Um Lugar Silencioso – Dia Um

Crítica – Um Lugar Silencioso – Dia Um

Sinopse (imdb): Uma mulher vive os aterrorizantes primeiros minutos de uma invasão alienígena na cidade de Nova York.

Hollywood gosta de franquias. Um terceiro filme de Um Lugar Silencioso não chega a ser surpresa. A Paramount disse que seria um prequel, mas pra mim Um Lugar Silencioso – Dia Um é um spin off, já que vemos outros personagens no mesmo universo.

Meu medo era a troca de diretor. John Krasinski deu lugar a Michael Sarnoski (que dirigiu Pig, um dos melhores filmes recentes do Nicolas Cage). Mas podemos dizer que Sarnoski fez um bom trabalho.

Somos apresentados à protagonista, interpretada pela Lupita Nyong’o (não me lembro se ela tem nome), que está numa clínica tratando um câncer terminal. Os pacientes vão até a cidade de Nova York pra assistir a uma peça de teatro, quando chegam os monstros alienígenas e começam a destruir tudo.

Essa parte “filme catástrofe” é muito boa. São sequências tensas, e a parte técnica é perfeita. Lembrei da franquia Alien: no primeiro filme, mal vemos o monstro, mas nas continuações temos uma grande quantidade deles. Aqui e o mesmo, são dezenas de monstros espalhados, destruindo tudo. Tem uma cena em plano sequência, da Lupita andando meio sem destino no meio do caos, que é talvez a melhor sequência do filme.

Mas aí acabam as sequências de catástrofe e o filme muda. Caímos num momento drama que achei meio arrastado. E então algumas conveniências de roteiro começaram a me incomodar. Vou citar duas delas aqui.

A primeira é sobre como funciona a audição dos monstros. Parece que a audição é mais ou menos apurada dependendo do que o roteiro pede. Um exemplo: em uma cena, o som de uma roupa se rasgando é suficiente pra rapidamente atrair o monstro. Mas em outra cena vemos centenas, talvez milhares de pessoas andando, e os monstros demooooram pra aparecer… Tem uma outra cena onde um personagem está quebrando vidros de carros pra disparar alarmes e atrair os monstros, e outro personagem chuta uma latinha – e TODOS os monstros param de seguir os alarmes pra irem na direção da latinha!

(Tem um detalhe que parece que não viram os filmes anteriores. As pessoas andam descalças e pisam de um modo a fazer menos barulho. Aqui o personagem do Joseph Quinn anda de sapato social por mais da metade do filme. Não era melhor alguém ter dito pra ele andar descalço?)

Outra conveniência de roteiro é o gato. Tem um gato que acompanha a Lupita ao longo de todo o filme. Mas tem cenas onde o gato não está. Então a gente combina assim: se der pra aparecer, a gente coloca o gatinho. Mas se for complicado, tipo uma cena debaixo d’água, a gente deixa de lado e depois mostra o gatinho molhado. Ah, detalhe: o gato não mia!!!

Tem um outro probleminha, nada grave, mas, nós, espectadores, sabemos que os monstros são extremamente sensíveis aos sons, então é importantíssimo que se fique em silêncio. Mas, os personagens do filme “ainda” não sabem. Achei que o início foi meio abrupto nesse sentido, podiam ter desenvolvido melhor esse novo perigo desconhecido.

Assim como nos outros filmes, o elenco é pequeno e funciona bem. Quase todo o filme fica em cima da Lupita Nyong’o e do Joseph Quinn, e tem pequenas participações de Alex Wolff e Djimon Hounsou.

Apesar dessas “roteirices”, Um Lugar Silencioso – Dia Um não é de todo ruim. Vai agradar os menos exigentes.

Guerra Sem Regras / The Ministry of Ungentlemanly Warfare

Crítica – Guerra Sem Regras / The Ministry of Ungentlemanly Warfare

Sinopse (imdb): O exército britânico recruta um pequeno grupo de soldados altamente qualificados para atacar as forças nazistas atrás das linhas inimigas durante a Segunda Guerra Mundial.

Pensa num cara que tem trabalhado muito. De 2019 pra cá, Guy Ritchie dirigiu Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco, O Pacto, os dois primeiros episódios da série Magnatas do Crime, e já tem filme novo dele este ano, este Guerra Sem Regras (The Ministry of Ungentlemanly Warfare, no original).

Heu gosto muito do Guy Ritchie, mesmo sabendo que ele desde o início da carreira parecia ser um “sub Tarantino” – Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch são dois filmes excelentes, mas que trazem muitas semelhanças com a “cartilha tarantinesca”. E parece que agora Ritchie quis fazer o seu Bastardos Inglórios.

Vejam bem, heu aceito filmes que de certa maneira copiam outros. Mas, o filme precisa ser bom. E, infelizmente, Guerra Sem Regras tem seus problemas.

Guerra Sem Regras começa bem. Diria que até a metade o filme é bom. A cena inicial, onde somos apresentados ao grupo dos “bastardos inglórios da segunda divisão”, é muito boa. Conhecemos um grupo de “matadores de nazistas” que realmente existiu na vida real – se as coisas aconteceram como no filme, aí já é outra história, mas essas pessoas realmente existiram. O grupo precisa sabotar um grande navio nazista, numa missão tão secreta que nem a marinha britânica podia saber.

A trama se divide em dois grupos – temos os homens num barco, indo até a costa da África, enquanto uma mulher, em terra, precisa seduzir um oficial nazista. E é com essa personagem que está o pior problema de Guerra Sem Regras. Porque todos vão se lembrar de uma cena icônica em Bastardos Inglórios, onde um infiltrado entre os nazistas é descoberto por um detalhe. Aqui acontece EXATAMENTE a mesma coisa. Caramba, “copia, mas não faz igual!”

Depois disso passei a ter menos tolerância com alguns pequenos problemas que heu relevaria se o filme estivesse fluindo bem, como uma inexplicável troca de roupa da personagem da Eiza Gonzalez no meio da festa. Ou, ainda pior: cortam a energia elétrica do local, mas deixam a festa dos oficiais iluminada por lamparinas pra eles não repararem que a base está sem luz. Mas, a Eiza está cantando no microfone! Como aquele microfone está ligado se não tem energia elétrica??? E, pra piorar, a cena final é confusa, a gente vê muitos tiros e explosões, mas é difícil de entender tudo o que está acontecendo.

Sobre o elenco, Henry Cavill está bem, e preciso reconhecer que gostei do Alan Ritchson, que tinha se mostrado um ator péssimo na série Reacher. Por outro lado não gostei da Eiza González, mas não sei se o problema está na atriz ou na personagem. Ah, preciso citar: Til Schweiger é o oficial nazista. Sim, ele mesmo, que estava em Bastardos Inglórios.

Pena, porque o filme começou bem, a reconstituição de época é muito boa, e temos algumas cenas de ação muito bem coreografadas e bem filmadas. Faltou pouco pra ser um “Bastardos lado B”.

Por fim, uma curiosidade: Ian Fleming, um dos oficiais britânicos, é o criador do James Bond. Rumores dizem que ele criou o seu famoso personagem inspirado em Gus March-Phillips, protagonista aqui (personagem do Henry Cavill).

Guerra Sem Regras será lançado em breve no Prime Vídeo…

Clube dos Vândalos

Critica – Clube dos Vândalos

Sinopse (imdb): Acompanha a ascensão de um clube de motociclistas do meio-oeste americano por meio da vida de seus membros.

Clube dos Vândalos (The Bikeriders, no original) se inspira no livro “The Bikeriders”, lançado em 1967 pelo fotógrafo Danny Lyon, pra mostrar a criação do moto clube Vandals, na Chicago dos anos 60. O elenco é ótimo, a reconstituição de época é perfeita, a trilha sonora é boa. Mas…

Senti que falta história pra ser contada. Clube dos Vândalos foi escrito e dirigido por Jeff Nichols, diretor que já está por aí há algum tempo, mas heu ainda não tinha visto nada dele. Me pareceu que ele quis emular o estilo do Scorsese e criar um filme de gangsters, dentro de um moto clube. Acertou na parte da ambientação, mas faltou história. São quase duas horas acompanhado a vida daqueles caras, mas a trama não te leva pra lugar algum. Simplesmente vemos um retrato da vida daquelas pessoas.

Pelo que entendi, o livro “The Bikeriders” é um livro só de fotos, sem texto. Sendo assim, temos um caso diferente de roteiro adaptado, já que o livro base só tem imagens (durante os créditos, inclusive, rolam algumas das fotos originais). Deve ser por isso que o filme não tem exatamente uma historia a ser contada. Ou seja, temos um belo visual, boa fotografia, bons figurinos, boa reconstituição de época – mas o roteiro em si é fraco.

Outro problema é no elenco. São vários grandes atores, mas senti que alguns estão sub aproveitados. O protagonismo é bem dividido entre três personagens – Jodie Comer, Austin Butler e Tom Hardy. Heu diria que, se tem um principal, seria a Kathy da Jodie Comer, que inclusive narra parte dos acontecimentos. Jodie está bem, assim como Tom Hardy. Mas achei curioso ver que Austin Butler, que abre o filme e aparenta ser o principal, é um personagem de certa forma descartável, tanto que em determinado momento ele sai de cena e o filme segue. Caramba, o cara acabou de ser indicado ao Oscar por Elvis e foi uma das melhores coisas de Duna 2, e aqui ele é desperdiçado. O mesmo posso dizer sobre Michael Shannon, que faz um papel que qualquer ator faria. Também no elenco, Mike Faist, Boyd Holbrook e Norman Reedus.

Apesar dessas críticas, Clube dos Vândalos não é ruim. Grandes atores criam bons personagens, e como falei, a ambientação de época é ótima. mas, se tivesse um fio guiando a trama, seria um filme bem melhor.

A Maldição de Cinderela

Crítica – A Maldição de Cinderela

Sinopse (imdb): Baseado no mesmo conto popular que a Disney atualizou e popularizou para crianças na década de 1950.

Preciso admitir que curto essa onda de fazer filmes de terror baseados em contos de fadas. Mas, depois dos péssimos Ursinho Pooh e Alice no País das Trevas, a expectativa pra este A Maldição de Cinderela (Cinderella’s Curse, no original) estava lááá embaixo. Bem, A Maldição de Cinderela não é bom, mas pelo menos é bem menos ruim do que os dois citados.

A Maldição de Cinderela tem um problema básico: não tem história pra ser contada. O filme tem pouco menos de uma hora e meia, mas dava pra contar tudo em um curta de 15 minutos. A gente conhece a Cinderela, que é maltratada pela madrasta e pelas suas duas filhas. Também maltratam outra funcionária. Aí vai rolar o baile, o príncipe convida a Cinderela. A madrasta não deixa, mas aparece uma “fada madrinha” que permite a ida de Cinderela. Lá ela é esculachada pelo príncipe e é humilhada por todos na festa. Aí ela resolve se vingar e mata todos.

É só isso, toda a história está aqui.

Se isso fosse um curta, daria pra contar tudo de maneira ágil. Mas, se precisamos preencher espaço, o filme precisa enrolar. E acontecem coisas sem sentido, tipo todos os convidados da festa batendo na Cinderela. Por que? Qual foi a motivação pra eles agirem daquele modo?

(Aproveito pra falar que rolou um dos piores erros de continuidade que já vi: arrancam a roupa da Cinderela e a deixam nua. E logo depois ela já está vestida de novo.)

Tem outra coisa que também me parece que foi colocada só pra encher linguiça, que são uns flashes de cenas assustadoras, que rolam durante mais ou menos dois terços do filme. Não só são flashes desnecessários, como ainda são spoilers do que veremos no terço final.

Agora, nem tudo é ruim. Gostei dos cenários, aparentemente usaram um castelo de verdade. E gostei dos efeitos práticos. Na cena onde a “fada madrinha” transforma a Cinderela, ficou clara a diferença. A “fada” é uma pessoa com uma maquiagem meio tosca, mas que funciona perfeitamente; aí, quando a Cinderela ganha o vestido, aparece uma nuvenzinha em cgi que ficou péssima na tela. Sou um dos últimos defensores dos efeitos práticos. Se um efeito prático é tosco, pode funcionar bem na tela. Cgi tosco é tosco e ponto final.

O elenco é ruim, mas isso era algo a se esperar. A atriz que faz a Cinderela faz umas caretas quando ela está em “modo serial killer” que dá vontade de rir. Bem, talvez esse fosse o objetivo.

Por fim, queria falar mal de uma decisão burra de personagem. Já comentei mais de uma vez que o cinema de terror é baseado em decisões burras de personagens, mas algumas dessas são burras demais. A “fada madrinha” diz que a Cinderela tem direito a três desejos. Ela passa o inicio do filme inteiro perguntando cadê seu pai. Por que diabos ela não pediu pra encontrar o pai num lugar longe dali???

A Maldição de Cinderela estreia hoje no circuito. Pode divertir, se o espectador estiver no clima certo.

Os Observadores

Crítica – Os Observadores

Sinopse (imdb): Quando Mina fica perdida em uma floresta na Irlanda ela acaba encontrando três estranhos que são perseguidos por criaturas misteriosas todas as noites.

Estreia na direção da filha do Shyamalan, Ishana Shyamalan. Podemos dizer que ela se parece com pai – no bom e no mau sentido.

Antes de tudo, preciso dizer que a expectativa estava lááá embaixo, porque Os Observadores (The Watchers, no original) não teve sessão de imprensa, e a divulgação estava muito fraca. Normalmente quando isso acontece é porque a distribuidora não acredita no potencial do filme. Aí o filme é mal lançado, fica uma semana em cartaz, em poucas salas, e já sai de cena. Fui checar agora, na segunda semana, são poucas as sessões.

Enfim, sem sessão pra imprensa, não pude ver antes. Atrasado, vamos ao meu texto.

Os Observadores tem alguns problemas comuns em filmes do Shyamalan pai. Um deles é o excesso de explicações, e pior: explicações sem embasamento. Um exemplo de um filme recente dele: em Tempo, os personagens estão em uma praia onde o tempo passa numa velocidade diferente, todos envelhecem muito mais rápido. Isso era o suficiente para o espectador: “o tempo passa mais rápido”. Mas aí resolvem colocar uma cena onde uma personagem dita números exatos sobre a passagem de tempo. Não só isso era desnecessário, como atrapalhou a trama, porque um dos personagens não seguia essa exatidão.

Aqui em Os Observadores, temos muitas explicações. Tem uma personagem que parece que só está ali pra explicar coisas sobre o lugar onde eles estão (e ninguém pergunta como ela sabe de tudo!). E parece que isso não era suficiente, porque determinado momento do filme descobrem gravações que só servem pra explicar tudo ainda mais. Vejam bem, heu não gosto de filmes herméticos onde o espectador precisa procurar textos explicativos depois pra entender o que acabou de ver. Mas, existe um equilíbrio! Não precisa explicar tudo!

E o pior é que essa história é meio sem sentido. Sério, me lembrei de Dama na Água, lembro que o Shyamalan disse na época que ele queria contar histórias de fantasia para os filhos, achei que essa era uma daquelas histórias. Só depois soube que o filme se baseia num livro que já existia, escrito por A. M. Shine – será que no livro a história flui melhor?

Outro problema comum na família Shyamalan é ter personagens que não agem de maneira natural. Assim como em Batem À Porta, último filme do Shyamalan pai, onde os personagens demoram pra verbalizar “o elefante na sala”, aqui a protagonista cai num mundo cheio de regras, mas as pessoas só falam as regras no dia seguinte! Passaram uma noite inteira juntos, e ninguém pensou em explicar a ela como funciona esse local?

A boa notícia é que se Ishana repete alguns defeitos do pai, também repete algumas virtudes. Os Observadores é bem conduzido e o filme mantém um interessante clima de tensão ao longo de quase toda a projeção. Gostei de como o filme começa a desenrolar o mistério (queria falar mais, mas é melhor não, por causa de spoilers).

Falei “quase toda a projeção”, né? Poizé. O final é bem fuén. Talvez pela desnecessária necessidade de criar uma espécie de plot twist, o filme se estica e tem um final que deixa o espectador com gosto amargo na boca ao final da sessão. Caramba, se você não tem um bom plot twist, é melhor terminar o filme antes!

No elenco, Dakota Fanning faz cara de paisagem o filme inteiro, mas, funciona pro que o filme pede. Também no elenco, Georgina Campbell, Olwen Fouéré e Oliver Finnegan. Um comentário que não tenho certeza se foi ou não proposital, mas… A protagonista se chama Mina, e sua irmã é Lucy. Duas personagens do livro Dracula, de Bram Stoker. Coincidência?

Mesmo assim, gostei da estreia da Ishana. Apesar dos problemas, Os Observadores não é um filme ruim. Só poderia ser melhor. Aguardemos seu novo projeto.

A Semente do Mal

Crítica – A Semente do Mal

Sinopse (imdb): Ao lado da namorada, Edward decide desvendar os segredos da família biológica, com quem nunca teve contato. No entanto, o que parecia ser uma jornada de descobertas pelo norte de Portugal rapidamente se transforma em um pesadelo.

Outro dia comentei sobre um terror francês. hoje é dia de um terror português!

(Anos atrás, comentei sobre Coisa Ruim, outro terror português, mas faz tanto tempo que nem me lembro de nada desse outro filme…)

Escrito e dirigido por Gabriel Abrantes, A Semente do Mal (ou Amelia’s Children, título internacional) traz a historia da bruxa Amélia, que não sei se é uma lenda portuguesa ou se foi algo criado para o filme. Mas gostei de como a história foi apresentada. Não digo mais por causa de spoilers!

Um homem, nos EUA, que não sabe quem são seus pais, descobre que tem 99,9% de chance de ser irmão gêmeo de um português, e vai até Portugal conhecer sua família de sangue. E, claro, essa família portuguesa tem seus mistérios.

A mansão portuguesa é um bom cenário e cria um clima interessante. O filme tem vários flashes assustadores, mas achei alguns meio fora de propósito, parece que o diretor só queria colocar algumas cenas aleatórias pra aumentar o ar de suspense e mistério. E preciso dizer que achei a maquiagem da velha Amélia muito exagerada.

O filme é português e tem diálogos em português. Mas, ideia esperta da produção para vender o filme para o mercado internacional: os dois protagonistas são americanos, então a maior parte dos diálogos é em inglês. Foi uma boa saída pra ter um filme falado em inglês sem precisar dublar.

Teve um detalhe na atuação do ator principal, Carloto Cotta, que achei bem legal. Ele interpreta dois irmãos gêmeos, um que foi criado em Portugal, outro nos EUA. Eles conversam em inglês, o segundo não sabe falar português. Mas o ator consegue fazer duas pronúncias de inglês, uma com sotaque e outra sem. Um detalhe, mas valorizo isso.

Agora, um problema que achei no elenco – e que não sei se foi proposital – foi usar atrizes parecidas. A protagonista é muito parecida com a versão nova da velha Amélia! Me questiono se a produção quis fazer algo assim para nos confundir… Ah, sim, não conhecia ninguém do elenco.

A Semente do Mal não é “o melhor terror do ano”. Mas valorizo por ser diferente. Por mais filmes de terror de países “não óbvios”!

Divertida Mente 2

Crítica – Divertida Mente 2

Sinopse (imdb): Acompanhe Riley, em sua adolescência, encontrando novas emoções.

Divertida Mente, de 2015, é um dos melhores longas da Pixar. É uma ideia simples e genial: como nossas emoções funcionam dentro da nossa cabeça. O filme era tecnicamente exuberante, e fazia o espectador rir e chorar.

Nove anos depois, uma continuação. Como continuar um filme desses sem perder qualidade? E uma coisa me acendeu o sinal de alerta: mudaram o diretor – o primeiro é dirigido por Pete Docter, responsável por alguns dos melhores Pixar até hoje (ele dirigiu Monstros S.A. Up e Soul, além de ser um dos roteiristas de Wall-E)

Bem, dirigido por Kelsey Mann, Divertida Mente 2 (Inside Out 2, no original) pode não ser tão bom quanto o primeiro, mas não vai decepcionar ninguém.

O filme se passa dois anos depois do primeiro, e agora Riley está entrando na adolescência, e por isso surgem novas emoções. Conhecemos a Ansiedade (a grande protagonista do filme), a Inveja, o Tédio e o Vergonha.

O fato de termos muitos personagens dificulta o equilíbrio. Ansiedade rouba o protagonismo que era da Alegria, e é um personagem ótimo. Tédio aparece pouco, mas são participações pontuais e geniais, todas são muito boas. Algo parecido acontece com Vergonha, aparece menos mas são boas aparições. Por outro lado, Inveja não é um bom personagem. Parece apenas uma “escada” para Ansiedade.

“Ah, Helvecio, por que você acha este segundo filme inferior ao primeiro?” Bem, são dois motivos. O primeiro é que repetem a fórmula. Alguma coisa acontece que tira as emoções do centro de controle, e elas precisam descobrir como voltar, enquanto problemas vão acontecendo na sua ausência, Exatamente o mesmo plot. É ruim? Não. Mas precisamos reconhecer que é uma trama reciclada.

O outro motivo é que parece que a Pixar está segurando a mão nas emoções (olha a ironia!). O primeiro filme tinha momentos fortes que faziam todos chorarem, como a morte do Bing Bong (spoiler de nove anos atrás!), e conseguia equilibrar bem os momentos muito engraçados com esses momentos “para fazer o espectador chorar”. Este novo é muito engraçado, mas não me lembro de nenhum momento que causaria choro…

Mas, o fato de ser um degrau abaixo de um dos melhores filmes da Pixar não faz de Divertida Mente 2 um filme ruim! É um filme bem escrito, bem conduzido e muito divertido. Achei o melhor Pixar desde Soul, na minha humilde opinião é melhor que Luca, Red, Lightyear e Elementos.

Falemos da parte técnica. Hoje, 2024, não espero menos do que perfeição nos gráficos de um novo longa da Pixar. Os grandes estúdios de animação alcançaram uma excelência onde fica até difícil comentar, porque é tudo muito perfeito. Mas, tem dois detalhes aqui que merecem ser ressaltados. Um deles já acontecia no filme anterior: a textura das emoções é impressionante, porque não são exatamente figuras sólidas. Além disso, gostei da mistura de estilos de animação em uma determinada cena em particular. Ficou bem legal.

Momento “velho rabugento”: legal vermos novas emoções e como elas interagem com as anteriores. Mas isso traz um problema ao primeiro filme. Nove anos atrás os adultos não tinham ansiedade, tédio, inveja e vergonha? (Segundo o imdb, rascunhos iniciais do roteiro ainda traziam outras emoções, como liberdade, amor, paixão e força).

Queria falar sobre o elenco, mas a sessão foi dublada. Maya Hawke, a filha da Uma Thurman com o Ethan Hawke (e que estava em Stranger Things) faz a Ansiedade no som original, queria ver (ouvir?) como ficou. Bem, pelo menos reconheço que a dublagem da Tatá Werneck fucnionou bem na personagem.

Por fim, fiquem até o final. Tem uma cena pós créditos que amarra uma ponta solta que tinha sido deixada no meio do filme.

Biônicos

Crítica – Biônicos

Sinopse (imdb): Em um futuro distópico em que as próteses robóticas dominam os esportes, duas irmãs competem no salto em distância. Só que essa rivalidade leva a um caminho sinistro.

Opa, ficção científica feita no Brasil!

Biônicos é o novo filme de Afonso Poyart. Poyart é um cara que merece o meu respeito, em 2012 ele fez 2 Coelhos, um dos melhores filmes nacionais que heu já vi. Três anos depois ele dirigiu Anthony Hopkins e Colin Farrell em Presságios de um Crime, e lembro de ter ido numa sessão no Roxy com presença do próprio Poyart. No ano seguinte, 2016, Poyart dirigiu Mais Forte Que o Mundo, contando a história do lutador José Aldo, outro filmão. Só por esses três títulos, Poyart já merece espaço no hall de melhores diretores brasileiros.

De lá pra cá, Poyart deu uma sumida. Vi no imdb que ele fez coisas pra TV. Até que estreou este Biônicos no streaming, anunciado como “o filme nacional mais caro da Netflix”. E apareceram alguns canais de youtube falando mal do filme. Realmente, Biônicos chama a atenção por ser extremamente bem feito. Mas por outro lado, o roteiro deixa a desejar. Vamulá.

O filme se passa num futuro próximo onde atletas amputados usam próteses biônicas que os deixam melhores que os atletas “normais”, a ponto de ter atletas que querem se amputar como uma espécie de “doping tecnológico”. Mas algumas coisas não fazem muito sentido, tipo um amputado tem direito a próteses, mas é acusado criminalmente se for responsável pela própria amputação. E isso acaba gerando uma das coisas mais forçadas do filme: a protagonista quer uma perna biônica, então ela força um acidente onde ela está de moto e um carro bate violentamente nela. Caramba! Como é que alguém vai conseguir controlar um acidente desses pra ser só um ferimento na perna? Ela podia ter morrido!

Agora, pra mim, o pior do roteiro é a personagem Maria, justamente a protagonista. Ela é antipática e invejosa. Sua irmã mais nova era uma atleta pcd, e sempre chegava em segundo lugar quando as duas competiam – por motivos óbvios. Quando surgiram as próteses biônicas, a irmã mais nova passou a chegar em primeiro lugar, e a protagonista nunca aceitou isso. E, pra piorar, a irmã mais nova é simpática e está sempre tratando bem a irmã. Acho que escolheram a protagonista errada.

O roteiro ainda tem mais alguns problemas aqui e ali, tipo um vilão caricato que tem atitudes sem sentido (além de um envolvimento romântico muito forçado com a protagonista), ou provas paralímpicas que mais parecem um videogame. Mas são problemas comuns de filmes desse  estilo, nada muito grave.

Agora, o visual é digno de ser um marco do cinema nacional. Não só toda a ambientação em um futuro meio cyberpunk, com figurinos e props que parecem coerentes com a proposta do filme (ficção científica nacional a gente pensa em figurinos com cara de Castelo Rá Tim Bum), como o cgi das próteses biônicas é muito bom! Essa parte ficou realmente muito bem feita!

(Só reclamo do cgi de um personagem que aparece na cena final, que parece uma cópia tosca do Ciborgue da Liga da Justiça. Aquele ficou com cara de novela do SBT.)

Além disso, tem algumas cenas muito boas. Lembro pouco de 2 Coelhos (não sei onde posso revê-lo, e não tenho o dvd!), mas lembro que tinha uma câmera lenta muito bem executada. Em tempos de Rebel Moon com câmera lenta mal aproveitada, Poyart mostra que ainda sabe usar o efeito. Tem uma cena onde chutam uma mesa que é daquelas pra guardar a cena e rever de vez em quando!

Tive um problema com o final. Como é na conclusão do filme, vou colocar avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Na parte final aparece o grande vilão, interpretado por Miguel Falabella. Aí, na cena final, pelo que heu entendi, os irmãos se unem ao vilão. Péra, no fim do filme eles viram “do mal”? Heu entendi direito???

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com os problemas, gostei de ver uma ficção científica brasileira tecnicamente bem feita. Só espero que em uma próxima vez caprichem um pouco mais no roteiro.

Infestação

Crítica – Infestação

Sinopse (imdb): Moradores de um prédio de apartamentos francês em ruínas lutam contra um exército de aranhas mortais que se reproduzem rapidamente.

Um terror francês sobre aranhas. O fato de ser um filme off Hollywood tem vantagens e desvantagens. Vamulá.

Gosto de ver coisas diferentes, então um filme europeu é sempre bem vindo. Longa de estreia do diretor Sébastien Vanicek, Infestação (Vermines, no original) consegue colocar um paralelo subliminar pra fazer uma crítica social: as indesejadas aranhas são invasoras estrangeiras. E as aranhas atacam imigrantes africanos que também podem ser chamados de invasores estrangeiros.

Mas por outro lado, Infestação sofre com personagens antipáticos. O protagonista Kaleb brigou com a irmã, com o amigo, com todo mundo, se der mole ele briga até com o espectador. Caramba, estamos vendo um filme onde pessoas precisam enfrentar aranhas pra sobreviver, heu preciso me importar com essa pessoa. Do jeito que aparece no filme, dane-se o Kaleb, morra.

Tem outro problema, mas é um problema que também acontece sempre em Hollywood. As aranhas preferem o escuro, ok. Se você jogar uma luz forte, elas vão fugir, ok. Mas uma luzinha de celular não deveria fazer elas fugirem daquele jeito! Entendo que o filme precisava dar aos personagens um meio de combater as aranhas, mas achei meio tosco.

Mesmo assim, ainda achei positivo ver um terror com um ritmo diferente dos “Blumhouse” padrão. Agora, tem um problema no fim, mas como é no fim, vou mandar um aviso de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim, o imóvel está tomado pelas aranhas, e eles resolvem implodir o prédio. Caramba! Iam sobrar aranhas e ovos de aranhas nos escombros! Eles deveriam ter colocado fogo no prédio!

FIM DOS SPOILERS!

Por fim, uma curiosidade: aquele prédio redondo onde o filme se passa realmente existe. São as “Arenas de Picasso”, em Noisy-le-Grand, perto de Paris, projetadas pelo arquiteto Manuel Núñez Yanowsky nos anos 80.

Assassino Por Acaso

Crítica – Assassino por Acaso

Sinopse (imdb): Gary Johnson trabalha para a polícia e finge ser um assassino de aluguel para prender aqueles que o contratam. Um dia ele quebra o protocolo para salvar uma mulher desesperada que tenta fugir de um namorado abusivo.

Richard Linklater tem vários bons filmes baseados em personagens e diálogos bem construídos. Não são filmes com muitas “pirotecnias” técnicas, mas são filmes gostosos e agradáveis de se acompanhar. Assassino por Acaso (Hit Man, no original) é um desses casos.

Assassino por Acaso supostamente se baseia numa pessoa real (que heu nunca tinha ouvido falar), um professor universitário que tinha um segundo emprego numa equipe da polícia que prendia pessoas interessadas em contratar assassinos de aluguel. Ele cria personagens pra se aproximar dos suspeitos, e isso é a melhor coisa do filme.

Glen Powell é o nome a ser citado. Não só ele é co-roteirista e produtor, como tem um papel onde pode mostrar muita versatilidade. O cara é bonito e muito engraçado. Seu personagem cria várias situações muito divertidas. Assassino por Acaso não tem o perfil de “filme de Oscar”, mas heu não acharia exagero se ele aparecesse com alguma indicação (se bem que acho que o filme foi lançado lá fora no ano passado, então já era). Enfim, Glen Powell é o cara: bom ator, bom personagem.

Adria Arjona (Andor), que faz o principal papel feminino, também está bem e mostra uma boa química com Glen Powell. Sim, em algumas partes, Assassino por Acaso parece uma comédia romântica. Não conhecia mais ninguém no elenco, mas vou te falar que sempre que aparecia o personagem Jasper, heu me lembrava do Ethan Hawke, que já trabalhou em sete filmes do diretor Linklater: Boyhood, Newton Boys, Waking Life, Nação Fast Food, e a trilogia “Before” – Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite (isso porque não estou citando Blaze, dirigido por Ethan Hawke e com Linklater no elenco).

Boa parte do conflito apresentado pelos personagens é porque Gary conheceu Maddison quando estava em um dos personagens que criava para o seu trabalho, então ele precisa continuar esse personagem durante a relação. E isso gera algumas cenas muito boas!

Sem entrar em spoilers, mas o fim tem uma moral meio cinzenta. Quando foi chegando naquela conclusão, fiquei na dúvida de como terminaria. Heu gostei da conclusão, mas entendo quem reclame da “moral da história”.

Leve e divertido, Assassino por Acaso vai agradar a maioria dos espectadores. Só não sei quanto tempo vai ficar em cartaz, porque já está no catálogo da Netflix gringa, não sei quanto tempo até chegar aqui.