Os Estranhos – Capítulo 1

Crítica – Os Estranhos – Capítulo 1

Sinopse (imdb): Uma jovem viaja para o campo com seu namorado para começar uma nova vida. Quando seu carro quebra, o casal é forçado a passar a noite em uma isolada casa Airbnb, onde a dupla é aterrorizada até o amanhecer por três estranhos mascarados.

Heu não tenho o hábito de ler informações sobre os filmes que vou ver no cinema. Faço isso para baixar expectativas antes de entrar na sala. Por isso, achei que esse “Capítulo 1” era um prequel daquele Os Estranhos de 2008.

Naquele Os Estranhos, um jovem casal é atacado por estranhos e violentos vizinhos mascarados. que tentam invadir sua casa. Na época chamou a atenção por ser estrelado pela Liv Tyler, mas não é um grande filme. Tem algum clima de tensão bem construído, mas é uma história muito vazia, não tem muita historia pra contar, acaba que é um filme esquecível.

Ainda mais esquecível foi a continuação, Os Estranhos Caçada Noturna, lançada em 2018, que se não fosse o post aqui no heuvi, heu nem me lembrava que tinha visto!

Aí veio esse “Capítulo 1”, que achei que era um prequel, mas na verdade é uma refilmagem do primeiro filme. Exatamente a mesma história, um casal sendo atacado por três estranhos mascarados, que tentam invadir a casa.

Assim como no filme de 2008, tem muito pouca história pra contar, dava pra resumir tudo em uns 30 ou 40 minutos. O filme se estende por cenas de perseguição com zero criatividade. Saí da sessão pensando “puxa, podiam reduzir esse filme e incluir o segundo capítulo, poderia dar um bom filme de uma hora e meia”.

Ai cheguei em casa e fui ver o imdb, e descobri que é bem pior. Não serão dois filmes, e sim três! Já filmaram as duas continuações, uma deve ser lançada no fim do ano e a outra ano que vem!

Vamulá, galera. Se vocês querem ter três filmes, precisam ter um bom primeiro filme, que instigue o espectador a voltar para as continuações. Os Estranhos Capitulo 1 sofre do mesmo problema de Rebel Moon, que é uma franquia forçada, onde ninguém se importa com o que ainda não estreou. E Os Estranhos Capitulo 1 é bem fraco!

Ok, admito que queria ver mais. Queria saber quem são esses mascarados, qual é a história deles, qual é a motivação deles. Vemos algumas pistas que podem (ou não) ser exploradas, como os meninos religiosos, ou o comentário que “eles não querem se misturar com os caipiras”. Se Os Estranhos Capitulo 1 fosse mais curto, e a história se expandisse pra esse caminho, provavelmente seria um filme melhor.

Mas, a previsão não é boa. Se a ideia é fazer três filmes, provavelmente o segundo será só enrolação. Teremos que esperar até o terceiro filme pra saber qual é a desses caras – se é que vão explicar!

Ainda queria falar do diretor, Renny Harlin. Ele nunca foi um grande diretor, nunca foi um nome do primeiro time. Mas ele dirigiu alguns bons filmes nos anos 80 e 90, como Duro de Matar 2, Risco Total e A Ilha da Garganta Cortada. Fico tão triste de ver um cara desses em projetos tão ruins, lembro que alguns anos atrás ele fez um dos piores filmes que vi nos últimos anos, Os Renegados / The Misfits. E agora ele pega um filme fraco e resolve transformar numa franquia. E a chance de dar errado é imensa!

(Um breve parágrafo pra dizer que entendo o mercado. É mais fácil vender ingresso pra um filme de franquia, como Os Estranhos, do que pra um filme desconhecido, como Late Night With the Devil, que deve ser lançado no segundo semestre. O segundo é muito melhor que o primeiro, mas se bobear vai vender menos ingressos. Triste realidade mercadológica.)

Enfim, o texto está ficando grande, e Os Estranhos Capitulo 1 não merece isso. Mas só queria falar que tem uma cena no meio dos créditos que não faz o menor sentido. Se o espectador já estava com gosto ruim na boca, essa cena pós créditos ainda piorou.

Grande Sertão

Crítica – Grande Sertão

Sinopse (imdb): Em uma grande comunidade da periferia brasileira chamada “Grande Sertão”, onde uma luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra, Riobaldo entra para o crime por amor a Diadorim, mas nunca tem a coragem de revelar sua paixão.

Heu sempre gosto de defender o cinema nacional. Mas às vezes isso é uma tarefa difícil.

Grande Sertão tem seus méritos, mas tem dois problemas bem complicados. O primeiro é que adaptaram o visual da história e trouxeram para os dias de hoje, mas o texto continua fiel ao original de Guimarães Rosa. Ou seja, os diálogos são rebuscados, parecendo um teatro. Pior, um teatro amador. Todos os diálogos são extremamente artificiais. Entendo a opção da produção de querer usar o texto original, mas, pelo menos pra mim, não funcionou.

(Me lembrei do Romeu + Julieta, de 1995, dirigido por Baz Luhrmann e estrelado por Leonardo DiCaprio e Claire Danes. Era um filme com visual contemporâneo mas com os diálogos em inglês shakespeariano. Mas, talvez por inglês não ser a minha língua nativa, não me lembro de ter ficado tão incomodado com aquela versão.)

E esse problema tem um agravante. Além das cenas normais, o filme tem uma narração, feita por Riobaldo, o personagem principal, mais velho (ele está de barba e cabelos grandes, com um visual diferente do resto do filme). Riobaldo faz uma narração que parece um monólogo teatral. Na minha humilde opinião, todas as cenas com a narração do Riobaldo poderiam ser cortadas do filme. Ficou artificial e arrastado, e ainda reforçou o ar de peça de teatro mal adaptada.

O outro problema é na caracterização do personagem Diadorim. Na história original, Diadorim nasceu mulher, mas se porta como homem para fazer parte do bando de Joca Ramiro (spoiler!). O problema é que Diadorim, interpretado por Luisa Arraes, se porta como mulher, se veste como mulher, tem um corte de cabelo feminino, em nenhum momento se parece com um homem. Diadorim parece um personagem da Michelle Rodriguez, ou da Ronda Rousey, ou da Gina Carano, ou da Ruby Rose, mulheres “porradeiras”, mas mesmo assim, mulheres.

Houve uma adaptação feita pela Globo em 1985 onde Bruna Lombardi interpretou Diadorim. Não vi ou não me lembro de ter visto, mas amigos críticos disseram que Bruna conseguiu criar um personagem que enganava. Aqui, Luisa Arraes não engana ninguém!

E assim como o outro problema, este também tem um “segundo degrau”. Sec XXI, 2024, fica estranho uma história que se passa nos dias de hoje com um protagonista assumidamente homofóbico. Se fosse uma história de época, dois jagunços, no meio do sertão, décadas atrás, era mais fácil de aceitar. Mas hoje, numa cidade grande? Ver uma mulher masculinizada trabalhando no meio de homens não espanta mais ninguém. Já que adaptaram o visual, trazendo do sertão pra uma favela, podiam ter adaptado o dilema moral de Diadorim.

Pena, porque tecnicamente falando, Grande Sertão é muito bem feito. A direção é de Guel Arraes, que tem um grande currículo, não só na TV (o cara estava em Armação Ilimitada e TV Pirata, nos anos 80!), como também no cinema (Arraes dirigiu O Auto da Compadecida, de 2000, um dos filmes nacionais mais populares de todos os tempos). Grande Sertão tem algumas cenas muito bem filmadas. Tem duas sequências, não sei se foram planos sequência, mas são planos longos, uma com Diadorim num corredor enfrentando vários policiais em movimentos que parecem um balé, na outra a câmera passeia entre Riobaldo, Diadorim e Zé Bebelo no meio de um grande tiroteio. Algumas das cenas de briga e de tiros também funcionam bem, o cinema nacional costuma ser deficiente nesse aspecto, e Grande Sertão não decepciona. O elenco também é bom: Caio Blat, Luisa Arraes, Rodrigo Lombardi, Luis Miranda, Eduardo Sterblitch, Luellem de Castro.

Pena, a boa parte técnica e o bom elenco não foram o suficiente, pelo menos pra mim. Porque os diálogos rebuscados e as atuações caricatas me tiravam da experiência cinematográfica, e Diadorim não engana ninguém. Grande decepção.

Magnatas do Crime (2024)

Crítica – Magnatas do Crime

Sinopse (imdb): Eddie Horniman herda a grande propriedade de seu pai, um aristocrata inglês, e se torna o novo duque de Halstead, apenas para descobrir que ele está na maior fazenda de ervas da Europa, de propriedade do lendário Mickey Pearson.

Magnatas do Crime é um longa dirigido por Guy Ritchie e lançado em 2019. E agora em 2024 veio uma série homônima, dirigida pelo mesmo Guy Ritchie. Como assim?

O filme mostrava um traficante de maconha que tinha plantações escondidas no subsolo de mansões de famílias aristocratas falidas. A série não repete nenhum personagem do filme, mas traz o mesmo conceito: a família de um duque, sem dinheiro, é sustentada pelo tráfico de maconha.

São quatro diretores diferentes – os dois primeiros episódios são dirigidos por Ritchie, e os seguintes, a cada dois, são dirigidos por Nima Nourizadeh (Gangs of London), Eran Creevy e David Caffrey. A boa notícia é que todos mantém o estilo do Guy Ritchie, com personagens marginais mas charmosos, situações bizarras, edição estilosa com uso de elementos gráficos na tela, e muita violência estilizada misturada com humor negro. Ou seja, mudou de diretor, mas continua tudo com a mesma cara.

(Aliás, Ritchie está num frenético ritmo de trabalho, deve ser por isso que delegou episódios pra outros diretores. De 2019 pra cá, ele dirigiu Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco, O Pacto, os dois primeiros episódios dessa série, e já tem filme novo dele lançado lá fora que ainda não chegou no Brasil, The Ministry of Ungentlemanly Warfare. Pensa num cara que trabalha muito!)

Os dois personagens centrais são muito bons. Theo James e Kaya Scodelario estão ótimos, tanto individualmente quanto juntos – detalhe que rola uma boa química mas eles nunca confirmam se são ou se serão um casal (tem uma cena com imagens de um flashback onde todos estavam alcoolizados que dá a entender alguma intimidade, mas parou aí).

Mas, além dos protagonistas, outra coisa que merece destaque são os personagens secundários. Magnatas do Crime tem uma vasta galeria de personagens esquisitões (começando pelo alucinado irmão do protagonista, Freddie). Outra característica dos filmes do Guy Ritchie: personagens secundários exóticos. No elenco, além dos já citados Theo James e Kaya Scodelario, Magnatas do Crime conta com Giancarlo Esposito, Vinnie Jones, Joely Richardson e Ray Winstone

Respondendo à pergunta óbvia: filme ou série? Na minha humilde opinião, o filme é melhor. Reconheço que na série dá pra desenvolver melhor algumas situações e personagens, mas sempre prefiro um produto final mais enxuto.

São oito episódios que variam entre 41 e 67 minutos. Existe um gancho pra uma segunda temporada. Que mantenham a qualidade!

Furiosa: Uma Saga Mad Max

Crítica – Furiosa: Uma Saga Mad Max

Sinopse (imdb): Após ser sequestrada do Vale Verde de Muitas Mães, enquanto os tiranos Dementos e Immortan Joe lutam por poder e controle, a jovem Furiosa terá que sobreviver a muitos desafios para encontrar e trilhar o caminho de volta para casa.

Bora pro quinto filme da saga Mad Max, desta vez sem o Max!

Antes, uma pequena recapitulação. Tivemos três Mad Max, todos dirigidos por George Miller e estrelados por Mel Gibson. O primeiro, de 1979, é bom; o segundo, de 1981, é muito bom; o terceiro, de 1985, é muito ruim. Trinta anos se passaram e Miller fez um novo filme, Mad Max Estrada da Fúria, com Tom Hardy no lugar de Mel Gibson. Este quarto filme tinha uma personagem secundária, Furiosa, que era melhor que o protagonista Max. E acho que não fui o único a pensar assim, porque agora temos um prequel contando a história da Furiosa.

Mais uma vez dirigido por George Miller, Furiosa: Uma Saga Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga, no original) começa com a Furiosa ainda criança morando no Vale Verde, até que é sequestrada por um novo vilão, Dementos.

(Sabe quando a gente vê nomes como “lord Sifo Dyas” ou “conde Dooku” e acha que tem algum brasileiro de sacanagem na Lucas Film? Poizé, os nomes aqui fazem a gente pensar algo parecido. Furiosa, Dementos, Scrotus, Erectus…)

Assim como fez nove anos atrás em Estrada da Fúria, mais uma vez George Miller entrega um espetáculo visual impressionante. O cara acabou de completar 80 anos de idade, dois meses atrás, e dirige um filme com muitas cenas de tirar o fôlego. São diversas cenas de perseguições de carros, todas muito bem filmadas, a câmera sempre bem posicionada. Não sei o que foi efeito pratico e o que foi cgi, mas digo que, pelo menos pra mim, os efeitos funcionaram muito bem.

George Miller é tão detalhista que uma das cenas de ação, que dura 15 minutos na tela, demorou 78 dias para ser filmada, envolvendo perto de 200 profissionais diariamente, com Miller apresentando storyboards sobre cada detalhe a ser filmado!

A fotografia é um espetáculo. Quase todo o filme se passa no deserto, e temos inúmeras cenas belíssimas, daquelas que dá pra tirar um frame e fazer um quadro. A cenografia e os figurinos também enchem os olhos. Mad Max sempre teve personagens exóticos e veículos exóticos. Aqui continua com a tradição – inclusive alguns dos veículos dá até pena de aparecerem tão pouco, como uma “Kombi com carreta” que só aparece por poucos segundos. E vemos cenários com riqueza de detalhes, tanto na Citadel quanto nos outros dois locais que não lembro se aparecem no filme de nove anos atrás, a Bullet Farm e o Gas Town (além de vermos algo do Verde Vale). Também gostei da trilha sonora que usa o didgeridoo, instrumento aborígene.

Uma coisa curiosa sobre o elenco. O filme é da Furiosa, a atriz principal é a Anya Taylor-Joy, mas ela só aparece em cena com 61 minutos de filme. A primeira hora de filme mostra Furiosa criança, interpretada por Alyla Browne, ótima atriz mirim que heu não conhecia (apesar de ver no imdb que ela estava em Era uma vez um Gênio, último filme dirigido por George Miller antes de Furiosa). Alyla Browne manda bem, Anya Taylor-Joy idem. Detalhe: Anya quase não fala no filme, segundo o imdb são apenas 30 linhas de diálogo.

O novo vilão é interpretado por Chris Hemsworth, com uma maquiagem que deixou ele mais parecido com o Charlie Hunnam do que com ele próprio. Conversei com alguns amigos que não gostaram dele, mas heu discordo, gostei de ter um vilão fanfarrão e caricato. Só achei que alguns elementos de cenografia deveriam ser pensados, porque é impossível não lembrar do Thor quando vemos Chris Hemsworth com uma capa, ao lado de um cara com chifres.

Cabe um mimimi? Charlize Theron tinha 40 anos quando Estrada da Fúria foi lançado; Anya Taylor-Joy tem 28 agora, no lançamento de Furiosa. Ok, é uma Furiosa mais nova, coerente ter uma atriz mais nova. Mas… O fim do filme conecta diretamente ao outro filme. É que nem Rogue One, que termina momentos antes de começar Guerra nas Estrelas. Furiosa termina momentos antes de começar Mad Max Estrada da Fúria. Precisava de uns anos pra personagem envelhecer…

Alguns dos atores do filme de nove anos atrás reaparecem aqui, então tem espaço pra outro mimimi. O filme se passa antes, os personagens estão mais novos. Nathan Jones, que faz Rictus Erectus, não parece mais novo… Mais uma curiosidade sobre o elenco: Angus Sampson, que está nos dois filmes como “Organic Mechanic”, tem um papel recorrente na franquia Sobrenatural.

São duas horas e vinte e oito minutos de filme, mas achei um ritmo ótimo, não cansou. Se tenho uma única crítica é que no finzinho tem uma cena entre a Furiosa e o Dementos que se estende demais. É um diálogo que achei desnecessário. Na minha humilde opinião, se tirasse aquele longo diálogo, seria melhor.

Claro, temos referências ao filme de 2015. Max aparece rapidinho,numa cena que se você piscar, perde – mas dá pra ver claramente que é ele. E durante os créditos vemos cenas do filme anterior.

Furiosa: Uma Saga Mad Max estreia esta semana nos cinemas, e é daqueles filmes que vale ser visto no cinema, com uma tela grande e um som alto.

Meu Sangue Ferve Por Você

Crítica – Meu Sangue Ferve Por Você

Sinopse (imdb): Em 1979, Magal, um dos artistas mais populares do Brasil, conhece a deslumbrante Magali e se apaixona. Para conquistá-la, ele precisará vencer a resistência do empresário, além da desconfiança da família, dos amigos e da própria amada.

Antes de tudo, preciso falar que não curto as músicas do Sidney Magal. Nada contra, mas não é o meu estilo. Só conheço duas, uma delas conheço porque toco numa banda de karaokê; a outra só conheço o refrão. Mas, nada contra ver um filme sobre o cara.

Dirigido por Paulo Machline, Meu Sangue Ferve Por Você tem duas coisas que o tiram do lugar comum. Uma delas é um formato que é um musical, mas ao mesmo tempo não é um musical. Explico: não é um musical clássico daqueles que o roteiro usa diálogos cantados. Mas por outro lado, o filme tem vários números musicais com coreografias, usando as músicas do Sidney Magal. Ou seja, tem elementos de um musical, mas não é exatamente um.

A outra coisa é que não é uma “biografia do Sidney Magal”. Antes de começar o filme, aparece na tela que esta e uma “fabula magalesca”. Ou seja, o filme não tem nenhuma obrigação de ser fiel à realidade. Sabe quando vemos uma cinebiografia e ficamos na dúvida se aquilo realmente aconteceu? Bem, aqui, aquilo não necessariamente aconteceu, o filme já avisa logo de cara.

Digo mais: o filme não fala sobre a carreira do Sidney Magal, e sim sobre o relacionamento do casal Magal e Magali (que segundo o texto pós filme, realmente se conheceram em 1979, se casaram e estão juntos até hoje). Não sabemos como foi o início da carreira de Magal, e qual foi sua trajetória até o sucesso. O filme só mostra o recorte de como o casal se conheceu e ficou junto.

No elenco, Filipe Bragança manda bem como Sidney Magal. Li na wikipedia que ele é mais conhecido por ter feito Chiquititas, mas me lembro dele em Dom. Giovana Cordeiro faz a Magali (que, se bobear, tem mais tempo de tela que o próprio Magal). Também no elenco, Caco Ciocler, Emanuelle Araújo e Sidney Santiago.

Por fim, tem uma cena no meio dos créditos, onde a Emanuelle Araújo, que interpreta a mãe da Magali, canta “Meu Sangue Ferve por Você” em versão piano e voz. Ok, mas… Pra que essa cena? Ela não se conecta com nada no filme! O que ficou parecendo é que, como Emanuelle é cantora, quiseram colocá-la pra cantar uma música, mas não combinava com a personagem, então improvisaram algo pros créditos. Não ficou ruim, mas ficou esquisito.

Back to Black

Crítica – Back to Black

Sinopse (imdb): O filme narra a vida e a música de Amy Winehouse, através da jornada da adolescência até a idade adulta e a criação de um dos álbuns mais vendidos do nosso tempo.

Nunca fui fã da Amy Winehouse. Vozeirão, mas não sou fã do estilo dela. Tanto que só conhecia três músicas, e uma delas (Valerie) conheci através de uma versão violão e voz, só depois soube que era Amy.

Opa, devo ser o público certo pra esse filme. Vou conhecer a carreira da Amy Winehouse!

Mais ou menos. Dirigido por Sam Taylor-Johnson (50 Tons de Cinza), Back to Black (idem, no original) parece mais uma história sobre o relacionamento tóxico de um casal do que uma cinebiografia musical. O foco principal é o relacionamento, a música está em segundo plano.

Back to Black mostra pouco da carreira da Amy. São cenas isoladas, tipo uma gravação aqui, um show ali, no meio de muitas cenas do casal. Vemos mais tatuagens do que bastidores de composições, ensaios e gravações.

Quem não conhece a história dela (meu caso) vai ficar meio perdido. Tipo ela está fazendo um show num pubzinho pra umas 50 pessoas, logo depois está num estádio cantando pra milhares. O filme não se importa em situar fases da cantora. Por outro lado, conhecemos bem o relacionamento do casal…

Claro, um filme sobre Amy Winehouse não pode ignorar o álcool e as drogas. Aparecem no filme. Mas, me deu a impressão de que suavizaram um pouco. Afinal, alguém que morreu aos 27 anos em consequência de excesso de álcool e drogas, deve ter tido um consumo maior do que vemos no filme…

Tem um outro problema que heu não sabia, mas um amigo crítico me contou. O pai de Amy, Mitch, não era um cara bonzinho como o filme mostra. Dizem que ele sempre explorou a filha, e chegou a montar uma turnê mundial explorando a morte da filha. Quem só conhece pelo filme acha que ele é um pai super legal.

Gostei da interpretação da Marisa Abela. Ok, não sou um grande conhecedor de Amy Winehouse, mas, pra mim, ficou parecida. E, segundo os créditos, é ela que canta as músicas. Mais uma vez, não sou um grande conhecedor, pra mim a voz ficou igual.

Também queria elogiar a edição musical. Música diegética e não diegética se misturam em vários momentos do filme, ela começa cantando e a música passa para a gravação, e essas transições acontecem organicamente. Diria que isso, ao lado da interpretação da Marisa Abela, é o melhor de Back to Black.

Gostei da cena que mostra a música título, Black to Black. Heu tenho um problema particular em prestar atenção em letras de música, normalmente presto mais atenção na harmonia e no instrumental e acabo me distraindo na letra. Aqui, com as legendas, deu pra ver que a música conta uma história. Essa cena ficou boa, pena que o filme usou pouco esse recurso.

Entre erros e acertos, acho que Back to Black talvez agrade aos fãs da Amy Winehouse. Mas para os “não fãs” era melhor um filme mais bem construído.

Amigos Imaginários

Crítica – Amigos Imaginários

Sinopse (imdb): Uma garota descobre que consegue ver os amigos imaginários de todas as pessoas, mesmo aqueles esquecidos por crianças que já cresceram. Com esse novo superpoder, ela embarca em uma aventura para reconectá-los.

Ah, o head canon… De vez em quando aqui comento que o head canon atrapalha o julgamento de alguns críticos. Head canon é quando a gente imagina alguma coisa antes de ver o filme, e quando vemos algo diferente, rola uma decepção. Não pelo que o filme entregou, e sim pelo que você queria que o filme entregasse.

E, em Amigos Imaginários, reconheço que caí no head canon. Vi o trailer, e pensei que ia ser um filme com “humor Ryan Reynolds”, humor escrachado nível Deadpool. Mas… Amigos Imaginários é um filme infantil. Tem piadas, mas são poucas, e quase todas bem comportadas. E tem muito drama!

Ou seja, não gostei de Amigos Imaginários. Mas, é culpa do filme ou culpa minha? 😉

Vamos ao filme. Amigos Imaginários foi escrito e dirigido por John Krasinski, que é mais conhecido como ator, ele tinha um papel importante em The Office, e depois foi o Jack Ryan. Mas, ele também chamou a atenção quando foi pra cadeira de diretor e dirigiu o bom Um Lugar Silencioso (assim como sua continuação). Agora Krasinski direcionou seu novo filme pra outra faixa etária, e declarou que queria fazer um “live action da Pixar”.

Uma menina descobre que consegue ver amigos imaginários, que foram abandonados quando seus “donos” cresceram. Junto com o Ryan Reynolds, ela resolve procurar novos “donos” para eles. Claro, o Ryan Reynolds é irônico e faz piadas, mas ele pega bem mais leve do que o que heu achei que seria. Além disso, o filme pesa no drama em algumas cenas.

Amigos Imaginários tem algumas boas piadas (não muitas) e pelo menos uma cena belíssima envolvendo balé. Gostei dos efeitos especiais que criam os amigos imaginários, principalmente o Blue, um dos principais – porque quase todos parecem personagens em cgi, iguais ao que a gente está acostumado a ver nos filmes, mas o Blue tem uma textura que às vezes parece ser um bonecão interagindo com os atores. Também curti o local onde eles “moram”.

Por outro lado, o plot twist é muito previsível. Chega a ter um diálogo entre dois personagens indicando o que deveria ser uma surpresa. Talvez o filme consiga enganar uma criança distraída, mas mesmo uma criança atenta vai pescar. Krasinski, veja mais filmes do Shyamalan!

A sessão de imprensa foi dublada. Ok, a dublagem brasileira não é ruim, mas… Em primeiro lugar, achei fraca a dubladora da menina – justamente a personagem principal. Mas, pior que isso é a gente ver o elenco original de vozes e ver que os amigos imaginários são dublados por Steve Carell, Phoebe Waller-Bridge, Emily Blunt, George Clooney, Bradley Cooper, Matt Damon, Bill Hader, Louis Gossett Jr, Richard Jenkins, Keegan-Michael Key, Blake Lively e Awkwafina, entre outros. Perdi todo esse elenco…

Por fim: a melhor piada do filme está nos créditos. Não, não é uma cena pós créditos, são os créditos do elenco. Prestem atenção no nome do Brad Pitt!

Mad God

Crítica – Mad God

Sinopse (imdb): Um campanário de mergulho corroído desce no meio de uma cidade em ruínas e o Assassino emerge dela para explorar um labirinto de paisagens estranhas habitadas por habitantes monstruosos.

Quando soube que Phil Tippett tinha dirigido um longa metragem em animação stop motion, corri pra ver. Pra quem não ligou o nome à pessoa, Tippett é um técnico de efeitos especiais que tem um currículo invejável. Ele trabalhou no stop motion de filmes como Guerra nas Estrelas, O Império Contra Ataca e Howard O Super Herói, é o criador do robô Ed 209, de Robocop, e chegou a ganhar o Oscar pelos efeitos de Jurassic Park. Gosto de stop motion, gosto do trabalho do cara, claro que quero ver o filme.

Tippett demorou mais de 30 anos pra terminar o filme – nos créditos diz que ele filmou entre 1987 e 2020, ele juntava alunos que queriam experiência pra trabalhar aos sábados. Só pra citar um exemplo que está no imdb: a montanha de soldados mortos foi feita derretendo milhares de soldados de brinquedo, e seis pessoas levaram três anos para completar a cena.

(Ainda segundo o imdb, ele começou a trabalhar no projeto no fim dos anos 80, mas chegou a desistir depois de Jurassic Park, em 1993, porque achou que o CGI ia substituir o stop motion. Mas ele voltou atrás, fez uma campanha no Kickstarter e retomou o projeto.)

Heu queria gostar de Mad God. Realmente queria. Mas…

O visual é impressionante! Muitas cenas enchem os olhos! Mas, o filme vai rolando, e nada acontece! Quer dizer, muita coisa acontece, mas tudo deve ter algum significado simbólico que não fica explícito. Ou seja, é daqueles filmes pra se ver com “manual de instruções” ao lado, pra explicar cada uma daquelas loucuras que vemos em tela. E o fato de não ter diálogos não ajuda em nada.

Como não consegui entender nada, com meia hora de filme, me cansei. E como Mad God tem uma hora e vinte e três, virou uma experiência torturante chegar ao fim.

(Ainda tem um problema, pelo menos pra mim. Mad God é de 2021, mas só vi agora, depois de ter visto o Pinóquio do Del Toro, lançado um ano depois, mas com um alcance muito maior. E Pinóquio é muito melhor em todos os sentidos, porque além de ter um visual ainda mais embasbacante, traz uma história linda!)

Pena, porque o trabalho é belíssimo. Vemos um personagem (que não entendi muito bem o que é) descendo a um submundo onde vemos monstros bizarros em cenários bizarros, mas tudo muito bem feito. Ainda tem muita violência (muitos bonecos morrem!) e muito gore (incluindo algumas cenas nojentas com fluidos corporais). E quase tudo é em stop motion, tirando algumas poucas sequências com atores humanos no meio do filme (o ator principal é Alex Cox, diretor dos cultuados Repo Man (84) e Sid & Nancy (86)).

Mas o resultado, infelizmente, ficou muito chato. Reconheço o trabalho de Tippett, mas é difícil aguentar Mad God até o fim. Do jeito que ficou, o filme mais parece um catálogo de efeitos especiais. Talvez fosse melhor relançar com uma narração ao fundo situando o espectador.

Bebê Rena

Crítica – Bebê Rena

Sinopse (imdb): Segue o distorcido relacionamento do roteirista e ator Richard Gadd com sua stalker, e o impacto que isso causa quando ele é forçado a enfrentar um trauma profundo e muito sombrio.

Tem tido tanto filme novo que tenho evitado séries. Mas tinha tanta gente falando de Bebê Rena que resolvi ver qual é. (No caso de Bebê Rena ainda tinha outro problema; nome e pôster completamente sem apelo. Rebel Moon, que é um filme ruim, tem nome e pôster atrativos, aqui era o oposto.)

Mas, estranhamente, Bebê Rena é muito bom. Digo estranhamente porque o seu protagonista é um looser com zero carisma. E mesmo assim, acabava o episódio e heu tinha vontade de continuar acompanhando a vida desse cara.

Conhecemos Donny, um cara que é stalkeado por uma mulher que conheceu no pub onde trabalha. E, inacreditavelmente, ele quase não toma atitudes contra ela. Seguimos essa história por três episódios, até que no quarto conhecemos um grande trauma do passado de Donny, o que nos mostra uma razão pra ele querer ser stalkeado.

Bebê Rena tem uma característica curiosa: é baseado numa história real, vivida pelo ator e roteirista Richard Gadd. Ele alterou nomes e criou um monólogo teatral contando sua história, até que virou uma mini série da Netflix. Ou seja, o próprio ator viveu aquela história (ou pelo menos é a versão dele). E Richard Gadd mostra ser um bom ator, no final da série tem um longo monólogo onde ele desabafa tudo no palco, aquela cena deve render a ele alguma indicação a prêmio de melhor ator.

O roteiro também é muito bem estruturado. Bebê Rena é uma série curta, são 7 episódios de pouco mais de meia hora cada. Cada episódio flui bem, e, importante pra uma série, cada episódio te deixa com vontade de ver logo o seguinte.

No fim, não sei se posso dizer que fiquei com pena de Donny. Ok, entendo que ele passou por problemas complicados, mas, na minha humilde opinião, vendo de fora, entendo que parte da culpa também é dele, que deveria ter tomado atitudes mais enérgicas em ambos os casos apresentados na série (e digo o mesmo sobre o seu relacionamento com a Teri). Mas, apoiando o personagem ou não, pelo menos reconheço que a série cumpre seu propósito: envolve e faz o espectador pensar.

Planeta dos Macacos: O Reinado

Crítica – Planeta dos Macacos: O Reinado

Sinopse (imdb): Muitos anos após o reinado de César, um jovem macaco embarca em uma jornada que o levará a questionar tudo o que lhe foi ensinado sobre o passado e a fazer escolhas que definirão o futuro de macacos e humanos.

E vamos para mais uma franquia que aparentemente não sabe a hora de parar. Bem, a boa notícia é que é uma franquia que consegue manter alguma qualidade.

Tivemos cinco filmes “clássicos”, entre 1968 e 1973. E teve a tentativa fracassada do Tim Burton em 2001. Em 2013, 14 e 17, tivemos a trilogia que era centrada no macaco Cesar, e agora começa uma nova história que se passa gerações depois de sua morte (segundo o imdb, são 300 anos depois). Conhecemos uma pequena comunidade que vive isolada dos humanos e de outros macacos, até que um novo vilão captura quase todo o clã. Noa, nosso novo protagonista, escapa, e com ajuda de um orangotango e uma humana inteligente, vai tentar libertar os seus.

O roteiro do filme dirigido por Wes Ball (que até hoje só tinha feito longas dentro da franquia Maze Runner) tem algumas escorregadas aqui e ali, tipo um macaco consegue cheirar de longe um cobertor que foi tocado por um humano, mas quando este mesmo humano está escondido na cabana do macaco, ele não sente o cheiro. Mas, de um modo geral, o roteiro flui bem na dinâmica entre os personagens, que precisam se unir por um objetivo em comum. Só achei que não precisava de quase duas horas e meia, o filme podia ser um pouco mais curto.

Um parágrafo à parte pra falar dos efeitos especiais. Sabe quando a gente vê um cgi e pensa “acho que esse cgi não sobrevive a alguns anos?” Aqui passa a impressão oposta. Os macacos são absolutamente perfeitos. Digo mais: tem uma sequência debaixo d’água, os macacos estão com os pelos molhados, e tudo parece muito real. A impressão que passa é que chegamos à perfeição.

Também gostei da ambientação, vemos florestas, praias e parte de cidades tomadas pela natureza, incluindo um grande navio encalhado e enferrujado. Aliás, as construções humanas cobertas de vegetação são bem legais, queria ver mais cenas neles, pena que são poucas.

Planeta dos Macacos: O Reinado traz algumas referências ao primeiro filme, de 1968, como a boneca que fala, ou a cena da praia, ou ainda citações na trilha sonora. Referências inteligentes, porque quem não viu o filme original não vai ficar perdido, mas quem viu vai abrir um sorriso.

Por outro lado, existe um problema comum no cinema pipoca de hoje em dia: a necessidade de continuações. Um exemplo é a cena do telescópio. Se o telescópio volta em uma segunda cena, é algo importante; mas como não mostram nada, é porque devem ter guardado para a provável continuação.

Agora temos que esperar a continuação. Rumores falam que será uma nova trilogia, que vai ligar ao filme de 1968 no fim. Aguardemos.