, Morte no Nilo, não é tão bom, tem alguns problemas no seu desenvolvimento. Posso dizer que, dos três, gostei mais deste terceiro.

A Noite das Bruxas (A Haunting in Venice, no original) foi baseado no livro Hallowe’en Party, que nunca tinha sido adaptado para o cinema, apenas para a tv. A trama foi trazida do Reino Unido para Veneza. E, apesar do nome sugerir, A Noite das Bruxas não é terror. Mas tem alguns jump scares!

A trama desenvolve bem o whodunit*. Todos os personagens estão fechados dentro de uma casa enorme, isolados porque a chuva fez os canais transbordarem. Acontece um assassinato e Poirot precisa investigar. Claro, ao longo da trama descobrimos que todos têm motivo para terem cometido o crime.

Branagh combinou com a equipe técnica de não avisar ao elenco quando luzes piscavam ou portas batiam. Algumas das reações no filme são legítimas!

A fotografia é muito boa e sabe aproveitar bem as paisagens de Veneza e a mansão onde se passa o whodunit. A boa trilha sonora de Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar pela trilha de Coringa) ajuda a criar o clima.

No elenco, Kenneth Branagh manda bem como era de se esperar. Digo mais: seu Hercule Poirot está meio confuso ao longo da projeção, e ao fim do filme a gente descobre por que. Gostei da personagem da Tina Fey, gosto da atriz, gosto do nome “Ariadne”, e gostei de como a personagem tem camadas diferentes. O grande elenco também conta com Michelle Yeoh, Jamie Dornan, Kelly Reilly, Camille Cottin, Emma Laird, Kyle Allen, Ali Khan e Riccardo Scamarcio.

Noite das Bruxas é melhor que os dois filmes anteriores, mas o fato de ser um terceiro filme talvez afaste o público. E aí vai ficar a dúvida: será que Branagh aposentará o seu Poirot, ou será que veremos mais uma adaptação da Agatha Christie?

*Glossário: Whodunit é o estilo de história onde acontece um crime, a trama levanta vários suspeitos e o espectador é instigado a descobrir quem é o culpado.

Que horas eu te pego

Crítica – Que horas eu te pego

Sinopse (imdb): Maddie, à beira da falência, é contratada por pais superprotetores para ajudar seu filho introvertido a se tornar mais confiante antes da faculdade. Ela tem apenas um verão para completar sua missão.

Escrito e dirigido pelo pouco conhecido Gene Stupnitsky, Que horas eu te pego (No Hard Feelings, no original) usa o formato de comédia romântica: um casal improvável, começa a descobrir afinidades, rola um estresse, etc. Receita de bolo. Um bom exemplo da diferença de pontos de vista do casal está na interpretação da música Maneater, do Daryl Hall & John Oats – o garoto interpreta a música como se fosse um monstro que sai à noite para comer pessoas.

(Aliás, a versão piano e voz de Maneater ficou muito boa!)

Que horas eu te pego também tem uma pegada forte de comédias dos anos 90 / 2000 ligadas a temática sexual, tipo American Pie ou Um Show de Vizinha. Mas, na minha humilde opinião, as melhores piadas são as que focam na diferença de idade e de visões do mundo. (conflito de gerações)

Ainda sobre essa pegada de anos 90 / 2000, o filme apresenta uma falha sobre os dias de hoje, porque o garoto ia procurar informações na Internet sobre ela. Se em uma cena todos estão super conectados, no resto do filme até parece que não existem redes sociais.

Que horas eu te pego segue de clichê em clichê, uma piada boa aqui, uma piada sem graça acolá. O melhor são os dois principais. Jennifer Lawrence está ótima, e o garoto Andrew Barth Feldman é um achado. A química entre os dois é muito boa, as interações entre eles são o melhor do filme.

Sobre a polêmica da cena de nudez, preciso dizer que é uma cena corajosa. Jennifer Lawrence ganhou o Oscar de melhor atriz em 2013 por O Lado Bom da Vida e foi indicada outras três vezes, por Inverno da Alma (2011), Trapaça (2014) e Joy (2016). Em 2015 e 16 ela era a atriz mais bem paga do mundo, com um papel importante na franquia X-Men e o papel principal da franquia Jogos Vorazes. Ela tem star power suficiente pra se recusar a fazer uma cena dessas. Mas, se a gente parar pra pensar, não é uma cena gratuita. Ela tirou a roupa pra seduzir o garoto, e foi recuperar as roupas que foram roubadas, existe um motivo pra personagem estar nua. Enfim, a cena ficou engraçada. Jennifer Lawrence nua sim, mas num contexto bem longe de sexual.

No elenco, o filme é dos dois principais. Mas preciso citar o pai de menino, interpretado por Matthew Broderick. Heu não reconheci o eterno Ferris Bueller!

Mesmo previsível, Que horas eu te pego funciona dentro da proposta. Pode divertir quem entrar na onda.