Assassinos da Lua das Flores

Crítica – Assassinos da Lua das Flores

Sinopse (imdb): Na virada do século XX, o petróleo tornou a nação Osage a mais rica do mundo do dia para a noite. Tanta riqueza atraiu intrusos brancos, que manipularam, extorquiram e roubaram o dinheiro do povo Osage antes de assassinar a população.

Lembro que uns anos atrás a gente fez um episódio do Podcrastinadores que o tema era “Que filmão, hein?”, onde comentamos filmes que são grandes produções, de grandes diretores, com grandes elencos. Assassinos da Lua das Flores podia facilmente entrar numa lista dessas. Todo fã de cinema deveria agradecer ao fato de pessoas como Martin Scorsese existirem e continuarem trabalhando. O cara vai fazer 82 anos no mês que vem, e ele continua sendo um dos melhores diretores em atividade em Hollywood. E, mais uma vez, ele entrega um filme memorável.

Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, no original) traz uma história que heu não conhecia: o massacre dos índios Osage, que tinham um território enorme dentro de onde são os Estados Unidos hoje, e quando o homem branco europeu chegou eles foram sendo acuados e perderam grande parte das suas terras. Acabou que eles ficaram com um território bem pequeno, mas descobriram petróleo. Ou seja, os índios Osage passaram a ser ricos – mais ricos que os brancos. E era uma época há 100 anos atrás onde os índios nem sempre eram respeitados, onde matar índio era algo relativamente normal. Então homens brancos começaram a casar com mulheres índias para herdar as terras com petróleo. Tem uma cena curta no filme que me marcou muito: um cara conversando com um juiz (acho que era um juiz, não tenho certeza), ele pergunta “Tem duas crianças Osage que são órfãs, herdeiros de uma terra com petróleo. Se eu adotar essas crianças e elas morrerem, a terra fica para mim?” E aí o juiz fala para ele “Mas, você está pensando em matar as crianças?” E o cara responde, friamente, “Eu só estou perguntando se a terra fica para mim se eles morrerem.”

Outra coisa que heu não sabia: o primeiro grande caso do FBI foi a investigação sobre os assassinatos dos Osage. Na época eles ainda eram só o “Bureau of Investigation”, ainda não tinha o “Federal” – isso está no filme.

Scorsese pegou essa pungente história e fez um “filmão”, com uma fotografia deslumbrante, uma reconstituição de época e figurinos perfeitos e uma trilha sonora contida mas usada no ponto exato. Sim, Assassinos da Lua das Flores talvez seja um pouco longo demais (mais tarde volto a esse tópico), mas é um filmaço, que deve ser visto, preferencialmente nos cinemas.

Normalmente comento o elenco no fim dos meus textos, mas hoje quero abrir com o elenco. Todos estão ótimos, mas temos que dar destaque aos três principais nomes: Robert De Niro, Leonardo DiCaprio e Lily Gladstone – que certamente estarão nas indicações ao Oscar ano que vem.

(Tem gente por aí dizendo que é a primeira vez que De Niro e Dicaprio trabalham juntos, mas não é. Eles trabalharam juntos em Despertar de Um Homem em 1993 e As Filhas de Marvin em 1996. Mais: Scorsese dirigiu um curta em 2015 chamado The Audition, com De Niro, DiCaprio e Brad Pitt!)

O principal é DiCaprio, mas vou começar falando do Robert De Niro. Lembro que em maio deste ano vi um filme novo dele, Meu Pai É um Perigo, um filme muito bobo, onde dá pena de ver um cara do porte do De Niro. Vou copiar aqui um trecho do que escrevi: “E aqui vou deixar a triste constatação de que Robert De Niro ficou devendo. Olha, sou fã do cara, se heu for fazer uma lista de 100 melhores filmes da minha vida, ele estará em vários, tipo Era uma Vez na América, Coração Satânico, Os Intocáveis, Jackie Brown, Brazil o Filme… Mas, de um tempo pra cá, ele virou uma caricatura de si mesmo. E pior do que ver Robert De Niro fazendo uma caricatura de si mesmo é vê-lo servindo de escada para um comediante ruim. Triste fim de carreira pra um grande ator com dois Oscar no currículo (O Poderoso Chefão 2 e Touro Indomável)“. E, como fã antigo do De Niro, como fico feliz de dizer que ele está longe do “fim de carreira”! Que atuação fenomenal!

E chegamos ao DiCaprio, um dos melhores atores da sua geração, que tinha sido ignorado pelo Oscar em vários papéis marcantes, até merecidamente ganhar a estatueta por O Regresso. E DiCaprio está mais uma vez sensacional com seu personagem aqui, Ernest Burkhart, um cara meio bronco, que segue o que mandam, que a princípio casa por obrigação, mas mostra que realmente gosta dela.

Também preciso falar de Lily Gladstone. Heu nunca tinha visto nenhum filme com ela (ela estava em First Cow, filme que já me recomendaram, mas ainda não consegui ver). Lily tem uma atuação contida, poucas palavras, quase tudo no olhar. E que atuação! Não sei se ela leva o Oscar, porque Margot Robbie também está sensacional, mas uma indicação certamente vem aí.

Queria fazer um outro comentário sobre o elenco. Dois grandes nomes, John Lithgow e Brendan Fraser, só entram no filme depois de quase três horas de projeção! Imagina a moral do Scorsese: chama o cara que acabou de ganhar o Oscar de melhor ator e só usa o cara no fim do filme!

A edição é muito boa. Pensa num filme de quase três horas e meia que não tem nenhum momento que você pensa em pegar o celular pra dar uma olhada no zap. Dito isso, acho que foi muito longo. Talvez desse pra cortar meia hora e fazer um filme longo de quase três horas. Mas… Assassinos da Lua das Flores cansa menos que Oppenheimer, que tem vinte e seis minutos a menos.

Sem spoilers, mas o final do filme é diferente de tudo o que heu poderia imaginar. Filmes históricos neste estilo costumam terminar com um texto explicando o que aconteceu. Sim, tem um texto. Mas apresentado em um formato surpreendente.

Sim, heu sei que Assassinos da Lua das Flores vai chegar em breve ao streaming. Mas recomendo fortemente a ida ao cinema. Um filme desses merece ser visto numa tela grande. Em casa, seja na tv ou no computador, dificilmente o espectador vai conseguir ficar três horas e meia focado no filme.

Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim

Crítica – Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim

Sinopse (imdb): Mike Schmidt é um jovem contratado para trabalhar como o vigia noturno do antigo restaurante familiar Freddy Fazbear’s Pizza, um lugar famoso por seus característicos robôs animatrônicos que, quando chega a noite, se transformam em assassinos.

Heu tenho um filho de 14 anos que joga Five Nights at Freddy’s, o “FNAF”. Desde o início do ano ele está empolgado com a adaptação para o cinema. Ele tava tão empolgado que o levei ele na sessão de imprensa. E posso dizer que depois da sessão ele, como fã do jogo, gostou do filme. E heu, como fã de cinema, não gostei.

Antes de tudo, preciso falar que eu nunca joguei o jogo, tudo que são informações que o meu filho falou. Mas sempre defendo que qualquer adaptação, não só de jogos, deveria ser algo independente da obra original. Não gosto de filme que precisa de “manual de instruções”.

A ideia era promissora: um guarda-noturno que tem que enfrentar robôs animatrônicos assombrados por almas de crianças. Isso podia dar um bom filme de terror. Mas… O diretor resolveu focar no problema pessoal do protagonista, que teve o irmão foi sequestrado quando ele era criança. Boa parte do filme fica repetindo a história do sequestro do irmão. Essa história até tem a ver com o fim do filme, só que não é algo tão essencial. Se você tirar essa subtrama do irmão sequestrado, o filme não perde nada. Ou seja, a gente perde um tempão para uma história que não era necessária. E, pra piorar: o espectador entra no cinema pra ver um filme de terror, era melhor dedicar mais tempo com os animatrônicos do mal do que com o drama do protagonista.

Existe outro problema básico: os animatrônicos, a princípio, não são criaturas assustadoras. O filme parte do princípio de que as pessoas têm medo dos robôs, mas, você precisa fazer alguma coisa com esse robô pra ele virar assustador. É que nem um palhaço. Um palhaço não é assustador, mas pode virar assustador dependendo de como você apresentá-lo. Aqui em Five Nights At Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim as pessoas têm medo dos robôs. Mas não, eles não são assustadores.

Dito isso, preciso elogiar o fato de que tinham robôs animatrônicos no set. O mais fácil seria fazer tudo em cgi, mas chamaram a Jim Henson Company para a confecção dos robôs. Não sei se algum robô é cgi (provavelmente é), mas boa parte eram robôs reais. Boa sacada!

Teve uma coisa que me incomodou na parte final, que é não saber se o vilão é algo sobrenatural ou algo humano. Porque existem os animatrônicos sobrenaturais, mas também existe um vilão humano. Péra aí, ou o seu vilão é algo sobrenatural, ou o seu vilão é um cara maluco, humano. Ter os dois ao mesmo tempo não faz muito sentido. Meu filho falou que o jogo tem uma explicação sobre isso. Se a adaptação fosse bem feita, você teria uma linha no roteiro explicando, mas no filme não tem nada disso, ou seja, ficou tosco.

Outro problema é que o filme é direcionado ao público infanto-juvenil, então eles seguraram a mão nas cenas violentas. Entendo a opção comercial, mas precisamos reconhecer que o filme perdeu com isso.

Ainda preciso falar de furos no roteiro. Sem spoilers, prestem atenção na tia do protagonista. Esqueceram dela no fim do filme!!!

O elenco não está bem. Josh Hutcherson faz o protagonista que só pensa no irmão e não nos animatrônicos do mal. Elizabeth Lail faz a “mocinha”, mas, ou ela é bem fraca, ou ela estava passando por uma fase ruim. A menina Piper Rubio não atrapalha, mas é uma criança sem sal. E o filme tem dois nomes “grandes”: Matthew Lillard e Mary Stuart Masterson, que estão no limite da caricatura.

Dito tudo isso, reconheço que a ambientação na pizzaria abandonada é bem legal. E o filme tem alguns jump scares aqui e ali – nenhum muito bom, mas vão divertir a galera. E repito: gostei de ter animatrônicos de verdade no set. Pena que é muito pouco. Five Nights At Freddy’s tem uma hora e cinquenta onde quase tudo decepciona.

Por fim, depois da sessão me falaram de outro filme, Willy’s Wonderland, de 2021, estrelado pelo Nicolas Cage, que seria uma “versão não oficial” do jogo FNAF. Não vi Willy’s Wonderland, vou catar pra ver se é melhor.

Dezesseis Facadas

Crítica – Dezesseis Facadas

Sinopse (imdb): Quando o infame “Sweet Sixteen Killer” retorna 35 anos após sua primeira onda de assassinatos para fazer outra vítima, Jamie, de 17 anos, acidentalmente viaja de volta no tempo para 1987, determinada a deter o assassino.

Sei que estou atrasado. Segundo o imdb, Dezesseis Facadas (Totally Killer, no original) estreou no Amazon Prime no dia 06 de outubro. Mas heu estava focado no Festival do Rio, então deixei esse filme pra depois.

Acabado o Festival, vi Dezesseis Facadas e posso dizer: achei muito divertido!

É um slasher com viagem no tempo. Parece uma mistura de De Volta Para o Futuro com Pânico (ambos os filmes são citados aqui). Aliás, a gente tem que se lembrar que Pânico é slasher mas também tem um “whodunit” na trama, diferente de slashers como Halloween e Sexta Feira 13, onde todos sabem quem e o assassino. Dezesseis Facadas também é slasher com whodunit.

Sim, o clima lembra A Morte te Dá Parabéns, outro slasher que usa viagem no tempo, a diferença é que aqui a personagem volta para o passado e naquele a personagem cai num loop temporal. E olha que curioso, escrevi algumas frases sobre A Morte te Dá Parabéns que servem para Dezesseis Facadas: “Não tem nada de novidade aqui: um pouco de Feitiço do Tempo, um pouco de Pânico, um pouco de Meninas Malvadas, um monte de clichês. Mas a mistura “deu liga”, e o filme consegue o que se propõe: ser uma boa diversão. A Morte te dá Parabéns pega aquele monte de clichês e coloca tudo num formato bem humorado. Em momento algum o filme se leva a sério, e isso é muito bom.” Tirando a citação a Feitiço do Tempo, tudo se encaixa aqui.

Teve gente comparando Dezesseis Facadas com Terror nos Bastidores. Mas só o pontapé inicial é igual. Dezesseis Facadas é sobre uma adolescente que usa uma máquina do tempo para voltar no tempo e impedir o assassinato de sua mãe, desmascarando o assassino; Terror nos Bastidores é sobre um grupo de amigas que são sugadas para um filme de terror dos anos 1980, estrelado pela mãe de uma delas.

Uma das coisas mais divertidas em Dezesseis Facadas são os choques de comportamento por causa de mudanças na sociedade. Para uma jovem de 17 anos de 2023, muitas coisas de 1987 não são mais aceitáveis, como por exemplo uma camisa com uma piadinha machista (ela fala “essa camisa é completamente inapropriada!”); ou quando ela é colocada no time de queimado na aula de educação física – sim, a educação física era muito mais violenta naquela época.

Ok, a ideia da máquina de viagem no tempo deixa espaço pra forçações no roteiro. Concordo. Não podemos ver Dezesseis Facadas como um filme “cientificamente correto”. Mas, pelo menos precisamos reconhecer que o roteiro consegue deixar a história fluida e sem grandes furos. E gostei de como explicam a viagem no tempo aqui, derrubando a “teoria McFly” de que se seus pais não ficarem juntos você desaparece.

Um parágrafo pra listar algumas referências. A protagonista se chama Jamie Hughes – Jamie é homenagem a Jamie Lee Curtis; Hughes é homenagem a John Hughes, diretor de Gatinhas e Gatões e Clube dos Cinco, ambos estrelados por Molly Ringwald (citada mais de uma vez no filme). Aliás, a escola se chama Vernon High School – Richard Vernon era o professor em Clube dos Cinco. A máscara do assassino é uma mistura de Max Headroom (sem os óculos) e Billy Idol. Jamie usa o sobrenome Lafleur quando volta ao passado; em Lost, Sawyer usou o pseudônimo Jim Lafleur quando voltou no tempo. Por fim, uma referência mais obscura: o grupo das “meninas malvadas” aqui são as “Mollys”. No filme Atração Mortal, de 1988, existe um grupo semelhante, as “Heathers”.

Gostei do elenco. A protagonista é Kiernan Shipka, mais conhecida pela série Sabrina (que heu nunca vi). Julie Bowen, conhecida por Modern Family, faz a mãe dela. O resto do elenco tem vários nomes desconhecidos (pelo menos pra mim), mas uma coisa que preciso reconhecer é que encontraram atores e atrizes bem parecidos pra interpretarem os mesmos personagens nas duas linhas temporais.

“Ah, mas não gosto de filme que recicla ideia repetida”. Ok, passe pro próximo. Já disse aqui antes e repito: se for bem feito, não me incomodo com ideias recicladas.

Priscilla

Crítica – Priscilla

Sinopse (Festival do Rio): Quando a adolescente Priscilla Beaulieu conhece Elvis Presley em uma festa, o homem que é uma estrela meteórica do rock se torna alguém totalmente inesperado em momentos íntimos: uma paixão vibrante, um aliado na solidão, um melhor amigo vulnerável. Através dos olhos de Priscilla, Sofia Coppola revela outro lado do grande mito americano no longo namoro e casamento turbulento de Elvis e Priscilla. De uma base do exército na Alemanha à propriedade dos sonhos em Graceland, um retrato profundo e encantadoramente detalhado do amor, fantasia e fama.

Em 2022 vimos um filme do Baz Luhrman sobre o Elvis Presley. E agora, um ano depois, temos um filme da Sofia Coppola sobre a Priscilla Presley. Ok, heu entendo que a proposta da Sofia Coppola é completamente diferente da proposta do Baz Luhrman, um filme não quer competir com o outro. Mas Sofia deu azar porque o filme dela é bem insosso, e o filme do Baz está na memória recente. Todos vão se lembrar, e a comparação será inevitável.

Baseado no livro “Elvis e Eu”, escrito pela própria Priscila Presley, Priscilla tem seus méritos: é um filme bonito, a reconstituição de época é muito bem feita, a protagonista está bem. Mas tem um problema básico: é um filme chato. Heu saí da sala de cinema pensando – a Priscila Presley ficou casada com o Elvis durante anos, será que as melhores histórias que ela tinha para contar são essas? Será que não tinham coisas mais legais para ela apresentar? Ok, eu entendo que o principal objetivo do filme não era contar histórias legais, e sim mostrar como ela vivia uma relação abusiva. Priscilla vivia uma vida de rica, mas não tinha liberdade nenhuma – até seu guarda roupa era controlado pelo Elvis. Mas, mesmo assim, fico me perguntando se não tinha um jeito melhor de se contar essa história.

Priscilla segue então essa rotina de mostrar como a Priscilla Presley levava uma vida infeliz ao lado do Elvis. Um filme correto, mas um filme bobo. Chato e bobo.

Priscilla ainda tem outro problema: eles não conseguiram a liberação para usar as músicas do Elvis Presley. Ou seja, é o filme onde o Elvis é um dos personagens principais, mas não pode usar nenhuma música dele.

Teve um detalhe que me impressionou, que não tem a ver com o filme, mas sim com a história. Heu não sabia que quando o Elvis começou a sair com a Priscilla, ele tinha 24 e ela tinha 14 anos. Talvez isso fosse mais comum na época (Jerry Lee Lewis se casou com a prima de 13 anos), mas hoje em dia, 2023, isso soa muito estranho.

No elenco, Cailee Spaeny (Círculo de Fogo) está muito bem no papel título – é uma das poucas coisas elogiáveis no filme. Já o Elvis de Jacob Elordi dividiu opiniões na sessão de imprensa. Ouvi muitas comparações com o Austin Butler (do filme do Baz Luhrman)…

Por fim, uma curiosidade: Sofia Coppola é prima do Nicolas Cage, que foi casado com Lisa Marie Presley, filha da Priscilla. Tudo em família!

Esse ano vi nove filmes no Festival do Rio. Priscilla é o oitavo texto que publico aqui. Heu não pretendo escrever sobre o nono filme, uma comédia sul-coreana chamada Cobweb, que mostra os bastidores de uma filmagem. O filme é divertido, mas heu acredito que ninguém vai ver esse filme. Acho que talvez seja melhor pular esse e voltar para a programação normal, já tenho essa semana filmes do streaming e do cinema para comentar. Então fica aqui o meu pedido de desculpas para quem viu Cobweb, mas não vou comentar aqui.

A Sociedade da Neve

Crítica – A Sociedade da Neve

Sinopse (Festival do Rio): Em 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, caiu no coração da Cordilheira dos Andes. Apenas 29 dos seus 45 passageiros sobreviveram ao acidente. Presos num dos ambientes mais hostis e inacessíveis do planeta, eles precisam recorrer a medidas extremas para permanecerem vivos. Adaptação do livro “A Sociedade da Neve”, de Pablo Vierci.

Ué, acho que já vi esse filme. Não é aquele Vivos, de 1993, com o Ethan Hawke?

Bem, 30 anos se passaram, cabe uma nova versão da mesma história. E a boa notícia é que esta nova versão é melhor que aquela!

Vivos é um bom filme, mas é muito “sessão da tarde”, tudo é muito “limpinho”. Depois da sessão de A Sociedade da Neve (La Sociedad de la Nieve, no original) fui rever uns trechos do filme de 93. Um exemplo simples e sem spoilers: depois de 70 dias isolados da civilização, os personagens ainda estão “bonitinhos”. Além disso, esse aqui ainda tem uma característica importante: é falado em espanhol. Ora, se todos os personagens são uruguaios, eles têm que falar espanhol e não inglês!

Dirigido por J.A. Bayona (O Orfanato, O Impossível), A Sociedade da Neve é mais “pé no chão”. As cenas violentas são mais duras, mais reais – nesse aspecto lembra O Impossível. O acidente de avião aqui é sensacional. Não me lembro de um acidente de avião melhor filmado do que este. (Não é spoiler falar do acidente de avião, né? Afinal, o filme existe por causa do acidente!)

O acidente não é o único momento tenso do filme. Não vou entrar em spoilers, mas alguns outros momentos também geraram desconforto na sala do cinema. Também preciso falar da maquiagem, tanto pela parte dos ferimentos quanto pela falta de higiene, a gente vê aos poucos a degradação daqueles caras isolados na neve.

Outro trunfo de A Sociedade da Neve é a construção dos personagens e as relações entre eles, que precisam encarar dilemas morais e éticos em busca da sobrevivência. Não tem nenhum ator conhecido, mas todos convencem. A gente sente o companheirismo daquele grupo.

Alguns comentários sobre a história real. A primeira coisa que a gente pensa é “por que diabos os caras não tentaram descer a montanha?” Sou carioca, a geografia aqui é mais simples: “desça a montanha, procure um rio, siga o curso do rio até encontrar uma cidade”. Mas, a cordilheira dos Andes não é apenas uma montanha. Lembro que em 1991 fui pra Santiago, no Chile, e lembro que o avião passa precisa de vários minutos pra atravessar a cordilheira.

Mesmo assim, penso que se heu estivesse lá, não esperaria tanto tempo pra tentar sair a pé. A cada dia que passava, eles estavam mais fracos. O ideal seria tentar andar o quanto antes. Lembro que quando heu tinha meus 12 ou 13 anos, meu avô tinha um sítio perto da divisa entre RJ e MG, e tinha um morro perto, e heu sempre tinha curiosidade de saber o que tinha atrás do morro. Um dia peguei uma garrafa de água na geladeira, coloquei numa mochila, e subi o morro – só pra descobrir que depois tinham outros morros iguais. Ok, sei que um morrinho no meio do “mar de morros” não é nada perto da cordilheira dos Andes, mas, penso que, se heu estivesse lá, tentaria sair.

Ontem falei de Pobres Criaturas, que é um filme que ainda vai demorar pra estrear. Como A Sociedade da Neve tem o nome “Netflix” no cartaz, achei que já ia estrear. Mas fui no site da Netflix, só em 4 de janeiro…. Mas, fica a recomendação: vejam quando tiverem oportunidade!

Pobres Criaturas

Crítica – Pobres Criaturas

Sinopse (Festival do Rio): A fantástica evolução de Bella Baxter, uma jovem que é trazida de volta à vida pelo brilhante e pouco ortodoxo cientista Dr. Godwin Baxter. Sob a proteção de Baxter, Bella está ansiosa para aprender. Desejando conhecer mais sobre o mundo, Bella foge com Duncan Wedderburn, um advogado astuto e debochado, para uma aventura por vários continentes. Livre dos preconceitos de sua época, Bella se firma em seu propósito de defender a igualdade e a libertação.

Heu lembro de quando eu fui ver O Lagosta no Festival do Rio de 2015. Era um filme maluco com uma ideia maluca – uma sociedade onde se você chega a uma certa idade e não casou, você tem que ser transformado em um bicho. Não faz o menor sentido, mas dentro da lógica do filme funciona redondinho. A partir daí guardei o nome do diretor, Yorgos Lanthimos. E parece que não fui só heu, porque esse filme abriu as portas do cinema internacional pra ele, que então fez O Sacrifício do Cervo Sagrado e A Favorita – que concorreu a dez Oscars, incluindo melhor filme, melhor direção e melhor roteiro, e deu o Oscar de melhor atriz pra Olivia Colman.

E agora chega Pobres Criaturas (Poor Things, no original). Na minha humilde opinião, o seu melhor filme.

Pobres Criaturas não é um filme fácil. Não é fácil na forma, porque ele tem um visual esquisito, tem atuações esquisitas, tem personagens esquisitos, e também tem uma trilha sonora esquisita. Tudo no filme é esquisito! Além disso, não é fácil pela temática, porque a gente vê tabus sexuais sendo abordados de uma maneira nada convencional.

A história aqui é bem esquisita: um médico que é uma espécie de doutor Frankenstein, que faz experiências fora do convencional (por exemplo, ele tem bichos na casa dele que são misturados, como uma galinha com cabeça de porco ou um cachorro com cabeça de pato), faz uma experiência onde ele coloca o cérebro de um bebê na cabeça de uma mulher adulta.

Uma coisa que ajuda tudo a ficar estranho é que o diretor fica alternando a lente que ele usa para filmar. Às vezes ele usa lentes normais, outra vezes, lentes que distorcem a imagem (ele fez isso em A Favorita, com aquela lente “olho de peixe” que deixa as beiradas arredondadas). E ele ainda alterna entre colorido e preto e branco. Deve existir algum significado por trás dessas alterações todas, mas heu não captei.

Alguns cenários do filme tem um que de steampunk – ao mesmo tempo futurista e retrô. As cenas em Lisboa mostram um teleférico bem diferente do que estamos acostumados, e Alexandria tem um cenário impressionante. Também preciso dizer que curti muito a trilha sonora de Jerskin Fendrix – segundo o imdbd, é a sua primeira trilha!

O elenco todo está muito bem. William Dafoe está ótimo como sempre, Mark Ruffalo também está bem. Mas preciso falar da Emma Stone, que provavelmente vai concorrer ao Oscar por causa deste papel (ela já tem um por La La Land). Ela está sensacional, sua personagem tem uma evolução – ela começa agindo como se fosse uma criança e vai evoluindo ao longo do filme. E sim, o filme tem muitas cenas de nudez e muitas cenas de sexo.

O filme ainda aproveita pra levantar questões sobre determinados comportamentos sociais, como sexo, masturbação e a posição da mulher na sociedade. É daquele tipo de filme que fica martelando ideias na cabeça pelos dias posteriores.

Pobres Criaturas é sem dúvida um dos melhores filmes do ano. Pena que não dá pra recomendar pra qualquer um.

A notícia ruim é que, segundo o Filme B, Pobres Criaturas só estreia dia 01 de fevereiro do ano que vem. Vai demorar pra conseguir trocar ideias com alguém, assim como vai demorar pra conseguir rever o filme.

Não Abra!

Critica – Não Abra!

Sinopse (Festival do Rio): Sam, uma adolescente que lida com os conflitos entre sua origem indiana e a vida nos EUA, acidentalmente liberta uma antiga entidade demoníaca de um jarro que jamais deveria ter sido aberto. À medida que o mal se alimenta dos seus piores medos, Sam precisará desvendar segredos ancestrais para tentar salvar sua vida e a de todos ao seu redor.

Heu espero não soar preconceituoso, mas eu diria que Não Abra! (It Lives Inside, no original) não tem o perfil do Festival do Rio. Por que digo isso? Ao longo dos anos, já vi mais de 150 filmes em diferentes edições do Festival. Normalmente os filmes que passam são filmes que têm perfil de serem lançados depois no circuito Estação. E Não Abra! não tem esse perfil, tem mais o perfil de um terror genérico de multiplex.

Afinal, Não Abra! é mais um “terror de bicho-papão”, como bem definiu meu amigo Cesar Monteiro, do Outcast Ambrosia. A diferença aqui é que é um bicho-papão baseado no folclore indiano.

Escrito e dirigido pelo estreante em longas Bishal Dutta, Não Abra! tem problemas no desenvolvimento desse monstro. Porque, às vezes ele mata, às vezes ele só machuca, às vezes ele sequestra e guarda a vítima – me pareceu que a limitação do poder do monstro é a limitação que o roteiro pede. Meio tosco, né?

Ainda sobre o monstro, durante dois terços do filme ele não aparece direito, vemos sombras, vemos os olhos no escuro, a gente não sabe o que ele é. Legal, é assustador! Mas depois que ele aparece, perde a graça, ele é até meio mal feito. É muito mais assustador enquanto você não sabe o que que é.

(E isso porque vou deixar pra lá outras inconsistências do roteiro, como a professora que está sozinha de noite na escola. Por que não filmaram aquelas cenas num apartamento, pra mostrar que ela tem um lugar pra ir quando a escola fecha?)

Apesar dessas falhas de roteiro, Não Abra! não é de todo ruim – afinal, boa parte dos filmes de terror feitos atualmente têm falhas semelhantes. O uso da cultura indiana foi bem feito, a protagonista Megan Suri funciona para o que o papel pede, e o filme ainda tem alguns jump scares divertidos.

Mas, é aquilo. Uma diversão efêmera, você vai esquecer do filme um mês depois.

Kubi

Crítica – Kubi

Sinopse (Festival do Rio): Com o objetivo de controlar o Japão, o Lorde Nobunaga Oda se envolve em duras batalhas contra os exércitos Mouri, Takeda e Uesugi, encarando ainda as forças dos templos e santuários em Kyoto. Enquanto isso, seu vassalo Araki Murashige incita uma rebelião e desaparece. Nobunaga reúne os outros vassalos e ordena que procurem Murashige em troca de sua herança. Hideyoshi, junto com o irmão Hidenaga e o estrategista militar Kanbei Kuroda, elabora um plano e pretende aproveitar a desordem para tomar o poder.

Filme japonês mostrando samurais brigando entre si atrás de poder. Ok, parecia ser uma boa.

Mas, Kubi tem um problema: são muitos personagens, e muitas traições entre eles. Fica difícil de acompanhar todos os detalhes, a história é muito enrolada. E não fui o único a achar isso, depois fui catar informações e achei um texto de um cara que viu o filme no Festival de Cannes e ele comentou a mesma coisa: são muitos personagens e a história é quase impossível de se acompanhar.

E o que heu faço quando não consigo acompanhar a história quando estou vendo um filme no cinema? Simplesmente relaxo e “deixo o filme me levar”. E, pra minha sorte, tecnicamente falando Kubi é um belo espetáculo visual. Tudo, figurinos, maquiagem, cenários, tudo é bonito e bem cuidado. E são várias batalhas, cheias de detalhes violentos. Sim, tem muita violência gráfica, cheias de detalhes que muitas vezes beiram o gore.

Um breve parágrafo para falar das legendas eletrônicas. Em alguns filmes, colocam um painel debaixo da tela onde passam legendas, acionadas manualmente ao longo do filme. Antigamente isso fazia mais sentido porque eram rolos de filmes, rolos físicos. Para você trazer um filme para cá e legendá-lo, às vezes você tinha que fazer uma cópia – em rolo – de um filme que talvez não fosse exibido depois. Existia um custo para fazer uma cópia, para exibir três, quatro vezes no Festival, e depois nunca mais. (Anos atrás, heu usava isso como norte em Festivais do Rio. Se o filme já tinha cópia legendada, significava que ele ia entrar no circuito. Se eram legendas eletrônicas, ele talvez não entrasse, esse era o filme que heu escolhia.) Hoje em dia, acho que não existe mais o rolo de filme, são só cópias digitais. Não sei se pra cópia digital ainda faz sentido você ter um arquivo com uma pessoa lá botando a legenda na hora, durante a exibição, talvez fosse mais fácil você fazer uma cópia digital já com as legendas.

E por que estou dizendo isso? Porque a cópia de Kubi era com o áudio em japonês e com legendas na tela em inglês, e com legendas em português embaixo da tela. Nossos olhos estão acostumados a irem direto nas legendas, e, em um filme bastante enrolado, ler em inglês e ao mesmo tempo em português, dificultou ainda mais. Será que não era mais fácil procurar uma cópia digital sem legendas em inglês?

A direção é de Takeshi Kitano, veterano, com mais de 4 décadas como ator e diretor. Mas, falha minha, nunca tinha visto nenhum filme dirigido por ele, não tenho como comparar. (Vi alguns filmes dele como ator, mas preciso reconhecer que não me lembro dele: Ghost in the Shell, Battle Royale, Johnny Mnemonic e Furyo Em Nome da Honra.)

Sobre o elenco, heu não conhecia ninguém. Atuações em filmes orientais muitas vezes são exageradas. Aqui, gostei de quase todo o elenco, menos do personagem Nobunaga. Esse está muito mais exagerado do que o normal. Duas curiosidades sobre o elenco: o diretor Takeshi Kitano tem um papel, ele é o samurai Hideyoshi. E um dos personagens é Hattori Hanzo, sim, o mesmo de Kill Bill.

Por causa das legendas eletrônicas, acho difícil Kubi chegar ao circuito…

Doente de Mim Mesma

Crítica – Doente de Mim Mesma

Sinopse (Festival do Rio): Signe e Thomas têm um relacionamento competitivo e pouco saudável, que toma um rumo perigoso quando Signe se sente ofuscada pela ascensão do namorado à fama como artista contemporâneo. Em resposta, ela cria um plano doentio e perverso para recuperar a atenção que acredita merecer dentro da elite cultural e social da Noruega.

Escrito e dirigido por Kristoffer Borgli, Doente de Mim Mesma (Syk Pike, no original) é um estudo de comportamento: mostra uma pessoa narcisista e mitômana. Ela necessita ser o centro das atenções, e mente para conseguir este objetivo.

É interessante ver um filme desses nos dias de hoje e pensar que tem pessoas em volta da gente que são parecidas. Não necessariamente igual a ela, claro, estamos falando de um personagem exagerado, mas pessoas que se comportam desse jeito. Pessoas que são carentes e que querem atenção, e são capazes de mentir para conseguir essa atenção.

O filme vai num crescente em cima do problema da protagonista. E o roteiro ainda tem umas escapadas bem sacadas, mostrando em rápidos flashs possibilidades de como a história poderia rumar para um caminho diferente.

O clima às vezes lembra o sueco Triângulo da Tristeza, não só por ser um filme nórdico, mas principalmente pelo estilo de humor. Doente de Mim Mesma é uma comédia, mas diferente do padrão hollywoodiano. Algumas cenas são engraçadas, mas são baseadas na ironia, não são piadas pro público dar gargalhadas.

Por fim, preciso falar da maquiagem. Boa parte de Doente de Mim Mesma tem uma maquiagem forte e muito bem feita por consequência do comportamento da personagem.

Doente de Mim Mesma ainda não tem previsão de lançamento aqui no Brasil…

O Exorcista: O Devoto

Crítica – O Exorcista: O Devoto

Sinopse (imdb): Sequência do filme de 1973 sobre uma menina de 12 anos que é possuída por uma misteriosa entidade demoníaca, forçando sua mãe a buscar a ajuda de dois padres para salvá-la.

Esse O Exorcista novo é tão ruim que eu nem sei por onde começar. Acho que eu vou começar pelo nome: “O Exorcista: O Devoto”. No primeiro O Exorcista, de 1973, a figura central era a menina Regan e também os padres exorcistas. Aqui não tem nenhum exorcista entre as figuras centrais do filme. O filme não deveria se chamar “O Exorcista”! O exorcista que aparece tem um papel bem secundário. Seguindo: “o devoto”. Quem seria o devoto? Na boa, se alguém souber quem é esse devoto, escreve aqui embaixo e me explica porque eu saí do filme sem saber quem seria.

O Exorcista de 73 é um clássico do cinema, um raro filme de terror que fura a bolha dos críticos – a gente sabe que a galera do tênis verde não curte terror e é difícil encontrar um filme de terror em listas de melhores filmes. Mas O Exorcista está presente nessas listas. Uma continuação dessas é inexplicável, parece que o filme foi feito por haters.

Acredito que boa parte da culpa é do diretor David Gordon Green, que já tinha estragado outra franquia: Halloween. O primeiro Halloween, de 1978, é outro desses filmes que furam a bolha, está em várias listas de melhores filmes de todos os tempos. E David Gordon Green resolveu fazer uma nova trilogia com Halloween. Seu primeiro Halloween, de 2018, é até razoável. Mas o segundo é ruim e o terceiro é péssimo. Ele afundou com o nome da saga Halloween. E parece que ele agora quer fazer a mesma coisa com O Exorcista. Pelo menos dessa vez ele foi direto ao assunto, porque ele pretende fazer uma trilogia, e o primeiro já é um lixo. Tomara que flope e desistam!

Heu tenho medo do seu próximo projeto. Qual será o próximo filme de terror que ele vai querer estragar?

(Tenho uma teoria sobre o David Gordon Green. O primeiro filme dele que vi foi Segurando As Pontas, de 2008, e em 2011 vi Sua Alteza?. Duas comédias bestas. De repente o cara não curte terror, e resolveu fazer esses filmes só pra estragar o prazer de quem curte.)

O Exorcista: O Devoto tem outro problema básico. É um filme de exorcismo que tem pouco exorcismo. Metade do filme é com uma investigação policial atrás de adolescentes desaparecidas! Aí, quando começa a possessão, tudo é muito corrido. A parte da maquiagem das meninas possuídas é mal desenvolvida.

No texto sobre o penúltimo Pânico, comentei sobre o conceito de “requel”, que é uma mistura de reboot com sequel. Seria um filme novo reaproveitando uma ideia antiga para começar uma nova franquia a partir dali, com novos personagens e novas histórias, mas num universo já existente, utilizando elementos do filme original para dar chancela ao projeto. Esse O Exorcista novo está dentro desse conceito de requel porque usa a personagem da Ellen Burstyn, que estava no primeiro filme. Sim, a atriz do primeiro filme, a mãe da Regan, volta neste filme. Segundo o imdb, ela inicialmente recusou o convite, mas quando ofereceram o dobro do cachê, ela decidiu aceitar o papel e doar o dinheiro. Ela chegou a comentar “senti como se o diabo estivesse perguntando o meu preço”.

Só que ela foi muito mal aproveitada. Tem uma sequência onde ela aparece que não faz o menor sentido. Ela vai visitar a família da menina que está possuída – uma menina doente, num quarto no andar de cima da casa. Ela vai sozinha para o quarto e fica um tempão sozinha com a menina, e a menina berrando! Caramba, quando que pais de uma menina doente vão deixar um estranho entrar no quarto da filha e deixá-la berrando, e ninguém vai ver o que está acontecendo? Trouxeram a atriz de volta para desperdiçar o personagem.

O filme tem algumas ideias que poderiam ter dado certo, mas foram mal desenvolvidas. Teve uma ideia que heu achei que podia ter funcionado, que foi a “Liga da Justiça da Fé”, onde eles pegam representantes de várias religiões para juntos lutarem contra o demônio. Todos os filmes de exorcismo que conheço usam a religião católica. Então você usar um sincretismo religioso e colocar um padre ao lado de outras pessoas de outras religiões, talvez funcionasse, talvez fosse uma ideia legal. Só que os caras não desenvolvem e desperdiçam essa ideia. E pior, eles avacalham com o padre. A gente tem que lembrar que O Exorcista original é baseado na religião católica. Você não pode pegar esse padre católico e colocar ele de escanteio logo de cara.

Outra ideia que podia ter funcionado, e que também não foi aproveitada. Determinado momento são sete adultos tentando fazer o exorcismo, em volta das duas crianças que estão possuídas. Então o demônio fala para um dos adultos “você tentou ser freira e não conseguiu porque você teve que fazer um aborto”. Ou seja, ele consegue atingir um dos sete adultos com um segredo que esse adulto escondia. Seria legal se o demônio atirasse para todos os lados e descobrisse um podre escondido de cada um, ele assim desestabilizaria todos. Mas não, ele atinge uma pessoa e deixa o resto para lá. Se você levantou ideia, por que não desenvolvê-la?

Heu poderia continuar, mas chega, né? Vou encerrar com uma citação ao imdb, uma frase de William Friedkin, diretor do filme de 73, dita a um crítico pouco antes de seu falecimento: “William Friedkin once said to me, ‘Ed, the guy who made those new Halloween sequels is about to make one to my movie, the Exorcist. That’s right, my signature film is about to be extended by the man who made Pineapple Express. I don’t want to be around when that happens. But if there’s a spirit world, and I can come back, I plan to possess David Gordon Green and make his life a living hell.'” (“William Friedkin uma vez me disse: ‘Ed, o cara que fez aquelas novas sequências de Halloween está prestes a fazer uma para o meu filme, O Exorcista. É isso mesmo, meu filme assinatura está prestes a ser estendido pelo homem que fez Segurando as Pontas. Não quero estar por perto quando isso acontecer. Mas se houver um mundo espiritual e eu puder voltar, pretendo possuir David Gordon Green e tornar sua vida um inferno.'”)