Isolamento Mortal / Sick

Crítica – Isolamento Mortal / Sick

Sinopse (imdb): Durante o mês de abril de 2020, no meio da pandemia da COVID, Parker e sua melhor amiga decidem colocar-se em quarentena na casa do lago da família, onde ficarão isoladas do mundo – ou pelo menos é o que elas pensam.

Dois dias atrás falei aqui sobre O Jogo da Invocação, filme bem ruim, mas com distribuição no circuitão. Hoje vou comentar sobre Isolamento Mortal (Sick, no original), filme do ano passado, que não passou nos cinemas e foi mal lançado no streaming.

Isolamento Mortal não é um grande filme. Na verdade, é apenas um slasher simples. Mas, é curto, bem filmado, tem um bom ritmo, e um roteiro com algumas boas sacadas. Ou seja, é aquele feijão com arroz gostoso que vai agradar a qualquer fã de terror.

O diretor John Hyams é desconhecido, mas todo fã de terror vai se lembrar do nome do roteirista Kevin Williamson, o mesmo de Pânico, Prova Final e Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado. Isolamento Mortal traz algumas semelhanças com Pânico, a começar pela cena inicial: uma sequência com um personagem isolado do resto do filme, sequência que a princípio poderia ser extraída do filme, mas que serve para mostrar qual é o modus operandi deste novo vilão slasher.

Não conhecia o diretor John Hyams, não vi nenhum outro filme dele – mas reconheci o sobrenome, ele é filho de Peter Hyams (2010, Timecop, Outland Comando Titanio). Preciso dizer que gostei de como John conduz o filme. Logo na sequência inicial, vemos um plano sequência muito bem construído. Ok, entendo que aquele tipo de plano sequência cheio de emendas, mas de qualquer maneira, heu valorizo mesmo quando é “plano sequência fake”. Outra boa sacada do diretor foi colocar o vilão slasher em várias sequências lá no fundo da tela. O espectador vê, mas os personagens não. Isso ajuda a criar um clima tenso.

Assim como acontece nos filmes da franquia Pânico, aqui também rolam muitas referências, como ter personagens Jason e Pamela, referências a Sexta-Feira 13. E, além de filmes de terror, aqui também tem várias referências à Covid-19. Foi uma boa sacada do roteiro.

Isolamento Mortal foi lançado no ano passado, em 2022, na plataforma Peacock, streaming que não existe aqui no Brasil. Hoje está disponível em alguns streamings por aqui, mas precisa procurar. E dá raiva de saber que você precisa cavar os streamings pra ver Isolamento Mortal, enquanto O Jogo da Invocação está nas salas de cinema…

O Jogo da Invocação

Crítica – O Jogo da Invocação

Sinopse (imdb): Os irmãos Marcus, Billie e Jo são atraídos para um jogo demoníaco em que a única regra é: se você perde, você morre.

É lá vamos nós para mais um terror ruim com espaço no circuito, enquanto a gente sabe que outros bem melhores não têm espaço na grade.

Escrito e dirigido por Eren Celeboglu e Ari Costa, estreantes em longas, O Jogo da Invocação (All Fun and Games, no original) poderia ser mais um slasher besta com roteiro preguiçoso. Já vimos vários, esse seria apenas mais um. Poderia ser um filme fraco normal se não fosse algo que acontece perto do fim e tira vários pontos do resultado final, e faz o filme brigar por uma vaga entre os piores do ano.

E olha que esse filme tem um elenco muito melhor que outros títulos de roteiros igualmente ruins. Os dois nomes principais são bons: Natalia Dyer, badalada por Stranger Things; e Asa Butterfield, de A Invenção de Hugo Cabret e Ender’s Game (dentre vários, o garoto já fez bastante coisa relevante). E ainda tem Annabeth Gish (A Maldição da Residência Hill, Missa da Meia Noite, A Queda da Casa de Usher) num papel menor. Isso porque não falei que conta com os irmãos Russo (Vingadores) na produção!

O filme falha miseravelmente em toda e qualquer possibilidade de tentar assustar, ou pelo menos criar um clima tenso. Tem uma cena onde vemos as fantasminhas cercando os personagens e gritando “read the book!” que é uma cena onde dei uma boa gargalhada. Mas “desconfio” que o objetivo do filme não era ser engraçado…

É terror, né? Basicamente um cara matando os amiguinhos. Tem alguma morte graficamente bem filmada? Não! Parece filme de sessão da tarde!

Mais: o filme tem uma hora e dezessete minutos. Boa duração pra um slasher vagabundo. E mesmo assim, tudo é tão mal conduzido que o filme se arrasta…

Agora, o que mais me deixou com raiva foi uma parte no final onde o filme propõe uma regra e logo depois desrespeita a própria regra. Mas antes de comentar isso, um aviso de spoilers.

SPOILERS!

O garoto fala a maldição, aí o fantasma possui ele. O cara fala a maldição, o fantasma sai do menino e troca de corpo. Ok, é assim que funciona. A menina fala a maldição pra salvar o cara – mas, do nada, ela consegue “recusar” a possessão! Então era só enfiar o dedo no olho do fantasma (!) que tudo bem???

Não achei O Jogo da Invocação tão ruim quanto O Exorcista O Devoto, mas essa cena me deu uma raiva semelhante!

FIM DOS SPOILERS!

A boa notícia é que a história fecha e não precisa de continuação. A má notícia é que tem uma cena extra com o único objetivo de criar uma continuação.

O Sequestro do Voo 375

Crítica – O Sequestro do Voo 375

Sinopse (imdb): Um tratorista desempregado sequestra o voo 375 da VASP e ordena ao comandante Murilo que derrube o avião no Palácio do Planalto para matar o presidente – que ele considera culpado pela devastadora crise econômica do país.

Heu sempre defendi que a gente precisa ter mais filmes de gênero feitos no Brasil. E a notícia é boa quando a gente vê um filme de gênero nacional sendo lançado no circuito, e é melhor ainda quando o filme é bom.

Antes de entrar no filme, heu queria falar um pouquinho sobre cinema nacional, que é composto, basicamente, de dois tipos de filme: a comédia besta com cara de Globo Filmes, e o filme hermético feito para passar em festivais. E heu não falo mal de nenhum dos dois tipos de filme. Porque a comédia é besta, mas muita gente curte e muita gente vai ao cinema por causa disso, e heu sempre defendi um filme que leva público para o cinema. Por outro lado, o filme hermético leva o cinema nacional para festivais importantes como Cannes e Veneza. Defendo que existam esses tipos de filme. O que não defendo é que quase todos os filmes lançados no circuito sejam desses dois tipos. Heu acho que a gente deveria ter vários estilos de filmes, como ação, terror, suspense, ficção científica, aventura…

Por isso fico feliz quando eu vejo um filme como O Sequestro do Voo 375, que não tem cara de nenhum dos dois tipos citados, e é um filme que pode levar público para o cinema, e vai agradar o “espectador de multiplex”.

A história é muito boa. Em setembro de 1988, o Brasil passava por uma crise econômica muito severa e um cara, desesperado, resolveu sequestrar um avião e levá-lo até Brasília com o objetivo de jogar o avião em cima do Palácio Planalto para matar o presidente Sarney. Nessa época não existia raio X em voos domésticos, por isso o cara conseguiu embarcar com uma arma.

Por uma sorte minha, heu não lembrava de quase nada da história real – quem conhece a história, na verdade, está tomando um spoiler. Se você não se lembra, vai ter uma experiência melhor vendo o filme.

A princípio achei que não tinha história suficiente pra sustentar um longa metragem (o filme tem aproximadamente uma hora e quarenta, não sei exatamente qual é a duração e não achei nem no imdb, nem no filmeb, nem na wikipedia). Achei que o filme podia ficar chato no meio do caminho. Mas não, o diretor Marcus Baldini consegue segurar a tensão do espectador durante o filme inteiro, e a parte final é alucinante.

Heu preciso elogiar a reconstituição de época. O filme se passa em 1988 – ok não faz muito tempo, mas a gente vê várias roupas, penteados e apetrechos que não são mais comuns nos dias de hoje. Além disso, o avião da Vasp é quase um personagem, e a gente tem que lembrar que a Vasp é uma companhia que fechou há décadas. Segundo li em algum lugar, conseguiram um avião da Vasp cedido por um colecionador.

Um parágrafo para falar dos efeitos especiais. Por um lado os efeitos especiais são muito bons, vemos várias cenas aéreas com o avião da Vasp, além de várias cenas aéreas com o avião da Vasp acompanhado de um caça da Força Aérea Brasileira. Todas essas imagens aéreas são bem feitas, não sei se é computação gráfica, não sei se é algum modelo, não sei se pegaram um avião real e pintaram. Não sei qual foi o efeito, mas reconheço que essa parte ficou realmente muito boa. Por outro lado, na parte que o avião vai pousar, a sensação que deu é que acabou o dinheiro dos efeitos especiais e tiveram que contratar um estagiário qualquer. Os efeitos especiais do avião pousando sao um CGI muito vagabundo!

No elenco, nenhum grande nome. Danilo Grangheia está bem como o piloto. Já Jorge Paz às vezes é um pouco exagerado como o sequestrador, mas nada grave (a gente tem que lembrar que era uma pessoa fora do seu normal). Agora, achei estranha uma decisão da produção. No fim do filme, vemos imagens das pessoas reais, e todos os atores são bem diferentes. Não entendi por que não tentaram uma caracterização mais próxima da realidade.

O Sequestro do Voo 375 estreia no circuito dia 7 de dezembro.

Napoleão

Crítica – Napoleão

Sinopse (imdb): O filme oferece uma visão pessoal das origens de Napoleão e de sua ascensão rápida e implacável ao império, vista através do prisma de seu relacionamento viciante e muitas vezes volátil com sua esposa e verdadeiro amor, Josephine.

Novo épico dirigido por Ridley Scott, grande diretor, de Alien, Blade Runner, Perdido em Marte, e que já nos entregou outros épicos como Gladiador e Cruzada. Recentemente Scott fez o bom Último Duelo e o fraco Casa Gucci, e isso já me dizia o que esperar de Napoleão: um filme bonito, mas meio chato.

Sei que vou me contradizer agora, mas preciso reconhecer isso. Sempre defendi filmes curtos. Acredito que o mais enxuto é sempre melhor. Mas… Este Napoleão dos cinemas tem duas horas e trinta e oito minutos, e Ridley Scott disse que tem uma versão de quatro horas que será lançada em breve na Apple TV. E teve coisa mal contada aqui, que acredito que pode ser melhor desenvolvida numa versão mais longa. Um exemplo: depois de anos tentando gerar um herdeiro, Napoleão se separa e casa de novo, e sua segunda esposa lhe dá um filho. E acho que essa segunda esposa só aparece em uma única cena! Ou seja, neste caso em particular, a versão longa deve ser melhor estruturada. Aqui teve muita coisa atropelada.

Soube de outro problema, mas esse não é da área que heu entendo. Existem críticas de que o filme não respeita fatos históricos. Scott foi criticado com relação a supostos erros na História, mas a sua resposta aos historiadores foi “Excuse me, mate, were you there? No? Well, shut the fuck up then.” (“Desculpe, amigo, você estava lá? Não? Bem, então cale a boca.”). Bem, não acho que esse seja o melhor modo de se encarar a História. Se ele queria fazer algo do jeito dele, devia fazer como o Tarantino e assumir que aquilo não é real.

Teve outro problema, e esse me incomodou: a idade do ator principal. Joaquin Phoenix é um grande ator (não é seu melhor trabalho, daqui a pouco volto nisso), mas, aos 49 anos de idade, precisaria de uma maquiagem forte ou de um rejuvenescimento digital para interpretar um Napoleão de vinte e poucos anos no início do filme – vemos datas na tela, Napoleão se casou com menos de 30, e foi coroado imperador aos 35. E Phoenix passa o filme inteiro com a mesma cara. Zero maquiagem para mudar a idade.

Por outro lado, as cenas de batalha são ótimas. Duas delas, Austerlitz e Waterloo, são grandiosas e muito bem filmadas. Aos 85 anos (ele faz 86 mês que vem!), Ridley Scott mostra que ainda manja dos paranauês quando o assunto filmar batalhas épicas.

Aliás, toda a produção merece elogios quanto à reconstituição de época. A cenografia é perfeita e a fotografia é belíssima.

Sobre as atuações, esse é um filme onde basicamente só dois atores têm espaço para grandes papéis. Joaquin Phoenix não está mal, mas também não está bem. Ele parece repetir outras atuações, o seu Napoleão parece ser uma colagem de outros personagens de outros filmes. Felizmente, nada grave, é um grande ator e não chega a atrapalhar o filme. Vanessa Kirby tem o outro papel importante, Josephine, a esposa do Napoleão, e também está ok.

No fim, vale pelas batalhas e pela reconstituição de época. Mas a bagunça no roteiro dá vontade de aguardar a versão mais longa.

Nimona

Crítica – Nimona

Sinopse (imdb): Nimona é a única pessoa que pode ajudar o cavaleiro Ballister Blackheart a provar sua inocência quando ele é acusado de um crime que não cometeu.

Nimona era um projeto da Blue Sky. Quando a Disney comprou a Blue Sky, Nimona foi um dos vários projetos cancelados – segundo o imdb, já tinha 70% finalizado! O motivo do cancelamento não foi divulgado, pode ter sido apenas um “não queremos esse projeto”. Mas, como o protagonista é gay, claro que todos desconfiam ser este o motivo.

E aí que está a genialidade de Nimona. A orientação sexual do personagem tem zero importância para a trama. Por outro lado, o filme usa a personagem título pra falar de preconceito e aceitação. Mas, a sociedade rejeita a personagem porque ela é diferente – no caso, é um monstro, não tem nada de orientação sexual no conflito apresentado no filme. Me lembrei de A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, outro filme que levanta a discussão mas sem levantar a bandeira.

Polêmicas à parte, o que mais gostei em Nimona foi da personagem título, agitada, anarquista, engraçada, irônica, maluquinha e muito, muito carismática. A personagem é sensacional! Um amigo comentou que ela é meio punk, no sentido literal: ela é contra o sistema e contra tudo o que está por aí!

A Nimona é uma metamorfa, e com isso ela é responsável por várias sequências excelentes. Tem uma cena onde ela vira um dragão e imita uma propaganda de cereal que é genial em mais de uma camada: a trilha sonora ao fundo é Tra La La Song, do seriado Banana Split – mesma música usada em uma sequência parecida em Kick Ass, estrelado por Chloe-Grace Moretz (que faz a voz da Nimona).

Outra coisa bem legal é o visual. Antes do filme rola um prólogo que se passa num passado distante. Aí, mil anos depois, continua tudo meio medieval, mas, ao mesmo tempo, tudo tecnológico, com smartphones e carros voadores. Taí, não me lembro de outro filme ou desenho que conseguiu misturar tudo assim e criar uma sociedade ao mesmo tempo medieval e tecnológica.

Vi o filme com meu filho, ele preferiu ver dublado. Ok, a dublagem é boa, mas deu pena de não ouvir as vozes de Chloe-Grace Moretz e Riz Ahmed, que dublam os principais no original.

Tive um certo problema com a cena final, acho que não deveria acontecer daquele jeito, mas não apaga a boa experiência que o filme proporcionou. Deve ter continuação. Que mantenham a qualidade!

O Assassino

Crítica – O Assassino

Sinopse (imdb): Um assassino começa a colapsar psicologicamente enquanto começa a desenvolver uma consciência, mesmo enquanto seus clientes continuam a solicitar seus serviços.

Dirigido por David Fincher, O Assassino (The Killer, no original) não é um filme de assassino profissional como tantos outros por aí. Temos menos ação e mais momentos reflexivos dentro da cabeça do protagonista. Se por um lado isso deixa o filme um pouco lento (e, reconheço, meio chato às vezes), por outro lado sempre apoio filmes diferentes do óbvio.

O início do filme é muito bom, o protagonista está pronto para cometer um assassinato como sniper, coisa que a gente já viu em dezenas de outros filmes. Mas, o alvo ainda não estava no local. Quanto tempo um sniper precisa ficar esperando pelo tiro perfeito? E o que ele faz enquanto esse momento não acontece? O foco do filme é a rotina do assassino, e não o ato em si!

Agora, precisamos reconhecer que o resto do filme não acompanha esse ritmo. Ele tem tarefas para cumprir e vai seguindo de tarefa em tarefa, e o filme fica meio monótono. Acho que, do resto do filme, a única parte que merece destaque é uma violentíssima luta que acontece mais perto do final.

Ter um nome como Fincher na direção garante a qualidade pelo menos na parte técnica. Se às vezes O Assassino é chato, pelo menos é muito bem filmado. Mas, comparando com outros títulos do diretor (como Seven, O Clube da Luta e Garota Exemplar), na minha humilde opinião O Assassino fica um degrau abaixo.

Um filme nesse formato não funcionaria sem um grande ator no papel principal. E Michael Fassbender está ótimo como o cara metódico e detalhista. Pena que mais ninguém no elenco tem espaço pra desenvolvimento de personagem. Do resto do elenco, a única que tem algum espaço, mesmo que pouco, é Tilda Swinton. O elenco ainda tem um nome que interessaria ao público brasileiro, Sophie Charlotte, mas, diferente da Bruna Marquezine protagonista em Besouro Azul, Sophie quase não aparece aqui.

Enfim, mesmo sendo um filme “menor”, O Assassino ainda tem mais qualidade do que boa parte do que é despejado no streaming. Mas baixe suas expectativas!

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

Crítica – Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

Sinopse (imdb): Anos antes de se tornar o tirânico Presidente de Panem, Coriolanus Snow, aos 18 anos, vê uma chance de mudança de sorte quando é escolhido para ser mentor de Lucy Gray Baird, uma garota tributo do empobrecido Distrito 12.

Antes de tudo, preciso avisar que não sou um fã da franquia Jogos Vorazes. Vi todos os filmes, não são filmes ruins, mas reconheço que tenho uma certa implicância porque acho plágio do trash japonês Battle Royale. Enfim, achei que a franquia tinha acabado, foram quatro filmes entre 2012 e 2015. Mas, olha lá, tem espaço pra um prequel.

Dirigido por Francis Lawrence (que dirigiu três dos quatro filmes da franquia, e que não é parente da Jennifer), Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes, no original) se passa 64 anos antes do primeiro filme, e mostra a juventude de Coriolanus Snow, que nos filmes anteriores é vivido por Donald Sutherland. O problema é que Snow é um vilão. Você pode até fazer um filme mostrando a origem de um vilão, mas precisa fazer um trabalho bem feito, porque é mais difícil para o espectador se identificar com um personagem malvado. E achei que aqui o trabalho não foi bem feito, não consigo visualizar pessoas torcendo pelo Snow a partir de agora.

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes tem duas horas e trinta e sete minutos. É dividido em três partes: antes, durante e depois dos jogos. As partes antes e durante parecem uma coisa só é duram aproximadamente uma hora e trinta e sete; a hora final do filme, com o pós jogo, muda completamente o tom e parece um novo filme. Com isso, trago uma boa e uma má notícias. A má é que essa hora final é bem inferior, além de ter várias coisas que não fazem sentido. Mas pelo menos tem uma boa notícia: eles poderiam ter esticado um pouco e ter feito dois filmes. A gente teria que pagar um segundo ingresso para uma continuação bem fuen.

A parte final tem alguns momentos musicais. Acredito que a ideia era tentar concorrer ao Oscar de melhor canção. Ok, pode até ser. Mas, precisava de mais de uma música? Ficou bem chato.

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes tem outro problema. Pela classificação indicativa, optaram em não mostrar sangue. O que é bizarro é que o tema do filme já é muito forte: jovens entrando numa arena para duelar até a morte. Fiquei me questionando sobre a lógica dessa classificação indicativa: não pode mostrar sangue, mas pode mostrar a galera se matando…

O elenco é ok. Tom Blyth é o protagonista; Rachel Zegler aqui não está dentro de uma polêmica. Viola Davis e Peter Dinklage estão ótimos como sempre. Também no elenco, Jason Schwartzman, Fionnula Flanagan, Hunter Schafer e Burn Gorman.

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes não chega a ser ruim, acredito que vai ter gente que vai curtir nos cinemas. Mas, na minha humilde opinião, seria um filme muito melhor se 1- cortasse a hora final; e 2- usasse mais violência durante os jogos. Do jeito que ficou é apenas mais um filme esquecível.

As Marvels

Crítica – As Marvels

Sinopse (imdb): Quando os poderes de Carol Danvers, a Capitã Marvel, se entrelaçam aos de Kamala Khan, a Ms. Marvel, e aos de Monica Rambeau, atual astronauta da S.A.B.E.R., elas precisam aprender a trabalhar em conjunto para salvar o universo.

A expectativa para o novo filme da Marvel era zero. Não só tinha um monte de gente falando mal mesmo antes do filme estrear, como As Marvels (The Marvels, no original) não teve sessão de imprensa, sessão que acontece alguns dias antes da estreia para jornalistas, críticos e criadores de conteúdo, com o objetivo de ajudar a divulgar quando o filme estrear. Se a produção acha que não vai ter nenhum retorno, não faz a sessão – e aconteceu isso com As Marvels (pelo menos no Rio).

Dito isso, posso dizer que não é um grande filme, não é um filme para listar entre os melhores da Marvel. Mas também não é tão ruim assim. Vamulá.

Antes do filme, existe um problema que não é exclusivo deste filme, mas sim um problema da Marvel de um modo geral hoje em dia. Depois de 25 anos de filmes e séries, é difícil você fazer um filme independente. O novo lançamento sempre depende de outras coisas, o espectador tem que ter visto outros filmes e outras séries para conseguir pegar todos os detalhes. Sempre critiquei isso, e preciso continuar coerente comigo mesmo – são filmes que precisam de um “manual de instruções”. As Marvels é continuação de Capitã Marvel, mas também continuação da série Miss Marvel, e também continuação da série WandaVision. Se você não acompanhou o filme e as duas séries, talvez se sinta perdido.

Dirigido por Nia DaCosta, que fez o fraco reboot de Candyman, As Marvels era pra ser o segundo filme da Capitã Marvel, mas Carol Denvers divide o protagonismo com Monica Rambeau e Kamala Khan. As três protagonistas eventualmente trocam de lugar quando usam seus poderes e isso acaba gerando algumas cenas bem legais, com boas coreografias. Mas, por outro lado, temos algumas “roteirices” porque às vezes elas trocam de lugar, outras vezes não – ou seja, o que define essa troca é o que o roteiro está pedindo.

Ouvi críticas com relação a uma sequência onde elas vão para um planeta onde todo mundo só fala cantando, mas heu achei essa ideia muito boa. Entendo que, como gosto de musicais, tenho uma certa facilidade para aceitar uma ideia dessas. Parece um momento Bollywood, tudo muito colorido, com músicas, danças e coreografias. Minha única crítica a esse momento Bollywood é que a produção do filme pareceu tímida, e a sequência é curtinha. Se você vai usar uma ideia absurda, abrace o absurdo! Assuma a galhofa! Pareceu que o filme não queria “se sujar”.

Por outro lado, achei que a cena dos gatos não ficou legal. Era para ser talvez uma piada, mas eu achei que ficou tosco. Ficou mal explicado, mal desenvolvido, não funcionou.

Sobre o elenco: Brie Larson está ok. Ela não é uma pessoa simpática, tampouco uma personagem simpática, mas ela funciona dentro do que a proposta do filme pede. Teyonah Parris (Monica Rambeau) também não é nada demais, mas também funciona para o que o filme pede. Agora, admito que gostei da Iman Vellani (Kamala Khan). A jovem (21 anos) paquistanesa sempre se assumiu muito fã do MCU, e isso passa para a personagem: vemos que ela está muito feliz fazendo o filme. Atriz e personagem são muito fãs, e isso funciona muito bem na tela. Samuel L. Jackson não está bem, o personagem Nick Fury já foi legal, hoje em dia é uma caricatura do que já foi, em Invasão Secreta estava tão ruim quanto. A vilã interpretada por Zawe Ashton (esposa de Tom Hiddleston, o Loki) também não é boa. A Marvel tem alguns vilões muito bons e outros que não são. E a vilã aqui, Dar-Benn, está no segundo grupo.

As Marvels tem uma cena final que parece cena pós créditos, e uma cena no meio dos créditos. As duas são ganchos para possíveis caminhos futuros da Marvel, e as duas são empolgantes!

When Evil Lurks / Cuando Acecha la Maldad

When Evil Lurks / Cuando Acecha la Maldad

Sinopse (imdb): Em uma cidade remota, dois irmãos encontram um homem infectado pelo diabo prestes a dar à luz a própria doença. Eles decidem se livrar do homem, mas só conseguem espalhar o caos.

O mercado cinematográfico é injusto. Tivemos um grande lançamento nos cinemas, O Exorcista: O Devoto, que é um filme bem ruim. Pouco depois a gente teve um outro lançamento, mais discreto, Nefarious, que é um filme ok, mas não é nada demais. E agora a gente tem um terceiro filme que usa o tema “possessão demoníaca”, mais uma vez sob um ponto de vista diferente, When Evil Lurks ou Cuando Acecha la Maldad, muito melhor do que os outros dois, mas sem previsão de chegar às salas de cinema.

Filme argentino, When Evil Lurks é uma produção da Shudder, serviço de streaming focado em títulos de terror. O roteiro e a direção são de Demián Rugna, que uns anos atrás fez Aterrorizados, filme que nem sabia que existia e agora preciso ver.

When Evil Lurks fala de possessão demoníaca, mas de um jeito diferente, a possessão aqui se mistura com uma espécie de contágio. O filme se passa num universo diferente do nosso, onde existem possessões e também existem regras para lidar com isso. O filme é tenso, bem filmado, bem atuado, traz gore na quantidade certa, e tem algumas cenas realmente perturbadoras. Não é perfeito, mas é um dos melhores filmes de terror do ano.

Um pequeno parágrafo para falar de jump scares. A tradução literal seria um “susto que te faz dar um pulo”. Isso acontece muito em filmes de terror, mas normalmente são feitos de um modo meio previsível, você já consegue imaginar como é que aquele susto vai aparecer – ou seja, tem o susto, mas não faz pular o espectador experiente. O jump scare bem feito é aquele que você não consegue prever, e isso acontece aqui algumas vezes. Claro, não vou dizer quando acontecem, mas, tem duas cenas envolvendo animais que realmente me fizeram dar um pulo na poltrona.

Tem uma sequência no meio do filme, quando o cara vai encontrar sua ex-mulher, que é uma sequência muito boa com um jump scare sensacional (talvez o melhor jump scare do ano até agora). Mas é uma sequência que acho que fugiu um pouco a regra proposta pelo filme. Como talvez seja spoiler, vamos aos avisos de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

O filme deixa claro que este é um mundo onde existem possessões, existem até regras que devem ser seguidas quando se encontra um possuído. Mas quando o protagonista vai até a casa da ex, as pessoas (incluindo policiais) não levam a sério essas regras, agem como se fosse um mundo normal.

FIM DOS SPOILERS!

Não sei se curti muito a parte final, mas mesmo assim recomendo When Evil Lurks para qualquer um que goste de um bom filme de terror diferente do óbvio.

Nefarious

Crítica – Nefarious

Sinopse (imdb): No dia de sua execução, um assassino em série passa por uma avaliação psiquiátrica na qual ele afirma ser um demônio, e ainda alega que antes de seu tempo acabar, o psiquiatra cometerá três assassinatos.

Pouco depois do lançamento do decepcionante O Exorcista: O Devoto, chega um novo filme que usa o tema da possessão demoníaca, mas sob um ponto de vista bem diferente. Sabe quando uma FC é “cientificamente correta”? Então, a proposta aqui é fazer uma possessão “teologicamente correta”.

Dirigido pela dupla Chuck Konzelman e Cary Solomon, Nefarious traz um prisioneiro, no corredor da morte, que precisa ser avaliado psicologicamente para saber se está são ou louco. Se estiver são, será executado; se estiver louco será transferido para outro tipo de presídio. Quase todo o filme se passa em uma sala, onde os dois conversam. Sim, quase todo o filme é um diálogo entre um prisioneiro supostamente possuído e um psiquiatra ateu.

Ou seja, esqueça maquiagens fortes, corpos distorcidos e fluidos corporais coloridos. Aliás, tem gente achando que Nefarious é terror, mas está mais pro suspense. O demônio aqui fica só no papo. E mesmo assim, o filme consegue ser envolvente, mérito de um roteiro bem escrito e de pelo menos um bom ator.

Sean Patrick Flanery é um ator com dezenas de filmes no currículo, mas nenhum grande papel, nunca tinha conseguido chamar a atenção. Mas aqui ele está realmente impressionante, com um vasto repertório de tiques enquanto está possuído, e ainda consegue se mostrar bem diferente quando está “na outra personalidade”. Seu companheiro de tela, Jordan Belfi, não está mal, faz apenas o feijão com arroz.

Nefarious é uma produção assumidamente cristã, então claro que temos mensagens religiosas. Nada contra, mas acho que o filme seria mais rico se tivesse um ponto de vista oposto mais bem elaborado. O psiquiatra se diz ateu mas cai muito fácil no papo religioso.

Não gostei da parte final. Depois de boa parte do filme dentro da cadeia, o filme tem um epílogo, e achei esse epílogo longo demais. Nada que estrague a experiência, mas podia ser bem mais sucinto.

Por fim, um breve comentário sobre a polêmica. Assim como aconteceu com Som da Liberdade, existe uma polêmica em volta de Nefarious. Mas, assim como aconteceu com Som da Liberdade, a polêmica não tem a ver exatamente com o filme, mas com quem o fez. E o meu leitor sabe que prefiro comentar a obra e não o autor da obra. Por isso que não vou comentar. Mas posso dizer que dentro do filme não tem motivo para polêmica.