Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Crítica – Love Lies Bleeding – O Amor Sangra

Sinopse (imdb): A solitária gerente de academia Lou se apaixona pela ambiciosa fisiculturista Jackie, que está de passagem em direção a Las Vegas, em busca do seu sonho. Mas essa história de amor fulminante as envolve na rede criminosa da família de Lou.

Novo filme de Rose Glass, diretora do bom (e quase desconhecido) Saint Maud, Love Lies Bleeding traz uma história meio cliché, de uma pessoa que chega numa cidade, se relaciona com uma local, e acaba que muda os rumos da vida das pessoas em volta.

Acho que o melhor aqui em Love Lies Bleeding são as interpretações. Kristen Stewart já mostrou em outras ocasiões que é uma boa atriz, apesar do passado em Crepúsculo. E Katy O’Brian, apesar de pouco conhecida, também está muito bem, e, principalmente, tem o physique du role para o papel. Mas o melhor é Ed Harris, que faz um cara esquisito com um cabelo esquisito (que inicialmente era pra ser uma piada mas a diretora gostou e decidiu manter no personagem). Também no elenco, Dave Franco, Jena Malone e Anna Baryshnikov (sim, filha do Mikhail).

Love Lies Bleeding tem uma boa ambientação nos anos 80 – acho que essa trama não funcionaria nos dias de hoje, com câmeras de segurança e celulares. E o filme traz algumas cenas de violência gráfica bem fortes. Não são muitas, mas o gore deixa muito filme de terror pra trás.

Love Lies Bleeding tem um final em aberto. Daqueles finais que não fazem sentido, é cada espectador que interprete como achar melhor. Depois da sessão conversei com dois críticos amigos, cada um de nós três teve uma interpretação diferente. Heu não tenho problemas com finais em aberto, mas acredito que isso vai repelir parte da plateia. Na minha humilde opinião, a diretora Rose Glass foi mais eficiente em Saint Maud, que constrói um final em aberto, mas, no último frame, mostra o que realmente estava acontecendo, ou seja, abre espaço para interpretações, mas depois mostra a versão dela. Love Lies Bleeding não tem isso, terminamos o filme sem saber o que a diretora queria dizer.

Imaculada

Crítica – Imaculada

Sinopse (imdb): Cecilia, uma jovem religiosa, se torna freira em um convento isolado na região rural italiana. Após uma gravidez misteriosa, Cecilia é atormentada por forças perversas, enquanto confronta segredos sombrios e horrores do convento.

Há poucas semanas tivemos A Primeiro Profecia, um filme de terror onde uma jovem americana ia pra Itália para virar freira e acabava ficando grávida numa trama que envolvia uma grande conspiração. E agora a gente tem Imaculada, um filme de terror onde uma jovem americana vai pra Itália para virar freira e acaba ficando grávida numa trama que envolve uma grande conspiração. Sim, mais um caso de “filmes gêmeos”, como Vida de Inseto e Formiguinhaz, Volcano e Inferno de Dante, Armageddon e Impacto Profundo, Matrix e 13º Andar, etc (falei sobre isso num podcrastinadores anos atrás)

Apesar de parecidos, A Primeira Profecia e Imaculada são diferentes na motivação das suas conspirações, e, principalmente, no final. Porque o final de Imaculada é MUITO bom. Volto a ele no fim do texto, pode deixar, sem spoilers.

Imaculada tem uma história curiosa nos bastidores. Sydney Sweeney fez uma audição para este filme em 2014, mas não passou no teste, e acabou que o projeto nunca saiu do papel. Anos mais tarde, Sweeney, agora como produtora, procurou o roteirista, adquiriu os direitos, contratou um diretor (Michael Mohan, que já tinha trabalhado com ela em The Voyeurs), conseguiu investidores, levou o filme para a produtora Neon, e finalmente conseguiu o papel.

E Sydney Sweeney está muito bem aqui. Já ouvi elogios sobre sua atuação na serie Euphoria, mas como não vi a série, minhas referências são filmes onde ela não entrega nada demais, tipo The Voyeurs e Madame Teia. Já em Imaculada ela mostra que tem potencial pra ser do primeiro time. Ainda sobre o elenco, um dos papéis principais é de Álvaro Morte, de La Casa de PapeI. É curioso ver o Professor falando em inglês…

Imaculada é curto, menos de uma hora e meia, o que acho perfeito pra filmes de terror. Gostei muito do clima esquisitão dentro do convento. Aparentemente as pessoas aceitam facilmente as coisas estranhas, mas tudo faz sentido no final. E preciso fazer um elogio aos jump scares aqui em Imaculada. Não é “filme de sustinho” à la James Wan, mas tem um ou outro aqui e ali, e são bem construídos. Preciso admitir que um deles me pegou! Ah, e é bom avisar que Imaculada é graficamente muito violento. Tem umas cenas onde o gore lembra os giallos – os personagens falando em italiano ajudam nessa lembrança.

Sobre o final. Já comentei outras vezes que um bom final eleva a nota do filme, assim como um final ruim abaixa a nota. E achei o final aqui muito bom. Sem spoilers, mas é um final que traz três coisas que admiro no cinema. Primeiro, é um final tecnicamente bem feito, é um take longo, quase três minutos sem corte. Segundo, é uma cena que exige muito da atriz, e a Sydney Sweeney não decepciona e entrega uma cena visceral, é quase um “clipe de Oscar”. Por fim, é um final simbolicamente incômodo. Muita gente não vai gostar, por ser um tema delicado, mas, independente de gostar ou não, acho difícil alguém sair do cinema indiferente depois de uma cena dessas.

Não vou comentar mais porque não quero entrar em spoilers. Mas posso dizer que Imaculada vai dar o que falar, principalmente por causa desse final.

Late Night With the Devil

Crítica – Late Night With the Devil

Sinopse (imdb): Uma transmissão televisiva ao vivo em 1977 dá terrivelmente errado, liberando o mal em todos os lares do país.

Ah, a expectativa… Vi três filmes de ação seguidos, e enquanto estava escrevendo sobre eles, vi que pipocavam críticas sobre um novo “melhor filme de terror do ano”. Claro que seria o meu próximo filme.

Vejam bem, Late Night With the Devil não é ruim, longe disso. Principalmente quando a gente compara com um monte de lixo que chega mensalmente no gênero “terror”. Mas tenho minhas dúvidas sobre essa denominação de “melhor do ano”.

Acho que o pior problema de Late Night With the Devil é que ele é vendido como um found footage. Tem uma introdução onde dizem que aquele é o programa ao vivo, que foi exibido na TV no dia 31 de outubro de 1977, e que “encontraram imagens dos bastidores”. E aqui está o problema: nessas imagens dos bastidores o filme segue normalmente, como se câmeras estivessem acompanhando as pessoas. E vamos combinar: aquilo NÃO é found footage! Inclusive, muda o formato da tela. Pra que querer vender o filme por uma coisa que ele não é?

(E se os bastidores não são found footage, a parte final do filme e menos ainda!)

Agora, por outro lado, a parte que mostra o programa em si é muito boa. Realmente parece que estamos vendo um programa de auditório dos anos 70. Toda a ambientação, cenários, figurinos, efeitos, tudo remete àquele formato. Se heu não conhecesse o ator principal de outros filmes, até poderia acreditar que é um programa real!

(Uma curiosidade: a data escolhida foi 31 de outubro de 1977. Eles queriam um dia de Halloween, e queriam criar um programa numa segunda feira. E a única vez que 31 de outubro caiu numa segunda feira na década de 70 foi em 1977.)

Escrito e dirigido pelos irmãos Cameron Cairnes e Colin Cairnes, Late Night With the Devil é terror, mas o terror em si demora pra começar, só vemos coisas assustadoras lá pelo terço final. Mas pelo menos pra mim isso não foi um problema, porque o show / programa de TV é muito bem conduzido e, na minha humilde opinião, a tensão cresceu no momento certo.

Sem spoilers, mas a parte final do filme abandona de vez o found footage, o que não seria um problema se o filme não se vendesse assim. E a cena final traz um plot twist interessante, gostei de como os roteiristas / diretores amarraram a história.

No elenco, achei legal ver David Dastmalchian – o Bolinha de Esquadrão Suicida – num papel principal. O cara sempre foi coadjuvante, é daqueles que a gente vê e pensa “de onde já vi esse cara?”. E em Late Night With the Devil ele mostra um personagem com camadas, é um cara ao mesmo tempo inseguro e confiante, tem seus problemas pessoais mas os deixa nos bastidores e segue conduzindo o programa. E também queria falar da menina Ingrid Torelli, que mostra timidez e logo depois se transforma. Guardemos esse nome!

No fim, Night With the Devil é um bom filme. Mas se não estivesse sendo vendido como found footage, seria melhor.

Night With the Devil tem previsão de chegar ao circuito em setembro. Por enquanto, só na Shudder.